CAPÍTULO 01

2050 Words
SERENA Não sei onde estou, mas provavelmente estou aqui nesse cubículo escuro por dois dias. É uma espécie de porão, as vezes escuto vozes se aproximando mas não vejo ninguém. Não recebi água ou comida, muito menos tive direito a tomar um banho ou cuidados médicos. Dois dias, faz dois dias que o meu tio me violou e depois que eu desmaiei me trouxe sei lá para onde. Ele me deixou trancada, usando apenas um roupão sujo de sangue e o meu colar Âmbar que pelo menos ele não o tirou de mim. Ainda sinto dor no meu sexo, ainda tenho os cortes no rosto e ainda tenho vestígios de seu g**o no meu rosto, seu cheiro, me lembrando de toda a sujeira que ele fez. Me sinto impura e podre. Como qualquer garota eu sonhava com minha primeira vez, sonhava com alguém que me amasse, me desejasse e que fosse recíproco. Então, eu entregaria meu corpo depois de ter entregado meu coração, mas o monstro do Brian o tomou de mim. Ele me acolheu, conquistou minha confiança e então... Me destruiu. — Olá pombinha. — Sua voz, antes reconfortante, agora me enoja. Desta vez, para minha infelicidade ele abre a porta. Vejo claridade pela primeira vez desde que aconteceu, e ainda é escuro. Não respondo, nem sei se tenho mais voz, mas para minha surpresa eu ainda tenho lágrimas. — Nossa, você está um horror, onde está minha menina tão linda? — Eu não consigo olhar para ele. — Eu tenho duas surpresas para você. — Ele parece esperar uma resposta, como consegue ser tão cínico? — Pode entrar. Assim que ele fala, Melissa entra pela porta e eu a encaro com uma mistura de sentimentos. O que ela faz aqui? Ele abusou dela também? Mas ela não parece triste e muito menos... surpresa ao me ver e nesse estado. — Me...Melissa? — Gaguejo descobrindo que ainda tenho voz, mesmo que quase inaudível. — Oi Sel. — Ela é seca. — Eu não... não estou entendendo. — Ainda tão ingênua pombinha? Mesmo depois do nosso momento lindo? — Brian volta a falar me trazendo novamente aquele reboliço no estômago. — Sua querida Mel, me ajudou. Eu não sei o que doeu mais, a traição dele, ouvir essas palavras, ou olhar no rosto da Melissa. Porque no momento que eu olhei para ela, eu percebo que é verdade, ela estava com ele. E eu não faço ideia do porque e nem de que forma. — Como? — A voz sai fraca enquanto as lágrimas saem descontroladas. — Bom... Serena, não podia deixar que você abrisse a boca depois do que aconteceu. Eu tenho uma esposa e uma empresa, sou conhecido, não podia estragar minha imagem e minha vida por causa de uma pombinha mesmo que ela seja muito gostosa. — Quanto mais ele fala mais o vômito sobe pela minha garganta e menos eu entendo onde a Melissa entra nessa história. — Eu não posso deixar você voltar para casa Serena. — Mi...nha mãe, como está a minha mãe? — Fraca, desidratada, machucada, as palavras não saem com a firmeza que eu gostaria. — Desolada... Pela morte da filha caçula. — Ele responde e suas palavras começam a ecoar em minha cabeça. Meus olhos se arregalam e eu não tenho força para responder. Morte? Ele vai me matar agora? Depois de tudo eu vou apenas ser assassinada? Eu não mereço isso, minha vida m*l começou. — Não pombinha, não vou matar você. Sua amiga iria passar a tarde com você, lembra? Infelizmente ela chegou e encontrou a casa incendiada, apenas um corpo. A bela Serena De Lucca. A Melissa sabia que eu seria estuprada, ainda me ajudou a ser sequestrada e forjar minha morte. Minha melhor amiga, alguém que eu conhecia desde criança, que eu sempre estive ao lado e nem mesmo permiti que a fizessem m*l, participando na pior coisa que poderia acontecer a um ser humano. A minha Mel. — Por que? — Fragilizada é a única coisa que consigo soltar para ela. — Olhe para você Serena, você é ordinariamente linda. E eu? Olhe para mim. — Inveja? Ela está fazendo isso por inveja? Quase esboço um riso irônico no meu rosto. — Eu cansei de viver na sua sombra. A mais linda da escola, a que todos os garotos querem, a líder de torcida e ainda tem as melhores notas. Eu cansei de viver atrás de Serena De Lucca e eu quero um mundo sem ela. Tudo dentro de mim doí e eu não sei se é pela violência que eu sofri ou tudo isso que eu escuto agora. Eu estou num porão, suja por dentro e por fora, sozinha, ferida. E minha mãe está agora sem casa, com um emprego que m*l conseguia nos manter e chorando a morte da única filha que estava ao seu lado. Uma morte falsa. E o pior? Eu ainda não sei o que será de mim. — Você...eu... eu amava você. — Solto para Melissa ainda sem conseguir conter as lágrimas. — Amava vocês dois. — Oh pombinha, eu também amo você. — Ele se aproxima de mim e acaricia meu rosto. Não consigo segurar mais e viro para o lado, soltando o enjôo do meu estômago para fora. — Minha nossa, que nojo! — Melissa solta. — Que pena que acha isso Mel, pois é você quem vai dar banho nela. — Eu? Por quê eu? — Porque eu estou mandando e se quiser receber vai ter que fazer o que eu mando. — Então é isso, além de inveja ela vai ser paga para me trair. Não consigo me manter de pé, então ele me agarra pelo braço e praticamente me arrasta até o andar de cima. É a casa de veraneio dele, consigo reconhecer. Mal consigo olhar as coisas ao meu redor direito e sou jogada em cheio no chão frio do banheiro. E nesse momento eu só consigo me perguntar o que eu fiz para merecer isso. — Agora você vai ficar bem limpinha, depois vai para a mesa comer e então conversaremos sobre o futuro. — Eu quis xinga-lo, mas não tinha forças. — Vamos acabar logo com isso. — O que eu fiz para merecer tanto ódio da Melissa também? ••• Depois de um silencioso banho, ironicamente fui vestida em um vestido branco. E estava numa mesa, sentada na frente do meu estuprador. Tinha um pouco mais de forças, mas pela falta de comida ainda não estava no meu normal. — Coma. — Fala. Enquanto eu... apenas olho para o prato com um belo e cheiroso bife acebolado e batatas grelhadas. Eu não tenho fome e nem vontade de dirigir a palavra a ele apesar da fraqueza e dos dias sem comer, já passei dessa fase então continuo em silêncio. Ainda tentando digerir tudo que acaba de acontecer, tentando entender o que estou sentindo. — Já que não quer comer agora, vamos começar pela conversa. Como eu disse, eu amo você, nunca te faria m*l. — Eu o encaro friamente dessa vez. Também olho para a faca perto de mim. Eu já não me sinto viva, talvez eu deva terminar com o resto da minha humanidade. — Então, eu vou te dar três opções e você decide o que fazer com sua vida. A primeira: você volta para a casa e dá um abraço na sua mãe que com certeza será bem reconfortante, depois conta tudo que aconteceu, ela com certeza vai acreditar na filha querida dela. Seu anjo. E então, ela vai levar você para a delegacia onde a menina morta volta a vida e diz ter sido estuprada pelo próprio tio. Um tio que a ajudou e amparou desde a morte do pai. Um tio poderoso, conhecido e rico. — Eu fico mais chocada a cada palavra, como alguém consegue ser tão frio, tão calculista? — Eu não sei se vão vai acreditar em você, mas se acreditarem eu tenho um bom advogado e saio da história como um pobre injustiçado. Você tem um advogado, sobrinha? E então mato sua mãe e sua irmã, afinal eu posso ser temperamental quando estou estressado e com certeza enfrentar um processo me deixaria estressado, mesmo vencendo no final. Você mereceria essa disciplina por contar nosso segredo, mas devo lembrar que também, nunca acharão provas contra mim. — Você é um mostro! Quero que vá se f***r seu merda. — É tudo que consigo dizer. Ele apenas sorri. Eu sei que nada que eu diga vai poder atingi-lo da forma que ele me atingiu. Não. Nunca. Eu nunca arriscaria a morte da minha família. Mesmo que isso signifique a minha. — A segunda: Como na anterior, você volta, abraça sua mãe e blá blá blá. Mas não conta nada logo para ela, apenas diz que foi um grande m*l entendido e você está bem. Que grande milagre não é? Só que isso não vai me tranquilizar, vai? Como vou poder viver tranquilo sabendo que você pode surtar em qualquer momento e sair falando besteiras por aí? Não, não, eu não posso arriscar. Então eu teria que matar sua mãe, sua irmã e desta vez você também para... Você sabe... Calar a boca das três. Brian sabe que eu não me importo com a minha vida quando se trata da minha família, muito menos agora, depois de tudo. Eu realmente preferia estar morta, do mesmo jeito que já me sinto morta por dentro. Por isso, ele está usando minha família, meu bem mais precioso, tudo que eu tenho e amo. A única coisa que importa para mim. — Sabe Brian...você até está me surpreendendo. Achei que era apenas um sortudo que ganha dinheiro na empresa que herdou do meu pai sem o mínimo esforço e fez a empresa crescer porque deu sorte. Mas agora descobri que você tem cérebro, pelo menos para o lado n***o da força. Milagrosamente consigo dizer algo. Mas isso não me deixa melhor, nem um pouco, só consigo me sentir pior ao ver aquele olhar dele, o mesmo que ele estava quando... Quando entrou no meu quarto. — Sua terceira opção é: Você infelizmente não vai poder ir para casa, pombinha, não vai ver sua mãe e dar uma abraço nela, nem a sua irmã. Nunca mais. — Nesse momento eu sinto algo. Uma dor dilacerante espalhada dentro de mim misturada com toda a dor física. — Mas... elas viverão e viverão bem. Vou dar outra casa a sua mãe, em breve Claire estará aqui e elas irão superar sua morte juntas. Eu nunca tocarei nelas, eu prometo isso. — Como se a sua palavra valesse algo. — Eu prometo pombinha, não quero nada com uma velha e a Claire bom... É a Claire. Ela é bonita, mas... sempre tive olhos apenas para você. — As lembranças voltam como um filme na minha mente e sinto tudo escurecer. Respiro fundo e seguro firme na mesa para não despencar. — E o que acontece comigo? O que eu vou ter que fazer para que você deixe minha família em paz? Eu não estou bem, ao contrário, eu quero morrer, chorar, me isolar em posição fetal. Mas nesse momento, eu arranco forças que não sei de onde veio, porque eu preciso proteger minha família dessa monstro, pelo menos o que restou dela. — Basta assinar isso. — Ele me entrega um papel, um contrato que me deixa boquiaberta. É baixo demais, até para alguém como ele. Eu olho para ele, com lágrimas que voltam a verter de mim. — É só assinar pombinha, e elas viverão. Assine e salvará a vida das duas. Eu paro, mas não há no que se pensar. Como eu viveria sabendo que poderia ter salvo minha família? E mesmo se eu morresse também, isso não as salvaria. Eu já tinha um destino, eu não tinha escolha. Brian já havia escolhido por mim. Me tornaria uma das garotas da Mikles, uma famosa casa de garotas pelo que estou lendo aqui. Uma prostituta. Depois do pior trauma da minha vida eu voltaria a f********o, dessa vez por dinheiro, vendendo meu corpo, ou o que restou dele, pelo resto da minha vida. Eu não tinha salvação e não tenho outro jeito. Serena De Lucca, morreu ali.
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