Noite em amigos
Leonardo
— Eles estão quase chegando — falo já arrumando a mesa.
— A lasanha já está pronta.
— Por que toda vez que vamos jantar com amigos, fazemos lasanha de queijo? Não importa a casa.
— Eles bem parece com uma ruiva que eu conheço. Ela sempre pede macarrão com queijo. Que ironia — brinca.
— Vou mesmo ter que mandar você se ferrar?
— Jamais, amor — beija a minha testa e vai até a mesa já com o tabuleiro. Terminamos de arrumar tudo e sentamos na sala pra esperar. Escutamos a campainha tocar depois de um tempo, então o Leo foi atender.
— Chegamos! — Jéssica sai entrando pelo apê gritando e já virando a garrafa de whisky na boca, que com certeza veio bebendo pelo caminho até chegar aqui.
— Ela está bebendo desde que entramos no carro — ele fala e o abraço — Ou antes? — Samuel me olha e rimos.
— Cadê o restante? — Leo pergunta.
— Estão chegando — Jéssica fala virando uma latinha de cerveja, que eu não sei de onde.
— De onde tirou essa cerveja, Jéssica? — pergunto.
— Da sua geladeira, ruiva — ela responde. Samuel a encara seriamente — O quê? Eu não sabia que não podia — dá de ombros.
Me desculpa, Flávia — ele pede sem jeito — Eu só quero saber quando vai parar de beber, querida — ele se aproxima dela.
— Eu só acho engraçado que... — ela ia começar a falar, mas a interrompo.
— Sem brigas por hoje — puxo Jéssica pro sofá e ela se senta — Vai ajudar o Leo, Samuel — ordeno.
— Por que eu? — ele resmunga.
— Cala a boca e me obedece — ele bufa e assente.
— Amor, já não termi... — olho pra ele que entende meu olhar de ‘fica quieto e faz o que eu mando’ — Vamos, Samuel. Tem muita coisa pra fazer ainda — eles caminham até a cozinha.
— Temos novidades! — Priscila entra disparada pela porta e me abraça bem forte.
— Como vai? — pergunto, ainda tentando entender como entraram assim.
— Tirando que seu querido amigo Caio não quer deixar eu beber? Nenhum — dá de ombros.
— Por que não? — pergunto e ela aponta pra ele.
— Faça-me o favor de perguntar.
— Parem de me olhar. Eu sei que sou gostoso — ele entra com sacolas em mãos e me abraça.
— Por que não deixa ela beber? — pergunto — Tá achando que é pai dela?
— Logo vão saber e concordar comigo — ele pisca — Cadê os outros safados? — aponto para a cozinha e ele vai até os meninos.
Me sentei no sofá com as meninas e ficamos conversando. Traduzindo, botando a fofoca em dia.
— Como vai o gostoso do Daniel? — Jéssica pergunta.
— Ele é um porre ,Jess. Vive insistindo dar em cima de mim — reclamo.
— Mas ele não sabe que é quase casada? — Priscila pergunta e assinto.
— Mas respeito com o relacionamento alheio lhe falta — bufo.
— Acho que está na hora do Leo botar um bambole aí — aponta para o meu dedo.
— Eu também acho — Jess concorda com a Pri.
— Vamos com calma, temos muito pela frente ainda. Temos muitos planejamentos juntos. Não quero me apressar.
— "Não quero me apressar" — Jess me imita — É nessa p***a de não apressar, Flavia, que já tem quatro anos no “não quero me apressar".
— Odeio concordar com a viajante da Jess, mas é verdade, Frav.
— Obrigada — Jess sorrir.
— Até você, Priscila? Pensei que era mais sensata que a Jéssica — ela olha pra Jéssica que está brincando com os dedos.
— Pode ter a certeza que eu sou — rimos juntas.
— Não tem como casarmos agora — faço bico.
— Vocês amadureceram demais juntos, Flávia. Não estão juntos por meses, sim de anos. São muitos anos, Flávia. Você deveria esclarecer algumas coisas com o Leonardo sim.
— Não quero colocar pressão nele. Quero que aconteça naturalmente, Priscila. Quando for o momento certo, ele vai me pedir para ficar ao lado dele para a sua vida inteira.
— Venham comer, garotas — Samuel nos chama e fomos até eles.
Sentamos na mesa e nos servimos. Comemos a base de risos e bastante vinho. Mesmo com a Jess descendo sua vodca no gargalo.
— Querida, já chega, vai — Samuel tira a garrafa da mão da Jess.
— Eu juro que vou tomar no copo, amor — faz carinho em seu rosto.
— Amor, chega de beber. Não quer ficar mais uma noite m*l. Ou é isso que você quer?
— Jess tem ficado m*l à noite? — perguntamos preocupados.
— Obrigada, querido — debocha dele — É só um m*l estar — sorrir fraco.
— Causado pelo consumo excessivo de álcool — Samuel complementa.
— Se você não ficasse tanto tempo naquele escritório e me desse mais atenção, se fizesse questão de chegar mais cedo e ficar junto com a sua esposa, seria ótimo! Talvez eu bebesse menos — Jéssica começa a gritar com ele.
Samuel só fica parado escutando suas palavras e ficamos presenciando o momento em silêncio.
Após ela descarregar todas suas palavras entaladas em cima dele, se senta novamente em seu lugar e desaba no choro.
Eu poderia abraçar ela, mas sabia que isso era função dele.
— Abraça ela — falo pra Samuel sem emitir som.
— Me desculpa — ele abraça ela e repete várias vezes a mesma coisa — Eu sei que errei, amor.
Jéssica e Samuel são casados faz oito meses. Sempre se deram bem, era pelo menos o que transpareciam. Jéssica sempre descarregava seus problemas na bebida desde a adolescência, que começou com a separação dos seus pais. Quando ela começou a namorar com o Samuel, ele a fez mudar. Ela só bebia por diversão e se controlava. Bem que eu desconfiava por de uns tempos pra cá, voltou a beber descontroladamente.
— Me desculpa gente — Jéssica fala após ter se soltado de Samuel e ele a abraçar de lado — Eu trouxe meus problemas pra vocês mais uma vez — funga.
— Você nunca será um problema — me levanto e abraço ela.
— Sempre vamos estar aqui — Leo fala e também a abraça.
— Ao seu lado, voadinha — Pri fala e a abraça.
Olhamos pro Caio que ainda estava sentado comendo a lasanha. Ele nos encara e continua mastigando.
— O que está esperando? — resmungo.
— Eu também? — assinto — Que momento lindo — se levanta e a abraça também.
Ficamos todos abraçados por um tempo dando um apoio ao casal.
[...]