CAPÍTULO 1
Ellie
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Eu costumava pensar que a máfia era apenas uma parte obscura da vida escondida dos meus pais. Meu pai conseguiu limpar toda a máfia italiana, tirou todos os traidores, tratava a todos por igual e comandava para todos, por esse mesmo motivo todos o respeitavam onde quer que ele ia. Estávamos em paz por muito tempo.
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Até o dia em que vi meu pai, o don da nossa família, ser brutalmente assassinado pela máfia americana. Eu tinha apenas 15 anos naquele momento.
— DERECK. Leve Ellie daqui. Você saberá para onde levá-la.... Filha, saiba que você é a coisa mais importante da minha vida. Eu não estou morrendo apenas por ser o don, estou morrendo por ser seu pai e deixar meu legado com você. Vá e volte mais forte para tomar o que é seu.— Fugi com os poucos homens de confiança que restavam.
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Eu não entendi totalmente naquele momento, mas logo ficou claro: eu estava agora no meio de uma guerra que não pedi para participar, que meu pai não pediu para participar.
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Fomos forçados a fugir, sem nada além de medo e a missão de sobreviver. O peso da responsabilidade que meu pai deixou para trás me atingiu forte, eu sou a herdeira involuntária de um mundo violento e sombrio.
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A fuga foi um frenesi de ação e medo. Derek e eu nos movíamos como sombras na escuridão, sempre olhando por cima do ombro, esperando a próxima ameaça. Ele como chefe de segurança de meu pai, sabia as conexões inesperadas, aliados discretos, os quais se tornaram nossa linha de vida quando o mundo que conhecíamos desabou.
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— Ellie, precisamos ir para um lugar onde teremos aliados, pessoas que confiam em nós e que tambem confiafemos neles... Vamos.— Derek disse enquanto corria, olhando por cima dos óculos escuros que nunca tirava.
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— Vamos para o Japão.— Ele me guiou até um jatinho particular, um resquício do luxo que nossa família costumava ostentar.
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Eu pude sentir uma pontada de esperança misturada com o medo que ainda pulsava dentro de mim.
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Derek estava em seu celular, navegando por entre contatos e acordos feitos nos bastidores. Ele sabia para onde ir, quem procurar e como nos manter um passo à frente. E eu confiava nele. Junto conosco estavam Liam e Marcus, o que sobrou dos homens que Dereck liderava.
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O voo foi tenso, o ruído constante do motor misturado com o silêncio pesado entre nós. Estávamos fugindo, mas também estávamos indo para o desconhecido, em busca de um novo começo e de aliados que pudessem nos apoiar na árdua jornada que se desenrolava à nossa frente.
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No avião, enquanto sobrevoávamos os oceanos, olhei pela janela. Lá embaixo, o mundo passava rápido, como se estivéssemos deixando para trás não apenas um país, mas toda uma vida. Eu não sabia o que nos esperava no Japão, mas estava disposta a seguir em frente, confiando na orientação de Derek e nas asas que nos levavam para um destino incerto, porém esperançoso.
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Ao desembarcarmos no Japão, fomos recebidos por Xing Yang, o dom da máfia japonesa. Sua presença era imponente, mas havia uma tranquilidade em seus olhos que transmitia respeito e sabedoria.
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— Ellie, sinto muito pela perda do seu pai. Richard era um grande amigo e me ajudou muito com assuntos da mafia japonesa... Se soubesse que vocês sofreriam esse golpe, teria enviado meus homens para lá, mas o que está feito, está feito.— foram as primeiras palavras de Xing Yang. Seu tom era sereno, mas eu pude sentir a sinceridade por trás delas.
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Ele nos conduziu para um lugar seguro, uma área discreta onde a sombra da nossa história não poderia nos alcançar. Sentados em uma sala adornada por elementos da cultura japonesa, Xing Yang olhou para mim com seriedade.
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— Aqui no Japão, terá muito a aprender, Ellie. Não apenas sobre a máfia, mas sobre si mesma e o caminho que deseja seguir. Seu retorno ao seu lugar de direito não será fácil, exigirá mais do que simplesmente força bruta ou estratégias calculadas.— Eu sabia que ele estava certo. A jornada dera mais do que uma busca por poder ou vingança. É sobre descobrir quem eu era dentro deste mundo complexo, sobre aprender a lutar não só com armas, mas com sabedoria e discernimento.
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Xing Yang nos apresentou um galpão que pelo jeito Dereck já conhecia, ele deixou disponível para sempre que eu quiser usar para treinar e ele também decidiu que era hora de me unir ao treinamento de seu filho, Kenji. Antes do sol nascer, nos encontraríamos em um dojo silencioso, pronta para absorver as lições que viriam. Tentei descansar, mas só conseguia pensar em meu pai. Apesar de ter 15 anos eu sei bem as coisas que ele fez e que tudo teria volta, mas ele estava governando tão bem. Então me levantei e decidi ir até o dojo da máfia.
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— Ellie, permita-me apresentar Kenji.— disse Xing Yang, enquanto seu filho se aproximava com uma postura calma, porém determinada. Eu já o observava lutar e achei fenomenal.
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Kenji assim como eu é jovem, mas sua presença transmite uma confiança nascida da experiência. Ele é um mestre nas artes marciais, com movimentos precisos e uma paciência que é o contraste de minha impaciência juvenil.
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Sob a orientação inicial de Kenji, aprendi técnicas refinadas, disciplina e a importância do respeito pelas tradições. Cada manhã começava com exercícios rigorosos, prática de combate e meditação.
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Com o tempo, notei Derick assumindo um papel mais ativo em meu treinamento. Ele observava silenciosamente, eu tenho certeza que ele já sabia cada técnica, cada estratégia, até que, gradualmente, ele passou a conduzir parte do treinamento. Nos primeiros dias Dereck estava bastante ocupado, sempre no telefone e eu tenho quase certeza que era para saber notícias da nossa família e também estava em contato com aliados.
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Xing Yang percebeu a afinidade entre Derick e eu, e aos poucos delegou mais responsabilidades a ele. Derick entendia minha mentalidade, minhas limitações e minhas forças. Ele adaptava os treinos de forma a me desafiar e me preparar para o que estava por vir.
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Enquanto Kenji continuava sendo uma figura essencial no meu treinamento, Derick se tornou um guia mais próximo, alguém que compartilhava não apenas conhecimento, mas também uma conexão mais profunda com os desafios que enfrentávamos.
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Juntos, os ensinamentos de Kenji e a orientação de Derick moldaram não apenas minhas habilidades físicas, mas também meu entendimento sobre o papel que eu deveria desempenhar neste mundo da máfia. Cada amanhecer trouxe consigo não apenas o treino físico, mas uma jornada de autodescoberta e preparação para um retorno que se aproximava a cada lição aprendida.
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— Ellie, você precisa aprender a se defender. Esse foi um dos motivos de eu ter escolhido vir para o Japão.— Dereck me disse com seriedade, enquanto me entregava uma pistola. Aquela arma parecia pesar mais do que o mundo sobre meus ombros.
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Passamos horas no galpão abandonado, treinando técnicas de tiro, combate e estratégias de sobrevivência. Derick não me poupava de nada, ele queria que eu estivesse pronta para qualquer situação. Cada movimento, cada tática era essencial para um dia reconquistar o que era nosso por direito.
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— Não podemos atacar de frente, Ellie. Estratégia será a nossa melhor arma. Porque eles tem apenas números, mas não são bons em estratégia.— ele explicava enquanto desenhava planos complexos em um pedaço de papel sujo.
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— Como você sabe disso?— Eu oerguntei curiosa para realmente saber.
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— Aprenda que no meio de um golpe, sempre terá falsos aliados Ellie. Todos naquele território amava seu pai, alguns estão lá e ainda assim são fiéis a Richard. Agora são fiéis a você.— Isso tudo me deixa um pouco atordoada, mas tento guardar isso em um canto da minha mente e continuar o treinamento.
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Passado 4 meses no Japão, aprendi a manusear armas, a planejar emboscadas e a decifrar as sutilezas do submundo da máfia. Mas ainda era difícil aceitar que aquela vida era minha agora.
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Derick se tornou mais do que apenas um instrutor, ele se tornou um amigo, alguém em quem eu confiava para me guiar por esses caminhos perigosos. Juntos, estávamos construindo os alicerces de um plano meticuloso para um dia retomar o que nunca deveria ter sido tirado de nossa família.
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