— Srta Malika? — ouço Ella no outro lado da porta. Tinha começado a arrumar o material escolar de Maddie, eram cinco da tarde, provavelmente ela iria pedir que fizesse companhia a Maddie enquanto se ausentava.
— Sim Ella. Pode entrar, a porta está aberta. — respondo, ela entra com o rosto trancado e postura rígida.
— Menina Nihara, a Srta sabe que poucos empregados aqui, a veem com bons olhos... — essa mesma história de novo, me conte uma novidade Ella, suspiro. Ninguém aqui me suporta se não duas pessoas.
— Sim. Eu sei... — imito a sua postura e coloco as mãos atrás das costas.
— Estão comentando que a Srta tem recebido vários homens no seu quarto. — pisquei as vistas algumas vezes. — Não sei como isso é possível se eu durmo todos os dias aqui e não vi vivalma entrar ou sair dos seus aposentos, mas o Jasper disse que na noite passada viu um homem passar pela janela da sala. — fala balançando a cabeça, parecia decepcionada. — Até a menina Nora confirmou que já viu a Srta conversando com um homem n***o no alpendre. — estou surpresa com a facilidade em que eles inventam essas histórias... O mundo não será fácil pra ti, quase podia ouvir Madre Aurora.
— A Nora está mentindo! A senhora sabe disso. — falo. — Ela só está tentando se livrar de mim porque sabe, que eu sei do seu envolvimento com o Sr. Thomas. — desde que descobriu que Ella tem poder de demitir todo mundo, passou os últimos dias tentando me levar ao extremo.
— Srta Malika! Não volte a tocar nesse assunto. Ninguém aqui pode saber! — movimento a cabeça negativamente, era incrível, eu sabia, ela sabia, o Phillip sabia e acredito que a própria Carolinne saiba... Com certeza o desaparecimento de Phillip estava relacionado com essa história. — E Jasper? Ele também está mentindo? O homem que vem ver-te, circula pela casa vestido de n***o como se fosse um espectro. Essa casa está assombrada? A menina sabe que... — analisando a situação, seria possível? Todas as noites em que eu senti a sua presença, não fora fruto da minha imaginação? Ele sempre esteve aqui? — Srta Malika, está me ouvindo? — olho pra ela ainda tentando lembrar das vezes que o vi, ou o senti...
— Si-Sim Ella... — ela franze o sobrolho. — Eu nunca trouxe ninguém a essa casa, a senhora tem estado a acompanhar de perto tudo o que eu faço. — será que ele esteve realmente comigo ontem?
— Não sei! Não sei Nihara... — ela nunca tratava-me pelo primeiro nome, tal como eu parecia confusa.
— Tirando as pessoas que frequentam a casa, eu não mantenho contacto com ninguém de fora. As pessoas normalmente querem é ver-me longe delas.
— E o homem de n***o?
— Não sei Ella, nunca vi. — minto, vi o homem de n***o algumas vezes nos últimos dias, e quando não o via, sentia a sua presença, mas como explicar o inexplicável a Ella? Se eu própria não compreendia o que estava acontecendo. — Por favor, a senhora precisa acreditar em mim. Não sei quem é... — isso era verdade, não sabia quem era.
— Muito bem. — parecia aliviada. — Vou tirá-las do castigo, se se portarem bem, posso levá-las amanhã a Vila quando for às compras. — era uma boa notícia pra Maddie, saí do meu lugar e abracei-a, compreendia a sua postura.
— Obrigada por acreditar em mim.
— Está certo. — responde sem graça, sai e volta a fechar a porta.
Vou até a janela e viro-me pro quarto, olho para o lugar que sempre encontrava as esferas azuis, ao lado do guarda roupas, era escuro mesmo com a luz solar, parecia um lugar sombrio e assustador, contudo, nunca senti isso, nem na presença dele nem agora, achava que estava a beira da morte e estava me familiarizando com ela, o que me faz voltar à noite de ontem...
Os meu sentidos pareciam ter fugido, começava a achar aquilo tudo muito real para ser um sonho. Era quase impossível permanecer dormindo quando sentia aquela doce agonia reverberar em todo o meu corpo.
Um suspiro escapa dos meus lábios e finalmente abro os meus olhos, era tarde da noite não conseguia enchergar nada, o que quer que fosse tinha a respiração pesada tal como a minha, era grande, não estava deitado, mas estava em cima de mim... eu conseguia sentir o calor emanado do seu corpo. Aquilo não era um sonho, como muitas vezes ocorrera... Eu estava acordada. Havia uma dureza nos seus movimentos, uma falta de singeleza assustadora, as íris azuis me inspecionando. Não senti medo, nem conseguia gritar.
Devia sentir medo...
Devia gritar...
Contrariando a lógica e tudo o que me foi passado, o que eu sentia era algo indescritível e bem mais perigoso.
A vontade incontrolável, que nascia no meu baixo ventre e descia até o meu sexo, era impróprio, talvez até seja pecado.
Era pecado...
Estava louca para sentir novamente o seu toque nos meus s***s, a sua mão quente, ele era quente como fogo crispado, havia deixado o meu corpo em chamas.
— Nia...
Acordei com a calcinha molhada e o mamilo dormente, bem lá no fundo eu sabia que não eram sonhos.
— Nia...
Porquê ele nunca deixava-me ver o seu rosto? Porquê ficava me observando? E porque raios eu tinha deixado ele tocar-me daquela forma se sentia medo dele?
— NIA? — Maddie grita e eu solto os livros que caem nos meus pés.
— Maddie!! Porquê que estás a gritar? — ralho aborrecida.
— Eu chamei-te várias vezes Nia, não parecias estar aqui. Tive medo... O Corvo veio pra te levar?
— O-O que? Porque? — fecho os olhos entediada, porque ela insistia que havia um corvo!? — De novo essa história?
— A Nora disse que tem um homem de n***o que se encontra contigo. Tenho medo... você anda estranha, a minha mãe não quer mais saber de mim, se o Corvo levar você, não terei ninguém no mundo. — observo as suas feições com a sobrancelha arqueada.
Não se enganem, essa menina tem a capacidade de manipular todas as pessoas dessa casa incluindo os próprios pais... Porém, não tem malícia.
— Podes parar com esse teatrinho, conheço muito bem as suas trapaças. Que nem com os seus pais fazes isso! — murmuro apanhando de volta os livros e cadernos do chão. Olho de esguelha pra ela, tinha um biquinho se formando querendo chorar. — O que foi agora?
— Eu só consigo ser criança quando estou contigo, algumas vezes com a minha mãe... e ela não está aqui Nia. — me agacho para acompanhar a sua altura, porque além de inadaptada, também tenho a altura de uma girafa.
— Eu sei meu amor, eles exigem muito de si, mas só querem o seu melhor. Eu amo que sejas criança comigo, mas me assustas quando exageras! E eu sempre disse a você que não é certo, Deus não gosta de crianças manipuladoras. — ela balança a cabeça e dá um meio sorriso.
— Está bem! — fala com a voz meiga, deposita um beijo de na minha bochecha e sai cantarolando. Me levanto fixo a porta por alguns segundos... essa menina me preocupa.
Tanto eu como Maddie estávamos empolgadas com a possibilidade de ir à vila, ela precisava do contacto com outras crianças, e eu mesmo com os olhares reprovadores de todos, precisava sair um pouco desse Mausoléu ou ia começar a dar em doida.
Antes do jantar, Maddie só falava do quão bem tinha se comportado para merecer a retirada do castigo. Estávamos justamente debatendo sobre isso enquanto Nora colocava o jantar a mesa.
— Não sei que tipo de encantamento fez a Ella, mas eu irei tornar a sua vida num inferno! — sussurra ao passar por mim, olho pra Maddie que sorria, parecia estar no seu próprio mundo. Me volto pra ela, sorrindo por fora mas por dentro estou lutando pra não arrancar os cabelos da sua cabeça um por um. Nora é uma mulher linda esteticamente, mas por dentro é feia, essa mulher é perigosa, eu tentei durante os últimos dois anos me manter longe e não aborrecê-la, mas estava farta, se pudesse dar uma surra a ela nesse preciso momento daria, mas não posso porque ela não tem força física comparada a mim, mas sua força mental para ser maquiavélica está além da minha compreensão.
— Não é como se já não o estivesses fazendo. Queres elevar a fasquia? — indignada com a minha ousadia, pois faz tempo que tenho engolido suas implicações calada, ela levanta com a boca aberta, eu prossigo. — Mostre-me do que você é capaz, que eu irei enfrentá-la a medida. — sorrindo suavemente, sirvo os legumes no prato de Maddie, ela reclama. — Precisa comer os legumes se quiser sair com a Ella amanhã. — vejo uma Nora se voltar soltando fumo pelas ventas, ao chegar na entrada, me lança um olhar desafiador, mais a diante está Ella com o ar solene de sempre mas dessa vez parecia estar contente ou orgulhosa. O que estava fazendo?
Não consegui comer direito, fingia que nada me abalava, porém aqueles dias sem Thomas para conter Nora estavam a ser mais difíceis do que imaginava, nunca pensei em admitir isso, mas agora eu preferia que ele estivesse aqui, não quero problemas. Se fosse expulsa dessa casa não teria por onde ir... Talvez seja altura de começar a pensar no meu futuro longe de Fodshan.
(...)
Subimos rindo de uma piada bem elaborada que Maddie contou, até Ella se riu. Coloquei Maddie pra dormir e voltei a descer pro meu quarto, tomei um banho quente e fui pra cama com os olhos postos na porta e naquele bendito canto do demônio.
Fico revezando os olhos entre o teto, a porta e o canto, uma e outra vez, conto os segundos, depois os minutos e estes se transformam em horas, pisco e acho que cochilei, abro os olhos por um segundo e volto a cochilar novamente. Volto a repetir o mesmo processo e abro um pouco os olhos, vejo o meu anjo da morte, ou pelo menos os seus olhos, pois são as únicas coisas que brilham na escuridão. Sorrio... cochilo de novo e de repente me sinto tão bem, protegida de certa forma, enfim, volto a dormir profundamente.