TÁCIA…
Peguei papel, caneta e o celular para anotar as contas e somar e mais uma vez seria quase impossível que meu salário e a pensão desse pra tudo. Era difícil trabalhar, cuidar de duas crianças pequenas, pagar contas e ainda aguentar os desaforos porque decidi me separar.
É fácil demais apontar os erros alheios sem olhar para os seus primeiro. Meus pais sempre gostaram do meu ex marido e pra eles meu dever era ficar casada pro resto da vida, principalmente porque tive educação evangélica e fui ensinada a amar e respeitar meu marido além de claro, só me separar diante de maus tratos ou traição e isso nunca teve, nem isso nem amor, bom, pelo menos da minha parte não.
Nunca amei de verdade, só na adolescência amores platônico, e ficadinhas inocentes aquelas paixões que quando o carinha deixava parecia que ia morrer, que seria o fim do mundo aí dias depois já havia esquecido. Agora amor, amor mesmo aqueles de amar tudo na pessoa, qualidades, defeitos, isso nunca senti. Mas sempre foi meu sonho. Até que ele apareceu na minha vida me causando arrepios, me deixando de pernas bambas e me fazendo a mulher mais feliz do mundo.
Mas bom, vamos começar pelo início de tudo.
Nasci e morei até os 14 anos em uma comunidade chamada Nazaré depois me mudei com os meus pais para um bairro classe média, longe das bocas de fumo, das invasões policiais, tiros e etc que tem em toda comunidade. Minha irmã mais velha já era casada e continuou morando no Nazaré e eu sempre visitava ela pois nunca gostei do bairro onde morava. Era quieto demais, os vizinhos não se olhavam, era todos trancados dentro de suas casas o máximo que falavam era bom dia ou boa noite, cada um no seu quadrado. O bairro ficava muito próximo a área rural da cidade, onde morava antes era o primeiro bairro, e agora havia ido morar no último. Era preciso atravessar a cidade pra visitar minha irmã e minhas amigas e assim eu fazia todo final de semana. Era chato, chato mesmo. Até que um dia vi que um carro havia parado na casa ao lado, fui até a janela e me deparei com os novos vizinhos que haviam chegado, era um casal com três filhos, um cara adulto, uma adolescente da minha idade e um guri pequeno. Quando olhei o filho mais velho meus olhos brilharam, ele era lindo. Moreno da cor do pecado como gosto, pilotava uma moto que na época era lançamento da Honda eu achava o máximo. Mas não demorou muito pra que eu sonhasse em ser como um avestruz e enfiar minha cabeça no chão.
Sempre sofri com meu pai alcoólatra e minha mãe brigona. Minha infância foi marcada por brigas e cenas vergonhosas, uma pior que a outra e por mais que sempre ligava e odiava tudo aquilo agora era muito mais porque o crush morava ao lado, ouvia tudo. Sempre no final da tarde eu já procurava arrumar tudo pra que quando meu pai chegasse não tivesse motivos para discussão. Ele nunca foi desrespeitoso ou agressivo, mas era chato, implicante e minha mãe não perdoava. Brigava sempre porque ele tinha chegado bêbado, porque ele havia se encarnado em alguma coisa ou só porque queria mesmo. Meus pais nunca ligaram para os sentimentos dos filhos, nunca entenderam que os problemas deles refletiam em nós. Não lembro de ter um momento feliz na infância, sem briga, sem cachaça sem sofrimentos seja por causa da bebida, neuras da minha mãe ou falta da grana. Sempre foi tudo calculado, sofrido e difícil. No primeiro casamento da minha mãe quando ela era bem nova ela teve duas filhas. Vânia, e Mariana. Aí se separou e anos depois conheceu meu pai que segundo ela bebia socialmente e era um cara legal, mas antes de mim minha mãe havia engravidado e tomou algum remédio que fez com que ela tivesse um aborto, isso de propósito. Ela diz que sabia que meu pai não seria um homem bom, que ele nunca gostou de trabalhar de carteira, nunca gostou de cumprir horários, e dava indícios de ser fraco pra bebida e autoritário. Mas mesmo assim ela continuou com ele. Meu pai era e é pintor profissional, um bom pintor e hoje em dia graças a Deus não bebe mais e ele e minha mãe vivem bem. Mas enfim, depois que havia nascido de algum jeito meu pai soube do tal aborto e segundo ele era por isso que se afundava na cachaça, ou pelo menos era essa a desculpa e o que ele jogava sempre na cara da minha mãe. Sou a mais velha de cinco irmãos do segundo casamento da minha mãe e por isso desde sempre tive que ser responsável, cuidar dos menores, cuidar da casa, evitar brigas, separar brigas, não tive uma infância normal, muito menos uma adolescência normal.