Termino de me arrumar com a ajuda do meu amigo. Romeu seria um ótimo personal stylist, ele é muito bom com moda. Sinto tanto por meu amigo não poder ser quem ele realmente é, me dói tanto ver ele escondendo, com medo de que as pessoas descubram e até mesmo se submetendo a ter que ir em prostíbulos com seu pai para mostrar sua masculinidade. Meu amigo merece mais, ele merece viver livre, merece ser ele, as pessoas iam amar tanto conhecer o Romeu que eu conheço.
— Pensando em que? Vai acabar se atrasando.
— Pensando em como nossa vida seria melhor se não tivéssemos nascido no meio disso tudo.
— A gente vai sair dessa Alice, talvez esse Deus grego seja sua chave para a liberdade.
— Eu nem conheço ele Romeu, não começa com suas teorias — O repreendo.
Não quero criar falsas expectativas.
— Aqui estão os brincos, implantei um rastreador neles.
— Isso é mesmo necessário?
— Sim.
Escutamos alguém bater na porta e o relógio marca vinte horas, deve ser o segurança do senhor arrogante, ele é mesmo pontual.
— Você não acha que está um pouco demais essa produção toda?
— Não. Você está linda — Beija minha testa com carinho — Arrasa amiga, esse é o começo da nossa liberdade.
— Obrigada por tudo.
Abraço ele bem apertado e vou até o armário todo sério que está parado na porta me aguardando.
— Boa noite — Digo assim que me aproximo.
Ele não responde, apenas acena com a cabeça e sai andando, acompanho ele em silêncio também.
Chegamos na suíte presidencial, entro um pouco retraída, a luz do ambiente está fraca e uma música baixa e tranquila invade o local. Me viro para perguntar onde está o senhor arrogante e só então me dou conta que aquele armário mudo não está mais aqui.
Fico sem graça, estou aqui sozinha e não sei o que fazer. Cadê o senhor arrogante?
— Boa noite Alice, é um prazer inenarrável recebê-la em minha suite — Sua voz invade meus ouvidos e consigo sentir o seu cheiro.
— Boa noite — Respondo um pouco baixo, pois ainda estou absorta.
A luz se acende por completo e finalmente meus olhos pairam sob esse homem lindo. Ele está ainda mais maravilhoso sem terno, apenas com uma calça jeans e uma camisa polo, lindo demais, meu Deus!
— Você está linda!
— Obrigada — Fico sem graça diante do seu elogio.
— Ainda mais linda quando cora.
Tenho certeza que estou mais corada ainda nesse momento, sinto meu rosto esquentar.
— Você não era tão quieta assim no nosso último encontro — Diz sorrindo — Venha, pedi para prepararem a mesa de jantar na varanda, a vista é muito bonita.
Sigo ele até a varanda e realmente, a vista é muito bonita.
— É lindo! — Digo deslumbrada.
— Não mais que você Alice.
Olho para ele totalmente sem graça. Ao perceber o clima que se instalou, ele puxa uma cadeira para que eu me sente.
— Obrigada.
Ele se senta à minha frente e pega uma garrafa de vinho.
— Tem idade o suficiente para beber Alice? — Aquele sorriso debochado brinca em seus lábios.
— Acredito que sim, já que tenho idade suficiente para estar em um quarto sozinha com um homem — Não consigo evitar o sarcasmo em minha voz.
— Bem observado.
Decido não responder e me saboreio o maravilhoso vinho que ele acabou de me servir.
— Alguma restrição alimentar?
— Não.
— Me fale um pouco de você enquanto comemos.
— Me fale seu nome — Peço.
— Enzo — Gosto do nome dele — Quantos anos Alice?
— Dezoito — Ele arregala os olhos e eu tenho vontade de rir, mas não faço.
— Realmente, uma criança — Responde bebendo um gole do seu vinho.
— Não sou criança Enzo — Dou ênfase no seu nome — E você? Quantos anos?
— Vinte — Ele ri e eu sei que está mentindo.
— É tão velho assim que não pode dizer a sua idade?
— Eu não sou velho, você que é nova demais.
— Então fale a sua idade.
— Trinta e uns.
— Uns? — Pergunto rindo.
— Exatamente. Agora me fale sobre você Alice, o que faz aqui?
— Vou estudar, vim para fazer faculdade.
— É seu namorado?
— O quê? — Pergunto sem entender nada.
— O rapaz que está no seu quarto.
— Você acha que eu deixaria meu namorado no quarto para vir jantar com você? — Dessa vez sou eu quem solto uma risada — Pensei que fosse mais esperto Enzo.
— Nunca se sabe do que as mulheres são capazes.
— Ele é meu amigo, alguém de confiança dos meus pais e está aqui para me fazer companhia, apenas isso.
— Seus pais não moram aqui?
Fico tensa com esse assunto, mas não deixo transparecer.
— Não. E os seus?
— Eu não moro aqui.
— Você é de onde?
— Alemanha.
— Ahn, entendo. E seus pais moram lá?
— Não. Meus pais faleceram — Noto uma tristeza transparecer por seus olhos, mas logo se desfaz.
— Sinto muito.
— Não sinta, isso já faz tempo.
— Está aqui a trabalho? — Decido mudar de assunto.
— Sim.
— Você trabalha com o que Enzo?
— Curiosa, não? — Cada sorriso que ele me dá é uma borboleta diferente que voa em meu estômago.
— Só estou querendo te conhecer melhor, mas se não quiser falar, tudo bem.
— Administração — Arqueio uma sobrancelha para ele — Administro a empresa que meu pai deixou.
— Legal, você gosta do que faz?
— Gosto — O sorriso dele se alarga e eu sorrio também.
— É bom fazer algo que a gente goste, assim as coisas funcionam melhor.
— Concordo.
O restante do jantar transcorreu bem, Enzo é uma companhia agradável, gostei muito de estar com ele, mas acho que já estou um pouco alterada por conta do vinho, é hora de encerrar a noite.
— Obrigada pela noite Enzo, mas preciso ir, já está tarde.
— Costuma dormir cedo criança?
— Pare de me chamar de criança.
— Ok — Ele levanta as mãos em sinal de rendição — Dança comigo uma música?
— Acho melhor eu ir — Me levanto para ir embora.
Enzo se levanta e para na minha frente, sinto meu corpo inteiro se arrepiar.
— Apenas uma música Alice, não vai fazer essa desfeita, vai? — Fico pensativa se devo aceitar — Não seja sem educação, vamos lá, só uma música.
— Tudo bem — Respiro derrotada — Só uma música.
— Só uma música — Ele repete baixinho perto do meu ouvido.
Que Dios me dê forças para suportar ficar tão perto assim desse homem.