“Porque amor é justamente isso,
é ficar inseguro,
é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia,
é ter medo de se perder todo dia.
É você se ver mergulhado,
enredado,
em algo que você não tem mais controle”.
Fabrício Carpinejar.
Stela
Subo a escada praticamente correndo e vou direto para o quarto de Louise.
Tudo o que preciso é olhar para a minha filha e tentar me acalmar. Seu cheiro de bebê sempre me acalma, acalma o meu coração.
Me aproximo da cama e passo as mãos por seu cabelo espalhado pela cama. Antes de me deitar ao seu lado, resolvo tomar um banho primeiro.
Vou rapidamente para meu quarto, tomo um banho rápido, visto uma camisola e volto para o quarto da minha filha, me deitando com ela em sua cama e a puxando para meus braços.
— A mamãe está com medo, filha. Medo do que o seu pai pode achar ou fazer — digo como se ela fosse escutar ou me dar algum conselho.
Minha filha dorme profundamente em meus braços e é assim, sentindo o seu cheirinho que acabo pegando no sono também.
Tudo o que quero e preciso é que esse dia acabe logo e o amanhã chegue para que possa tirar todas as dúvidas da minha cabeça.
***
Eu me assusto ao sentir alguém me pegar no colo e ao abrir os olhos, vejo que é meu marido me levando de volta para o nosso quarto.
Tudo o que fazemos é nos encarar, mas nenhum de nós dois diz nada.
Consigo sentir em sua respiração o cheiro forte de uísque e cigarro, ele sempre diz que fuma quando está estressado e provavelmente o motivo do seu estresse, sou eu.
— Por que estamos fazendo isso mesmo? — ele pergunta quando me deita na cama.
— Fazendo o quê? — Me faço de desentendida.
— Brigando, Stela. Por que estamos brigando?
Há tristeza em sua voz e me sinto m*l por isso. Então quando ele se deita do seu lado na cama, eu me aproximo colocando a cabeça em cima do seu peito, escutando as batidas do seu coração.
Ele passa a mão pelo meu cabelo.
— Me desculpa, não estou me sentindo muito bem ultimamente.
Ele respira fundo.
— Eu te amo e você sabe que pode falar comigo. Então, por que não fala?
Eu levanto a cabeça e o encaro.
— Ivan, nunca falamos sobre ter outro filho, não estou tomando nenhum tipo de anticoncepcional e em todas as vezes que fizemos amor não usamos preservativo.
Eu sinto seu corpo tensionar e meu coração acelera com medo do que ele possa falar.
— Tem razão, nós nunca conversamos sobre isso.
Fico olhando para ele que não fala mais nada, é como se estivesse perdido em seus pensamentos, o que me faz ficar mais apreensiva ainda. Eu me afasto, me ajeito na cama ficando de costas para ele e fecho os olhos na esperança de pegar logo no sono.
Mas percebo quando ele se levanta e vai para a varanda fumar mais um maldito cigarro.
***
Ivan
“Ivan, nunca falamos sobre ter outro filho”, essa frase ecoa em minha cabeça.
Ter outro filho, mais um filho...
Eu perdi a gravidez da minha filha, perdi o seu nascimento, perdi os seus primeiros passos, as primeiras palavras. Eu perdi o começo da sua vida e só em imaginar ter a oportunidade de passar por isso, de ter essa experiência enche o meu coração de esperança e alegria.
Mas, aí vem a próxima pergunta.
É isso que está deixando a minha bela esposa nervosa?
A possibilidade de termos mais um filho.
Será que ela está com medo de engravidar e eu não gostar da notícia?
Mas não vou tomar a frente desse assunto, já provei a ela mais de uma vez que mudei. Ela me fez mudar e, agora, a minha bela esposa vai ter que aprender a confiar em mim, para me contar todas as suas aflições e as dúvidas que podem rondar o nosso casamento.
Ela tem que aprender a se sentir à vontade para falar tudo o que quiser comigo. Eu já disse isso várias vezes a ela, mas parece que somente as minhas palavras não foram o suficiente para passar segurança a ela. Porém, no dia em que ela aparecer com a notícia de que está grávida, vai me tornar o homem mais feliz do mundo.