Capítulo 1

2805 Words
Giulia Morabito Estou no auge dos meus vinte anos, faço faculdade de urbanismo e arquitetura, sou uma menina mimada e rica — não que eu me orgulhe da parte do mimada, mas isso é culpa do meu pai —, e mesmo assim sou totalmente virgem e m*l tenho amigos. Solto um longo suspiro cansada. Acreditem, é um tédio fazer faculdade e não poder curtir as festas regadas de bebidas e jovens loucos fazendo um monte de m***a que vai se arrepender no dia seguinte, isso se acontecer de alguém lembrar de alguma coisa, porque a cachaça pode ser tanta que talvez no outro dia nem se lembre, e tudo bem, é melhor evitar a humilhação da ressaca. Amo meus pais e toda minha família, mas odeio* com todas as minhas forças ter nascido na máfia — beleza, concordo que isso é clichê —, porém, concordo mais ainda que é uma m***a* ser mulher nesse meio. Não posso ao menos beijar na boca, devo ser a única mulher da faculdade a ser virgem de tudo, nem um beijinho na boca gente? Isso é um pouco radical, não acham? Estamos em outro século. Sou muito grata ao meu pai por me permitir estudar e não me arranjar um casamento aos dezoito anos, meu pai é o meu amor todinho. Amo todos, mas meu paizinho tem um lugarzinho diferenciado no meu coração. Ele é o homem mais incrível, lindo, perfeito que eu conheço… ele é tudo! Minha mãe é minha maior inspiração, dona Luara é uma mulher muito forte e eu a amo demais. Meu irmão é minha paixão, Luigi é um cara bonito e educado pra caramba. O príncipe da nossa família! Eu tento ser a filha perfeita para os meus pais, mas acontece que não nasci com o gênio do meu irmão e os meus pais sabem disso, mas por enquanto, eles ignoram esse fato. Todo mundo sabe que tenho um amor platônico por Adler desde a minha adolescência, porém todo mundo prefere ignorar e ninguém comenta sobre esse assunto. Não vou falar que é paixão, porque eu sei que é muito mais que isso. Eu realmente o amo. Desde os meus dezoito anos eu imploro para o grande amor da minha vida me presentear pelo menos com um beijo e o lerdo não cede por nada nesse mundo. Descobri que estava loucamente apaixonada por Adler no auge da minha adolescência. Ele é irmão do meu tio Enzo e nunca apareceu em nenhuma festa, mas um belo dia ele apareceu no aniversário da minha tia Alice. Assim que ele chegou eu o vi, era impossível não vê-lo também. Alto, forte, cabelos castanhos e olhos escuros como a noite, corpo bronzeado, vestindo sempre o seu terno branco impecavelmente feito sob medida. O que mais me chama atenção no Adler é isso, praticamente todos os “mafiosos” costumam usar ternos pretos, mas Adler é diferente, ele sempre está de terno branco, sempre. Embora ele e tio Enzo tenham bastante semelhanças físicas, ao mesmo tempo são totalmente diferentes. Tio Enzo é típico Alemão mesmo, branco de olhos claros, já Adler não, ele é moreno, pele bronzeada, mas mesmo quando não está bronzeado, ele não chega ser branco igual tio Enzo, acredito que é porque são mães diferentes e minha sogra devia ser morena, que Deus a tenha em um bom lugar. Sem contar que os dois também são totalmente diferentes na personalidade, tio Enzo é brincalhão, fala bastante e está sempre com um sorriso no rosto, totalmente o oposto do irmão. Nunca vi Adler sorrir, ele está sempre sério, conversa pouco e é bastante frio, principalmente comigo, ou talvez ele seja assim só comigo. Estão se perguntando o que eu vi nesse homem? Ele é lindo! E quando digo lindo, eu estou falando lindo mesmo. Lindo, sexy, gostoso e só de olhar para suas mãos enormes que provavelmente uma mede o dobro do tamanho da minha, fico imaginando várias coisas, devo informar que são só pensamentos sujos, mas não posso evitar. Fico louca só de imaginar um casamento arranjado para ele ou para mim. Escuto algumas conversas e vejo que fazem bastante pressão para que ele se case logo, por conta da idade. Pelas contas que fiz, Adler é quinze anos mais velho que eu e em todas as investidas descaradas que eu dou nele — sim, não faço a menor questão de esconder que eu o quero —, ele sempre fala que sou apenas uma criança e que ele é muito velho para mim, ainda tem a cara de p*u* de me mandar procurar um moleque da minha idade. Fico me perguntando se ele não conhece a história da minha mãe e das minhas tias? Idade na nossa família não é parâmetro e agradeço por isso. Já ouvi murmurinhos de um casamento arranjado para mim também. Ninguém nunca confirmou, mas sei que eles pensam em me casar com o Théo. Não quero e não vou me casar com ninguém sem ser o Adler, ainda não sei como vou conseguir esse casamento, mas sei que vou. A única certeza que tenho é que não vou desistir desse homem, de forma alguma, eu o amo e tenho total certeza disso, só vou sossegar quando tiver o coração dele, quero que Adler me ame também, quero me casar com ele e vou conseguir, só não sei como, ainda. Minha esperança é que ele apareça no casamento do meu irmão. Luigi e Jasmine vão se casar amanhã e eu estou ansiosa para poder vê-lo. Por falar no casamento do meu irmão, ele tem muita sorte, Jasmine é uma garota linda e parece ser super gente boa, mas ela também tem sorte, meu irmão é um cara sensacional, sou suspeita de falar. — Giulia, você está pensando no tio Adler? — Jade pergunta o óbvio. Estamos na casa de campo dos meus pais relaxando um pouco, eu e minhas primas, mas voltamos amanhã para o casamento. — Ela não faz outra coisa — Beatriz fala rindo. — Deixem ela, suas chatas — Bianca me defende. Estamos sempre juntas, reclamando de toda essa m***a* que é nascer e viver na máfia. Jade e Bianca são as sensatas e eu e Beatriz somos a que damos trabalho. Todas estamos sempre buscando esquecer os problemas. Jade está prometida e só sabe chorar lembrando que o casamento está próximo e as gêmeas, que chamas de B&B estão apreensivas pois já estão na idade também, mas por enquanto o tio Renzo não falou nada e esperamos que continue assim. — Jade, ele falou alguma coisa sobre ir ao casamento amanhã? — Sondo, ansiosa para saber se ele vai estar lá. — Não, eu nem vejo meu tio direito. — Que saco — Bufo, frustrada por não conseguir uma confirmação. — Esquece meu tio Giulia, ele é velho para você. — Jade fala rude, ela está cansada de tanto me ouvir falar dele. — Jade, minha querida, deveria falar direito comigo, primeiro que eu sou a mais velha — isso mesmo, sou um ano mais velha que as B&B e dois anos mais velha que nossa bebê Jade. — E outra porque em breve, bem em breve eu serei sua tia. As meninas caem na gargalhada e eu vou junto. — Custa nada sonhar — Beatriz debocha. — Fica quieta Beatriz, me deixe sonhar em paz. — Torço para que você consiga ser feliz com ele, Giulia, há anos escuto você falar dele, posso imaginar que não é apenas uma paixão de adolescente. — Viu? Bianca é sempre a mais sensata entre todas nós. — Você é um amor Bia — Aperto suas bochechas. — Vou pegar mais vinho, não aguento mais ouvir sobre o tio Adler. — Jade se levanta para buscar vinho. Estamos sentadas no jardim, tomando vinho, ouvindo música e conversando coisas aleatórias… opa, aleatória não, na maioria das vezes sobre o Adler. — Não beba muito bebê, você acabou de ficar maior de idade. — Falo em tom de brincadeira e ela faz língua. — Sabe, eu fico pensando o que nos aguarda. — Beatriz se refere a ela e Bia — Seu pai já disse que vai deixar você terminar a faculdade para arrumar um casamento. Jade já está arranjada, já lá em casa ninguém nunca falou nada sobre isso. — Papai deve esperar você terminar a faculdade também. — Bia fala com a irmã. Beatriz está cursando moda, com muita luta tio Renzo deixou ela ir a faculdade, mas Bianca ainda não faz faculdade, ela disse que ainda não sabe o que quer fazer e a gente não questiona. As gêmeas tem dezenove anos e são de uma beleza ímpar, meu tio fica louco de ciúmes. Jade não fica para trás, é uma mistura louca que deu super certo entre Enzo e Alice. Afinal, nossa família é linda, não tinha como ser diferente. — E você Bianca? Por que ele está esperando então? Você não estuda. Bia arregala os olhos com o que a irmã fala, ela deve pensar que se casará primeiro por conta disso. — Para de assustar sua irmã Beatriz, se for para se casar vai ser fazendo faculdade ou não, até parece que os homens desse meio respeitam alguma coisa, ainda mais os estudos de uma mulher. Meu pai só não me entregou para ninguém porque não achou ninguém a altura ainda e tenho certeza que o pai de vocês pensa a mesma coisa. Dúvido muito que eles nos entreguem para qualquer um. — Opa! — Jade volta com a garrafa de vinho e um saquinho de salgadinhos na mão, é filha de tio Enzo mesmo. — Então meu pai não se inclui nesse meio, né? — diz se referindo ao noivo dela e todas nós rimos, com respeito claro. — Jade nem conhece o noivo, mas já sabe que não presta. — Beatriz comenta rindo. — Pra vocês verem que estão melhor que eu. Não sei muito sobre o noivo dela, aliás, ninguém sabe. Ele nunca fez questão de vir vê-la, o pacto foi selado quando eles eram crianças ainda e esse ano ele só fez questão de mandar um anel e disse que vai marcar a data do casamento, mas não fez nem questão de vir para oficializar o noivado. Bom, já sabemos que não podemos esperar muito desse cara, não é mesmo? O que dizem por aí é que ele é um cretino e a cada noite dorme com uma mulher diferente, mas isso só são boatos, não sabemos da veracidade dos fatos. — Só quero me casar com o meu amor e ter um vestido desenhado por minha tia Alice. — comento ao encher um pouco mais meu copo de vinho. — Jade, conseguiu o número do seu tio? — Decido perguntar pela milésima vez. — Claro que não. Da última vez você encheu ele de mensagens e ligações, o pobre foi obrigado a trocar de número e eu levei uma bronca. Começo a rir. Ela tem razão. Eu mandei várias mensagens e liguei várias vezes, o infeliz nunca respondeu e muito menos me atendeu. — Vamos dançar! — Beatriz coloca uma música animada e nos levantamos para acompanhá-la no ritmo da música. Amo estar com elas, somos bem mais que primas, mesmo morando distantes sempre marcamos de nos encontrar uma vez no mês, nos consideramos amigas-irmãs. A noite com as meninas foi maravilhosa. Dançamos, bebemos, comemos besteiras, rimos bastante e nos lamentamos bastante também. [...] Estou terminando de me arrumar para o casamento. Passamos o dia no spa e foi relaxante, tudo que eu estava precisando. Fui ao quarto entregar o buquê de Jasmine como minha mãe pediu e ela está um escândalo, sério, sem palavras para definir, a menina é linda! Chego ao jardim da casa e fico procurando entre esses convidados chatos o meu convidado preferido. — Procurando alguém em especial? — Luigi me assusta. Estava tão aérea que nem reparei quando ele se aproximou. — Não. Porque eu procuraria? — Respondo com ironia. — Você tem razão, não tem motivos para procurar ninguém em especial. — Pois é. — Mas se caso estava procurando um homem que só anda de terno branco, desista, ele não vem. — Joga a bomba no meu colo e sai rindo. Murcho na mesma hora. Por que ele não vem? Ele é tão amigo do meu irmão. Me arrumei toda assim à toa, que raiva! Porque Adler tem que ser tão antissocial? Não pode simplesmente participar de uma festa em família? Meu irmão também faz questão de tripudiar em cima do sofrimento alheio. Me sento perto das minhas primas para assistir a cerimônia que já vai começar. O bom é que não demorou muito, o que mais gosto no casamento dentro da máfia sem dúvidas é essa parte, não tem enrolação. A cerimônia foi linda, como já era de se esperar. Por questão de segundos fiquei me imaginando ali, casando com o homem que eu amo e acho que por isso chorei feito criança, boa parte do meu choro era emoção, mas a outra era esperança de que um dia isso fosse realmente acontecer. Sou uma boba, eu sei, mas não consigo evitar. Já tentei tirá-lo do coração por diversas vezes, mas ele não sai. Estão todos dançando, enquanto eu estou aqui tentando me embriagar com essa champagne h******l. Sinceramente? Prefiro um bom vinho ou outra bebida mais forte, mas não posso fazer isso na frente dos outros, preciso ser uma mocinha comportada, tem gente importante nesse lugar, não quero jamais envergonhar meu pai. — Uma dança? — Théo se aproxima e estende a mão para mim. Abro um enorme sorriso. Théo é o irmão de Jasmine e um Gato, sim, o G tem que ser maiúsculo para ser compatível com tamanha beleza desse homem. Sei que nossos pais tem vontade de nos casar, mas tanto eu, quanto ele, declinamos totalmente essa ideia absurda. Eu porque amo outra pessoa e ele por ser um galinha incontrolável. Théo é absurdamente galanteador e considerado o rei das mulheres, inclusive, várias aqui, até mesmo as casadas sempre dão uma olhadinha para ele. Sei também de alguns boatos de festinhas que ele e meu futuro marido sempre fizeram e isso me deixa irritada com ele de certa forma. — Não quero correr riscos desnecessários, querido Théo. — Bebo um gole da minha bebida horrorosa e sorrio, brincando com ele. — Que risco, minha linda? É uma dança e não um pedido de casamento. — Dessa vez é ele quem ri e eu também.. — Ainda bem, não quero nenhuma louca apaixonada vindo atrás de mim para me infernizar. Théo solta uma gargalhada. — Ah Giulia, você é encantadora! — Diz, todo galante. — É apenas uma dança, não se apaixone. — Deixo minha taça na mesa ao lado e seguro em sua mão. — Sem riscos, você está segura comigo. Balanço a cabeça afirmando, sei que sim. Théo é um bom homem e sabemos que não sentimos nada além de carinho fraternal um pelo outro. — Théo. — Encaro seus olhos. — É nessa parte que você me beija? — Pergunta rindo, claramente em tom de brincadeira. — Não seu bobo! Queria te perguntar uma coisa. — Diga. — Sabe porque Adler não veio? — Resolvendo um assunto importante. — Hum… — Sabe que esse é um jogo arriscado, não sabe? — Por que diz isso? — Giulia — ele respira fundo — Adler é um cara legal, mas ele não é para essas coisas. — Que coisas? Amor? — Que seja. Você vai acabar sofrendo mais que o necessário. — Está falando isso porque quer que eu me case com você! — Decido brincar para aliviar o clima pesado dessa conversa. Théo começa a rir. — Eu agradeceria muito por você se casar com outro homem, pelo menos dessa forma eu fugiria de me casar com você. — Credo! Sou tão r**m assim? — Não é r**m, mas não quero me casar. — Então me ajude com Adler, sei que vocês conversam e até saem juntos para festinhas com mulheres. — Como sabe disso, Giulia? — Boatos. Ele suspira pesado. — Como quer que eu te ajude com isso? — Não sei, me ajude a encontrá-lo pelo menos, é muito difícil encontrar ele. — Não faço ideia de como você possa encontrá-lo. — Você também não ajuda em nada em Théo! — Reviro os olhos. — No dia da coroação do seu irmão ele estará aqui, com toda certeza. — Será? — Me animo com essa possibilidade. — Ele nunca participa de nada. — Ele estará aqui, confie em mim. — Obrigada, Théo! — Dou um beijo em sua bochecha. — Por nada. Só tome cuidado com o que vai fazer, tá bom? — Tá bom. Deito minha cabeça em seu ombro e continuamos dançando.
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