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Agora ele estava sozinho e precisava lutar. Pelo seu bem e de sua mãe. Era seu dever protegê-la acima de tudo.
Se ao menos ele ouvisse seus conselhos, provavelmente agora estariam seguros.
O jovem elfo ajeitou a espada em sua mão direita e voltou-se a correr para onde o ogro caminhava em direção a sua mãe.
Ele precisava mantê-la segura.
Porém ele não fora capaz disso.
Assim que se aproximou do monstro correndo com a espada desembainhada em sua mão, ele fora atingindo no peito em cheio com um soco do ogro. Fazendo arder seus pulmões à medida que caía para trás.
Ele sentiu o ar deixar seu corpo. Uma forte dor mais uma vez percorreu todo ele. Então o jovem príncipe caiu pesadamente no chão. Forçando-se para respirar normalmente; ele não conseguiu.
O som de passos chegou aos seus ouvidos, porém não eram passos pesados característicos dos ogros e sim passos normais. Passos de elfo. Pisando sobre as folhas secas típicas daquela época do ciclo. Amassando-as a cada andar dado. Então ele ver novamente o guarda-elfo parado a seu lado. Com um sorriso triunfante no rosto.
–– Você pensou mesmo que conseguiria nos vencer? Vencer o poder do Rei Eve? –– disse ele animadamente.
Natan não falara nada. Só olhava com ódio para aquele elfo, ainda tentando respirar normalmente.
Como elfos poderiam se aliar à ganância de um traidor?
–– Rei? –– diz Natan deixando soltar um sorriso.
–– Sim. Ele que deveria ter sido Rei desde o princípio. Agora ele tomará o poder que lhe fora roubado há muito tempo.
–– Roubado? –– Natan continuava deitado. –– Como algo pode ser roubado quando sequer veio a pertencer a esse elfo?
Natan sorriu ao ver a expressão no rosto do elfo.
Ele virou a cabeça para o ombro esquerdo, seu olhar sondava Natan.
Por sua vez, o jovem elfo sentiu seu coração acelerar.
–– Quero ver se continuará com essa arrogância quando estiver frente a frente com o rei Eve. Garanto que sua morte não será tão rápida quanto a do seu pai se continuar com essa atitude –– falou ele quase como um conselho.
–– Espero que não seja –– respondeu Natan sorrindo novamente.
Um baque pesado mostrou que o ogro largou o corpo de Anna a seu lado. Um gemido quase inaudível que provavelmente apenas Natan ouvira informara que sua mãe ainda estava viva, porém inconsciente.
Ele precisava fazer alguma coisa mais rapidamente possível.
Não podia deixar a mãe morrer nas mãos desses monstros. E também não estava tão disposto a morrer.
–– E qual é o seu nome tão adorável seguidor do rei Eve? –– sua intenção na pergunta era conseguir o máximo de tempo para pensar em um plano de emergência.
–– Simis Welte Segundo –– disse o elfo.
–– Porque não chega mais perto Simis –– ele controlou sua voz para não parecer ancioso. Precisava passar o máximo de tranquilidade possível.
Ele já sabia o que fazer. Mesmo nunca tendo feito algo tão monstruoso assim.
Quando o elfo deu um passo para frente Natan chutou com toda a força que tinha nas pernas de Simis fazendo-o cair. Antes que algum ogro tivesse oportunidade de chegar perto o suficiente para impedi-lo, o jovem elfo pegou a espada que estava ao lado de seu corpo, e, sem pensar duas vezes, inseriu a espada no peito do elfo. Exatamente onde fica seu coração. Cravando-a o mais forte que podia em seu peito.
Assim que introduziu a espada até chegar sua base o elfo soltou sangue pelos lábios entreabertos e Natan viu a vida deixá-lo por completo.
Essa foi a primeira vez que ele matou um elfo. Mas não seria a última.
Apesar de tudo ele se sentia bem. Ele pensou em Eve. Na sensação de sentir a espada entrando no peito do elfo responsável por toda essa guerra. Todo esse sangue.
–– O segure! Rápido. –– Natan ouviu antes que um ogro pegasse seu braço com tal força que parecia que quebraria todos os ossos dele.
O outro elfo vinha se aproximando.
Quando olhou para o lado viu que sua mãe já começara a ser arrastada.
A força do ogro era tão grande que ele não conseguiu segurar a espada. Então ele a deixou cair ao chão e sua cor novamente voltou a ser dourada.
–– Comigo você não será tão esperto jovem príncipe –– disse o elfo se aproximando do rosto de Natan. Ficando cara a cara com ele. –– Agora você é meu e o levarei direto ao rei Eve.
Mesmo tentando se desvencilhar, não conseguiu; qualquer movimento seu foi em vão. A força do ogro era muito maior que a sua. Chegara seu fim, ainda mais sem nenhuma a**a em mãos para lhe auxiliar em sua escapada.
O jovem elfo viu o seguidor de Eve pegar a espada dourada aonde ela havia caído. Porém sua coloração não se alterou com o toque deste elfo.
Talvez a espada só respondesse a mim. – refletiu.
Com um aperto mais forte em seus braços um ogro começou a arrastá-lo pelo chão cheio de folhas secas e pedras que machucavam suas costas e pernas.
Natan não pensou em outra coisa se não se debater feito uma presa. Ele precisava se libertar. A segurança de sua mãe dependia disso. Por falar em Anna, ela continuava inconsciente. Seguindo quase lado a lado o filho, também sendo arrastada pelo chão da floresta.
Retrocederam todo o caminho percorriro e logo começaram a subir o morro e Natan sabia que estava (a cada passo largo daquele monstro) mais perto da morte.
Ele não morreria sem lutar. Não se entregaria tão facilmente. Era a sua vida. A vida de sua mãe. Ele não se daria por vencido, sequer permetiria que seu tio, Eve, fosse coroado rei de Elf Regnum. Nequele trono ele não se sentaria.
Então ele voltou a se debater mais forte que conseguia, assim como um pássaro quando é pego em uma armadilha. Como um peixe preso em uma rede; um animal enjaulado. Ele lutaria para voar mais uma vez. Como ele desejou ser um elfo Aeris agora. Com certeza criaria um redemoinho tão grande que faria todos voarem dali para bem longe. Porém seus dons ainda não manifestaram, ele ainda não sabia de qual tribo pertenceria.
Ele continuava a lutar. Suas costas bateram forte numa rocha grande cravada no chão, a dor voltou quase imediatamente. O ogro que o segurava – à medida que Natan se esforçava para se libertar – apertava ainda mais os braços dele, que já estavam tão juntos que um podia sentir a fraca pulsação do outro.
Lágrimas quentes invadiram o rosto do jovem elfo. Porém ele não estava preparado para desistir por isso continuou lutando.
Então algo surpreendente começou acontecer.
De dentro para fora, Natan começou a sentir seu corpo esquentar. Parecia que uma chama despertara em seu coração e a partir dali – rapidamente – começou a invadir todo seu corpo. Passar por cada parte dele, preenchê-lo por completo. Indo da ponta da cabeça (incluindo os cachos castanhos) até os pés e principalmente nas mãos. Seu corpo se aquecia na medida em que a chama aumentava dentro de si. Ele sabia que aquilo queria dizer algo, então se pôs novamente a lutar.
E ele lutava como se aquela fosse sua última chance. (E provavelmente era) O ogro aumentou a força sobre suas mãos, mas nem isso o fez desistir de sua tentativa desesperada de se soltar. Até que o monstro que o arrastava morro acima afrouxou sua mão gorda e verde.
Isso foi animador, até o príncipe perceber o que de fato estava acontecendo.