A casa de Camila era um daqueles refúgios que sempre faziam Isabela se sentir segura. Uma mistura de aconchego e bagunça organizada, cheia de almofadas coloridas e quadros nas paredes, lembranças de viagens que a amiga fazia sempre que podia. O aroma de lasanha assando no forno já invadia o ambiente quando Isabela entrou.
— Finalmente! — Camila exclamou, vindo da cozinha com um avental que claramente tinha mais estilo do que função. — Achei que ia ter que comer tudo sozinha!
Isabela sorriu, sentindo-se imediatamente mais leve. A energia de Camila era sempre contagiante, algo que ela sabia que precisava naquela noite.
— Desculpa o atraso, fiquei dando uma volta no lago.
— Sozinha? — Camila perguntou, levantando uma sobrancelha enquanto colocava a mesa.
Isabela hesitou, mas Camila já a conhecia bem demais para que ela pudesse esconder qualquer coisa.
— Na verdade, estava com o Lucas.
Camila parou o que estava fazendo e a olhou com uma expressão de pura surpresa.
— Espera… o Lucas? O ex que sumiu, quebrou seu coração, aquele que você passou anos tentando esquecer?
— Esse mesmo — disse Isabela, se jogando no sofá. — Ele voltou para a cidade.
Camila deixou o prato que estava na mão e se sentou ao lado de Isabela, cruzando os braços e encarando-a com uma expressão séria, mas carinhosa.
— E você está bem com isso? Porque, da última vez que o nome dele apareceu, você estava… sabe, um pouco desmoronada.
Isabela suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Eu não sei, Cami. Tem uma parte de mim que ainda sente algo por ele. Sempre teve. Mas ao mesmo tempo… tenho medo. Medo de que ele me machuque de novo. Não sei se estou pronta para reviver tudo isso.
Camila a observou em silêncio por um momento, seu olhar cheio de compreensão.
-Camila falou — É natural sentir medo, Isa. Você passou por muita coisa com ele. Mas… talvez seja diferente dessa vez. Pessoas mudam, e você também mudou.
Isabela pensou nas palavras de Camila. Ela sabia que sua amiga tinha razão. Ela mesma não era mais a garota de alguns anos atrás, que se deixou levar pelos impulsos e pelas promessas não cumpridas. Mas ainda assim, algo em Lucas a fazia hesitar. Era como se, mesmo com todas as mudanças, algumas inseguranças permanecessem as mesmas.
— Acho que é por isso que estou tão confusa. Ele parece diferente, mas não sei se estou pronta para abrir essa porta de novo.
Camila colocou a mão sobre a dela, em um gesto de apoio.
- Camila — Ninguém pode te apressar, Isa. E nem você mesma precisa. Se sentir que vale a pena, vai devagar. Testa os limites, vê até onde você consegue ir sem se machucar. Mas, se em algum momento parecer que não dá, você sabe que tem o direito de parar.
Isabela sorriu, sentindo-se um pouco mais tranquila. Camila sempre sabia o que dizer, sempre sabia como trazê-la de volta ao eixo.
— Você tem razão — disse ela, sentindo o peso dos últimos dias começar a se dissipar.
— Claro que tenho! — brincou Camila, se levantando e indo até a cozinha. — Agora, me ajuda com essa lasanha, porque conselho emocional é de graça, mas jantar não!
Depois de uma noite de risadas, comida boa e a companhia revigorante de sua amiga, Isabela voltou para casa sentindo-se mais leve. No entanto, o peso de suas decisões ainda pairava no ar. Estava ficando claro que Lucas não era uma questão fácil de resolver. A noite no lago havia mexido com ela mais do que queria admitir.
No caminho de volta, pedalando pela cidade silenciosa, seus pensamentos começaram a se organizar. Havia algo em Lucas que a fazia querer tentar. Uma parte dela acreditava que talvez ele realmente tivesse mudado. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em si mesma que ela precisava entender melhor. O medo não era só de que ele pudesse machucá-la novamente, mas também de que ela pudesse se perder ao tentar reviver algo que talvez devesse ficar no passado.
Quando chegou em casa, Isabela pegou seu diário — um velho caderno com capa de couro, que usava desde a adolescência — e começou a escrever. As palavras fluíam com facilidade, como sempre acontecia quando precisava organizar seus sentimentos.
“Ele voltou. E parece diferente, mais maduro, mais calmo. Mas o que isso significa para nós? Será que posso confiar de novo? Será que vale a pena? Ao mesmo tempo que sinto que sim, que vale, também sinto um frio na espinha que me diz para tomar cuidado. Eu sei que ainda o amo. Sempre amei. Mas será que amor é o suficiente para consertar o que ficou quebrado?”
Depois de escrever, fechou o caderno e o guardou no fundo da gaveta, como fazia sempre que precisava deixar as palavras descansarem. Talvez o tempo lhe trouxesse mais clareza. Talvez, dessa vez, as coisas pudessem ser diferentes.