Capítulo vinte e oito: Criando laços.

1751 Words
Assim que sentir ser seguro, tranquei minha porta e fui tirar Edward do armário. Coloquei a mão na boca preocupada, aquele medo voltou, ele estava quase desacordado, seu rosto tão pálido. Ajudei-o a chegar até a minha cama, tirei as botas e a camisola. — Deus do céu! — exclamei. Foi impossível não lacrimejar com tanta atrocidade. Ele tinha cicatrizes espalhadas por todo peito e as costas, nem mesmo as tatuagens conseguiram esconder todas aquelas cicatrizes. Quanta maldade foi feita com você... Edward volta em si, eu limpo rápido minhas lágrimas com o dorso das mãos. — Mérito ao seu patrão. As minhas roupas? Preciso sair daqui... — Por favor, me deixa te ajudar. — peço, ele passa a mão pelo rosto soltando um suspiro de frustração — Já fez o suficiente! — diz seco, seu olhar fraqueja mas ele impede seu corpo de anunciar qualquer reação — Não estou agindo normalmente. Se Thomas descobre minha presença nessa casa ... dessa vez não haverá hospício capaz de o fazer parar! Ele irá fazer de tudo para que eu tenha uma morte dolorosa. — recuo alguns passos me negando a acreditar que aquele homem, que foi casado com minha melhor amiga, pai de Maddie, o homem que apesar de não suportar minha presença, abrigou-me em sua casa junto de sua família poderia fazer todas aquelas coisas. — Nunca a dei por tola, sabe que o meu irmão tem alguma coisa haver com a morte da sua amiga. — balanço a cabeça em negação. — Porquê? — questiono, mas era uma pergunta retórica. Não ia ter essa conversa com ele nesse estado, podia muito bem estar delirando ou inventando. — Os seus olhos refletem a confusão que esse assunto trará para sua vida. — diz e tosse. — Me ajuda a sair de Raven Ayes e eu prometo nunca mais lhe importunar. Vai voltar a sua vida cuidando de Maddie e nunca mais terás de olhar pra mim! — Não. Não se trata só da confusão que essa história está trazendo na minha vida! Se o que dizes for verdade... então Carol estava certa em não querer que eu deixasse Maddie sendo educada pelo seu irmão. Você percebe o que está me dizendo? Que o seu irmão é responsável por essas cicatrizes em seu corpo, pela morte misteriosa de Carol... e o quê mais? — vocifero, meu peito doía de tristeza e raiva. O olhar de pena que ele lançou para mim rachou-me ao meio. — Você acha que eu quero estar aqui! Tu já fizeste-me perder tempo passando a noite contigo! Nunca pedi essa vida, confiava em Carol por isso estava nessa casa. Não compreendia porquê ele estava desse jeito comigo, nem mesmo quando parti a moldura ele fora tão grosso. Sabia que Thomas era mau, mas foram anos de negação e enganação, anos de temor. Não sabia como reagir aquilo, estava literalmente como uma criança recém nascida e indefesa no meio dos dois irmãos. Com os ombros descaídos em derrota, balanço minha cabeça e deixo minhas lágrimas fazerem o que quiserem. Edward meio relutante levanta da cama e me abraça. Me aninho no seu peito. Precisava parar de chorar e agir como se fosse uma coitadinha. — Desculpa. — Me conte a verdade. Toda verdade, se eu sentir que está sendo honesto... Terá em mim uma aliada. — falo decidida. Assim sendo, ele me solta, fecha os olhos buscando fôlego e sede o seu corpo na minha cama. — Vou precisar de um analgésico e da minha camisola. Não gosto de como ficas quando olhas para as minhas cicatrizes. — O problema não são as cicatrizes. Eu olho para elas e é como se estivesse lá vendo você ser torturado... é horrível. (…) Richard… — Vou contar-te como tudo começou. Certa vez um garoto recebeu a notícia dos pais que teria um irmão. Ele sentia-se só e com o nascimento do irmão aquela solidão desaparecia para sempre, um irmão é como uma extensão de nós próprios certo? Então esse garoto ficou felicíssimo. Era a coisa mais linda e perfeita, que a única coisa que ele pensou no momento em que lhe foi colocado o embrulho azul nos braços, foi que iria sempre protegê-lo, ele era só um menino com grandes expectativas para com o irmão mais novo. O tempo passou e o garoto percebeu que havia alguma coisa de errada com o irmãozinho. Além de lhe parecer frio, era manipulador... — Madelinne... — ela murmura. — Preste atenção Nia, não costumo contar essa história a ninguém. O que significa que não irei me repetir! — Contar tudo desde o início era como abrir uma ferida m*l cicatrizada. Mas ela prometeu a sua ajuda, então eu só terei de contá-la a verdade. É demasiado inteligente, com certeza irá perceber que não estou mentindo. Segurou a minha mão me dando aval para prosseguir, eu não queria segura-la mas ela apertou me impedido de soltá-la. A olhei admirado e a vi forçar um sorriso. Era forçado, mas era verdadeiro. E pela primeira vez senti que estava com o coração aberto, ela queria me compreender. Naquele momento simplesmente houve sentido na minha vida, era a primeira pessoa com a mente aberta disposta a ouvir a verdade, então eu contei, contei minha história, a história de Thomas o quão ele conseguia fazer todo mundo cair de amores por ele, a minha primeira ida ao hospital psiquiátrico... — Mas você era uma criança! Era suposto os pais cuidarem dos seus filhos... — O que aconteceu com os seus pais? — indago ao notar o quanto aquele assunto estava mexendo com ela. — Nunca os conheci. Não lembro de quem era antes de chegar à Woldorf Abbey. Madre Lilian disse que vim de algum país de África... O que aconteceu depois? Eles se arrependeram e foram buscar você? — pergunta curiosa, ri irônico. — Eles estavam ocupados em preparar Thomas para o futuro brilhante que eles projetaram... Afinal, como é que as pessoas dizem? Quem sai aos seus não degenera. — todas as memórias começaram a vir em cheio, o medo, a dor, o ódio e aqueles anos agonizantes em St. Mary. Depois de duas horas, Nihara não se segurou mais, enquanto eu falava ela chorava. — Me lembro de ter implorado várias vezes que Deus pusesse fim A minha vida, o meu corpo estava se aguentando mas a minha alma estava completamente quebrada. Mesmo temendo pelo que iria acontecer, me conformei com aquilo, com minha morte a qualquer momento. Eu sou fodidamente quebrado Nia. Cheguei a deliciar-me com a ideia da minha morte, ninguém iria sentir minha falta, ninguém iria falar do Duque renegado, não deixaria ninguém chorando por mim, seria mais um número nas estatísticas. — Como ele foi capaz? Que tipo de seres humanos eram os seus familiares? Como puderam fechar os olhos para aquilo que o seu irmão estava se tornando? — Com o tempo você irá compreender. Não que seja justificável, mas irá fazer sentido pra você mais tarde. — Não tem como fechar os olhos para tanta maldade! O que ele fez foi... — os lábios dela tremiam de raiva e... dor? Ela estava magoada com o mundo por mim? Suas lágrimas continuaram caindo como chuva miudinha, abracei-a. Dessa vez não foi como as outras vezes, dessa vez senti um arrepio que começou na nuca e parou no peito. Ela ficou com a cabeça no meu ombro durante vários minutos sem nada dizer, apenas soluçando. Afaguei suas costas, estava com o coração partido, e só a vira assim no dia em que descobriu que sua amiga estava morta. Agora sabia de toda verdade, sabia de como fui manipulado, enganado por Amanda. A única parte que ocultei era sobre os meus antepassados, ainda não sabia como explicar aquilo, precisava de mais evidências. — Você ia casar com aquela mulher, a tal de Amanda... Porque ela não confiou no seu amor? — pergunta se endireitando. Como Constance confiou em William, e acabou condenando sua família por esse amor. — Só eu estava apaixonado... ela estava esperando o momento certo para trair-me. — Por isso ela pediu que ficasses! Sabia que farias tudo por ela, e aproveitou-se disso para armar com o seu irmão. — os seus lábios se mexiam com uma suavidade encantadora. Era impossível não ser hipnotizado por seus gestos. Mesmo parecendo querer matar Amanda. — Sim. — Era claramente a inocente nessa casa, e depois de a contar toda verdade comecei a fazer vários tipos de questionamento. E se agora ela também tiver se tornado em mais uma na mira doentia de Thomas? O facto de estarmos conectados misteriosamente deixava-me preocupado, eu sofria duplamente. E não sei o que Thomas faria se descobrisse que Nihara exerce esse poder sobre mim, ele a usaria para me magoar. — Hey... Eu fico bem! — ela diz segurando no meu rosto. — Nia há outra coisa que você precisa saber. — Tem mais atrocidades? — Não. No período que servi como experimento, sem saber eles acabaram amplificando minha sensibilidade. Lembras de ter mencionado minha morte por alguns minutos? — Sim. — Eu consigo sentir quase todas as emoções de pessoas próximas a mim. — Você não pode estar falando sério! — Eu sei exatamente o que você está sentindo agora... Mas nem sempre consigo ser preciso. Como agora sei que está incrédula, mas acredita em mim. — Por isso... você sempre sabe quando... — desvia o olhar. — Quando eu... — Quando você está excitada. — concluo. — Normalmente sinto tudo que pessoas ligadas a mim sentem. — Mas você acabou de me conhecer... — Inexplicavelmente, você é um mistério para mim. Não era suposto eu estar aqui confiando minha vida novamente a uma mulher... — Não sei o que pensar... — Eu sei. — Não gosto que saibas tanto sobre mim, incluindo o que... o que eu sinto! — Eu também não gosto. Sabe o que aconteceu no dia em que o motoristazinho tentou abusar de ti? Antes, quando não deixaram você entrar no restaurante? — pergunto ela balança a cabeça negando. — Eu sufoquei com os seus sentimentos, queria colocar uma bomba e matar todos naquela vila. Sei que não era o que você quereria, mas aquilo que a faziam sentir me fazia odiar a todos. Você acha que eu gosto disso? É horrível quando você está chorando angustiada, é como sentir meu coração sendo trespassado, e dói... Droga Nia, dói muito! — estávamos a ultrapassar uma linha intransponível juntos. Aquilo era perigoso.
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