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–– Você ouviu isso? –– perguntou a mãe que ainda estava escondida entre seus braços.
–– Ouvi –– disse ela voltando a se controlar, porém as lágrimas continuavam a molhar a camisa do filho.
Novamente o som de quebrar de galhos chegou ao ouvido dos fugitivos. Então logo que Natan soltou Anna e virou-se para ver de onde vinha o barulho.
Agora mais audível do que antes.
Pareceu a ele, que uma árvore fora arrancada de dentro da terra. Seu coração gelou.
Seus ouvidos foram inundados pelo som das porretadas que o ogro inferia na cabeça do seu pai, momentos atrás. Essas lembranças não paravam de surgir.
–– Venha Natan, precisamos sair daqui o quanto antes –– falou Anna pegando a mão do filho. Só naquele instante suas lágrimas cessaram e o medo tomou conta de todo seu corpo. Ela voltou a ficar alerta. Deixou a mistura de seus sentimentos de lado, pelo menos naquele momento de um perigo crescente.
Mas ele não saiu de onde estava. E parecia que não iria sair.
Anna puxou a mão do elfo mais uma vez. Com mais força. Apesar disso ele não se mexeu.
–– E se Eve estiver com eles? –– perguntou olhando para a movimentação em um espaço de grande distância.
–– Aí que devemos fugir o mais de pressa possível –– respondeu Anna preocupada. –– Por favor, Natan. Não podemos ficar aqui nem um momento a mais.
Contudo ele parecia irredutível.
–– Vamos surpreendê-los. Posso acertar uma flecha nele antes de sermos vistos.
Era tarde demais.
Antes que Natan percebesse, Anna já o atirara no chão no exato momento que o tronco de uma árvore era arremessado contra eles. E a movimentação aumentou rapidamente e logo se viram quase frente a frente.
Dois elfos Ignis e cinco ou seis ogros. Sequer o príncipe teve tempo de contar quando Anna o puxou pela última vez, porém dessa vez ele seguiu a mãe. Parando apenas para pegar a espada dourada – que voltou a ficar escarlate ao seu toque – e seu arco que caíra assim que fora libertado da esfera de ar de Anna, sua mãe.
Agora era questão de vida e morte.
Eve não mandaria todos aqueles monstros se não fosse para liquidar de uma vez o herdeiro de Elf Regnum e sua mãe. Eles eram soldados da morte. E estavam ali com um único objetivo.
Matar o príncipe!
Assim que eles começaram a fugir. Os dois elfos e os ogros começaram a persegui-los. Natan não sabia para onde sua mãe corria, ele só a seguia de perto. Apesar dos ogros serem demasiadamente mais lentos que os elfos eles avançavam rapidamente. Volta e meia um ogro quebrava uma árvore e jogava contra os fugitivos. Nem mesmo os guardas-elfos os alcançaram, talvez estivessem, propositadamente, avançando no ritmo dos ogros.
O último tronco que voou no ar quase acertara o jovem elfo em cheio. Porém, ele se esquivou por pouco e continuou a correr. Seguindo de perto sua mãe.
Apesar da aparência gorda dos ogros, eles conseguiram alcançar os elfos mais rápido do que Natan pensara que aconteceria. Então tudo parou no momento em que um dos ogros lançou no ar sua clava e com uma força descomunal acertou em cheio as costas do elfo que fugia, fazendo-o cair pesadamente no chão. Largando a espada dourada que caía a seu lado e o arco que fora parar mais à frente.
Com um grito seco ele caiu no chão, sentindo forte dor que tomara, quase de imediato, todo seu corpo.
Anna – que estava mais a frente – virou-se para ver o que acontecera com o filho e tratou de retornar o caminho para resgatá-lo antes que os guardas de Eve o alcançassem.
Por um instante muito curto ele e sua mãe trocaram um olhar cumprisse. Então Anna correu em direção ao filho, já manipulando o ar a sua volta.