Capítulo 1

1416 Words
Joana Figueiredo __ O quê causa a TDI? Alguém? _ Apontou para uns três ou quatro alunos na frente. __ Tá, hoje vocês não querem colaborar. Então! Vamos lá, turma! _ Disse turma olhando diretamente na minha direção. Hoje era àqueles dias em que o professor, Mário Duarte, adorava me provocar na sala de aula. Basicamente ele fazia as perguntas, quando eram outras pessoas respondendo sempre estavam certas! Quando era eu, sempre havia algo que dizia que não se encaixava no perfil de um paciente com TDI, que é a matéria da minha vida, àquela que mais aprecio. Não pude salvar a mamãe, pois na época era apenas uma criança. Hoje em dia sei sobre o que ela tinha,era: TDI e CD "Confusão Dissociativa" __ Vou dizer e vocês digitam nos seus notebooks... É causada por um grande trauma sofrido pela pessoa ainda na infância. Em muitos casos, esses eventos traumáticos são frutos de abusos sexuais, físicos ou psíquicos. Relacionados a um trauma-estresse agudo e transtorno de estresse pós traumático que pode induzir sintomas dissociativas ex: amnésia, flashback, entorpecimento, despersonalização/ desrealização. __ Agora diga-me, Joana Figueiredo mais sobre esse assunto, por favor. - Imediatamente olhei pra ele e a turma silenciosa olhava-nos de um para o outro, sabendo que tudo terminaria m*l para mim, é claro. Seu sembrante sério e carregado, mostrava o quanto estava bravo comigo, eu o ignorei por um mês depois da breve discussão em sala de aula. Sinceramente não parece ser ele...digo o habitual e simpático professor, Mário. Ele era bipolar e descontava suas frustrações em mim, que nunca fez m*l a uma mosca. Respirei fundo, encarando-o igualmente. __ É possível ter até 23 personalidades, antigamente chamado de múltiplas personalidades, é um transtorno mental de difícil diagnóstico, tratamento e sintomatologia. Diversificada, sendo caracterizada pela presença de duas ou mais identidades (personalidades) distintas de dentro de um mesmo indivíduo. __ Muito bem senhorita, Figueiredo...mas... - Lá vem ele. Encostou na mesa cruzando os braços no peito. __ TDI tem cura? - Ele sabia o que eu pensava do assunto e me magoava que não conseguia ver o meu ponto de vista. __ Sim... - Susurrei mais pra mim mesma, porém todos fizeram seus muxoxos e murmurios entre si. __ Quantas vezes tenho que me repetir...que essa doença. Não. Tem. Cura! - Suas mãos seguraram o tampão da mesa com força. __ E eu insisto, vou bater o pé! - Retruquei. __ Professor... - Suavizei a voz, tentando em vão convencê-lo. __ Com cuidado, carinho, amor e ajuda da família...tudo é possível. _ Disse com o coração na mão. __ Você gosta de me provocar... não é senhorita?! - Alterou um pouco a voz. __ Pacientes com esse diagnóstico crônico dura a vida inteira! __ Discordo totalmente. O tratamento ajuda e mesmo sendo crônico pode durar anos ou...ou, - Repeti. __ A. Vida. Inteira. __ Pare de se iludir aluna, nem você e nem ninguém aqui acredita realmente em conto de fadas! - Falou furioso, num tom de deboche. Perseverei na minha opinião... __ Tratamento familiar misturado com as terapias pode sim salvar... _ Parecia que espumava de ódio. Parei de falar. __ Sintomas: No comportamento: automutilação! comportamento auto destrutivo! - Ele contava no dedo e eu só me lembrava da minha mãe, sentia vontade de chorar. __ Ou impulsividade. No humor: ansiedade! despersonalização! ou mudanças de humor! Sintomas psicológicas: consciência alterada, depressão... também é comum perda da consciência e amnésia! __ Impossível depois de tudo isso um ser humano voltar a ser normal! Concorda comigo? Joana. __ Não! - Indaguei de raiva. __ Nunca vou concordar com o Senhor e tenho os meus motivos... __ Chega!! _ Bateu na sua mesa igual a um demônio, assustando a todos nós. __ Vamos agora senhorita, Figueiredo, para a minha sala. _ Não esperou, já foi logo saindo batendo a porta. Guardei o meu notebook dentro da bolsa, me levantei da cadeira, andei pelos degraus da escada derrotadamente...tendo a plena convicção que iria me expulsar da faculdade. Droga! Eu e a minha boca... Chegando na sua sala, a porta estava fechada, bati. Ele abriu mandando entrar, entrei ficando a uma distância segura da sua mesa. O professor encostou a porta sem tirar os olhos sobre mim. Deu uns passos na minha direção entregando-me algo. __ Tome! _ Entregou-me um papel e mais duas cartas. Li, continha um endereço, uma recomendação escrita, letra dele e por último um pedido de estagiário. __ Para quê isso? Professor, Mário Duarte. _ Perguntei desconfiada. Impacientemente colocou as mãos na cintura respondendo: __ Está há quanto tempo na minha classe? __ Quatro anos, esse é o último ano. _ Queria que chegasse logo e nunca mais ver sua cara de professor chato! Pensei. __ Pode interpretar como desafio o que vou lhe propor agora pra você, mas saiba que não terá escolha, pois essa será suas tarefas extracurriculares além da sua avaliação final. Mirou-me mostrando um sorriso torto no canto dos lábios. Parecia se divertir através da minha aflição. __ Esse é o endereço do manicômio estadual de Belo Horizonte, da nossa cidade, exatamente a um quarteirão daqui. Fácil localização. Sentou na sua cadeira, atrás da escrivaninha, pedindo, apontando através dos olhos a sua outra cadeira de frente à sua mesa. Recusei. __ Vai fazer um estágio, tratamento VIP pra você. _ Rio estranho. __ Terá um paciente com TDI, se chama: Douglas Donatto. Seu trabalho como terapeuta será avaliado toda semana por mim, que vai registrar tudo que vê e ouvir desse paciente. Caso consiga curá-lo, como a senhorita mesmo mencionou... passará de ano e vai curtir a formatura com os outros formandos...mas...se o seu tratamento não funcionar ficará amarrada a mim, Joana. É uma promessa! _ Argumentou essa parte semicerrando os dentes. __ Não tenho opções? __ Está com medo? Aluna. Deveria ter pensado antes de me enfrentar na presença dos meus alunos, agora aguenta as consequências dos seus atos. Se apenas digna-se a concordar com os fatos não estaria nessa situação. Agora vá. - Eu me viro pra sair dando as costas a esse babaca. __ Começará agora, hoje, pra ontem. Boa sorte, Joana... Volto a fita-lo e vi um brilho perverso no seu olhar. Sai dali o mais rápido possível, ao me afastar do prédio da faculdade chamei o táxi mostrando o endereço. Em uma hora cheguei em frente ao hospital psiquiátrico. Paguei o táxicista, desci do veículo. A faixada do edifício era branco, acinzentado, sem muitos detalhes. O guarda abriu os portões de ferro assim que mostrei as minhas credenciais de estudante de terapias psicopáticas e a autorização em punhos do professor, juntamente com a solicitação do próprio manicômio em receber um dos seus alunos no intuito de fazer o estágio. Lógico tinha que ser eu...mas não reclamo, só tenho receio de ver o paciente no mesmo estado na qual minha mãe um dia esteve. As imagens dela com essa doença ainda estavam gravadas a ferro e fogo na minha pele. Entrando no local, avistei o longo corredor, vários funcionários da saúde mental caminhando, fazendo suas obrigações. Pelo que me parecia não havia ninguém para me receber. O táxi que eu vim não tinha ar condicionado, então suei... podia até sentir as gotículas de suor na testa... __ Olá! Tudo bem com você? - Virei um pouco o corpo vendo um médico bem alto, super gato, ao lado do bebedouro. Minha boca salivou de tanta sede. __ Olá, sim, estou bem. Sou Joana Figueiredo. _ Estendo a mão, prontamente a apertou, firme. Olhava-me com intensidade. __ Muito prazer em conhecê-la, Joana. Me chamo, Renato Romanof. Sorrimos educadamente e derrepente algo no meu rosto chamou sua atenção, ele aproximou-se soltando as mãos, estendendo o dedo na lateral da minha face. Permaneci parada sem saber como reagir. Senti o seu toque na minha pele, seu olhar ficou fixo naquele ponto, até pegar... uma gota de suor no seu dedo, levou a boca, chupando o meu suor, fechando os olhos, como se sentisse um enorme prazer em fazer isso. Ao mesmo tempo que fiquei assustada, fiquei... estranhamente excitada com a forma que me provou além da sua cara de t***o que não se desfazia até a chegada de um homem. __ Já vi que conheceu o seu paciente, Douglas Donatto! __ Mas... _ Ele se afastou exibindo um sorrisinho no seu rosto masculino, caminhou em direção ao bebedouro, encheu o copinho plástico de água em seguida me entregou. Peguei bebendo avidamente. __ Bem vinda ao meu mundo doutora... Continua...
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