Mas tarde no mesmo dia...
Estou na casa dos meus pais pegando nossas coisas e claro que tinha que ter um pouco de drama.
-mãe eu estou bem, preciso voltar a minha vida...Sou grata tudo que fizeram por mim , mas preciso seguir...
-levamos vocês!
-não precisa,Aron está lá fora nos esperando.
-porque ele não entra?
-Judith, chega de tantas perguntas, voltem quando quiserem minha filha!
-Obrigada pai! Se despede dos vovôs Flavinha.
Aron me ajuda assim que saio da casa, agradeço por meu pai segurar minha mãe, não quero que ela faça drama para ele.
-tio Aron. ..
Flávinha abraça Aron e os dois cochicham, entramos no carro e partimos, não moro longe da casa dos meus pais e apesar de não me lembrar do Aron ele me passa segurança, assim que chegamos no prédio estacionamos e subimos, ele me ajuda com as coisas mas percebo que está constrangido.
-algum problema ?
-acho melhor ir...
Flavinha imediatamente puxa ele pela mão.
-dinda, tio Aron pode me colocar para dormir?
-se ele quiser, claro que pode .
E assim ele entra e os dois vão para o quarto dela.
Aron Klein
Estamos no quarto da Flavia...
-tio Aron, e se a dinda não lembrar mais de você?
-não se preocupe com isso, tudo ficará bem...
-ela fica muito triste quando você vai embora...Não quero que você vá de vez...
-mocinha, não irei a lugar nenhum, provavelmente terei que voltar para Alemanha para trabalhar, mas manterei contato, como sempre fiz, tudo bem?
-promete?
-prometo...
Fábiola
Uma hora depois ele reaparece na sala...
-tudo bem?
-ela está está preocupada com você!
-voce quer dizer, com nós dois?
-sim...
-eu imaginei...Aron. ..
-como disse antes , não se sinta precionada, tudo tem seu tempo.
-Obrigada. ..
-você tem meu número, provavelmente em alguns dias volto para Alemanha, mas te aviso, não quero você de volta na empresa antes de semana que vem, Marize já está ciente, qualquer problema deve direcionar ao Patrick!
-Patrick?
-você treinou ele, nosso gerente da Matriz.
-isso facilita muito! Tudo bem, eu realmente preciso descansar, desde que tive alta ainda não parei.
-fazem somente 24 horas que saiu do hospital.
-eu sei. Obrigada pela conversa e por estar ao meu lado, mesmo eu não lembrando ...
Ele se aproxima e me abraça e seu cheiro é tão familiar...Eu retribuo, logo em seguida ele beija minha cabeça e parti, me deixando sozinha com as minhas dúvidas.
Aron Klein
Não vou para o hotel, vou a um bar, preciso relaxar, e com minha mãe por perto será impossível.
Peço uma dose de Whisky e olho ao redor, bar vazio, um cara tocando sax e eu sozinho no balcão, pela primeira vez me sinto perdido! Não, mentira , segunda vez, quando ela não me quis me senti exatamente assim, passando por isso novamente, pode ser permanente ou temporário a falta de memória e enquanto isso, o que devo fazer? Nossos planos eram eu vir para cá, não sei mais como devo agir, se realmente devo fazer alguma coisa, eu não quero que ela se sinta precionada ou obrigada a viver algo que ela não tem certeza. Tudo está tão nublado e frio.
Fabiola
Não consigo dormir, sinto saudades da Letícia , ela me ajudaria , me aconselharia, passa um filme na minha cabeça e choro, a dor é insuportável, como não lembro da sua morte, como posso ter esquecido algo tão significativo para mim? Me sinto péssima .
Amanhece e não prego os olhos, ligo para Christiane.
-bom dia Fábiola.
-nada bom, preciso de sua ajuda...
Deixei Flávinha na escola e e estou indo para o centro da cidade , irei me consultar com um amigo da Christiane .
-Bom dia, tenho um horário com Dr. Ronaldo.
-aguarde só um momento , ele já irá lhe atender.
Me sento e observo o local, sabemos muito de uma pessoa pela decoração, ele me parece ser alegre, muitas cores, e muitos objetos esotéricos, aconchegante a recepção dele, escuto vozes e a porta se abre saindo um senhor acompanhado de acredito eu do Dr. Ronaldo, eles se despedem e imediatamente a secretaria fala algo para ele que sorri para mim e vem ao meu encontro.
-Fabiola?
-bom dia Dr. Ronaldo.
Apertamos as mãos e ele me convida a ir até a sala dele, aqui o ambiente é neutro, cores claras e alguns quadros de fotografias de paisagens .
-Obrigada por me receber .
-em que posso ajudar?
-acabei de passar por uma grande cirurgia, retirada de um tumor na cabeça.
-correu tudo bem?
-ai está a questão, foi tudo mais que perfeito, conseguiram a retirada completa inclusive as ramificações porém. ..
-porém?
-perdi algumas memórias!
-recentes?
-exatamente, acredito de um ano atrás para cá!
-acredito que tenha feito exames depois da cirurgia?
-sim, não foi encontrado nenhuma anormalidade, o médico responsável pela minha cirurgia diz que há a probabilidade de ser temporário. ..
-pode ocorrer, mas o que está realmente de afligindo?
-Dr. Ronaldo, não sei nem por onde começar. ..
-que tal começar pelo que mais te está afligindo?
- a morte da minha melhor amiga, além de não lembrar, estou com a guarda da filha dela, que é minha afilhada.
-isso realmente é um compromisso muito sério!
-eu não sei como consegui, me sinto péssima , me sentindo m*l, triste ,ela é uma criança, para ela a perda foi muito maior e ela me parece tão bem!
-já te passou pela cabeça que talvez ela estava ótima porque você abriu mão do seu sofrimento para ampara - lá?
-minha mãe e Aron falam isso, mesmo assim neste momento não consigo não sentir...
-quem é Aron?
-ah ! Ainda tem isso, meu namorado que também não lembro!
-pelo pouco que ouvi acredito que esteja bastante confusa.
-e muito perdida, quanto ao Aron me sinto bem perto dele, apesar de não lembrar, algo me é familiar, com ele acredito que será mais fácil, mas a dor da perda da Letícia está insuportável, estou sem dormir...
-esta passando pelo luto...
-agora?
-para você isso acabou de acontecer, agora está se dando o direito de sofrer, de sentir, deixa a dor sair .
Quando estou saindo do consultório meu celular toca, Aron.
-Oi. ..
-tudo bem?
-sim, levei Flávinha para escola e estou resolvendo algumas coisas.
-precisando de alguma coisa?
-você está livre?
-para você sempre estou!
Estou na porta do hotel e dou uma leve buzinada e ele aparece , de calça jeans e camisa preta, ele mesmo informal chama atenção.
-bom dia grandao!
Ele me olha surpreso.
-o que foi?
-você me chamava assim quando queria me provocar!
-e conseguia?
Ele sorriu mais não respondeu.
Estou levando ele ao Park onde costumava caminhar ou até mesmo brincar com a Flávinha.
-você já me trouxe aqui, não lembra né?
-não, gosto daqui, me deixa leve.
Nos sentamos debaixo de uma enorme árvore, o Park está vazio, dia de semana tem algumas crianças com suas mães brincando, nada demais.
-hoje fiz uma consulta com um terapeuta.
Ele me olha abismado.
-o como foi? Não sabia que estava tão difícil assim. ..
-na verdade Aron, eu realmente não entendo como lidei com a morte dela, me doi demais é algo imensurável, e eu preciso entender de onde eu tirei a força para continuar e cuidar da Flávinha sem passar esse sofrimento para ela, eu não quero ser egoísta, a dor dela é muito maior porque na verdade ela perdeu a única pessoa que se importava com a existência dela...
Ele segura minha mão e beija.
-ela não perdeu a única pessoa que se importava com ela, perdeu alguém muito importante, mas a vida se encarregou de trazer novas pessoas para ela, sua mãe, seu pai... seus familiares...
-você!
-eu ...
-Aron eu não lembro de você, mas eu confio, sei que tem sua vida na Alemanha mas não desiste de mim...
Eu encosto no ombro dele e ali fico por algum tempo, queria muito me lembrar. ..