Este é o lugar?

2351 Words
Ruby respirou fundo, segurou uma mão na outra em frente a sua barriga, tentando controlar a ansiedade daquele reencontro que ela não imaginou nunca que iria acontecer, afinal, sempre pensou que tinha apenas sido abandonada, mas nem tudo aconteceria da forma que ela imaginava. Para sua surpresa, mesmo depois de MB tocar a campainha mais três vezes, com cada vez mais intensidade, ninguém apareceu para abrir a porta, como se a casa estivesse completamente abandonada. Fazendo com que a ida até aquele lugar fosse complemento inútil. — Acho que foi um erro vir aqui desde o começo. Talvez ele nem esteja mais aqui. Pode tá trabalhando, viajando, não sei. Vamos voltar. Não vale a pena perder mais tempo aqui. — Ruby se sentiu decepcionada, parecia que no fundo, mesmo que tentasse não poderia recontratar seu pai, mesmo que fosse em um momento tão importante. — Não viajei seis horas em uma estrada, com tudo em perturbando para ser em vão. — MB disse antes de abrir a porta da casa com apenas um chute. — Se ninguém vai abrir a porta para você, porque não abrir você mesmo, não é? — Isso não conta como invasão de domicílio? — Ruby disse olhando ao redor agitada enquanto MB entrava no lugar. — Eu administro a máfia. A máfia. Acha mesmo que eu vivo por dentro da lei? Óbvio que não. Talvez você tenha uma ideia errada sobre mim, mas não sou tão bonzinho como deve imaginar. E é impossível você andar dentro da lei, mas não mandar sua família para cadeia, afinal, todos sabiam e tinham suas ligações com a máfia de alguma forma. — MB achava uma completa besteira aquela situação — E se quiser resolver o problema, tenho certeza que não poderá seguir as regras. Então, vai entrar? Ruby hesitou assim que viu a mão de MB em sua direção, não havia sido criada para quebrar regras, mas depois de tudo que aconteceu naquele dia, não fazia sentido algum ter medo de invadir uma casa que teoricamente é do seu pai. — Vamos. — Ruby aceitou a mão que guiava ele por toda casa. O lugar inteiro tinha uma paleta branca com cinza, dando a sensação estranha que algo estava fora do lugar, tudo era tão impessoal que mais parecia uma casa genérica de bonecas. Como se tudo ali fosse falso. — Acho que essa não é a casa certa, mas apenas um lugar que ele usava. Não há nada pessoal dele aqui. Fotos, objetos de decoração, filmes, livros, absolutamente nada. Até mesmo as roupas do guarda-roupa são apenas camisetas brancas e moletons cinzas. — Ruby olhou para o quarto sem entender. — Não. Ele realmente morava aqui. Eu tenho certeza. Talvez estejamos deixando algo passar batido. — MB olhou ao redor buscando algo que estivesse saindo do padrão. Que pudesse ser uma pista do paradeiro de seu futuro sogro. — Espera. Achei um livro. — Ruby sorriu ao ver a capa do livro. Ela conhecia casa pedaço dele. — E é o meu favorito. Quando Ruby puxou a porta, a casa inteira tremeu, como se fosse um terremoto, mas muito pelo contrário, uma porta se abriu no sentido vertical, dando passagem para um quarto totalmente diferente do resto da casa. — Ele nunca cansa de surpreender. — MB sussurrou balançando a cabeça vendo o lugar. Nada mais era que um quarto, repleto de álbuns de fotos, porta-retrato, vídeos e até atividades da escola. Havia tudo relacionado a Ruby desde o seu nascimento até os dezessete anos. Ela não podia acreditar no que estava vendo. Seu pai não era nada como ela imaginou. Diferente do homem que imaginou, frio, estranho e calculista. Seu pai parecia amar ela a tal ponto que construiu uma passagem secreta apenas para guardar as lembranças que conseguia da menina. Ruby não se deu conta, mas havia começado a chorar ao sentir esse peso no peito. — Não é estranho? Tudo que tem aqui é até os seus dezessete anos. Eu entenderia se fosse até os dezoito, afinal, elas mudam, mas ele parou um ano antes. Será que foi por minha causa ou terá uma razão totalmente diferente? — MB se perguntou vendo tudo que havia acontecido para o lugar está vazio e por qual razão as fotos haviam parado de atualizar. — Com quantos anos que meu pai fechou o contrato com vocês? — Ruby perguntou por precaução. Algo realmente não fazia sentido. Se por dezessete anos seu pai havia recolhido informações sobre ela, o que levou ele a parar abruptamente? Algumas fotos ali, Ruby sabia que só poderiam ter sido tiradas por Verônica e Vitor. Ambos sabiam e forneciam as imagens. Não tinha como ser por ter sido descoberto. Havia uma peça faltando. Algo que não está claro. E isso poderia estar relacionado ao fato do pai da Ruby não está naquele lugar? — Um ano, um ano e meio. Acho que quase dois. — MB respondeu olhando para aquele cofre de memórias. — Algo não pode ser questionado aqui. Seu pai te amava de uma forma absurda. Você talvez seja a pessoa mais amada que já conheci na minha vida. — Me sinto um pouco culpada. Era o óbvio que ele sentia falta. Que realmente se afastou e me deixou com alguém responsável por ser o melhor para mim. Passei a vida sentindo muita raiva dele e da minha mãe por me abandonarem. A ponto de ter dificuldade de chamar as pessoas que me criaram de pai e mãe, por acreditar que eles eram maravilhosos demais para serem chamados de "pai" e "mãe". — Ruby não conseguia parar de chorar. Viveu anos de uma mentira. Que afetaram bastante ela. — Acho melhor a gente ir. Pedirei que investiguem o paradeiro do seu pai. A máfia central deve saber onde ele foi. Afinal, ele ainda é o dono da p***a toda. Melhor a gente cair na estrada logo, assim, chegaremos em casa ainda hoje. — MB estava achando estranho não ver a movimentação dos seus seguranças há algum tempo, mas não queria apavorar Ruby. — Sim, você está certo. — Ruby concordou. Afinal, não havia nada mais para fazer naquele lugar. Assim que os dois se afastaram, a porta se fechou na mesma hora. Ruby ficou na dúvida se era aberto por leitura facial ou por movimentar o livro, mas achou melhor ficar em ir embora. Do lado de fora, o sol já se despedia, havia muitas árvores ao redor. Um pequeno rio. Além de um penhasco enorme. Era um lugar completamente isolado do mundo. — Podemos parar no caminho para comer. Eu estou morrendo de fome. — Ruby fez careta enquanto abria a porta do carro. Em um movimento rápido, MB entrou no carro, puxando o braço dela, fazendo ela sentar no banco e fechar a porta. — O que é isso? — Ruby perguntou preocupada vendo MB olhar fixamente para janela. — Coloca cinto de segurança. Estamos cercados. — MB explicou ligando o carro. Só aí Ruby notou as pessoas ao redor com armas praticamente da sua altura. — O que está acontecendo? — Ruby perguntou vendo que estavam cercados. — Ruby, confie em mim. Eu disse que iria te proteger. Nada vai acontecer com você enquanto eu estiver por perto, eu juro. — MB disse enquanto engatava a ré do carro, atropelando duas pessoas que estavam apontando a arma para eles. Lamentavelmente, apesar da destreza de MB em escapar, o veículo perdeu o domínio sob o pavimento ao ser alvejado por uma saraivada de projéteis no pneu, desencadeando a sua explosão e lançando-o descontroladamente na direção oposta da estrada, precipitando-se inexoravelmente em direção a um abismo. Num fugaz lapso temporal, o automóvel mergulhou na imensidão do vazio, entregue à sua sorte. O carro se chocou em algumas pedras, fazendo ele perder a velocidade aos poucos, antes de finalmente cair em uma espécie de floresta. Ruby bateu a cabeça logo no primeiro impacto, perdendo a consciência na mesma hora. Assim que o carro estabilizou o chão, MB que estava acordado, sentiu o cheiro de gasolina. — Que merda! Como vamos sair daqui. O carro praticamente se tornou uma lata de sardinha. — MB gritou ao ver como o carro estava amassado. Era impossível sair pelas portas, estavam completamente destruídas. Sem pensar muito, MB soltou seu cinto de segurança, colocou seu corpo em frente ao de Ruby e com auxílio dos dois pés começou a juntar o que havia sobrado do vidro do parabrisa do carro. Depois de alguns chutes, ele finalmente consegue abrir um caminho. Ao tentar soltar o cinto de Ruby, percebeu que ele havia quebrado. MB respirou fundo, antes de puxar com toda a força o cinto, fazendo ele partir ao meio. Aliviado por conseguir soltar sua noiva. Agora começava a parte mais difícil, passar ela para o lado de fora. Com muita dificuldade, ele segurou Ruby forte em seus braços, abraçando ao máximo, para evitar que ela se machucasse de qualquer forma ao passar no vidro. — Merda! — MB gritou quando já estava colocando Ruby do lado de fora do carro, ao sentir algo rasgando suas costas. Mesmo assim, ele não tinha tempo para parar, a qualquer momento aquele carro poderia explodir com eles dois juntos. O cheiro de gasolina apenas aumentava. Não podia brincar com a sorte naquele momento. Depois de algumas dificuldades, MB conseguiu tirar os dois do carro. Colocou Ruby sentada escorada em uma árvore distante e voltou em direção ao carro para buscar a mochila dela. Afinal, eles estavam em uma floresta, iriam precisar de tudo tivessem. Alguns segundos depois disso, um grande estrondo fez todos os animais da floresta fugirem. O carro explodiu como MB suspeitava que poderia acontecer. O fogo queimava devagar a floresta, mas conquistava seu espaço pouco a pouco. Se aproximando de Ruby que dormia despreocupada sem saber que o fogo se aproximava. Mesmo com tudo aquilo acontecendo, Ruby não acordou. Só veio despertar cerca de dez minutos depois. Deitada em um tapete improvisado de folhas e com um pedaço de pano enrolado em sua cabeça. — O que aconteceu? — Ruby se perguntou olhando ao redor sem entender absolutamente nada. Não lembrava como havia ido parar ali. — Parece que não é a Branca de Neve. Jurei que minha noiva tinha decidido ser finalmente uma princesa como sempre foi, mas estava mirando em uma Bela adormecida ou Branca de Neve. Quase tentei dar um beijo apaixonado, mas achei que não iria funcionar. — MB brincou se aproximando de Ruby — Evite se mexer muito. Você levou uma pancada muito forte na cabeça. Sente alguma coisa? — Uma dor de cabeça e enjoou. Onde estamos? — Ruby só conseguia ver árvores ao seu redor. Sequer conseguia reconhecer as plantas que estavam ali. Era bem diferente da vegetação da ilha em que morava. — Sofremos um acidente. O carro caiu do penhasco. Consegui tirar a gente do carro antes dele explodir. Não conheço o lugar. Achei melhor apenas ficar parado e esperar resgate. — MB explicou na maior tranquilidade do mundo entregando uma banana que havia encontrado próximo de onde eles estavam. — Espera. Você está me dizendo que estamos perdidos em uma floresta desconhecida com essa cara de despreocupado? — Ruby gritou tentando levantar, mas se sentiu tentar. MB ajudou ela a sentar novamente, dessa vez, sentando ao seu lado. — Quer que eu grite? Surte e quebre tudo? Enquanto você tinha batido com a cabeça e precisava de cuidados e atenção? — MB explicou entregando uma garrafa de água que havia conseguido salvar ao resgatar a bolsa antes de explodir. — Me desculpe. Não pensei direito. Foi impulso. Tem algum plano para sair daqui? — Ruby perguntou antes de beber um pouco de água. — Por enquanto, vamos ficar aqui. Está quase anoitecendo. Juntei alguns galhos e vamos tentar usar essa fogueira que acendi no mesmo estilo que os astecas faziam. Pensei que só funcionasse em novelas e filmes. — MB brincou tentando aliviar a tensão. — Espera. Você acendeu isso com galhos e pedras? — Ruby questinou surpresa, fazendo MB gargalhar. — Sou muito perfeito. Cheio de qualidades, mas essa não é uma delas. Aproveitei um galho queimado da explosão do carro. Não sabia quando tempo ficaríamos aqui. Amanhã de manhã podemos tentar encontrar uma forma de sair ou uma trilha. Por enquanto, acho melhor você dormir e recuperar suas forças. Não se preocupe. Ficarei acordado vigiado para que nada se aproxime. — MB disse mostrando uma arma do seu lado. — Espera. Você vai passar a noite acordado? Podemos dormir perto um do outro. Eu tenho um sono leve. Se algo vir, eu vou acordar facilmente e te acordo. Você tem que descansar também. — Ruby não via sentido em só um deles descansar. — Não se preocupe comigo. Não será a primeira vez que viro uma noite vigilante. Você deve descansar porque amanhã pode ser bastante pesado. Além disso, acho que não parece seguro fazer outra cama de folhas. É melhor ficar acordado mesmo. Se eu passar dois dias sem dormir. Ainda assim, estarei bem. — MB estava decidido, mas Ruby também. — Que? Mas aqui cabe nós dois. Eu sou pequena. A cama que você fez cabem nos dois sem dificuldade. — Ruby sugeriu, mas para surpresa dela, a reação não foi como ela esperava. MB, que estava ao lado dela, deitou Ruby no tapete de folhas, ficando por cima dela. Os olhos dos dois estavam completamente focados um no outro. — Tenho a intenção de continuar sendo gentil, cavaleiro e respeitar a minha noiva até o dia do nosso casamento, quando ela vai se entregar completamente para mim. Assim como as regras. Por favor, não torne mais difícil para mim. Me seduzir dessa forma é um golpe baixo. Ou será que está tentando me deixar e******o? Será que é isso que estou entendendo? Vai querer que meu corpo esquente o seu nessa noite fria? — MB sussurrou no ouvido de Ruby com uma voz grave fazendo ela se arrepiar. — É um pouco inútil tentar seduzir um homem que já é seu, não acha?
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