Capítulo vinte e três: O vestido.

1862 Words
Então era verdade. Isso explica o facto de pela primeira vez um fantasma falar para mim, normalmente eles apontam caminhos, dão sinais, dizem coisas incoerentes mas nunca antes falaram diretamente para mim como aconteceu hoje. — O que ela disse? — Nia franze o sobrolho, ainda confusa por eu acreditar nela. — Você acredita em mim? — Eu também vi a sua amiga hoje. — não esperava contar isso a ela. Mas para contar com a sua ajuda, precisava ser franco em alguns aspectos para sanar sua curiosidade. — Isso é verdade? — limpa as lágrimas com o dorso das mãos. — É. Antes de você chegar, foi ela que acordou-me, disse que você precisava de mim... — Por isso estavas na porta me esperando? — Sim. — Mas como...? Isso.... Meu Deus, Edward o que está acontecendo aqui? Porquê essas coisas estão a acontecer? — pergunta. Seu rosto triste fica olhando para o teto. Não sei o que responder, se contasse toda verdade para ela talvez não acreditasse. Provavelmente pensaria que por Thomas ter me colocado num hospício eu teria inventado tudo para me vingar. Então voltei a sentar ao seu lado sem pronunciar uma única palavra. Ela deita a cabeça no meu ombro e volta a chorar copiosamente, abracei-a, era tudo que eu podia lhe dar no momento. Ao fim à cabo, éramos os dois fodidos, com as vidas completamente fodidas. Aos poucos seu choro foi abrandando até ela adormecer. Caminho com ela pelo corredor, entro no meu quarto e deito-a na minha cama. Olho para o corpo encolhido em posição fetal, ela possuía altos níveis de melanina, fazendo o contraste mais improvavelmente lindo e perfeito com os lençóis brancos. Estava com um vestido de alças azul marinho que colava em seu corpo. Ela não é daquelas mulheres que possuem uma beleza estonteante e o corpo com tudo no lugar do tipo gostosa, mas também não é sem graça como outrora havia mencionado. Nia não tem curvas em grande proporções como geralmente as mulheres possuem, ela é alta com o corpo atlético mas com gordurinhas que a dão o ar feminino, os p****s são grandes com os b***s tão escuros parecendo duas ameixas negras. É daquelas mulheres estupidamentes inteligentes e extremamente curiosa. A sua beleza a primeira vista não é notada pois não se baseia somente no que ela é fisicamente, Nihara é uma mulher completa e é linda por isso, naturalmente atraente e sensual, creio que nem mesmo ela saiba da sensualidade que exala. Ela sequer tem noção do inferno a qual está se metendo. Não sei ao certo o que se passa comigo, mas vendo ela assim, deitada... ela é tão inocente no meio dos podres dessa família, a única coisa que quero fazer é protegê-la. O que me deixou confuso ao perceber de que, de alguma forma eu me preocupo com ela... O porquê? É um mistério. Talvez esteja relacionado com a ligação invisível que partilhamos. Tirei algumas mantas no armário e tapei-a. Ao lado dela na cama deitei-me com os braços cruzados debaixo da cabeça, já não faltava muito para o amanhecer. (…) Estremeci com o vento leve que passou pelo meu rosto, levantei meio atordoado, olhei para o relógio eram seis horas, não lembrava de ter deixado a janela aberta, as cortinas dançavam ao ritmos da brisa fria que adentrava. Na cama, Nia seguia dormindo encolhida, estava com a pele de galinha de tão arrepiada, os s***s que sempre acabavam por sair da roupa mostravam seus os b***s escuros me fazendo xingar de t***o. Ao longo do tempo havia adquirido uma passividade e controle sobre mim impressionante. Podia fingir frieza e desinteresse com ela, mas não tinha controle sobre aquilo que ela me fazia sentir. Da mesma forma que ela sentia o seu desejo por mim queimar sua pele, arder como fogo crispado... Eu a desejava na mesma intensidade ou mais! E talvez seja essa a razão de a janela estar aberta, talvez eu a tenha aberto no meio da noite para aplacar a necessidade que sentia em enterrar-me fundo nela, meu desejo era dar-lhe tanto prazer quanto ela pudesse aguentar. Saio do quarto fugindo daquela visão indo diretamente para o banheiro fazer minha higiene. Visto que hoje era o dia em Thomas estaria regressando à Fodshan, na minha mente atravessam várias indagações, mas antes precisava fazer Nia voltar para mansão. Voltei ao quarto já vestido, ela estava em pé de fronte a janela. — Olá. — falo, ela se volta para olhar pra mim, seus olhos estão vazios e sem dizer nada volta a olhar para janela. — O que quer que estejas a ver aí fora, deve ser bem interessante. — A Carolinne está morta. — afirma. — Eu sei, falamos sobre isso ontem. — Não posso voltar para aquela casa. — Tu tens de voltar, a Maddie precisa de ti. — eu preciso que voltes para espiares Thomas por mim! — Ela está em Cumberland! Ninguém precisa de mim... — diz e caminha se sentando na cama. — Como foi que eu vim parar aqui? — Eu trouxe você. Sinto muito por sua amiga, depois do que contaste, acredito que ela tenha sido muito importante para si. — Muito. Eu não tenho ninguém agora. — Tens a Maddie. — Porque se importa com ela? — Não me importo. Mas ela é filha da sua amiga. Carolinne não deixou você cuidando dela? — pergunto curioso, tinha outro interesse em que ela ficasse, mas também me preocupava a menina. — Sim. — Então... volte para casa, presumo que seria o que a sua amiga quereria. — falo com sinceridade. — Presume bem. Ela pediu que não deixasse Maddie sozinha. — diz se abraçando. — Tome, vá se trocar. O banheiro fica no fim do corredor. — eram roupas da minha mãe, ela olhou para as roupas com cuidado e subiu os cantos da boca num sorriso ligeiro. As pessoas sempre tiveram dificuldades em estreitar intimidades comigo, talvez por algumas terem conhecimento do meu histórico clínico, mas geralmente sempre as mantive afastadas. Não estava conseguindo manter Nihara longe. — Obrigada. — murmura. (…) Nihara Fodshan, (Cheshire) Agosto 1978 Mal cheguei a entrada da mansão fiquei tensa e o medo voltou com tudo, graças aos céus e ao clima não vi nenhum dos policiais nem mesmo o que me seguiu na floresta, a viatura deles também não estava em frente ao portão. Parecendo que não, a cabana de Edward ficava distante de Raven Ayes, fiz cerca de quarenta minutos a chegar, a dor da perda e a adrenalina que sentia na noite passada não deixaram-me enxergar esse facto. Eram oito e quarenta, e pelas duas viaturas estacionadas no jardim, Ella e Thomas já haviam regressado. Entrei na sala e estavam todos, os dois capangas do patrão, Ella, Nora e o próprio Thomas. Era suposto passar despercebida, entretanto para chegar ao meu quarto tinha necessariamente de passar pela sala. Encaro Thomas que olha para mim como uma b***a me fitando da cabeça aos pés com um misto de nojo, ultraje e indignação, baixei o olhar desviando para Ella que fez sinal para que parasse no lugar em que me encontrava, e antes dele prosseguir com as orientações que deixava, ouvi Nora pigarrear e rir baixinho. — Ingrata. — murmuro. — Estão dispensados! — Thomas fala, tinha emagrecido e como Ella já havia alertado, seu humor estava pior. Se não o conhecesse diria que está sofrendo com a ausência de Carolinne (Me recuso aceitar que ela esteja morta). Os empregados começaram a se retirar um por um, quando eu ia retirando-me ele fala. — Nihara me acompanhe até ao escritório. — Segui o demônio até a sua sala de tortura. — Sente! — Sim Senhor. — Onde estava? — Er... Estava fazendo aaa... — meu Deus, não sei o que dizer, não costumo mentir. Se ele descobre que passei a noite fora de casa nunca mais irá deixar me aproximar de Maddie. — O que estava fazendo? — pergunta arrogante. Antes de conhecer Edward tinha tanto medo de Thomas pois pensava não haver ninguém no mundo que possuísse maior frieza que a dele, mas em comparação, Edward chega a dar-me calafrios, e não é porque eu estou louca para que ele "regue o meu jardim". Em vários aspectos, Thomas e Edward são diferentes mas também são parecidos o que chega a ser perturbador. Edward é calmo ao falar, não havia arrogância na sua voz, nem mesmo quando pareceu que ia matar-me sua expressão se tornou soberba ou arrogante, mas também não é meigo ou seco. Normalmente ele se equilibra entre as duas, fazendo eu achar que é duro mas também é sensual, e Thomas é dúbio, difícil e sem limites. — Eu... Bem, há três dias que Heaven tem estado agitada, ontem particularmente esteve agitada o dia todo e passou a noite relinchando... — Não temos empregados para isso? — pergunta seco. — A noite todos já haviam regressado as suas casas. Desde que Jasper foi... Bem, era só Nora e eu. Não conseguia dormir com o barulho que os cavalos estavam fazendo. — Foste vê-los a noite passada e só agora conseguiu entrar? — pergunta com zero interesse, seu olhar está no monte de correio, retira o envelope com a letra A num canto quase imperceptível, mas eu era ligada aos detalhes e os mais insignificantes querem sempre nos dizer alguma coisa. — Não senhor, vi-os ontem e hoje mais cedo fui confirmar se estavam bem, eu só estava preocupada com o cavalo de Carol ela... — Está mentindo, mas isso não me interessa! — diz ao levantar-se da secretária. — Não quero que volte a sair dos portões da mansão, Maddie está voltando de Cumberland e agora mais do que nunca irá precisar de toda sua atenção. Foque-se no seu trabalho, não lhe p**o para ser veterinária! — meus músculos estão tensos, não me movi um centímetro sequer. — Sim Senhor. — Saia! — meus lábios se curvaram num sorriso sínico bufando e xingando-o silenciosamente, levantei da cadeira passando a mão no vestido verde musgo de caxemira, que apesar de antigo, devia ter custar o dobro do meu salário. — Da próxima vez que colocar suas mãos imundas em uma das roupas da minha mãe, irá se arrepender tanto, que os cabelos na sua cabeça irão crescer! — engulo seco. Nunca importei-me com a maneira que ele tratava a mim ou a todo mundo, mas ele estava insinuando que roubei e eu nunca fui chamada de ladra! Como esse vestido podia ser da sua mãe se quem deu-me foi Edward? — Eu não... — SAI! — vocifera. Me ergui de imediato quase tropeçando nas minhas próprias pernas profundamente magoada por tanta hostilidade, fechei os olhos como se assim conseguisse segurar minha tristeza e comecei uma contagem de vinte para baixo, vinte, dezanove, dezoito, dezassete, dezasseis... — O que ainda faz aí? Já mandei você sair! — desde que comecei a contar deixei de ouvi-lo, a única coisa a qual prestava atenção era a minha respiração. Eu parecia estar a beira de um colapso nervoso. Fiz uma nota mental, um dia irei fazê-lo engolir a sua arrogância.
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