Por Laura...
Desperto no segundo toque do despertador, definitivamente eu não tenho estrutura psicológica para encontrar com ele hoje, penso em ligar para a empresa e dizer que estou doente, mas não sou mulher de fugir de nada, já passei por muitas coisas difíceis e um semi nude não irá me fazer passar por covarde. Então eu decido me levantar, afinal hoje vai ser um longo dia.
Opto por usar vermelho, se Enrico Vilanês queria brincar comigo, eu iria mostrar a ele como se brinca, coloquei a sobreposição de calça e camisa vermelha e coral E um salto nude, não abro mão de meus saltos. Maquiei-me como de costume, peguei minhas chaves, bolsa e saí.
Logo quando eu cheguei, encontrei Margot, ela era secretária da presidência, uma mulher discreta na casa de seus cinquenta anos.
—Bom dia Dra. Laura. Hoje os senhores têm uma reunião importante com os construtores do novo Porto.
—Ah Sim Margot. Está na minha agenda, mas mesmo assim obrigada por me avisar.
—Não por isso Doutora, E eu quase ia me esquecendo, um antigo cliente da Senhora ligou confirmando se a Senhora estava atendendo aqui, deixe-me ver, anotei o nome em algum lugar.
Vejo Margot, procurando em meio aos seus papéis, Quando por fim ela encontra e me diz.
—Ah achei, foi o Senhor Guillies quem ligou Fernando Guillies.
A simples menção do nome dele me fez parar de respirar, como ele havia me achado aqui, eu troquei de cidade, cor de cabelo e até de nome, como ele me achou. O pânico tomou conta de mim, e antes que meu corpo atingisse o chão senti mãos fortes me aparando.
Despertei com Enrico me chamando suavemente, eu estava no sofá de couro preto em sua sala.
—Laura acorde, Laura, o que houve?
Abro os olhos com certa dificuldade, e tento me sentar, mas ele me impede.
—Fique deitada, você desmaiou, você quer uma água?
Fico admirando os seus olhos, que olhos lindos ele tem, que boca fantástica.
Quase me perco em meus pensamentos, então ele diz.
—Laura você está me ouvindo?
—Oh sim desculpe Senhor Vilanês, eu aceito a água já estou bem, posso trabalhar.
—De maneira alguma, eu chamei um médico para vê-la e enquanto ele não chega, que tal me contar o que passou com você para desmaiar no meio do escritório?
Apavoro-me só de pensar que ele pode descobrir tudo sobre o meu passado, não posso contar a ele tudo o que vivi o inferno que passei ao lado de Fernando.
Me lembrava exatamente do dia que conheci Fernando, era uma tarde gelada de inverno e eu estava no primeiro ano da faculdade de Direito ainda em minha cidade, eu ainda estava abalada pela morte do meu pai, e só podia contar com poucos amigos. Foi então que o conheci, eu adorava tomar café em um restaurante perto da faculdade, o qual mais parecia uma biblioteca de tantos estudantes que lá iam para ler e fazer seus trabalhos, e eu não era diferente. Neste dia ao entrar eu o vi sentado sozinho no balcão, tomando o seu café, eu nunca o tinha visto ali e nem sabia quem ele era, até que Catherine a menina mais atirada de toda a cidade sentou-se ao meu lado e começou a tagarelar sem parar.
—Olhe, aquele é Fernando Guillies, Um gato né? E se não bastasse ser esse Deus lindo ainda é rico, ele é sobrinho do senhor Frederico Guillies.
Ela diz tomando o seu café, com uma pose desnecessariamente sexy.
—Os donos da vinícola? Questiono.
Ela me olha, e depois para ele que visivelmente sabe que ele é o assunto, e diz.
—Sim gata os donos da vinícola e eu já posso imaginar nós dois nos casando em meio àquelas Parreiras de uva.
Eu olho e não consigo conter o riso ela sai furiosa, passando por ele com um sorrisinho de canto.
Agora sozinha em minha mesa volto a atenção ao livro que leio, quando ouço uma voz masculina do meu lado.
—Com licença, olá moça, desculpe-me posso me sentar aqui?
Ele sorria de uma forma muito fofa e isso fez com que eu respondesse.
—Oi, como assim?
Questiono afinal não conheço.
Ele me olha e diz.
—Desculpe-me que falta de educação a minha, me chamo Fernando, sou novo na cidade, mas isso você já deve saber queria sentar-me com você, pois sua colega me deixou com certo medo.
Ele ri, e eu não consigo evitar rir junto com ele, então aceno para que ele sente o que imediatamente ele faz.
—A Catherine, é inofensiva, não se preocupe com ela me chamo Olívia muito prazer.
Estendo a mão para ele, ele a pega e leva aos lábios dando um beijo.
—Muito prazer Olívia.
Eu sorrio, e puxo a mão devagar, passamos três longas horas conversando sobre os mais diversos assuntos, e como já era noite Fernando me ofereceu uma carona, ele me levou até a minha casa, quando fui me despedir ele me puxou para um beijo, eu já havia ficado com outros garotos claro, mas ainda era virgem, e aquele beijo era magnífico, trocamos telefones e a partir daí sempre estávamos juntos Fernando me pediu em namoro no terceiro encontro e eu claro aceitei mesmo eles sendo seis anos mais velho que eu simplesmente estava apaixonada, com pouco mais de três meses de namoro Fernando implicou pela primeira vez com um vestido que eu usava, e eu para agradar ele o tirei, pensava que era ciúmes afinal ele me amava, acreditem eu achava fofo.
O outro dia ele surtou comigo em frente a faculdade por que não atendi uma ligação dele, eu estava em prova mas ele não quis ouvir e me deixou na chuva, e eu? Eu claro entendi afinal ele andava estressado com a vinícola.
A primeira agressão ocorreu quando ele viu uma mensagem no meu celular de um colega de turma, o Joe, que dizia simplesmente que me entregaria o livro na segunda, ele me puxou pelos cabelos e disse que jamais aceitaria aquilo de novo. A partir daí as agressões físicas e verbais se tornaram rotineiras, por qualquer motivo ele me empurrava, me enforcava e eu quieta até aquele dia, eu já estava cansada dele eu já não amava eu tinha medo dele mas nesse dia eu desliguei meu celular e saí com as minhas amigas para dançar eu sabia que ele ficaria bravo mas me arrisquei, depois de duas horas que eu estava no bar, ouvi um barulho alto de carro, logo em seguida o vi entrar, ele não disse nada apenas saiu me puxando pelo braço, consegui pegar minha bolsa na cadeira.
Ele me jogou dentro do carro e dirigiu feito um louco, gritando comigo me chamando de v***a e me batendo, ele me Levou para a vinícola, eu sabia que ia morrer, ele dizia que eu não o merecia, que eu era uma p**a.
Chegando lá, ele me tirou do carro e me jogou entre alguns barris, ele me batia muito, me chutava, estava visivelmente bêbado e talvez até drogado ele oscilava entre me xingar e me dizer que me amava, foi quando o vi pegar uma barra de ferro então eu soube, eu morreria naquela hora, então procurei forças talvez pelo meu pai e peguei a arma dele que estava em minha bolsa, a coloquei lá pela manhã e atirei, eu o vi cair, não sei onde o tiro pegou mas era hora de correr, entrei no carro dele que estava do lado de fora e fui para casa contei tudo para minha mãe que ligou para alguns amigos do meu pai da polícia e fizeram tudo muito rápido fiz a denúncia e ele foi preso, o tiro pegou em seu peito mas não foi fatal, quando ele teve alta do hospital foi preso e eu incluída no programa de proteção a testemunha eu tive que me mudar, minha mãe continuou na casa em que cresci mas eu transferi a faculdade mudei meu nome para Laura e uso o sobrenome da minha mãe. Ele tentou recorrer da sentença, mas outros crimes cometidos por ele agravaram o caso, como tráfico e lavagem de dinheiro, no total foram dez anos preso. Eu acompanhava o caso, ele estava há dois anos solto e pelo visto me procurando e agora ele me achou ,ele me achou aqui.
Volto minha atenção para Enrico.
—Me desculpe, eu não tomei café da manhã foi apenas um m*l estar já passou.
Sento-me e tomo a água que ele me oferece.
—Está em condições de trabalhar?
Ele assume uma postura rígida com as mãos no bolso, que o deixa ainda mais sexy.
—Estou sim, me desculpe por isso, vou para a minha sala, temos uma reunião em 40 minutos.
Ele apenas concorda com a cabeça e eu saio rumo à minha sala.
Eu iria resolver essa questão Fernando, mas agora aqui sou a Dra. Laura Morrone.