Capítulo 8 - Ruslan

1334 Words
Penso numa saída para a situação em que me coloquei e não faço ideia de como reverter tudo sem prejudicar o plano inicial. A minha cabeça dói de tanto pensar numa solução que obviamente não encontro. Ando de um lado para o outro até que a minha atenção é desviada para uma batida na porta. O único que teria coragem de vir até mim a essa hora sem anunciar é o Vladimir, então, abro para que o meu braço direito entre no apartamento. — O Pakhan ligou e quer saber se fizemos avanços. – Ele anuncia enquanto o assisto se acomodar na poltrona. — Preciso consertar um erro ou não chegaremos a lugar nenhum, mas não faço ideia do que fazer. – Revelo frustrado. — O que aconteceu? – Ele pergunta com o cenho franzido. — Me empolguei nos amassos com a garota e fui com muita sede ao pote. – Digo de forma sucinta. — E qual o problema? Você disse que usaria qualquer subterfúgio para conseguir atraí-la até onde queremos. – Ele lembra-me e sinto-me ainda pior pela verdade que escuto. — Sim, o problema é que ela era virgem. – Falo a verdade e jogo-me no sofá. — Ela disse ou fez alguma coisa contra você? – Ele pergunta após um longo período em silêncio. — Não, mas fiquei puto por ela não ter avisado sobre esse detalhe e acabei assustando a garota, depois que explodi, ela pediu que eu saísse. – Ergo-me inquieto e o observo se aproximar do meu computador. Ele foca a câmera no rosto de Chiara e os olhos inchados mais os suspiros, são a prova do quanto está magoada. — Você precisará se reinventar e ser tudo que provavelmente abomina. – Ele fala com um sorriso debochado. — O que quer dizer? – Pergunto confuso. — Essa garota parece ser do tipo sensível e para se redimir terá que se transformar num homem romântico. Faça uma pesquisa do que pessoas que possuem sentimentos fazem por suas amadas e apenas replique os seus feitos, mas antes de iniciar esses grandes atos, terá que se desculpar. – Ele abre um largo sorriso demonstrando todo o divertimento em me ver nesta situação. — Não há outra forma? – Pergunto mesmo sabendo a resposta e ele dá um aceno negativo. — Tem certeza de que essa merda vai dar certo? – Pergunto. — Não posso dar garantia de nada. – Ele agora responde-me sério. — Nem passou pela minha cabeça que ela era virgem. – Desabafo com a frustração de volta. — Sabemos que a virgindade das mulheres dentro da máfia é algo essencial, mas essa garota está longe dessa realidade e aqui fora isso não fará diferença. Não se preocupe tanto. – Vladimir me consola. Posso perceber que tenta disfarçar a preocupação, porque assim como eu, ele sabe que nesses casos, só um casamento acalmaria os ânimos da família da moça. O que muda nesta situação é o fato da Chiara não ser um m****o oficial da máfia e por isso, não há quem reivindique o sangue da sua honra. Mesmo que o meu plano seja expô-la como um segredo sujo do pai, não acredito que algum italiano irá se arriscar por uma bastarda. Ainda assim, preciso preparar-me para quaisquer imprevistos relacionados a este assunto e ficar a um passo à frente de todos. — Sei as complicações que isso pode gerar e garantirei a segurança da garota, mas o que me preocupa neste momento é o fato de tê-la ferido. Fui muito bruto e você sabe o quanto odeio homens que agridem mulheres. – Passo a mão pelos cabelos como se esse gesto pudesse acalmar-me. — Você não é um agressor de mulheres, Ruslan. – Todos da minha família abominamos qualquer tipo de agressão a pessoas inocentes. A minha tia Anastasia faleceu devido à vida cheia de abusos que era oferecida pelo marido. Ela sofreu em silêncio e quando o meu pai descobriu já era tarde, pois o meu velho encontrou a irmã toda machucada e desacordada num quarto dentro da mansão em que vivia. Eles viviam numa cidade mais afastada da nossa, então, foi difícil perceber qualquer indício de problema e esta é uma ferida aberta na nossa família desde aquela época. Sinto repulsa todas as vezes que lembro que feri uma garota pequena e delicada como Chiara. Ficamos mais alguns minutos conversando sobre os detalhes que teria que mudar nas minhas abordagens daqui para frente e com isso, decido que logo cedo darei os primeiros passos para me transformar num homem que é o meu total oposto. Depois de aproximadamente duas horas, o Vladimir vai para o seu andar e fico sozinho novamente. Olho para a tela do computador que permanece focada no rosto da bela garota que deflorei e a observo dormir. Sinto uma vontade insana de ir até lá sentir o calor daquele corpo novamente, mas controlo-me e como sei que não conseguirei pegar no sono, inicio uma busca pela “internet” sobre dicas do que posso fazer para me redimir. Fico impressionado em ver como as pessoas se prestam a desempenhar papéis ridículos em nome do amor. Assisto diversos vídeos em que homens feitos se ajoelham aos pés das suas amadas com buquês de flores e juras de amor eterno, o meu estômago revira só de me imaginar nesse papel, mas lembro-me que sou um homem treinado para viver qualquer tipo de tortura e é focado nisso que tenho certeza que conseguirei. É uma verdadeira tortura ver tantos vídeos patéticos e melosos, então, concluo que jamais me sujeitarei a tal situação. Após horas nesse tormento, decido adaptar o que vi à minha personalidade e como falta pouco para amanhecer, sigo para o quarto onde me arrumo para colocar o novo plano em prática. Saio do prédio em busca de uma floricultura e agradeço internamente que rapidamente encontro uma aberta. Ao adentrar o lugar, fico perdido com a quantidade de cores que vejo e como não faço ideia das preferências da mulher com quem preciso desculpar-me, escolho uma porção de cada flor que vejo, bem como as suas variações de tons. Após dez minutos no lugar e com a parte das flores definida, sigo para uma padaria que vi no caminho e assim como na outra loja, compro o que vejo pela frente, principalmente os doces, já que é algo que a Chiara aprecia bastante. Quando retornei, mandei que os soldados providenciassem a arrumação do apartamento da minha vizinha que ainda dormia e acompanhei tudo de perto. Vladimir e eu ficamos com a mesa de café da manhã que obviamente não ficou perfeita, mas serviria para o propósito a que foi montada. — Só espero que isso dê certo, não tenho tempo nem disposição para continuar nessa brincadeira. – Falo m*l-humorado. — Também espero que dê certo, caso contrário, teremos problemas com o Pakhan. – Vladimir responde sério. — Independente da reação da garota, a minha situação ficará complicada quando contar o que fiz ao meu pai. – Constato o óbvio, pois sei o que me espera quando contar ao meu velho que fui o primeiro homem da garota. Um apito no celular chama a minha atenção e vejo na tela o alerta de movimento no quarto da Chiara, abro a câmera e a assisto entrar no banheiro. Faço sinal para que todos saiam do apartamento e preparo-me para a parte mais difícil desse plano: pedir desculpas. Antes que a garota chegue na sala, sinto o seu cheiro doce invadir o ambiente e assim que ela chega para abruptamente pelo susto que leva com a nova decoração e a minha presença a sua espera. Ela olha admirada para as flores e quando os nossos olhos se encontram consigo identificar mágoa, vergonha e arrependimento neles. O meu coração fica acelerado e esta reação deve ser pelo fato de que não posso falhar nesta missão, pois apesar de ter poder para levá-la à força para a Itália, preciso redimir-me do erro grave que cometi ontem.
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