Capítulo 7 - Um fantasma do passado

1529 Words
Luís Oliveira estava sentado de frente para sua mesa quando seu parceiro se aproximou animado com uma novidade: — Encontraram o corpo de uma mulher numa daquelas ruelas perto da presidente Vargas… — E o que eu tenho a ver com isso? — Perguntou Oliveira ao se virar para o parceiro. — Eu também achava que nada, mas, a mulher foi morta da mesma maneira que nosso defunto, e os peritos encontraram uma pena em sua boca, idêntica à pena que encontraram na do outro… — Como assim? — Perguntou com mais interesse. — Bem… — André pôs-se a ler o documento que tinha em mãos. — Atingida na nuca com objeto perfurante, nada encontrado no local, carteira intacta… Só achei que poderia ser mais do que coincidência, já que a vítima era conhecida do tal Roberto… — O corpo está no IML? — Sim, acho melhor darmos uma passada lá. — Disse André, alegre com a deliciosa sensação de ter surpreendido seu parceiro com a novidade. *** Dona Teresa estava arrumando o quarto da filha, tinha dobrado as camisas que estavam jogadas sobre a cama e colocado no cesto as que estavam sujas. Sua filha se comportava ainda como uma criança bagunceira, balançou a cabeça com pesar. Ao tirar o ** da mesinha onde ficava o computador, deu uma olhada na fotografia que estava presa em um quadro magnético rosa, coberto de fotos antigas. A que segurava agora era uma foto dela com sua filha brincando na praia… Era uma criança tímida e doce. Boas lembranças, aquele havia sido um dia muito feliz em família, pouco antes de seu marido ir embora com a amante e não dar mais notícias… Depois disso, tudo havia dado errado. Teve que trabalhar em uma lanchonete para sustentar sozinha a filha pequena… E então, ela entrou na adolescência e quase não se falavam... Agora já eram quase como duas estranhas dividindo a mesma casa. Amava demais a filha, mas reconhecia não ter tido muito tempo para demonstrar… “Tão difícil criar uma filha sozinha… “ Tantos apertos, algumas vezes nem tinham o que comer… Mas a filha estava animada pela manhã e isso a deixava feliz. Ouviu batidas na porta que a tiraram de seus pensamentos. Levantou-se para abrir, esperava que fosse sua filha de volta pra casa, mas, o que viu pelo olho mágico foi dois homens que não conhecia. Ajeitou os cabelos enquanto abria passagem na minúscula sala para que os dois homens, que se apresentaram como detetives, pudessem entrar e se sentar. Oliveira deu o melhor de si para parecer solidário e realmente ele se comovia com o sofrimento das mães de vítimas de assassinato, mas sempre teve dificuldades para demonstrar como se sentia, sempre pareceu ser uma pessoa fria. Os detetives tanto esperavam, como temiam uma cena mais dramática, mas ela pareceu se controlar bem na medida do que era possível. Ela não conseguia conter as lágrimas e se tremia muito. Oliveira pediu a André que buscasse um copo de água com açúcar para ela, que bebeu vagarosamente entre soluços. Deveria ir reconhecer o corpo… “Meu Deus, teria que resolver tudo sozinha.” — E agora…? Minha filhinha… Meu Deus, minha filhinha… Quem poderia fazer m*l à minha garotinha? Detetive André interrompeu os lamentos com delicadeza: — A senhora nos permitiria dar uma olhada nas coisas de sua filha… para ajudar na investigação e prendermos quem a tirou da senhora? — Ãh…? — Respondeu atordoada. — É… claro, por favor… Venham… Este é o quarto dela… da minha menininha… Ela estava tão feliz hoje, animada com alguma coisa... eu até pensei... Meu Deus… — E caiu em prantos novamente. Detetive Oliveira pediu a André que a levasse de volta à sala para que ele pudesse vasculhar o quarto da moça com mais tranquilidade… Observou o quarto, procurando captar a personalidade da falecida dona por meio de seus objetos. Era um quarto bem infantil para uma mulher adulta, com roupas de cama rosa bordadas, bonecas e bichos de pelúcia espalhados sobre a cama e prateleiras; um computador sobre a mesinha. Ele reparou que não tinham conexão com a internet. Revistou as gavetas… poucas roupas… Viu as fotografias presas em um quadro na parede, fotos dela na faculdade. Então ele avistou uma foto que o interessou. Uma festa para calouros, Priscila estava abraçada a veteranos e um deles, no fundo da foto, era Bárbara… A foto o confundiu um pouco, ela estava com os cabelos bem mais curtos, mas ele sabia que era ela. Agora as mortes tinham mais uma coisa em comum… E era ela… Ele não esperava por isso. Pensar nela como uma possível suspeita o deixava desconcertado… Guardou a foto no bolso, resolveu não mostrar ao parceiro por enquanto… Iria ligar pra ela. Tinham muito que conversar… *** Bárbara tomou um comprimido, não estava se sentindo bem aquela noite… As crianças estavam mais animadas do que o normal durante a aula e todos aqueles gritos e gargalhadas tilintavam em sua cabeça… Lívia não estava em casa, havia saído com Mauro, sua mais nova conquista. Bárbara decidira ficar em casa, descansando. O telefone tocou: — Alô, Bárbara? — Sou eu, quem fala? — Oh, Bárbara, sou eu, Renato… Poxa, você se mudou e nem se despediu de mim… Ela se lembrava dele e se lembrava melhor ainda do motivo que a fez se mudar sem se despedir dele… Tiveram um relacionamento de três anos, conversavam sobre o futuro, muitos planos, casamento, filhos… Mas a maneira como terminou... — Como descobriu meu número? — Perguntou com frieza na voz. – Segredo! – Respondeu com uma risadinha que, para ela, soou irritante. – Temos amigos em comum, lembra? Escuta, você tem todas as razões do mundo para não querer me ver, eu sei… Mas eu ainda penso em você e sinto tua falta. – Estou cheia de dor de cabeça, Renato, vou desligar. – Ela juntou a fala à ação. No mesmo instante em que colocou o fone no gancho, ele tocou novamente, ela então atendeu, sem paciência e com a voz alterada: – d***a! Já falei que estou com dor de cabeça e não quero falar com você! – Bárbara? Sou eu, Luís Oliveira… – Ah, desculpe-me, pensei que fosse outra pessoa… – Percebi. Preciso falar com você. Posso passar aí na tua casa? É importante. – Claro, pode vir agora mesmo, eu te espero… Se despediram e ela desligou. Ficou se perguntando o que seria tão importante… A voz estava fria, não parecia ser por motivos que a agradariam… Enfim, ela deu de ombros, descobria em alguns minutos. ***** Luís tocou a campainha ainda intrigado… Pensava em qual seria a melhor medida a tomar, não queria estragar as coisas, mas ainda assim, tinha que fazer seu trabalho. Ela abriu a porta e ele pôde sentir seu perfume. Bárbara estava de shorts e uma camiseta, bastante à vontade e ainda assim estava lindíssima. Ela o convidou a entrar, indicando um sofá, pediu que ele se sentasse e ofereceu algo para beber. — Um copo d’água, por favor. — Estou achando que o motivo da visita é formal, estou enganada? — Não está enganada, mas por que acha isso? Ela sorriu e deu uma piscadinha antes de responder. — Porque você quer beber água! — E saiu da sala para pegar a bebida de seu visitante. — Aqui está! — Disse ao entregar o copo com água gelada. — Obrigado! – Ele respondeu. Enfiando a mão no bolso e tirando uma fotografia de lá, entregou a ela. — Conhece essa garota? — Hum, deixe-me ver... — Colocou os óculos que estavam sobre a mesinha. — Hum… que engraçado, não me lembro dela não, mas essa aqui... sou eu… Nossa, estou com o cabelo h******l nessa foto! Detetive… onde você conseguiu essa relíquia, hein? Pode atear fogo, não espalhe por aí essa imagem, estava numa fase terrível, fico h******l com esse tipo de corte… Ela riu com vontade, mas ele apenas sorriu e disse: — Não posso jogar fora, essa é a foto de uma mulher que foi assassinada, notei que era você e quis ver sua reação… — Disse com sinceridade. — O que foi, Luís, acha que eu matei essa moça? — Não é isso, desculpe-me, mas, tenho que fazer o meu trabalho… — Fui reprovada nesse teste? Agora sou uma suspeita? — Perguntou sem tentar esconder a indignação. — Não… fiquei aliviado com sua resposta, em todo caso, duas pessoas que você conheceu foram mortas nesta semana, tive que averiguar. — Primeiramente, não conhecia o outro cara e nem me lembrava dessa moça, mas, talvez eu faça o perfil assassino, saio por aí matando gente que m*l conheço… Só isso que o senhor queria, senhor detetive? — Perguntou com a voz embotada e cheia de sarcasmo, levantando… Ele se aproximou dela, percebeu seu olhar triste com a desconfiança, colocou o dedo no queixo dela para levantar-lhe o rosto, passou a mão em seus cabelos e beijou sua testa. Então, ele se lembrou de algo e perguntou: — Quem você pensou que fosse ao telefone? Parecia zangada… — Um fantasma do passado, alguém de quem não quero falar.
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