Parte Dois
VIGÉSIMO CICLO
Tribo Aeris
*****
5
Talvez para todos os elfos o dia mais significativo em toda sua existência é quando completam seu vigésimo ciclo de vida. O momento que eles chegam à plena maturidade e são agraciados por dádivas que somente os elfos da luzhãode possuir e são instruídos a mudar-se para a tribo a qual pertence legitimamente seu coração e sua essência. Ao todo, quatro tribos constituem grande parte de Elf Regnum. Pelo menos são as quatro tribos na qual pertencem os elfos, mesmo que outros seres – não muitos – vivam pelas tribos correspondentes. São elas: Aqua, Petram, Ignis e Aeris; cada uma representa um dos quatro elementos essenciais para a vida: água, pedra, fogo e ar.
E cada elfo da luz é agraciado pelo divino com dons especiais sobre somente um dos quatro elementos. E logo após o vigésimo ciclo de vida, seu poder é despontado e seu destino traçado. Os elfos Aqua são capazes de manipular a água de forma única. Já os elfos Petram têm como a terra seu poder e força. Os Ignis conseguem dominar o tão irredutível fogo e os Aeris possuem o ar como sua fonte de vida. E a partirdo momento em que seu poder é desvendado o elfo rapidamente deve receber treinamento e ser instruído pela tribo a qual pertence verdadeiramente, mesmo que esta tribo não seja necessariamente na qual nasceu.
E aí começa a história de Natan Patrício.
Natan era o príncipe de Elf Regnum, o único herdeiro de todo o reino elfo. Finalmente chegara o dia no qual completaria seu vigésimociclo de vida. E ele não poderia estar mais atribulado com tudo isso.
Seu pai, Neven – sendo o rei de Elf Regnum –, um elfo Aeris, adoraria que seu único herdeiro fosse também de sua tribo, que pudesse treiná-lo, não meramente para ser um grande elfo do ar, como também para ser um rei exemplar, de tal modo como ele é, assim como seu pai fora, e como todos os precursores a ele.
Natan receava não alcançar todas as esperanças de seu pai. Não aproximar-se do grande rei Neven e se tornar uma grande decepção para ele. O medo do elfo só com o passar dos dias aumentava gradativamente.
Natan apontava a última flecha para o alvo uns metros à frente. Sentia sua respiração, concentrava-se nela e no ponto azul ao longe. Tentava afugentar todo sentimento duvidoso que se formava em sua cabeça.
Então ele mirou mais uma vez. Olhando direto para o alvo azul. Prendendo sua respiração. Esticando o braço mais uma vez, soltando sua respiração lentamente, ele lança a flecha e ela corta o ar indo direta e reta até acertar o centro do alvo.
–– Muito bem Natan. Confesso que você está melhor do que muitos elfos Aeris, levando em conta de que você ainda sequer consegue manipular o ar.
–– Sim pai. Também já treino com o senhor, há... quinze ciclos? –– falou Natan abaixando a mão com o arco.
Neven esboça um sorriso para o filho.
–– Você começará seu treinamento na frente dos outros elfos, até mesmo os quais já pertencem a nossa tribo estarão atrás de você. E esse é o certo.
–– Certo para quem?
Natan caminhou alguns metros à frente a fim de tirar as quinze flechas cravadas no alvo azul, seu pai o acompanhou de perto.
–– Para mim e para você é claro. Não podemos nos esquecer de que você é o príncipe de Elf Regnum, legitimamente meu herdeiro. O elfo que assumirá o poder daqui a vinte ciclos.
–– E para isso eu preciso treinar desde os cinco? Necessito mostrar-me melhor do que os outros? Superior? –– Natan fez uma pausa. –– Isso se eu for mesmo um elfo Aeris. –– o jovem príncipe deixa escapar um tom mais baixo.
Neven segura o braço de Natan bruscamente com uma expressão séria estampada no rosto. O aperto de sua mão em volta do braço de Natan é forte e logo o jovem começa a sentir um formigamento ali.
–– Não diga uma coisa dessas –– cortou Neven, apesar de sua fala ser baixa dá para perceber a raiva em sua voz. –– Você será um grande elfo Aeris. Só de olhar para sua habilidade natural com o arco e flecha sei que será assim.
–– Será mesmo? –– Natan se desvencilha dos braços do pai e segue seu caminho montanha acima. Com o arco e as flechas já presas às costas.