Irina Ivanov
Consegui me recuperar bem do ocorrido e a minha coxa só tem uma marca de ferimento. O local ainda dói e precisa cicatrizar por dentro, mas nem se compara com antes.
O que eu preciso mesmo me recuperar, é da minha loucura no casamento da Lilia.
Pode ter sido ingenuidade minha, mas eu estava contando que Danilo tinha me esquecido e mais ainda, esquecido o tapa. É, eu fui e sou uma tapada! Que homem esqueceria de um tapa bem na cara e mais ainda, um homem da máfia que não é nada dessa mulher.
Eu sou uma louca!
Eu estou em crise interna por aquele beijo e o pior, é que ele se aproveitou de mim. No caso, do meu surto. Danilo se divertia com o meu medo e fui pega de surpresa por aquele beijo. Como que pode o meu primeiro beijo ter sido daquele jeito? A regra é clara, por mais tosca e machista que seja, o meu primeiro beijo deveria ser com o meu marido.
Mas não foi e se souberem, eu estou ferrada!
E o pior, eu não posso desabafar com ninguém sobre isso. A minha mãe surtaria, o meu pai me matava e Mikahel nem se fala. Ou seja, não tenho ninguém! Eu não tenho muita intimidadë com o Alek e por isso eu nem cogito.
Estou sozinha nisso!
— Irina... — Ouço a voz da minha mãe. — Eu estou saindo para a ONG. Quer ir comigo? Pode fazer algo melhor do que ficar nesse sofá. — Eu nem penso pra responder.
— Desculpa, mãe, mas eu prefiro aqui com o meu livro e diário... — Digo vendo-a cruzar os braços. — O que foi?
— Você nunca é de se recusar a sair... o que houve? — Ela me encara em descrença.
— Nada! Eu só... estou na preguiça. — Dou de ombros. — Mas, pode trazer aquela balinha quando voltar?
— Não, eu não posso... — Ela dá meia volta e fico chocada. — É de morango, não é?
— ISSO! — Grito em resposta. Ela vai trazer.
Ela está certa. Eu nunca sou de recusar uma saída, porque eu já passo dias e dias presa em casa. Mas, a minha cabeça está uma loucura e prefiro ficar sozinha. A casa está um enorme silêncio e isso só faz a minha cabeça enlouquecer.
O meu pai está na empresa, Mikahel está trabalhando por aí, Alek e Melina viajaram e fiquei só. Pensando nisso, eu tento decidir se é uma boa, eu conversar com a Melina. Ela é legal, se comportou como uma amiga mesmo e me salvou de um enorme problema.
Ou seja, eu tenho uma certa confiança nela, então, será uma boa ideia?
— Mas ela é irmã dele, Irina... — Falo comigo mesma. — Drogä!
O que eu faço?
Danilo logo vem à minha mente e lembro bem daqueles poucos minutos. O perfume dele ficou no meu pescoço e vestido naquela noite. E eu não o lavei! Pensando nisso, eu me levanto do sofá e vou subindo as escadas. Eu entro no meu quarto e vou diretamente ao meu closet em busca desse vestido.
Quando eu o encontro, eu me dou à louca e cheiro o tecido bem no b***o e nas alças. Cheiro de Danilo safado! Sim, é isso que ele é. Mas não deixa de ser lindo.
Danilo tem um charme sem precedentes e é todo convencido. Ele me mostrou ter uma personalidade bem ousada e como todo homem da máfia, se acha o maior. Mas ele faz isso como nenhum outro.
Será que eu ainda vou vê-lo um dia? Quem será a esposa dele quando se casar?
Eu estou perdendo a noção do limite!
Isso é culpa desse perfume e dele que me agarrou. Eu sei, eu deixei por um tempo e até gostei, mas quando senti as mãos dele debaixo do meu vestido a reação foi de fugir. Eu não seria louca ao ponto de ceder.
O que será que ele está fazendo agora na Itália?
Bufo depois de cheirar o vestido mais uma vez, porque ele com certeza nem lembra mais de mim. Fui apenas mais uma que ele beijou!
— Irina? — Ouço o meu nome e guardo o vestido no lugar. — Irina?
— Oi! — Respondo e saio do closet. — O que faz aqui? Pensei que estava trabalhando.
— E estava... — Mikahel entra e se encosta na parede. — Alek decidiu viajar na pior hora e deixou tudo pra cima de mim... tudo nas minhas costas. — Ele diz com raiva. — Ainda bem que ele volta hoje.
— Foram só três dias... ele não teve lua de mel, Mikahel. — Digo achando que três dias não são nada.
— Três dias puxados e sou apenas um... mas pelo menos estamos resolvendo umas coisas, mas outras surgem. Eu preciso dele! — Fico sem entender, mas sei que eles dois são unha e carne no trabalho.
Mikahel continua encostado na parede e eu me sento na minha cama. Ele anda bem estressado ultimamente e por mais que sejamos próximos, tem momentos que eu tenho medo de perguntar alguma coisa a ele.
E esse momento é um deles. Mas crio coragem!
— Você anda bem sumido... está tudo bem? — Ele me olha estreitando os olhos. — Eu só... só percebi.
— Por que todos me perguntam isso? — Ele se irrita e dá meia volta. — Eu estou bem e é só o trabalho. — Ele passa as mãos no rosto e volta a me olhar. — Conseguimos pistas de Konstantini e Klóvis... — Eu prendo até o ar. — Konstantini foi capturado.
Essa notícia me traz um arrepio. É muito tempo que eles são procurados e finalmente um deles foi pego. Esse Konstantini é um louco e nem sei quem é pior dos dois. Mas, Mikahel não parece tão feliz como pensei que ficaria.
Tem algo lhe incomodando e é algo que supera esse caso.
— Não está aliviado? — Pergunto confusa, porque falamos tanto disso.
— Estou, mas tem um italiano metido a idiotä se envolvendo nos nossos negócios... — Fico sem entender nada. — O irmão da Melina, Danilo... já o viu? — Eu engulo em seco.
Eu juro eu desaprendo até a respirar nesse momento, porque ouvir o nome do Danilo ser dito por outra pessoa, só me faz lembrar do que não deveria ter acontecido.
— Irina... eu te fiz uma pergunta! — Mikahel me chama mais alto.
— É... e-eu acho que já o vi. — Digo tentando agir normalmente. — Mas, o que tem ele?
— Ele está aqui na Rússia ainda e querendo saber sobre esse caso... — Os meus olhos nem piscam aqui. — Eu não sei que merdä ele quer, mas se eu o ver... eu quebro aquele sorrisinho superior que ele tem.
Mikahel nunca gostou do Danilo e ouvi isso ser dito por Alek. Nunca entendi o motivo, mas estou vendo isso bem aqui. Mikahel sai do meu quarto sem dizer nada e ele está bem agitado. Está com raiva!
O que o Danilo faz aqui ainda? Eu pensei que estava na Itália.
E, o que ele quer descobrindo as coisas?
Ele não pode ficar aqui, porque se descobrirem o que fizemos eu serei morta.
Agora, sim, eu estou surtando!