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Sequer Natan parou para ver se o pai o seguia de perto. Ele estava cansado de tudo o que era preciso ser feito pelo fato de ser o filho do rei. Ele era destacado de tudo e de todos. Durante todo seu tempo de vida. E ele estava farto de tudo isso. Da maneira como era tratado, da expectativa que todos depositavam nele; de sua vida como um todo. Sentia-se cansado de como olhavam para ele, do jeito que todos falavam, no qual ele necessitava se comportar por ser da família real.
O futuro rei de Elf Regnum.
Quantos não o apelidavam assim durante todos esses ciclos? Quantos não se aproximaram do príncipe apenas em uma tentativa frustrada de cair nas graças do atual rei. Ele cansara disso, mas que escolha ele tinha? Ele não seria o futuro rei de Elf Regnum mesmo? Ele não era o verdadeiro e único herdeiro? O primogênito!
Natan subiu a montanha e chegou finalmente ao palácio real que se localizavaa oeste de Elf Regnum, na principal montanha da tribo Aeris. Sua respiração estava pesada por causa da rápida caminhada que fez sem uma pausa sequer. Ele seguiu direto para seus aposentos, ignorando toda e qualquer tentativa de aproximação que um ou outro elfo tentava pelo caminho. Chegando lá ele abandonou o arco e as flechas ao chão no pé da cama e se jogou em cima dela para relaxar durante o curto tempo que ainda restara.
Em segundos, sequer percebendo, Natan caiu num sono profundo que durou mais do que pretendia, sendo acordado após um longo período por sua mãe, Anna Patrício.
–– Natan, meu filho. Acorde. Ande. Logo! –– repetia ela sem parar.
Com certa dificuldade Natan levantou-se. O que ele mais queria era estar o mais longe possível daquele lugar. Nessa hora ele ansiava ser um completo estranho. Não o filho do rei que estava para completar seu vigésimo ciclo de vida.
–– É necessário que eu vá mesmo? –– resmungou ele ainda sentado na cama.
–– Claro que é necessário Natan –– falou sua mãe praticamente o empurrando para o banho.
Depois de banhar-se e vestir as roupas que sua mãe preparava justamente para esse momento especial. Ele parara em frente ao grande espelho que ficava em seu aposento. As vestes da tribo Aeris eram uma mistura de diferentes tons de verde, e cores claras que se aproximaram do branco. Nesse momento olhando para sua forma esguia, prostrado de frente para o grande espelho ele via um garoto que todos os elfos já falavam que aparentava mais idade que verdadeiramente possuía.
Seus cabelos cacheados que caiam sobre os ombros. Sua cor mulata e seus olhos num tom castanho claro como o mel das abelhas. Sua camisa alternava três tons verdes num sentido diagonal, enquanto suas vestes inferiores eram num tom claro próximo ao branco.
Parando ao seu lado Anna admirava emocionada para o filho. Lágrimas rapidamente formaram em seus olhos, porém ela continuava com o sorriso encantador de sempre.
Agora Natan percebera o que todos falavam.
Ele era cópia fiel de sua mãe. Até mesmo os olhos cor de mel não deixara passar. Talvez a única diferença entre os dois fosse à altura. Pois desde os cabelos cacheados até a cor de pele escura, eram iguais.
Natan, vendo os sentimentos de sua mãe à mostra, virou-se para ela com um sorriso.
–– Não fique assim minha mãe –– falou ele parando à frente de Anna Patrício. Por sua vez ela consentiua uma lágrima tímida cair.
–– Tenho medo de te perder –– disse ela com a voz grave.
Natan voltou a sorrir.
–– Pare de ser boba! Você nunca irá me perder. Mesmo que eu vá para outra tribo. Sempre que puder eu virei aqui visitar a senhora e o pai.
–– Esse é o problema. Não quero que você parta para outra tribo. Mas sei que não está em nossas mãos.
Natan a beijou no rosto.
Anna o fitou com ternura.
–– O pai está animado. Ele acha mesmo que eu serei da tribo Aeris.
–– Espero que ele esteja correto.
–– Hoje mesmo, mais cedo, ele disse que tenho um talento natural.
Anna se afastou do filho indo pegar o bracelete de ouro que estava em cima da cômoda no lado oposto do quarto.
–– Você tem sim um talento natural para o arco-e-flecha. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que você pegou em um. Na verdade, no meu próprio. Você mirou em um tatu e por pouco não o acertou! –– agora ela estava rindo. –– Mesmo que seu destino não esteja em nossa tribo, você será grande onde for Natan, herdeiro de Elf Regnum.
Então o elfo virou-se de costas para a mãe.
–– Você sabe que eu não gosto que me chamem assim. Pelo menos você.
–– Eu sei. –– Anna sorriu.
Natan sabia que às vezes sua mãe repetia as palavras de seu pai somente para lhe irritar. Ela era sua principal confidente. Na verdade, ela era a única. Já que ele não conseguia se aproximar de mais ninguém sem parecer um completo estranho e sentir-se totalmente deslocado. Sua mãe sabia de quase tudo que ocorria em sua cabeça. Ele fazia questão de dividir cada sentimento novo que surgira. Talvez apenas um ele fizesse questão de deixar bem guardado somente para ele.
–– Chegou a hora –– anunciou Anna por fim.