Lembranças

836 Words
Potira acreditava no amor de Pedro, mas nos últimos meses o achava distante, como se guardasse um segredo antigo. Ainda tentou questioná-lo, mas o noivo não se abriu, e Potira decidiu não o pressionar, não mudaria nada. Teria que se casar, primeiro porque amava o noivo, segundo porque o filho de dona Margarida era o melhor partido disponível. A sua mão já havia sido pedida em casamento por homens com histórico de agressões a mulheres e alguns deles tinham idade para serem seu avô, mas o cunhado tinha sido firme em não ceder, mesmo que a pressão fosse grande. Pedro foi em parte escolha dela também, e isso a fez ser ainda mais grata ao cunhado, estando sob a guarda da máfia, teve sorte, muita sorte. Podia já estar casada como alguém desprezível e que apreciasse a ver roxa, o que não era difícil com a cor de pele que tinha. Realmente teve sorte. Sorriu para Helena e indagou? _ Estefano já a viu? _ Não. Potira sorriu em cumplicidade, o cunhado morreria de ciúmes. Helena não parecia uma mãe ou irmã mais velha, muito pelo contrário, o amor parecia que a deixava jovem eternamente, ninguém podia dizer qual das duas era mais velha. Batidas soaram na porta, sabia quem era, Estefano nunca entrava sem bater, não importava que confiasse nele de olhos fechados. Ele era a ideia do irmão mais velho que tinha, um irmão protetor, forte e muito sombrio, mas agradeceria ao céus o resto da sua vida por ele ter aparecido, sem ele, seria uma sombra do que era, teria sido entregue a qualquer um e sofrido cada dia. Se voltou para o homem grande na porta do seu quarto: _ Está tudo pronto.Noivo no altar. Espero vocês lá embaixo. Partiu, o cunhado não era de muita conversa, pelo menos não com ela. Quem desceu primeiro foi Helena, sorridente. Helena estava com um vestido amarelo e o subchefe da máfia se lembrou de outro vestido da mesma tonalidade. Foi nos primeiros dias de casamento, ele ficava morrendo de ciúmes quando ela vestia a peça, e era assim que se sentia nesse exato momento. _ Está mostrando pele demais, pequena. Ainda não aprendeu que não é bom testar o meu ciúme? Helena ia responder, mas nesse momento Raíra entrou correndo. _ Vou bater fotos da tia lá em cima. Estefano se calou, a menina não era mais uma criança, era uma adolescente, pelo menos em espírito, mas não discutiam na frente da filha, mesmo que não fosse realmente uma discussão. Estefano podia não ter muita paciência e ser doente de ciúmes da mulher, mas jurou quando as crianças chegaram que nenhuma delas o temeria, ou o veria ser grosso com Helena, e cumpriu. Quando os passos de Raíra sumiram pelas escadas, Estefano prendeu a mulher em seus braços. _ Raíra disse que quer ficar alguns dias com Potira, Rudá irá junto, sem as crianças em casa poderei ter você novamente em cada canto que eu quiser, pequena. Como nos primeiros anos. _ Sabe que não temos mais crianças, não sabe? A mais velha delas se casa daqui a pouco, e logo os pedidos por Raíra começarão. _ Mato cada pretendente. _ Estefano… _ Só tem um homem a quem entregarei nossa menina, sabe disso não sabe? A conversa foi interrompida por Raíra e Potira que chegavam no topo da escada. Raíra era a fotógrafa oficial. Rudá subiria ao altar com Helena, na verdade ele era o único que se aproximava da mulher de Estefano sem ganhar uma bala no peito, por isso. Rudá ainda tirava cochilos diurnos na cama do subchefe, nem era um menino mais, mas Estefano sempre o veria assim. Mesmo que o marido de Helena fosse o subchefe da máfia americana, esse lado dele só era conhecido pelos inimigos, em casa ele era cordial, não gritava e nunca usava os punhos. Do alto da escada, olhando para Helena e Estefano, Potira se recordou dos primeiros dias naquela casa, de como o ambiente era mais respirável e amistoso do que o seu antigo lar. Se recordou da primeira decoração do seu dormitório ,era toda de móveis brancos e montada especialmente para ela. Nunca tinha tido um quarto assim. Foi na primeira noite ali, e ao se deitar na cama confortável pela primeira vez percebeu que poderia finalmente viver uma vida sem ter medo de levar um tap@ no rosto, de ficar sem jantar e ainda sem café da manhã . Potira na casa dos pais adotivos vivia amedrontada com a perspectiva de ser dada em casamento a um velho pedoffilo, mas com Estefano, Helena lhe prometeu que organizaria um casamento para ela, mas que seria com alguém que não a maltratasse. Foi assim que Pedro se tornou o seu noivo, e depois o namorado, seguiram um caminho inverso, e teve vigias o tempo inteiro, mesmo que Pedro fosse super respeitador, ela tentou, mas ou ele a fazia se comportar, ou Raíra e Rudá estava sempre por perto. Sorriu com as doces lembranças.
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