Capítulo 4 - O dia seguinte

1753 Words
O detetive Oliveira estava em sua mesa com os arquivos de um novo caso nas mãos, mas sua mente estava na mulher que conheceu há duas noites. Conheceu não seria bem a palavra certa, já que não sabia o seu nome. Era um homem atraente e s**o casual não era nenhuma novidade em sua vida, mas aquela mulher, aquela “feiticeira”, como gostava de chamá-la, dominava os seus pensamentos. “Quer dar uma volta?” Fora tudo o que aquela “feiticeira” havia falado no seu ouvido, e no instante que a viu, não conseguia raciocinar direito. Talvez fosse culpa das cervejas que havia bebido antes… Não, ele sabia que não era culpa do álcool. Aquela voz suave e sexy ecoava em sua mente… Foram até o estacionamento sem dizer uma palavra, entraram em seu carro e ele levou-a para seu apartamento, que ficava perto do bar. Ao abrir a porta, perguntou o seu nome, mas ela não respondeu, apenas sorriu pra ele… Que sorriso! Que lábios deliciosos! A respiração dela estava ofegante e o peito arfava sob o vestido que insinuava as curvas de seu corpo… Ela colocou o dedo indicador sobre os lábios dele para se calar e o beijou, um beijo suave que foi se intensificando. Não conseguiam desgrudar os lábios, uma mistura de excitação e fascínio o dominava. Enquanto apertava o corpo delicado daquela mulher contra o seu, deslizava as mãos nos s***s fartos, arrancando o vestido dela com toda a fúria da emoção que sentia. Enquanto lhe beijava o pescoço, embriagado pelo perfume, ele apertava o corpo dela contra o dele com força. Sentia o calor daquele corpo e quase perdia a consciência ao senti-lo. A voz dela sussurrava gemidos em seu ouvido. Fizeram amor a noite toda e ela dormiu sobre o peito dele, enquanto ele acariciava os seus cabelos… Quando acordou, ela já havia deixado o apartamento. A única coisa que restara foi o perfume no travesseiro, nos lençóis… Os seus devaneios foram interrompidos pela torrente de informações que o seu parceiro lançava: — E parece que foi a última pessoa a vê-lo com vida, as imagens da câmera do ônibus são bem nítidas, já temos a identificação, não parece muito promissor, mas é a única pista que temos. É professora em uma escola pública, podemos ir lá agora tentar obter alguma informação, o seu nome é Bárbara, Bárbara Rodrigues… Os detetives pararam o carro em frente à escola. Oliveira estava um pouco desanimado com a única possibilidade de pista que tinha para o caso. Afinal era um transporte público e a passageira que estivesse sentada ao lado do homem que foi assassinado pode nunca ter falado com ele na vida, mas precisavam tentar. Qualquer informação seria importante, já que até então não havia nem sombra de um suspeito. O homem foi assassinado, essa era a única certeza. Sua carteira estava intacta e com dinheiro dentro, apenas uma perfuração na nuca provocada por algum instrumento afiado, uma faca ou estilete teriam feito o trabalho de forma rápida, mas a arma do crime não foi deixada no local. Nas histórias da televisão, como CSI, era mais fácil, o criminoso sempre deixava uma pista, pontas de cigarro, pegadas, digitais… mas a prática ele conhecia bem e era muito diferente. Centenas de pessoas passam diariamente por aquelas ruas... Não… na vida real nada era tão fácil... Após se identificarem, os detetives foram levados pelo porteiro até a sala dos professores. Foram recebidos por uma senhora idosa identificada como Clarisse, a diretora, que falava como se não soubesse o que são vírgulas. — Sentem-se, por favor, espero que compreendam que não costumamos ter envolvimento com a polícia aqui, é uma escola pública, mas somos como uma família e aqui só tem gente de bem... Gostariam de beber algo? Não? Nem mesmo um cafezinho? Ah, sim… Os senhores vão aceitar um cafezinho, sei que estão a trabalho, mas café não tem álcool! Pronto, aqui está. — Se interrompeu para servir o café a seus visitantes inesperados. — Senhorita Bárbara? Ah! Sim, ela está na sala de aula agora, uma moça encantadora, é nova aqui, mas parece ser bem competente, as crianças a adoram… Detetive Oliveira teve que fazer um esforço maior do que o normal para interromper o fluxo das palavras da diretora. Sentia-se como um menino em idade escolar sempre que estava na presença de educadores e perdia a conta das vezes que havia sido levado até a direção por mau comportamento quando criança. Riu consigo mesmo pelas lembranças… — A senhora, então, poderia chamá-la? Não é nada para se preocupar, só queremos saber se ela pode nos ajudar… — Claro! — Interrompeu nervosamente a diretora. — Sei que não pode ser nada de mais, claro que não poderia ser... aguardem um minutinho que já vou trazê-la… Saiu da sala deixando os detetives sentados eretos, quase que respondendo em coro “Sim, senhora diretora”… O detetive André Gonçalves era mais novo que seu parceiro. Tinha 26 anos, alto e magro, com cabelos loiros cortados bem curtos, que por serem muito lisos, ficavam arrepiados. Olhos pequenos, de um verde desbotado e falava sempre com voz tão tímida, que aqueles que não o conheciam poderiam facilmente confundir com insegurança. Ele via no seu parceiro Luís Oliveira não apenas um novo e grande amigo, como também um instrutor. Por conta disso e como uma brincadeira entre amigos, costuma chamá-lo de chefe. Até porque, assim ele se comportava, mas André não se incomodava tanto com o ar professoral de seu parceiro. Adorava o seu trabalho e sabia que o outro, com os seus trinta e cinco anos, tinha muito mais experiência, portanto, o admirava e reconhecia o seu valor enquanto policial esforçado e honesto. Ambos eram dedicados ao trabalho e não afeitos ao “jeitinho brasileiro” de trabalhar. André surpreendeu-se com a reação do seu amigo ao avistar aquela mulher que acabara de entrar na sala… Era de fato muito atraente, mas já tinha visto seu amigo tendo casos com mulheres tão atraentes quanto ela. O olhar do detetive Oliveira estava vitrificado, impossível de compreender… Ao vê-la, ele derrubou a xícara de café que lhe fora oferecida pela diretora e parecia um colegial tímido que não encontrava as palavras para falar… André, então, tomou as rédeas daquela conversa: — Senhorita Bárbara, não queríamos interromper a sua aula, mas precisamos fazer umas perguntas… Ela demorou a responder, parecia hesitante. Ficou parada na porta, olhando para o detetive Oliveira enquanto ele catava os cacos da xícara que acabara de derrubar. Fora apenas dois segundos de silêncio, mas para ela, naquele momento, parecia uma eternidade… Deslizou a mão sobre uma mecha de cabelos negros que caíam sobre o seu rosto e a prendeu atrás da orelha, como fazia sempre que estava nervosa… O efeito era elegante e sensual e não demonstrava de forma alguma o nervosismo que a levara a tal gesto. — É... Pois não... Em que posso ajudar? E pode me chamar apenas de Bárbara… Oliveira se recompôs, colocou os cacos sobre a mesa e a encarou. Procurava nela, alguma reação pela noite que passaram juntos. Será que se sentia como ele? Será que ele havia sido apenas mais um? Será que se recordava… mas de alguma forma estava feliz, a mulher que não saía da sua cabeça estava ali, parada na sua frente, e agora sabia o seu nome… Ele disse: — Bárbara, na última segunda-feira um homem foi morto e gostaríamos de fazer algumas perguntas a você, qualquer coisa que puder lembrar, será de grande ajuda. Conhecia um homem chamado Roberto? Roberto Guimarães Filho? — Os seus olhos encontraram os dela enquanto falava… — Bem... Não conheço ninguém com esse nome, mas reconheci a foto no jornal e me lembro dele, porque me ajudou a entrar no ônibus… Mas fora isso, não sei nada dele… Infelizmente não tenho como ajudá-los… — Você sentou ao lado dele nesse ônibus, — Comentou André, interrompendo-a — lembra-se de algo que ele possa ter dito, ou se o comportamento dele estava estranho de alguma maneira? — Difícil falar se o comportamento de alguém está ou não estranho quando não se conhece o sujeito, o senhor não acha? — Sorriu desafiadora — Ele foi gentil ao pedir ao motorista para me esperar, depois comentou alguma coisa do livro que eu estava segurando, algo sobre todo mundo ser louco e que a qualquer momento poderíamos estar ao lado de um sem saber. — Acredita que ele pode ter dirigido essa fala para alguém em especial no ônibus? — Não sei, poderia, mas não creio que estivesse. — Lembra-se em qual ponto ele desceu do ônibus? — Perguntou Oliveira. — Não… Eu estava tentando evitar conversa com ele e preocupada com o horário… Nem vi quando desceu… — Então ele desceu antes de você? — Oliveira agora era o único que fazia perguntas. — Bem... Acho que sim… porque ele estava na janela e teve que me pedir licença… Desculpe, mas não lembro muito bem, eu realmente estava preocupada com meu atraso. — Chegou atrasada naquele dia? – Ela fez que sim com a cabeça. — Por quê? — Distraí-me conversando com a minha amiga que divide o apartamento comigo e depois o elevador ainda estava em manutenção… Não estou acostumada com o trânsito daqui, agora que estou me adaptando e saio mais cedo de casa… — Consegue lembrar se viu alguém descer atrás dele? — Não, não vi ninguém, realmente não estava prestando atenção… — Disse não estar acostumada com o trânsito daqui. De onde você é? — Niterói, mudei-me para o Rio há alguns meses. — Obrigada, senhorita Bárbara. — Disse ao se levantar — Tome meu cartão, ligue se por acaso se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa mesmo… Enquanto falava, Luís a encarava. Ela abaixou a cabeça por timidez e guardou o cartão na bolsa… Ficou olhando pela janela os detetives entrarem no carro e saírem do local… Esperou que ele olhasse para trás, e ele olhou... Bárbara ainda olhava pela janela, perdida em pensamentos, quando percebeu o olhar questionador da diretora Clarisse e deduziu qual havia sido a pergunta, ou mais provavelmente, as perguntas. Explicou o que os detetives queriam em meio aos comentários variados entre “oh”, “ah”, “não me diga”, “compreendo”. Após as devidas explicações, voltou para a sala de aula, sentou-se lentamente, absorta em seus pensamentos… — O destino gosta de brincar com as pessoas…
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