Os dias seguintes passaram lentamente, mas com uma sensação constante de expectativa no ar. Isabela seguia com sua rotina na floricultura, mas, toda vez que o sino da porta tocava, ela sentia um aperto no peito, esperando que fosse Lucas. Ele não apareceu durante o dia, mas, à noite, seus pensamentos o traziam de volta.
Por outro lado, Lucas parecia estar dando tempo ao tempo, aparecendo aqui e ali em pontos da cidade, sempre mantendo uma certa distância. Era como se ele não quisesse pressionar, mas ao mesmo tempo, não conseguisse se afastar completamente.
Naquela manhã, enquanto Isabela ajeitava um novo arranjo de girassóis, ouviu uma batida na porta. Eram os entregadores, trazendo flores frescas para a semana. Assim que ela abriu a porta, percebeu que havia mais uma pessoa na calçada.
Lucas estava ali, do outro lado da rua, encostado no muro da padaria, observando-a. O olhar dele era intenso, mas não parecia pronto para cruzar a rua e entrar na loja. Parecia estar medindo a distância entre eles, física e emocionalmente.
Isabela sorriu para ele de longe, um sorriso pequeno, quase tímido. Ele acenou de volta, mas não se moveu. A sensação de que algo estava prestes a acontecer pairava no ar, mas nenhum dos dois parecia disposto a dar o primeiro passo.
Quando os entregadores terminaram de descarregar as flores, Isabela entrou na loja e, ao espiar pela janela, Lucas já tinha ido embora.
Naquela mesma tarde, Isabela decidiu que precisava de um tempo para si mesma. Pegou a bicicleta velha que mantinha no quintal e pedalou pelas ruas de Vila Serra, deixando o vento frio de outono bater em seu rosto. As árvores começavam a perder as folhas, criando um tapete dourado ao longo das calçadas. Era o tipo de cenário que sempre a acalmava.
Ela seguiu até o lago da cidade, um dos seus lugares favoritos para refletir. Ao chegar, deixou a bicicleta encostada numa árvore e se sentou no banco de madeira à beira da água. O silêncio do lugar, quebrado apenas pelo som suave das ondas, a ajudava a organizar os pensamentos.
Mas, antes que pudesse mergulhar muito fundo em suas próprias reflexões, ouviu passos atrás de si.
— Parece que não sou o único que gosta desse lugar para pensar.
Ela se virou e viu Lucas caminhando em sua direção, as mãos nos bolsos, um sorriso leve no rosto. Parecia uma coincidência, mas, de alguma forma, ela sabia que ele acabaria aparecendo.
— Parece que não — respondeu ela, sem conseguir evitar um sorriso de volta.
Ele se sentou ao lado dela no banco, o silêncio entre eles confortável dessa vez. Por alguns minutos, nenhum dos dois disse nada, apenas observando a tranquilidade do lago.
— Acho que você ainda não me contou por que realmente voltou — disse Isabela, finalmente quebrando o silêncio. — Eu sei que não foi só pela paz da cidade.
Lucas suspirou, olhando para o horizonte, como se estivesse organizando os próprios pensamentos antes de responder.
— Voltei porque precisei de um lugar para recomeçar. Na capital, tudo pareceu grande demais. As coisas não saíram como eu imaginava. E aí percebi que, quando a gente tenta fugir de tudo, acaba correndo em círculos. Eu precisava de algo que me lembrasse quem eu sou.
Isabela o observou, seus olhos tentando ler as entrelinhas.
— E você encontrou isso aqui? — perguntou ela, sua voz suave, quase hesitante.
— Ainda estou tentando — respondeu ele, olhando para ela com um brilho nos olhos. — Mas… acho que estou no caminho certo.
Havia algo na maneira como ele disse isso que fez o coração dela bater mais rápido. Era como se Lucas estivesse se referindo não só ao lugar, mas a ela também. Isabela sabia que, apesar de todas as mágoas, havia uma parte dela que sempre quis que ele encontrasse o caminho de volta.
— Fico feliz que esteja tentando, Lucas — disse ela, sincera. — Só não quero que se perca de novo.
Ele sorriu, um sorriso meio triste, mas cheio de determinação.
— Não vou, Isa. Pelo menos não dessa vez.
E, por um momento, o mundo parecia em pausa. As folhas caíam devagar, o vento soprava suavemente, e os dois sentiam que, apesar do tempo, algo entre eles ainda estava vivo.
Capítulo 3 (continuação)
A tarde no lago continuou serena, com Isabela e Lucas sentados lado a lado, envoltos em uma atmosfera de nostalgia e esperança silenciosa. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. A cidade, lá ao longe, parecia seguir seu curso pacato, mas para eles, cada minuto juntos carregava um peso maior.
Isabela olhou para o reflexo da água, observando como as cores do céu dançavam nas ondas tranquilas.
— Você acha que pode encontrar o que procura aqui? — perguntou ela, sua voz baixa, quase como se estivesse com medo da resposta.
Lucas deu um pequeno suspiro antes de responder.
— Não sei… Mas acho que, pelo menos aqui, eu posso começar a consertar as coisas. Principalmente as que deixei para trás.
Isabela sentiu o coração apertar. Ela sabia do que ele estava falando. Não eram apenas os erros que ele cometera ao partir, mas também as promessas quebradas e as palavras não ditas entre eles.
— Você sempre foi muito duro consigo mesmo — disse ela, virando-se para olhar diretamente para ele. — Acho que nunca entendeu que… não precisava ser perfeito para mim. Só precisava ser você.
Lucas a olhou de volta, com aquela intensidade nos olhos que sempre a desarmava.
— Talvez esse tenha sido o problema. Eu nunca soube quem eu era, nem o que realmente queria.
Isabela sentiu uma mistura de tristeza e compreensão ao ouvir isso. Ela sempre soube das inseguranças de Lucas, mas nunca entendeu completamente como elas moldaram suas decisões. A cidade pequena, o amor dela… nada parecia suficiente para preencher o vazio que ele sentia dentro de si mesmo.
— E agora? Você já sabe? — perguntou ela, sua voz suave, mas cheia de curiosidade.
Lucas hesitou, e por um momento, pareceu que não responderia. Mas então, com um leve sorriso nos lábios, ele disse:
— Acho que estou começando a entender. E você, Isa? Ainda tem espaço para mim nesse seu mundo?
Aquela pergunta pegou Isabela de surpresa. Ela sabia que, em algum lugar do fundo de seu coração, ainda amava Lucas. Mas esse amor vinha com cicatrizes, marcas deixadas por sua partida, por suas inseguranças e pelos anos que passaram separados.
— Eu não sei, Lucas — respondeu ela, com sinceridade. — Às vezes, acho que sim, mas outras… fico com medo de me machucar de novo.
Ele assentiu, como se compreendesse perfeitamente o que ela estava dizendo.
— Eu entendo. Não posso prometer que as coisas vão ser diferentes agora. Mas posso dizer que não sou o mesmo de antes. Aprendi algumas coisas, mesmo que do jeito mais difícil.
O silêncio que se seguiu foi preenchido pelo som suave das folhas ao vento e o murmúrio das águas do lago. Isabela sentiu a tensão entre eles suavizar um pouco, como se ambos estivessem finalmente admitindo o que sentiam.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Lucas — disse ela, com um sorriso triste. — Mas você sabe como é difícil confiar em algo que já se quebrou.
Lucas olhou para ela com carinho e compreensão.
— Eu sei. Mas estou disposto a tentar. E, se você me der uma chance, prometo que não vou deixar as coisas se quebrarem de novo.
Houve algo na voz dele, na sinceridade que ela sentiu, que a fez querer acreditar. Talvez as feridas ainda não estivessem completamente curadas, mas havia uma nova faísca de esperança. E isso já era alguma coisa.
Antes que pudesse responder, o celular de Isabela vibrou no bolso. Ela pegou o aparelho e viu que era uma mensagem de sua melhor amiga, Camila.
Camila uma jovem encantadora, doce e meiga é amiga de Isabela de infância e elas sempre andam muito unidas e as consideram como irmãs de sangue.
— A Camila está me chamando para um jantar de última hora — disse ela, guardando o celular.
Lucas sorriu.
— Parece que você está ocupada. Eu não quero te atrapalhar.
— Não é isso — respondeu ela rapidamente. — Só… talvez seja bom dar um tempo para pensar um pouco em tudo.
Ele assentiu, entendendo o que ela queria dizer.
— Claro. Me avisa quando quiser conversar de novo?
Ela assentiu, sentindo uma mistura de alívio e expectativa. Talvez essa pausa fosse o que ela precisava para processar tudo o que estava acontecendo entre eles.
— Eu aviso.
Lucas se levantou, e Isabela o observou enquanto ele caminhava pela trilha de volta à cidade. Havia algo diferente nele agora, uma calma que ela não via há anos. Talvez ele realmente estivesse mudando. E talvez, só talvez, ela estivesse pronta para ver onde isso os levaria.