Larissa
Estou saindo da igreja agora, o culto de hoje foi muito bom, é muito maravilhoso dar glórias e bençãos para o senhor. Logo após o culto teve uma reunião com as missionárias e eu fui designada a ser a obreira que irá conduzir o próximo culto das crianças. Eu fico pensando nisso e sorrindo enquanto faço o caminho até o meu carro. Quando de repente do nada um rapaz tropeça em mim, ele está assustado e fugindo de alguma coisa, eu olho rápido para ele e percebo que a sua camiseta está suja de sangue, então o meu lado profissional da saúde já começa a falar mais alto e logo o ofereci ajuda.
— Meu Deus, deixa eu estancar esse ferimento, irei chamar o socorro também. - falei assustada.
— Não adianta, não tem mais jeito pra mim. - ele disse olhando pra trás, como se alguém estivesse o perseguindo.
— Não diga isso, sempre existe um jeito para quem confia em Deus. - falei tentando o acalmar, ele é muito jovem, é muito triste quando jovens perdem a esperança.
— p***a então me ajuda aí. - ele diz e abre bruscamente a porta do meu quarto e entra no banco do carona. Nesse momento eu entendo o porque dele estar fugindo, pois na esquina aparece duas viaturas da polícia e alguns correndo no meio da rua. Eles correm rápido e chegam até a mim que ainda estou parada igual um espantalho ao lado do meu carro, como os vidros são fumê, eles não conseguem ver quem estar lá dentro.
— Bom dia moça, por acaso você viu algum vagabundo correndo por aqui? - um deles me pergunta, observando as minhas vestes, eu sou evangélica e na maioria das vezes eu uso roupas que de cara denunciam a minha religião.
— Bom dia, eu vi um jovem desorientado passar por aquela rua ali. - falei apontado para o outro lado, e o policial sorriu.
— É hoje que eu te pego Zeus. - ele diz e vai correndo chamando os outros colegas dele, e assim também é seguido pelas viaturas, e só aí que eu consigo respirar e entro no carro.
Está na cara que essa pessoa que eu acabei de acolher é um bandido. Eu acho que acabei de fazer a maior burrada da minha vida, porém, eu terei que confiar, vou descansar o meu coração em Deus, confiar que ele não deixará nada de m*l me acontecer e irei ajudar o próximo.
Pensando assim eu arranquei com tudo nesse carro e comecei a dirigir esse carro em direção ao hospital mais próximo.
— Pra onde você pensa que vai? - o garoto pergunta agonizando no banco do carona do meu carro.
— Estou indo para o hospital. - respondi para ele.
— Ta doida crentinha? Se tu me leva pra lá eu não dou nem dois minutos e já estará tudo cercado de polícia. - ele disse com a respiração irregular, mas nada muito grave, pelo menos não ainda.
— Mas eu... você está ferido e...
— Sem mais nem menos, você vai me levar ali para o morro do Vidigal lá tem um postinho, tu me joga lá na frente e eu me viro. - ele diz com cara de dor e eu não vejo outra alternativa a não ser fazer o que é está me pedindo, aliás, pedindo não ele está exigindo.
Segui em direção ao Vidigal e após entrar na favela fui sendo instruída pelo menos a entrar nas ruas certas e chegar até a entrada do postinho.
— Pronto! Você chegou e eu... - olhei para o lado e vi que o garoto havia apagado totalmente, então eu vi uns garotos em frente ao postinho e os chamei para buscar o homem que estava dentro do carro. Eles se aproximaram e quando viram a pessoa dentro do carro tiveram uma estranha reação.
— p**a que pariu! O chefe p***a! - eles disseram e imediatamente moveram o homem dali.
— O médico do postinho saiu para o horário de almoço. - um deles diz
— Manda aí o Catita ir atrás dele pow. c*****o. - um deles diz nervoso já levando o ferido para dentro do posto, que por sinal já apresentava sinais vitais bem enfraquecidos.
Naquele momento eu poderia ter saído dali de perto daqueles bandidos, e o meu dever de boa samaritana já teria sido realizado. Porém, olhei para aquele homem que entrava de qualquer jeito nos braços de seus comparsas no postinho e percebi, que se eu não agisse naquele momento talvez não desse tempo do médico chegar a tempo, então eu respirei fundo e tomei uma decisão.
— Com licença eu sou da área da saúde e irei realizar os primeiros socorros enquanto o médico não chega. - falei e já fui arregaçando as manhas. Ele começou a ter parada cardíaca por isso os comparsas dele nem discutiram comigo, já me deixaram fazer os primeiros procedimentos de socorro e reanimação. Se eu realmente não for rápida aqui esse cara irá morrer. Então como serva do senhor, eu apenas fecho os meus olhos e peço para o todo poderoso realizar o seu milagre.
— Senhor me utilize como seu instrumento e me ajude a salvar essa vida. - eu oro e logo como milagre o garoto se reanima e o seu coração começa a bater normalmente assim também como a sua respiração. Eu indico para os outros enfermeiros para realizar os procedimentos necessários e todos me obedecem.
— Boa tarde, eu sou o médico, o que aconteceu? - um homem vestido de branco entra no leito do paciente.
— O que rolou foi que o patrão quase morreu seu cuzao. Tu pode se passar pra ele agora ou o teu destino vai ser bem pior. - um dos homens diz, eu acredito que o mesmo seja comparsa do garoto. Eles ficam mais tempo ali discutindo, porém, eu saio logo dali e vou embora, eu creio que já demorei tempo demais por aqui.
Eu sou a Larissa, tenho dezoito anos e estou no segundo semestre de medicina, e pelo visto eu acabo de salvar a minha primeira vida.