Cap 4

1124 Words
Eu fiquei com o coração na mão depois que recebi a mensagem daquele menino que nunca tinha visto mais magro na minha vida, era um jovenzinho que ficava ostentando um fuzil no lombo, acho que é assim que as pessoas chamam, eu ainda não conseguia entender o motivo da dona Laura me chamar as pressas para ir ao seu encontro e muito menos o porquê de eu ter que carregar as minhas coisas Minhas pernas ainda estavam tremendo, eu estava na garupa da moto segurando a minha mala e o bendito do moço que dirigia só subia, parecia que não tinha fim. E sem falar que o lugar parecia assustador, Deus, onde eu fui parar, a única coisa que eu sabia de favela era o que eu vi no tropa de elite, e não saia da minha cabeça Wagner Moura de Capitão Nascimento gritando. "Pede pra sair" A moto parou e eu desci segurando a minha malinha, entramos na casa e eu fiquei esperando no quintal do lado de fora, na verdade era laje da casa de outra pessoa. Foi então que eu vi, a vista mais linda que eu já vi na vida, nem Roma, nem Paris, nem em outro lugar no mundo O morro todo iluminado com e o céu todo estrelado, o corcovado atrás e o mar no meio. Era simplesmente lindo, meu peito doía de tão apertado, foi aí que eu decidi parar de sentir pena de mim e recomeçar minha vida. Dona Laura saiu da casa e disse Laura - Vem comigo menina. - Eu nem respondo, simplesmente fui andando em direção a ela - Acho que te arrumei um emprego de babá, as crianças são dois anjinhos que perderam a mãe, só precisam de uma boa pessoa, que tenha disposição e braços fortes. Eu parei e pensei bem, tudo o que eu sabia sobre crianças era que elas vomitam, e fazem cocô. Dona Laura continuou falando. Laura - Venha menina, ele não gosta de esperar. Eu vou atrás dela, a casa era bem bonita e arrumada, passamos por uma sala onde um menininho sorridente tentava fazer uma cambalhota enquanto uma menininha com um laço gigante na cabeça ria das graças do irmão, eu ri da cena, e acompanhei a dona Laura. Entramos em um quartinho e o homem mais assustador que já vi na vida estava sentado. Se antes eu já estava tremendo imagina diante daquele homem grande, musculoso, todo tatuado, com um copo de bebida na mão e um charuto na outra? Confesso que ele tem um certo charme, mas não deixa de ser assustador. Ventania - Coé, belê? Diz aí coé o teu nome, menina? Lívia - É Lívia. Ventania - E de onde tu é? Te adianto que eu não gosto de mentiras. Eu tremi na base, e tentava não gaguejar Lívia -Vim de São Paulo, cheguei hoje no Rio de Janeiro para recomeçar a vida. Ventania - Sei... Ele me olha de cima abaixo me examinando, parecia desconfiado Ventania - O que uma moça bem-vestida como tu está fazendo aqui? Com o dinheiro das tuas roupas de marca dá para a compra um apartamento na zona norte. Droga, ele conhecia roupas, eu precisava arrumar uma história plausível Lívia - Essas roupas velhas? Eu ganhei de doação, minha mãe…. Ela…ela… era… - Pensei bem - Minha mãe era empregada doméstica de uma casa de n**a ricos, políticos, sabe? Eles têm uma filha na minha idade que gosta muito de mim, e me dava tudo o que ela não queria mais. Ele me olha muito desconfiado Ventania - E tua mãe? Lívia - Ela…ela…morreu! - Eu quase gritei falando isso, definitivamente eu era a pior das mentirosas - Ela morreu e me colocaram para fora, fiquei sem rumo e peguei o primeiro ônibus para o Rio, para tentar recomeçar minha vida. - O homem riu de deboche Ventania - Tudo bem, se tu está dizendo, não sou eu que vou discuti, mermo porque, coisa errada a gente descobre num tiro, cê tem experiência com crianças? Eu abri um sorriso Lívia - Eu amo crianças, eu me dou bem com elas, são fáceis de lidar, são puras e verdadeiras Ventania - Pois é, crianças não mentem, não guardam segredos, são transparentes. Eu engoli seco Lívia -Pois é, eu sei cuidar de crianças. Ele se levantou, pegou minhas mãos e olhou atentamente, depois olhou meus braços, nos meus olhos e diz Ventania - Vem comigo - Ele sai andando pela casa - Dentro da minha goma, não permito béque, nem do forte e nem do fraco, macho ou bebidas, principalmente perto dos meus filhos, tu vai cuidar das crianças, leva eles na pracinha, cozinha e limpa para eles, não sê uma molenga, tem que tê voz de comando, não bate, não machuca, não grita, lembre-se tem câmeras em todos os cantos se tu machucar minhas crias eu vou saber. Tu tem uma folga e meia por semana, o que é uma folga e meia, Sábado à tarde a tia Laura cuida deles e te devolve no domingo à noite. Cê não precisa cuidar da casa, tem faxineira, mas tem que manter a coisa limpa, principalmente o lugar onde as crianças ficam, as roupas delas também são sua responsabilidade, quero meus filhos sempre limpos, arrumados e alimentados. - O homem anda pela casa e mostra um quarto nos fundos - Esse é seu quarto, tu pode arrumar do teu gosto, se precisar de um móvel ou cortina e só fala entendido? Balancei a cabeça que sim. Ventania - p**o três salários inicial, mais o adicional noturno porque tu vai ficar cas criança a noite. Se eu vir que tu está tratando minhas crias direito o salário aumenta e tu ganha uma grana a mais. - Alguma pergunta? Lívia - Não senhor. Ventania - Isso. Dona Laura se vira para ele e abre a boca - Enquanto você fala com a tal da Juliana eu vô apresentar às crianças para Lívia. O homem saiu de perto e nós duas fomos para sala, as crianças eram duas fofurinhas sorridentes. Não demorou muito para Dona Laura me mostrar como eram as coisas com as crianças, só que ela fez isso e saiu de fininho, foi embora e me deixou ali sem eu nem perceber Elas eram doces, coloquei os dois para dormir contando historinhas, e pensa numas crianças que são fáceis de pegar no sono pesado, não demorou nada para as fofurinhas dormirem, então tomei um banho longo, vesti meu pijama e fui para a cama. Eu fechei os olhos e minha cabeça estava pesada, doida de tudo que eu passei hoje. Minha vida deu uma reviravolta de 180 graus, mas aqui, nesse lugar, ninguém iria me achar nem o meu pai.
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