Capítulo 2 - Martina

1500 Words
Hoje faz três dias que estou morando no apartamento de Matteo e não o vi mais desde o dia em que me trouxe para cá, nesse dia inclusive brigamos muito. Matteo me mostrou a foto do Bruno morto e disse que qualquer gracinha que eu fizesse as pessoas nas quais eu me envolveriam teriam o mesmo fim que ele. Nesses três dias ele não fez questão nem de me trazer uma muda de roupa sequer, estou com esse maldito* vestido longo que usei naquela noite horrorosa no Brasil, a calcinha tenho revezado, um dia fico sem porque está secando, outro dia uso. Olha, é o cúmulo do absurdo. Estou parecendo uma doida andando com esse vestido de festa pela casa. A senhora que vem ajeitar a casa, Bertani, achou até graça da situação, a vi apenas um dia, ela me disse que viria três vezes por semana ou caso precisasse, viria mais vezes, mas não sei se é necessário, afinal, Matteo nem fica aqui. Não pude ver e muito menos conversar com qualquer pessoa, não sei como minha mãe ou Ella estão e isso está me matando. Abro a porta do quarto e coloco a cabeça para fora tentando verificar se realmente estou sozinha, já é tarde da noite e não quero esbarrar com Matteo, por mais que ele nunca fique em casa, vai que logo hoje decidiu aparecer? Saiu do quarto na ponta dos pés, desço as escadas e quando chego no final delas me arrependi na mesma hora. Matteo está sentado na varanda, mas acho que não me viu, então me virei imediatamente para voltar ao meu quarto. — Martina — sua voz me faz paralisar. Que merda! — Oi, só queria beber água, mas já estou indo dormir — grito de onde estou, não quero me virar e muito menos ir até ele. — Venha aqui. Bufo, extremamente irritada. Caminho até a varanda e quase, por um segundo, perco o ar ao vê-lo sem camisa, apenas com a calça social, cigarro entre os dedos — essa é nova, não sabia que fumava — e um copo de algum líquido escuro na mesa ao lado de onde está sentado. Fico reparando em suas tatuagens que tem no peito e barriga… Nossa, que barriga! — Terminou? — perguntou com um sorriso debochado no rosto. Pigarreio. — Terminei o que? — faço minha melhor cara de desentendida. — Está babando. — Não, estava apenas vendo suas tatuagens, não sabia que tinha. — Não sabia porque não me viu pelado — ele ri. — Vou para meu quarto — ignoro-o, porque ele tem razão, eu estava mesmo babando nele. Por que esse cretino tem que ser tão bonito, sexy e gostoso? Olha quantos gominhos tem nessa barriga, isso não é justo! — Vá tomar um banho e tirar esse vestido, parece uma louca! — ele fala rindo e isso me irrita muito. Giro nos calcanhares e o encaro nervosa. — Você não trouxe minhas roupas, não comprou nada para mim, quer que eu ande pelada? — berro. Matteo ri. — Não seria uma má ideia, muito pelo contrário, ia gostar bastante — seus olhos passeiam por todo meu corpo. — Você é desprezível. — Seus elogios estão melhorando. Vou levar uma roupa para vestir. Vibro com o que ele acaba de falar. — Acabei de tomar banho, onde está a roupa? Quero trocar! — respondo animada. — Vou pegar, deixarei lá no seu quarto. Matteo se levanta e sai andando, me dando uma visão espetacular das suas costas fortes e com algumas tatuagens, mas não é só isso que me chama atenção, olha essa b***a… Que b***a. Que pensamento é esse Martina? Caiu e bateu com a cabeça? Ficou louca de vez? Subo as escadas correndo para o “meu quarto”, esperando as roupas que ele foi buscar. Matteo entra, m*l-educado, nem bate na porta e joga algumas camisas e cuecas em cima da cama. — O que é isso? — pergunto sem entender. — São as roupas para usar, tenho certeza que vai ser melhor do que ficar o dia todo com esse vestido. Te espero lá embaixo. Ele sai do quarto, me deixando boquiaberta. — Seu infeliz, desgraçado! — xingo-o após sair do quarto. Pego uma camisa e uma cueca e vou para o banheiro me trocar. A cueca box fica parecendo uma bermuda e a camisa um vestido, mas tudo bem, não ficou tão r**m*, não sou uma mulher com manequim trinta e seis, na verdade, uso trinta e oito e estou com um pé pertinho dos quarenta, puxei minha mãe com o quadril largo. Pensei seriamente em não descer, mas não queria irritá-lo ao ponto de entrar aqui no quarto e me tirar daqui à força, então achei melhor descer. — As roupas ficaram ótimas — é a primeira coisa que o babaca fala quando me aproximo. Matteo não perde essa mania irritante de zombar de tudo. — Poderia ficar melhor se fossem roupas femininas — bufo e me sento na cadeira à sua frente — Por que mandou eu descer? — Nos casaremos no sábado. Despeja isso em cima de mim sem nem me preparar antes. Engasgo com a minha saliva e começo a tossir. — No sábado? Mas porque tão rápido? Não dá Matteo, temos que preparar as coisas — invento qualquer coisa para atrasar esse casamento. — Luiza está ajeitando tudo, será tudo simples, não quero nada muito grande. — Vou pelo menos poder escolher o vestido? — Pensei que não fizesse questão do casamento. — E não faço — rebato de imediato — Só me casarei uma vez, então é melhor que eu escolha o vestido — dou de ombros, como se isso justificasse. — Falarei com a Luiza. — Quando poderei ver a minha mãe e Antonella? — No dia do casamento, mas não quero você de conversa com ninguém. — Por acaso sou sua prisioneira, Matteo? — irrito-me. — Nunca se sabe quando vai aprontar novamente — ele bebe a sua bebida, me ignorando. — O que está bebendo? — Uísque. — Me dá um gole para poder suportar toda essa loucura — peço. — Você não pode beber, só tem dezenove anos. Reviro os olhos e um sorriso no canto da sua boca aparece. — Sou nova para beber, mas não sou nova para casar? Anda Matteo, me dê um pouco disso. Meio relutante ele me entrega o copo e bebo tudo em uma golada só, imediatamente me arrependo. Matteo cai na gargalhada. — Isso é horrível! — faço uma careta. — Bebeu porque quis. — O que faz em casa hoje? Aproveito o momento "descontraído" para perguntar. — Queria falar com você sobre o casamento. — Dúvido que veio para casa só por causa disso. — Estava em uma balada, mas achei chato, daí decidi beber em casa. Não sei o motivo, mas me sinto incomodada por ouvi-lo falar que estava em uma balada. — Beber em casa sozinho é mais chato do que se divertir na balada com várias mulheres. Não resisto ao comentário e Matteo ri. — Ninguém me interessou. Me remexo na cadeira, ainda mais incomodada. — Por isso gosto do Brasil, lá tem muita gente bonita — comento, me lembrando do Brasil. — Ia muito para a balada lá? — Matteo pergunta, me olhando por cima do copo. — Muito não, fui algumas vezes. — Imagino como deveria ficar soltinha lá. — Mulher não costuma ir para a balada com o mesmo intuito que vocês homens. — E nós vamos com qual intuito? — Vão atrás de mulheres. Nós vamos para nos divertir, se conhecer algum carinha legal e rolar é consequência. — Vejo que já conheceu muito da vida, Martina. — Um pouco. Na verdade, não conheci quase nada, mas ele não precisa saber disso. — Por que não me mostra o que conhece? — Como assim? — Finja que sou um desses carinhas que conheceu na balada e te levou para casa. Meu rosto fica quente. Nunca fui para casa de nenhum carinha. — Não seja ridículo, Matteo. Jamais iria para casa de algum cara — ele arqueia uma sobrancelha — Não um cara como você — disfarço e ele ri. — Pegou pesado agora, mas tudo bem, vamos ver até quando essa marra vai durar — Matteo se levanta e pega sua camisa que está jogada ao lado — Vou indo nessa, nos vemos no casamento ou antes dele. — Aonde você vai? — só quando ele fica me encarando que percebi a grande merda que perguntei — Não foi isso que quis perguntar, aliás, porque colocou tudo de plástico nesta casa? — mudo o rumo da conversa. — Nos primeiros dias você gritava para quem queria ouvir que íamos nos matar, então decidi evitar, nada cortante aqui dentro de casa, não confio em você — Matteo pisca e sai rindo. Também abro um sorriso, mas logo se desfaz, penso que já sei para onde ele está indo… Ver Manu.
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