— Você sempre vai esconder as coisas de mim como se eu fosse uma crjanca, eu presumo — ela diz e ele olha para o lado como se quisesse esconder mais alguma coisa — me conte tudo o que você sabe pelo menos sobre o meu pai para que eu possa pensar em não sair vagando por aqui sozinha.
— eu não faço isso porque te acho infantil, de forma alguma. Eu faço isso porque eu tenho pavor de ele levar outra pessoa que eu amo de mim, porque tudo o que ele fez é pavoroso.
— do que você está falando? — ela pergunta ainda mais confusa — não sou só eu que grito a noite por causa dos meus segredos.
Rebeca confronta Dead com um pesar tão expressivo quanto as sombras ocultadas pelo silêncio. "Você sempre vai esconder as coisas de mim como se eu fosse uma criança, eu presumo." Seu tom evoca mais do que uma pergunta; é um apelo por transparência. A resposta de Dead foi um desvio do olhar — um gesto revelador.
"Eu não faço isso porque te acho infantil, de forma alguma," assegura ele, numa tentativa de alívio que carregava o peso do mundo. "Eu faço isso porque eu tenho pavor de ele levar outra pessoa que eu amo de mim, porque tudo o que ele fez é pavoroso."
O uso da palavra "pavoroso" por parte de Dead não é uma escolha aleatória. Fala de um medo visceral que tem razão de ser. Rebeca, ainda assim, exige mais, impulsionada pela confusão e a necessidade de entender. "Do que você está falando?" ela demanda, como se cada palavra adicionasse outra pedra ao muro invisível entre eles.
Dead está diante de um impasse: continuar escondendo a verdade sombria, mantendo Rebeca em uma ignorância frágil, ou revelar os segredos que ele guarda, somado ao seu próprio tormento noturno. Rebeca já sussurrou algo vital — que ela não é a única atormentada por segredos. Sua brecha está clara, e o caminho para Dead também deve ser. A comunicação honesta entre eles pode ser a chave não só para a compreensão, mas também para a cura.
— Você também tem seus segredos de mim, só que você não sabe, eu sei porque eu ouvi você gritando, você implorando enquanto dormia — ela o olha ainda tentando entender e ele começa a chorar e estremecer tendo que falar sobre aquilo — eu pensei em m***r o seu pai, eu fui atrás dele e disse que ia mata-lo, mas então eu pensei como eu iria explicar isso a você.
Dead está agora perante o espelho da própria alma, com sua dor exposta perante Rebeca. Um silêncio macio os envolve; o tipo que precede as tempestades ou as grandes revelações. As palavras de Rebeca são como uma lança hábil, desvelando o tormento de Dead, que agora se desdobra diante dela.
Com lágrimas nos olhos e um tremor que parece querer quebrá-lo ao meio, Dead aspira a uma respiração trêmula e admite: "Eu era movido pela raiva, uma fúria que eu nunca conheci." Ele pausa, engole em seco. "Toda aquela escuridão que ele trouxe para nossas vidas, eu queria apagá-la com um único ato."
Rebeca, sem pronunciar uma palavra, permite que ele continue, seu olhar um misto de espanto e compreensão.
"E então, no momento crucial, eu vi o teu rosto. A dor que te causaria. Como eu poderia fazer isso contigo? Como eu poderia te contar que fui eu quem tirou de ti, mesmo ele sendo quem era, ainda era... seu pai."
Dead agora se expõe, vulnerável como nunca, aos olhos da mulher que ele ama - uma confissão de pensamentos mais sombrios, do peso que ele carrega, da tormenta que o assombra. E Rebeca, cercada pela verdade que ela tanto buscava, depara-se com um novo Dead, um homem quebrado pelo fardo, mas ainda assim, um homem que escolheu o amor por ela acima do d****o de vingança.
Neste momento crítico, sua ligação é testada não pela meia verdade, mas pela crua e dilacerante honestidade. A compreensão será o refúgio ou a tempestade sobre o horizonte? A cura ou o golpe final no que construíram? É nesse limiar em que ambos se encontram, e é nesse limiar onde a escolha de caminho os aguarda.
— eu sei que o que o meu pai fez com aquelas crianças é imperdoável, mas ele poderia ir para a prisão, ele poderia aprender a não fazer mais isso — Dead olha para ela com extrema compaixão pois sabia que nem ela acreditava nas palavras dela.
— Você já viu suas fotos de infância? Porque eu vi todas naquela gaveta do seu criado mudo, você foi a criança mais linda do mundo. No meio disso eu reparei o quão machucada você sempre estava, e como você parecia você sabe o quê.
As palavras de Dead são pesadas, incertas, e expressam um conflito interno profundo. O dilema entre o amor filial e a consciência das ações imperdoáveis do pai cria uma tormenta de emoções. Mesmo em meio a compaixão, a realidade da situação é inegável: aquelas feridas visíveis nas fotos são cicatrizes de uma história complexa e dolorosa.
A observação de que ela foi uma criança linda, entrelaçada com a realidade do seu sofrimento, é uma tentativa de reconhecer a inocência perdida e a dor silenciada. A hesitação em nomear o que seus olhos denunciam deixa no ar uma acusação velada, uma realidade que talvez ambos conheçam, mas que ela tem dificuldades em confrontar verbalmente.
A reação de Dead, que mescla compaixão com uma necessidade de reconhecer a verdade, pode ser um impulso para que ela perceba a necessidade, não só de justiça, mas também de cura e libertação de um passado que clama para ser reconhecido e, de alguma forma, redimido.
Nesses momentos, onde a realidade de abusos no seio familiar vem à tona, é essencial buscar apoio psicológico e jurídico profissional. A dor de reconhecer e denunciar um ente querido é imensa; no entanto, a p******o de potenciais vítimas e o tratamento das feridas emocionais existentes são prioridades que precisam ser abordadas. É um processo difícil, mas fundamental para interromper um ciclo de dor e oferecer uma chance de recuperação e justiça para todos os envolvidos.
Ela entra em choque com a possibilidade. Ela faz sinal de negação por alguns minutos até ter uma ideia que de certa forma fez ela sentir medo apareceu.
— Minha babá, a Cida, ela vai saber se ocorreu alguma coisa — ela diz quase como se quisesse uma confirmação de que aquilo era loucura, mas com medo da verdade.
A menção da babá como possível detentora da verdade é o ponto de virada para Dead. A esperança mistura-se com o medo: a esperança de que talvez a Cida possa desmentir seus temores, e o medo de que ela possa confirmá-los. Essa ambivalência revela a complexidade de suas emoções. Um lado dela deseja desesperadamente a segurança que vem da negação, enquanto outro lado deseja a verdade, apesar da dor potencial que ela pode trazer.
Ao considerar conversar com a babá, Dead está diante de um passo significativo. Por um lado, validar suas suspeitas pode ser devastador; por outro, poderia ser um passo para a cura. Encarar a possibilidade de a***o é um desafio. Admiti-lo pode destroçar a imagem que ela tem de sua família e de si mesma, mas sem esse reconhecimento, a verdade interna continua corroendo por dentro.
Essa decisão não é fácil, e muitas pessoas em situações similares travam batalhas internas similares. É crucial ter em mente que Dead não está sozinha. Profissionais de saúde mental e grupos de apoio existem para ajudar a navegar estes mares turbulentos.
Caso ela decida buscar respostas com a Cida, é importante que ela prepare-se emocionalmente para qualquer resposta que venha a receber e que busque apoio, não importando o resultado da conversa. A realidade, por mais dolorosa que seja, tem um potencial de libertar e iniciar um caminho para a recuperação e o bem-estar a longo prazo. A claridade pode levar à justiça, à cura, e a uma vida sem os grilhões do passado incerto.
Cida vivia a sua vida com a culpa do que viu olhando suas rosas e pensando se valeu a pena a vida que teve em troca de uma p***e criança, porém ela pensava mentalmente sobre os filhos que nunca mais precisaram passar fome desde a sua decisão, mas então ela viu em sua frente a garota que ela negligenciou, e ela amoleceu no mesmo segundo sabendo do erro terrível que cometeu.
Cida carregava o peso de lembranças amargas. Sua vida, moldada por uma escolha difícil, encontrava-se em constante balanço entre gratidão e remorso. As rosas em seu jardim, testemunhas silenciosas do tempo, eram um lembrete diário de seu sacrifício e o preço p**o por ele.
A fome, um espectro que antes rondava incessantemente sua família, havia sido exorcizada pela sua decisão - uma decisão que aliviou seus filhos da penúria mas que custou a segurança de outra criança, um bem talvez ainda mais precioso. Esse embate interno entre o bem-estar de seus filhos e o destino daquela criança desconhecida parecia uma dívida impagável na moeda da consciência.
Então, em um revés do destino tão repentino quanto uma rajada de vento inesperada, a menina que Cida uma vez negligenciou materializou-se diante dela. Era a personificação de todas as questões não respondidas, o espelho que refletia a parte dela que viveu na sombra daquela escolha.
A aparição da garota fez com que a resistência interna de Cida se desmoronasse. A realidade contundente de seu erro, agora diante dos seus olhos, desabrochava com uma clareza dolorosa. Não era mais apenas uma ideia abstrata, um “e se?” distante. A criança tinha forma, tinha olhos, tinha expressão – e o olhar dela penetrava diretamente no coração de Cida.
A epifania foi instantânea e avassaladora. Não houve palavras, não houve gestos - apenas a compreensão silenciosa de que toda escolha tem seu eco, e o dela havia ressoado até ali, naquele mesmo jardim. Cida compreendeu, então, que a existência n******e ser medida apenas pelo alívio momentâneo de nossos próprios fardos, mas sim pelo cuidado que temos para não transferir esses fardos para outrem.
Viver com a culpa pode desfazer o ser humano ou conduzi-lo à redenção. No caso de Cida, olhar nos olhos da criança que ela negligenciou foi tanto um encerramento quanto um despertar, marcando o início de outro caminho - talvez um caminho de reparação, talvez um de aceitação. Em ambos, contudo, restava a esperança de que as rosas, um dia, pudessem simbolizar não apenas o peso do passado, mas a possibilidade de um novo florescer.