Capítulo seis: A fuga de St. Mary.

1920 Words
— Edward, tudo bem? — Anthony pergunta, aceno a cabeça. — Então será hoje! — será hoje o que? A minha mente questiona, mas eu não tenho tempo sequer de abrir a boca. Ele se vira, sem se importar com a pressão da água e golpeia um dos enfermeiros que o segurava, este caí no chão desacordado. Quando o outro enfermeiro solta Isaac, tentando ir em auxílio do que se encontrava agora estirado no chão molhado, tentei me soltar mas tinha Dominic e o outro guarda segurando forte nos meus braços, pareciam aflitos, Anthony também foi militar, mas ao contrário de mim, ele esteve na guerra, então não tinha medo do que poderia acontecer com a sua vida, apesar de ser um dos homens mais rico e influentes de Londres. m*l o outro enfermeiro tenta segura-lo, é arremessado pelo chão, gemendo de dor após receber uma rasteira de Isaac, que até ao momento parecia estar imerso no seu próprio mundo. Depois de muita luta entre os três, Isaac e Anthony conseguiram deixar o segundo enfermeiro imobilizado. — Dominic precisamos fazer alguma coisa! — disse o segurança mais velho, tremelicando, os dois não acreditavam no que viam, ficaram imóveis como se tivessem criado raizes. Antes que eles pudessem fazer qualquer coisa, peguei numa das mangueiras, apesar da pressão da água, consegui mantê-la firme e derrubei-o. Anthony da um soco certeiro no rosto de Dominic que ficou desorientado, usa o objeto cortante e vai desferindo alguns golpes nas costas dele, se misturando a uma poça do próprio sangue. Gostava de ter sido eu a acabar com a vida de Dominic, mas não deixava de me deleitar com a sua imagem imóvel no meio do próprio sangue. Aproveitamos a brecha, consegui olhar para pequena porta da lavandaria que ia dar nas traseiras, não teríamos outra oportunidade como essa. Confirmei se a porta do balneário estava aberta, era difícil fazer as coisas agilmente com o corpo todo machucado, não sabia a origem de tanta força ou coragem. — Está trancada? — o Anthony questiona. Estava agachado, com o rosto ensanguentado e uns quantos dedos quebrados. Faço sinal com o dedo para que ninguém se movesse, ouvia passos no corredor. Olhei para os seguranças caídos, os dois eram grandes e fortes, transformaram a vida de todos pacientes num inferno, contudo, olhar pra eles agora não pareciam ser os mesmos. Ainda assim, havia os enfermeiros que não deram tanta luta, mas era uma questão de tempo até voltarem em si. — Temos de ir por ali.— falo apontando para pequena porta de madeira, fui com a mão na barriga, tinha um ferimento há vários dias naquela região, toda vez que começava a cicatrizar, eles arrumavam um jeito de fazê-la abrir. — Vocês vão na frente, eu fico aqui ganhando tempo... — Não! Vamos todos... ninguém vai ser deixado pra trás! — exclamo. O Isaac colocou as mãos na cabeça aflito, parecia estar tendo um episódio, sentou no chão, começou a balançar pra frente e pra trás. Por mais tempo que estivéssemos aqui, ainda ficava admirado ao observar o homem de um metro e oitenta, se balançando como um menino de cinco anos. Eles eram o meu único alicerce, precisava dos dois. Pisando em ovos, encostei na parede, me arrastando até onde ele estava, a minha mão fraca e cansada apertou a dele. Jamais poderia deixá-los. — Calma Isaac, nós vamos sair daqui os três. Mas você precisa se acalmar. Está bem? — Sim. — disse tão baixo que não sabia se tinha sido algo da minha cabeça. — Ótimo! O Anthony vai na frente. — falo. Os dois se entre olham e acenam positivo. Anthony franziu o cenho pra mim chocado, com a tranquilidade que mostrava em relação toda aquela situação. Tinha de anular qualquer ideia descabida que ele começava a ter com relação as suas tentativas ininterruptas em se suicidar. O sofrimento que eu trazia no peito não era nada comparado ao sofrimento dos dois, toda vez que os observava, via em seus olhos o desespero que eles sentiam em estar nesse lugar imundo e c***l. Desde o incidente na primeira vez que morri literalmente, conseguia sentir tudo das pessoas próximas a mim, algumas vezes via pessoas que já morreram. Por isso foi difícil acreditar que tudo o que passei com Amanda, tinha sido uma ilusão, eu sentia o que ela sentia, assim como sinto angústia de Anthony, mas eu não podia deixar que se tornasse mártir nesse hospício. Pelo menos, não enquanto eu estiver vendo. (…) Cerca de vinte minutos depois, chegamos a lavandaria, a essa hora achava que os alarmes já teriam soado, mas continuava um silêncio quase ensurdecedor. Encontramos uniformes de enfermeiros, e um único fato de treino, todos ficavam grandes, devido a nossa excessiva magreza. Dividimos entre os três, eu acabei ficando com o fato de treino preto. So far, so good [ Até agora tudo certo], as coisas corriam a nosso favor. Os alarmes soaram e Anthony ficou pra trás antes de nós darmos por isso, no instante em que ia voltar para o procurar, vimos as luzes das lamparinas, o que significava que já tinham começado as buscas por nós. Parei por uns breves segundos, de nada serviria se todos fôssemos pegos, pois seria uma questão de tempo até Isaac ser achado sem eu ou Anthony do seu lado... Prometo que voltarei por ti meu amigo. (…) Corremos, aproximadamente vinte quilômetros, no meio da noite ou madrugada, não sabia dizer. Embrenhados no meio da floresta, cada passo que dávamos as vozes dos seguranças ia diminuindo, assim como as luzes das lamparinas. Ao longe, o uivo de um lobo nos faz parar. — Vamos procurar o trilho que nos leve à estrada. Do contrário serviremos de refeição. — as árvores batem seus galhos uns nos outros pelo vento forte que anunciava uma tempestade. Acelero os meus passos e Isaac faz o mesmo. Desde que nos separamos de Anthony, nem eu nem ele disse nada. Eu sabia que Anthony não tinha pretenções de fugir connosco, ele fez de tudo pra nos ajudar, isso incluía a quantia avultada de libras escondida numas das suas propriedades em Kingston upon Thames, em Londres, e era pra lá que nós iríamos. Corremos cerca de mais duas horas, debaixo da chuva miúda que caía, sentir as gotas de chuva sobre nós, foi como lavar a alma, pra quem esteve nove anos preso era um milagre, mais eufórico que eu estava Isaac, era uma criança no corpo de um adulto. Tal como Anthony descrevera a sua casa, conseguimos localizar. A região não era das mais movimentadas. Parecia um sonho, quando finalmente pude tomar um banho longo, sentindo a água lavar o meu corpo e a minha alma, era demasiado bom para ser verdade. Alguns dias passaram, e durante esse período, não ouvimos nada a cerca da nossa fuga, quando saíamos pra rua, no início as pessoas cochichavam por sermos diferentes, queriam saber o que fazíamos na propriedade de Anthony Simmos e o motivo de só agora aparecermos. Não devíamos nada àquelas pessoas, sobretudo pessoas que não conhecíamos, mas sobre estarmos na Mansão, tivemos de fabricar uma história, Anthony era um tio nosso distante, por parte de nossa mãe, já que eu e Isaac nos apresentávamos como irmãos. Foi fácil eles acreditarem nessa história pois muitas das coisas que eles perguntava, o próprio Anthony nos contava em St. Mary. Aqui há mais vegetação e árvores altas do que casas, as poucas propriedades que existiam a redores além de estarem distantes umas das outras, também eram modestas, e a maior concentração de pessoas era feita há dez quilomêtros onde se encontrava a cidade, nós evitávamos o máximo ir à cidade. Passei vários dias investigando sobre o actual paradeiro do meu irmão, julgava que estaria em Northumberland. Mas não, Thomas está em Fodshan, é distante obviamente. Quase um dia de viagem, mas eu estava disposto a tornar a sua vida miserável, e a primeira coisa que faria era conhecer os seus passos, os seus negócios os seus amigos, quem ele mais confiava e só assim poderia colocar a minha vingança em prática. (…) — Vou pra Fodshan. — comunico, Isaac tem as narinas abertas, conheço esse olhar de pavor, quantas vezes o vi, sabia o ler não só pelas expressões, mas pelo que ele transmitia das suas emoções e nesse momento não estava satisfeito, porém ciente. — Não tens porque ir Edward! Ninguém aqui sabe de onde viemos, podemos recomeçar aqui. Eu estava lendo outro dia, nós podemos tirar o Anthony de St. Mary. — Já falamos sobre isso. Eu preciso pelo menos dar início aos meus planos, e depois volto pra soltar Anthony. — sabíamos que ele estava vivo, tinha sido transferido para outro hospital, a boa notícia era que lá, ele não era torturado. Entretanto tinha um sistema de segurança inquebrável... até nós quebrarmos! Até lá, eu precisava saber mais sobre o meu irmão. — Então eu vou contigo! — diz determinado. — Também já falamos sobre isso Isaac! — levanto da mesa indo até a janela, era difícil conversar com ele quando colocava uma coisa na cabeça. — Alguém tem de ficar cuidando das coisas de Anthony, somos seus sobrinhos lembra? Se sumirmos os dois, as pessoas vão começar a duvidar da nossa história. — Certo. — olhei pra ele apreensivo, talvez estivesse exigindo muito dele. Continuava esquizofrênico, entretanto estava saudável, tinha começado com uma medicação que lhe permitia socializar. — Tem certeza que consegue lidar com tudo na minha ausência? — Sei quais são os meus limites! Agradeço a sua preocupação, mas eu sou suficientemente capaz de tomar conta dos negócios na sua ausência. — responde irritado. — Não é como se já não o estivesse fazendo. — O que você quer dizer com isso? — Quero dizer que há meses que estou cuidando dos negócios, da casa, da sua alimentação e até do que você irá vestir! Tenho feito literalmente tudo! Quando a única coisa que você faz desde que fugimos, é correr atrás dessa obsessão... — ele explode tudo isso mirando diretamente nos meus olhos sem tremer, pestanejar nem mesmo gaguejar, até então, a minha única preocupação era ele desencadear um episódio, mas não! Parecia realmente bem, senti-me orgulhoso. — Você viu o que eu passei, esteve lá! Não foi parar em St. Mary por intermédio de um parente... — se ele soubesse o inferno no qual estou metido, talvez fosse menos dramático. Suspiro. — As vezes, parece que esqueces que eu consigo sentir o que você está sentindo! — E o que você vai fazer? Uma tatuagem? Como fizeste o corpo todo? — Oh ele estava transtornado, e ainda que ele mostre o quão bem está, ainda pode surtar. — Porque nunca falou sobre as tatuagens? — ainda não estava pronto pra falar sobre Amanda. — Eu preciso fazer isso... não te peço que aceites, apenas que respeites. — tento dar esse assunto por encerrado. — Só me prometa que não vai se deixar ser pego novamente... Até onde sei, o seu irmão é um gênio do m*l, maquiavélico certo? — ele está completamente ciente de tudo em sua volta. — Quem é você? E o que fez com o meu amigo? — ele se levanta rindo. — É que eu começo a ficar preocupado... — Só prometa que não vai cair nas mãos do perturbado! Que você já sabe como eu me sinto com relação essa estupidez! — Eu sei. Eu prometo. — preocupava-se demais, entretanto, nada me faria parar agora.
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