A virgem é perfeita

1173 Words
- Obrigada por me trazer até aqui, Vivian. – Sophia deu um grande abraço em sua amiga ainda no carro. Ela estava tão empolgada que estava prestes a explodir de tanta felicidade. Claro, ela sabia que havia uma competição acirrada para esse trabalho e que possivelmente ela ficaria em último lugar na escolha para esse cargo, mas só por participar já era um grande passo. Sophia não era muito confiante, então sempre pensava no pior. - Amiga, não quero te desanimar – Soph já estava preparada para o que vinha depois dessa frase. – Mas... olha a fila. – A morena, com óculos e franja, virou e olhou para a porta do prédio. Muitas mulheres bonitas, de todos os tipos, aguardavam a entrada. – Sei que é bem... problemático, mas é óbvio que vão escolher uma daquelas supermodelos para ser a assistente de Christian Harrison. E olha, eu não quero dizer que você é feia e tudo mais, mas... - Relaxa, Vivian, eu sei o que você quer dizer. – Por fora, ela agiu supernormal, contudo, por dentro, esse fato a desanimava. A morena tinha uma autoestima negativa, e competir injustamente com as top models da porta a deixava ainda mais deprimida. Contudo, aquilo era a oportunidade da sua vida. Sophia era jovem, inteligente e uma das coisas que ela mais ama na vida é usar calça de moletom no frio, com uma pipoca e Netflix, e seu sonho de ser uma assistente administrativa estava a um passo de se tornar real. Claro que ela conhecia a má fama do seu possível chefe, mas não se importava, pois ela tinha convicção de que com ela, ele não teria problemas. – Não custa tentar. - Boa sorte. – Vivian não queria deixar a amiga triste, mas se preocupava. Afinal, às vezes, a amiga se lamentava e entrava em um discurso pessoal do quanto ela não era bonita e que nunca conseguiria nada se não fosse, no mínimo, arrumada. O patriarcado era seu verdadeiro inimigo. – Quando terminar, pode me ligar que venho te buscar. Vivian trabalhava em um fast food e fazia de tudo pela sua melhor amiga. Sophia entendia o seu medo e preocupação, mas jurava que era forte o bastante para aceitar a recusa. - Não precisa se preocupar. Eu não quero que saia do seu trabalho por minha causa. - Faria qualquer coisa por você. - Eu sei. As duas riram e Soph saiu, respirando fundo e pensando positivo. Ela não pensou no que faria depois do resultado, só no caso de um não. No caso: ficaria chateada e decepcionada, mas aceitaria. Então, se olharia no espelho e odiaria seu reflexo, pois o mundo era injusto e não lhe dava oportunidade por ela não ser bonita, e que, mesmo com seu currículo e recomendações, se você não tem belas pernas, cintura fina e p****s grandes o suficiente para seduzir seu chefe, não conseguia chegar a lugar nenhum. - Sophia, você é melhor do que isso. Não precisa ficar nervosa. – Falou a si mesma. Com um sorriso no rosto, ela foi até a fila de mulheres lindas, com cabelos lisos e enormes, vestidas com roupas justas e de salto alto, muito diferente dela, que tinha cabelos ondulados, presos em um r**o de cavalo, uma calça jeans básica, uma blusa branca com um casaco por cima, e uma bota preta de salto médio. Além dos óculos. As mulheres olharam para a pequena com tanto desdém que algumas riram. Isso quebrou a mínima confiança de Sophia, mas ela não baixou a cabeça. Pensou em não se importar com as concorrentes e fazer o seu melhor na entrevista. O prédio era enorme, uma entrada imponente que a deixava tonta. Provavelmente elas seriam levadas para dentro, para alguma sala onde fariam a entrevista. Assim que o carro de Caroline parou em sua vaga, todas se animaram. Soph sentiu seu coração na mão. Não tinha como voltar atrás. Por um momento, olhou em volta e quis se enfiar em um buraco. Então, todas assistiram, ansiosas, a mulher descer e se dirigir à entrada. Com classe e agindo como superior, usando um óculos escuro e sua bolsa branca de grife, ela não quis olhar para nenhuma, mas como estava com os óculos, pôde avaliar, de primeira, recebendo um spoiler de como será seu dia. Ela já passou por aquilo antes. Um monte de mulheres entregando seu currículo para dormir com seu irmão. Obviamente, se ela escolher uma daquelas, não dará dois dias para que ele a coloque na sua cama. Então, a surpreendendo, uma entre elas chamou sua atenção. De cabeça baixa, a morena de óculos a olhava com olhos arregalados. Ela arrumou a jaqueta e espremeu a pasta em seus braços. Caroline a olhou dos pés à cabeça. Seu rosto pálido, com uma coloração avermelhada no momento em que ela passou, a fez rir. Na cabecinha de Soph, era um deboche. Obviamente que ela só entraria, gaguejaria e seria mandada embora, mas já que estava ali, não sairia correndo. Seria muito humilhante. Assumir a derrota. Já Caroline, estava certa de que, boa ou não, aquela era sua escolhida. - Você deveria correr, antes que passe mais vergonha. – Uma loira disse, rindo de Sophia, a deixando ainda mais tímida. – Não vê que ela não vai escolher uma desajeitada como você? Sophia ficou furiosa. Ela queria dizer muitas coisas à desaforada, como: - Claro, sua perua, porque uma peituda que se veste como uma prostituta será a escolhida. Acha mesmo que vão escolher você ou outra, que se veste tão vulgar, para estar ao lado de Christian Harrison? Aposto que não sabe nada dele a não ser que é um pegador. Aposto que ficará menos de uma semana, até ele a levar para cama e você perder o emprego, pois vai criar expectativa de que, daquela vez, ele irá namorar com você. Mas sua timidez a impedia de bater de frente. Porém, quem estava ali? Caroline, e como já tinha decidido não perder seu dia de trabalho entrevistando mulheres vulgares, para no fim ouvir a nerd tímida, ela tomou uma atitude antes de entrar no prédio. A mulher parou, virou e baixou um pouco o óculos, se aproximando lentamente. Quando a loira notou isso, se calou, se encolhendo no canto e engolindo a língua. Caroline, astuta, observou todas. Algumas riam, achando que isso era um pré-requisito, outras estavam nervosas, arrumando o cabelo liso, e depois, para Sophia. Seu rosto era lindo, olhos claros, uma confiança, embora escondida, transmitia uma boa impressão. A menina não sabia se seria mandada embora ali mesmo. Seria muito humilhante. - Você – Caroline apontou para a baixinha, que ficou gelada. – Venha comigo. As outras, tenham um bom dia. Podem ir embora. O choque foi coletivo. As mulheres olharam para Soph como se ela fosse um monstro. Pensando que seria morta, ela correu atrás de Caroline, para dentro do prédio. Seu coração estava na boca. Não entendia se foi um sonho, erro ou alguma outra brincadeira, mas ali, ela não questionaria.
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