Priscila era uma jovem em seus vinte e cinco anos, mas quem a visse caminhando pela rua naquele dia, não acreditaria nessa idade, parecia ter bem menos… Magra, de estatura baixa, cabelos curtos e óculos, vestindo roupas um tanto masculinas, que lhe davam um aspecto infantil. Fazia muitos planos enquanto caminhava, absorta em seus pensamentos…
Como era estranho o destino.
Ela parecia nunca participar de acontecimentos reais, sempre considerou sua vida monótona; no entanto, era a segunda vez que tinha visto algo interessante. Agora tudo poderia mudar, só tinha que ser esperta o suficiente. Um dinheirinho a mais não cairia nada m*l, tantas contas para pagar e aquela prestação da TV atrasada estava quase sujando o nome dela nos serviços de p******o ao crédito… Era arriscado, mas valeria a pena… Um golpe de sorte estar naquela rua e ver os dois conversando, depois de tanto tempo... De pensar que logo depois, Roberto havia sido morto… Bem que ela estranhou que os dois conversassem amigavelmente depois de tudo o que aconteceu… Agora não restava nenhuma dúvida de quem havia cometido aqueles crimes… Se Roberto não fosse tão imprudente, ainda estaria vivo.
“Gordo fanfarrão! Sempre se achando tão esperto e querendo tirar proveito das pessoas…”
Ele costumava ser um sujeitinho nojento, enxugando o suor da testa com aquele lenço encardido e falando todo pomposo, fingindo ser educado…
Parece que dessa vez tinha ido longe demais…
“ Mas comigo vai ser diferente, sou mais esperta, não quero favores pervertidos como um gordo metido a sabichão, apenas uma graninha a mais e ficarei calada…”
Olhou para os lados, dirigiu-se ao orelhão, tirou um pedaço de papel do bolso da calça e digitou os números anotados.
– Alô… Alô… Lembra-se da minha voz? – Riu da própria piada. – Não? Ah, mais que memória r**m… Que pena! – Dizia com tom debochado e irritante na voz. – Mas eu me lembro de você e me lembro muito bem de ter te visto com o Roberto… Ah, tudo bem, não te condeno, você prestou um serviço à sociedade, aquele homem era um degenerado… Não é brincadeira nenhuma, falo bem sério! Olha é melhor você se acalmar e falar baixinho comigo… Está vendo, não é difícil [...]. Mas é disso que eu quero falar, estou te ligando porque preciso de sua ajuda! Estou precisando de uma grana aí, parentes doentes, você sabe como é… Como assim você não tem nada a ver com meus problemas? Sei… Mas não acha que vale a pena? Isso é quase de graça… Serei sua amiga eternamente […]. Vamos nos encontrar sim, agora estamos falando a mesma língua… Conhece o teatro João Caetano? Praça Tiradentes… Combinado, então. Até lá…
Priscila voltou pra casa saltitante, tudo daria certo! Já estava na hora de sua sorte mudar e agora tirou a sorte grande… poderia transformar aquilo em uma mesada… Sim… Não seria muito, mas seria um dinheiro certo.
Passou pelo porteiro sem perceber sua presença, entrou no elevador, quarto andar… Parou diante da porta, procurou as chaves na bolsa e não as encontrou… Após um muxoxo, bateu na porta, como ninguém respondeu, bateu mais uma vez e gritou com com irritação na voz:
– Mãe, abra a porta!
Uma voz lá de dentro se fez ouvir:
– Já vou, menina, não sabe esperar?
Entrou e deixou a porta aberta atrás de si. Enquanto fechava a porta a mãe perguntou:
– Pra que tanta pressa, hein? E onde estava?
– Por aí... Que saco, onde está minha blusa azul? Preciso sair!
A mãe apareceu com a tal blusa azul na mão, como por milagre, bem como as mães costumam fazer.
– Está aqui e aonde você vai tão agitada, será que posso saber? – Perguntou irônica.
– Não, não pode! Mas já, já, eu volto e não se preocupe com o jantar, vou trazer uma pizza! – Beijou o rosto enrugado da mãe e saiu novamente.