Me olho no espelho e gosto do que vejo, uma produção simples, porém bonita, para uma tarde juntos está ótimo. Eu escolhi uma regata branca e um short jeans e nos pés uma rasteirinha, acho que a ocasião pede algo mais casual.
— Você não está muito simples? — Pergunta Romeu ao me ver.
— Não, é apenas uma tarde juntos, nada demais — Explico.
— Nada demais — Ele imita minha voz e eu não consigo conter uma gargalhada.
— Pare de gracinha.
— Você jantou com ele ontem e vai passar a tarde com ele hoje, você realmente acha que não tem nada demais? — Ele arqueia a sobrancelha e usa aquele tom de voz acusadora que só Romeu sabe fazer.
— O que tem demais nisso? — Passo por ele — Você que fica vendo coisa onde não tem, nem aconteceu nada.
— Ainda né Alice, ainda...
— Estou indo, qualquer coisa me liga, tá bom?
— Vai tranquila e Alice?
— Sim?
— Aproveite sua "liberdade" — Ele faz aspas com os dedos — Viva tudo que tem para viver, você não sabe até quando isso vai durar — Sua voz sai melancólica.
Eu o abraço forte.
— Daqui a pouco estou de volta.
Me despeço dele e quando abro a porta, aquele armário mudo está do lado de fora, levo um susto e coloco a mão no coração.
— Bom dia ou boa tarde, sei lá.
Para mim que não almocei ainda pode ser bom dia e para ele, bom, para ele não sei, talvez seja boa tarde, tanto faz.
Como sempre ele responde apenas com um manuseio de cabeça e sai andando, qual é o seu problema? Será que ele é mudo?
Entro na suíte de Enzo e tudo está quietinho, o armário já sumiu. Caminho lentamente até a varanda e o encontro apenas de bermuda e uma regata, seus braços musculosos e cheios de tatuagem em evidência ficam à mostra, revelando um homem ainda mais sexy do que eu imaginava. Puxo o ar em uma tentativa inútil de tentar acalmar as mil borboletas que dançam em meu estômago. Qual é Alice, O cara nem é tudo isso. Mentira, ele é tudo isso sim, a quem estou querendo enganar?
Ele se vira e me presenteia com um sorriso maravilhoso, um sorriso de tirar o fôlego de qualquer um, inclusive o meu.
— Olá Alice, linda como sempre — Abro um sorriso ao ouvir seu elogio.
Ele coloca algo dentro de um cinzeiro e só então me dou conta de que ele estava fumando.
— Você fuma? — Que pergunta i****a Alice, é claro que fuma.
Nesse momento me estapeio mentalmente por essa pergunta.
— Fumo, estou tentando parar, mas é complicado. Isso te incomoda?
— Não, claro que não.
Minto, na verdade isso me incomoda muito, meus irmãos e meu pai vivem fumando e acabei tomando nojo, mas claro que não vou falar isso para ele, não tenho nada com isso.
— Seu rosto demonstra outra coisa — Ele diz sorrindo e me estende a mão — Vem, vamos almoçar, você ainda não comeu, né?
— Não.
— Ótimo, venha.
Seguimos para a sala de jantar e desfrutamos de um ótimo almoço, tudo muito delicioso.
— O que você quer fazer agora?
— Não sei, o que você tem em mente? — Me arrependo na mesma hora de ter feito essa pergunta.
— Melhor saber o que você tem em mente — Seu sorriso é malicioso e eu fico envergonhada.
— Um filme? — Respondo baixinho.
— Para mim parece ótimo.
Passamos um longo tempo discutindo sobre o filme que íamos assistir e por fim ficou decidido um filme de comédia, com muita luta eu consegui.
Olho para ele e sinto uma estranha vontade de sorrir, me sinto estranhamento bem ao lado desse homem e vai fazer apenas três dias que eu o conheço, meu Deus, me ajuda a raciocinar direito, eu só posso estar ficando louca.
Quando me imaginei tendo um encontro com um homem? Um não, dois, posso qualificar nosso jantar e nossa tarde de hoje como encontro? Acredito que sim.
— Pensativa? — A voz de Enzo me trás de volta a realizada e quando o olho ele está perto, perto demais.
— Acho que estou apenas um pouco cansada, tenho que ir — Minto.
— Alice? — Ele segura meu braço me impedindo de levantar do sofá — Porque está sempre fugindo? — Sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo com seu toque.
— Eu não estou fugindo — Olha eu aí, mentindo mais uma vez.
— Então fica, vamos terminar de assistir ao filme.
— Eu não posso — Digo em um fio de voz.
— Porque? — Ele levanta meu rosto com a mão — Olhe para mim, por favor.
Eu poderia enumerar vários motivos para descrever o porque eu não posso continuar aqui e agora, mas não posso fazer isso.
— Eu preciso ir — É a única coisa que consigo dizer.
— Você vai ficar fugindo para sempre?
— Não tenho porque fugir e não estou fugindo.
— Está sim, está fugindo de mim, toda vez que me aproximo, você foge.
— Enzo... — Ele se aproxima mais e encosta sua testa na minha, respiro seu hálito refrescante e isso me causa um arrepio.
— O que Alice?
— Por favor... — Não sei o que estou pedindo.
— Me diga, o que você? Você quer realmente ir embora?
Não respondo, não consigo responder, busco no fundo da minha mente alguma sanidade, mas não consigo encontrá-la.
— Era o que eu pensava — Ele diz segurando meu queixo e eu o encaro.
— Não faz isso — Minha voz sai tão baixa que eu mesma quase não escuto.
— Se eu não fizer isso vou me arrepender eternamente, se eu deixar você sair por aquela porta, pode ser que eu nunca mais a veja e eu não posso correr esse risco — Ele respira fundo e seus olhos continuam encarando os meus — Eu vou te beijar Alice e quando eu fizer isso não vai ter mais volta — Meu corpo inteiro se arrepia.
Enzo passa uma mão por minha cintura, me puxa um pouco para frente e com a outra mão ele segura minha nuca, eu sei que não tem volta, estou tão entregue que não consigo dizer não, eu não quero dizer não.
Sinto a maciez dos seus lábios e me sinto um pouco perdida, eu nunca fiz isso antes e ele como um homem experiente vai notar isso, claro que vai.
O beijo começa calmo e aos poucos vou acompanhando seu ritmo, meu Deus, estou indo ao céu com esse beijo, sinto como se tudo ao meu redor estivesse girando e que nesse momento só existe apenas eu e ele, sem nada para nos interromper, sem preocupações.
Enzo afasta nossas bocas para que possamos respirar e eu já sinto uma leve saudades dos seus lábios.
— Alice — Ele diz ofegante, sua testa colada a minha, me recuso abrir os olhos e ter que encará-lo, não sei qual vai ser sua reação — Abra os olhos — Ele pede, mas não o faço — Por favor.
Abro meus olhos bem devagar e o encaro, não consigo decifrar o que se passa nos olhos de Enzo, mas posso perceber que ele está tão afetado quanto eu.
— Me deixe ir — Peço mesmo que no fundo eu não queira ir.
— Nunca — Responde de imediato com a voz um pouco alterada — Eu não sei o que aconteceu aqui, eu não sei que droga está acontecendo entre nós dois, mas eu não vou te deixar ir embora Alice.
— Enzo, nem nos conhecemos direito.
— Neste momento eu quero te beijar e não te conhecer — Arregalo os olhos para ele — Desculpa — Ele ri — Fui grosso, não foi minha intenção.
— Tudo bem.
— Não foge, por favor, não foge disso que está acontecendo.
Eu sei do que ele está falando, eu também sinto o mesmo. O choque que percorre nossos corpos sempre que nos tocamos, as mil e uma borboletas que ficam dançando em meu estômago quando eu o olho. Não sei o que está acontecendo, talvez um encontro de almas? Isso existe? Bom, não sei, mas se existir é o que está acontecendo nesse momento.
— Eu não vou fugir — Droga Alice, não era isso que você deveria falar.
— Se você fugisse, eu iria atrás de você — Ele sorri larga e eu sorrio também.
Enzo me puxa para um novo beijo, dessa vez um beijo mais violento, mas não menos gostoso que o anterior, quando me dou conta, já estou sentada em seu colo com as pernas entrelaçadas em sua cintura.
Cadê a Alice que eu sempre fui e o que fizeram com ela? Nesse momento estou totalmente entregue a esse homem arrebatador.