Capítulo 1 - Alice
Me chamo Alice Morabito, acabei de completar dezoito anos e estou vivendo um sonho.
Bom, deixa eu explicar... Nasci em uma família muito influente aqui na Itália, mas não digo "influente" para algo bom e sim para algo r**m, muito r**m. Os "Morabitos" são a família de mafiosos mais influentes e temidos dos últimos tempos, hoje quem assume a cadeira é meu irmão, Rocco, ele é o novo Dom, manda e desmanda em tudo e em todos e meu irmão Renzo é o subchefe de toda essa merda.
Eu amo minha família, mas não me orgulho do que eles fazem, para ser bem sincera, eu não queria ter nascido nesse meio. Não me julguem, viver nesse meio não é fácil, anda mais sendo mulher.
Eu não preciso explicar para vocês todos os motivos pelo qual não sou feliz nesse meio, né? Ainda bem, porque são inúmeros, passaria dias e mais dias aqui enumerando todas as coisas que me fazem detestar ter nascido dentro da máfia.
Um desses motivos que mencionei acima é o que me trouxe até onde estou hoje. Quando nós mulheres de dentro da máfia completamos dezoito anos, somos prometidas a um casamento arranjado e como minha família quer tentar me manter longe disso, me mandaram para Milão, para estudar moda, sei que não é muito longe, mas é melhor aqui. Segundo meu pai e meus irmãos aqui é afastado deles e ao mesmo tempo não é tão longe, sabe? Eles querem que eu fique dentro de todo seu território, assim corro menos risco, já que eu só estou sendo acompanhada somente por um segurança, um que graças a Dios é meu amigo, estou muito feliz em ter Romeu aqui comigo. Também estou com um sobrenome falso, assim evita que eu fique visível aos olhos dos inimigos, minha família sempre me manteve escondida o máximo possível, sendo assim, quase ninguém me conhece.
A partir de hoje me chamo Alice Ferrari, acho que soou muito bem, gostei do meu novo sobrenome e acima de tudo, gostei ainda mais da minha nova vida.
— Romeu, está pronto? — Pergunto ao meu amigo.
Hoje vamos descer para jantar no hotel em que estamos hospedados, dizem que vai ter um show incrível, esse hotel é lindo, um hotel muito chique por sinal, no meu nome fictício, meus pais são muito ricos e vivem viajando, sou uma pobre jovem abandonada pelos pais que está estudando bem longe de casa.
— Estou sim. Você acha que vai ter muitos homens gatos lá embaixo?
— Acho! Gatos e ricos.
— Mas tudo "hetero" — Ele faz uma cara de nojo engraçada.
— Então eles não sabem o que estão perdendo, porque você é um gato, gato e cheiroso — Ajeito a gravata dele.
Romeu é lindo, aparentemente muito "hetero", mas só na "aparência" mesmo. Ele tem essa pinta de "machão" que a máfia impõe, já que é um soldado e nesse meio o que mais existe é preconceito, ele não se assume e nem deixa transparecer, já ficou até com mulheres para ninguém desconfiar, fico com dó do meu amigo, quero muito poder ajudá-lo. Quem sabe um dia eu consiga.
— Quando você conseguir fugir, vai me levar, né?
— Claro, você vai comigo para onde eu for.
— Ótimo, então vamos pensar nisso logo.
Sei que ele quer isso tanto quanto eu, ele quer poder ser ele, viver sua vida sem toda essa merda, mas na máfia só se sai morto. Eu não vou desistir, vou conseguir fugir disso tudo um dia, só preciso achar um jeito ou uma pessoa que possa me ajudar.
— Vamos logo Alice, senão vamos perder o show da noite.
— Vamos.
Chegamos ao local e tem muita gente fina bebendo champanhe e fingindo que a vida é um mar de rosas, bom, farei o mesmo. Pego uma taça de champanhe, procuro uma mesa e vou fingir que minha vida é um mar de rosas também.
O show foi espetacular, música boa, comida boa, champanhe bom, a noite foi agradável, mas já estou cansada, vou para o quarto.
— Amigo vai ficar?
— Vou, acho que encontrei um bofe.
— Vou ir deitar então, estou cansada.
— Te encontro no quarto ou quer que eu suba com você?
— Pode ser no quarto, vai aproveitar sua noite.
Ele sorri para mim e eu me despeço dele.
Caminho para o quarto tranquilamente, tem poucas pessoas transitando pelo hotel, a maioria está apreciando o show da noite.
Penso em como está sendo bom viver aqui, sei que ainda é meu primeiro dia, mas já sinto o cheiro de liberdade e isso é tão bom. Acabo ficando alheia aos meus pensamentos e esbarro em alguém, quase caio no chão, mas braços fortes me seguram.
— Olha por onde anda criança — Essa voz rouca e firme faz todo meu corpo se arrepiar.
Levanto minha cabeça e encaro o homem mais lindo que já vi em toda minha vida, pisco repetida vezes para ter certeza de que não estou sonhando.