O que eu vou pedir em um bar? Será que vendem água? Peço gelo e espero derreter? Será que vendem suco? Ou um chá de sumiço? Era o que eu queria fazer naquele momento. Bom, pelo menos não tem ninguém para me perturbar aqui. Só o barman e um homem de terno. Será que ele sabe onde ele está?
— Oi, tem água? Queria uma garrafa, um copo, não sei — falei, estando totalmente fora de mim
O homem que estava sentado nas banquetas do bar começou a rir logo depois que falei. Ué? Falei alguma piada?
— Licença? Falei algo engraçado? — estava tão atordoada que não consegui ficar quieta
— Na verdade, sim. Nunca tinha visto alguém pedir água em um bar. Achei diferente — ele deu um sorriso
Um sorriso muito bonito por sinal, mas ainda estava com raiva dele por rir. Na verdade, estava com raiva de João, com raiva de mim por ser uma idiota. Com raiva de tudo. Eu só queria descontar em alguém.
— Eu realmente sou um caso à parte. — falei, forçando o riso
— Deve ser mesmo — ele riu, com deboche e isso me irritou ainda mais
— Quanto é a água? — falei, apressada
O barman não me ouviu porque ele tinha ido atender uma mulher super vulgar que estava encarando o chato de terno, mas ele não dava a mínima para ela porque no momento ele — Deixa que eu p**o a água dela, Marcos — ele falou com o barman, que agora tem nome
— Pode deixar que eu p**o — ele disse, com um ar de eu p**o coisas para as pessoas
Fiquei encarando-o tentando entender quem pediu para ele pagar alguma coisa.
— O que foi? — disse ele, como se não tivesse falado nada há segundos atrás
— Pode deixar que eu p**o — falei, com autoridade — Quanto fica?
— Pode deixar, fica de presente porque me intrometi no seu pedido. É minha forma de pedir desculpas por atrapalhar você
— Só está querendo me mostrar que tem dinheiro, né? — falei
E mais uma vez ele começou a rir. Ele tem cara de ser um homem presunçoso. Essa risada deve ser o charme dele para conseguir levar as mulheres para cama, obviamente.
— Só estava tentando ser gentil. Pode deixar que ela vai pagar, Marcos — ele falou com o garçom que agora tinha nome, e sorri mais uma vez forçado
— Obrigada.
— É R$40,00 o valor da garrafa. — disse Marcos, o barman
Fiquei parada encarando a garrafa de 500ml de água, desacreditada que estava bebendo uma água de 40 reais. Seria melhor um gelo derretido.
— Estou brincando, ele me pediu para falar isso.
Dessa vez o intrometido, que estava rindo muito por sinal, me mostrou a mensagem que mandou para seu aparentemente amigo barman.
— A água é por conta da casa, senhorita. Fique tranquila. — disse ele e saiu para atender uma mulher que estava encarando o homem de terno
— Você faz stand-up? Estou achando você bem engraçadinho — falei, com saco cheio
— Não, trabalho com administração e marketing, mas faço piada nas horas vagas. Sabe como é né? Devemos seguir nossas paixões.
Hm. Ele trabalhava com a mesma coisa que eu. Isso explica o terno, ele deve trabalhar em alguma empresa e veio beber para desestressar. Era estranho como ele parecia exalar essa aura de engraçadinho charmoso. Era um perigo.
— Está tudo bem? — ele perguntou, como se eu estivesse fazendo algo preocupante
— Sim, por que? Hã? — perguntei, sem entender
— Não está não, só me desliguei do nada. Não estou em um momento muito bom, obrigada por perguntar — sorri, agradecendo
Quando percebi, passamos o resto da noite conversando sobre coisas totalmente aleatórias. Era nítido a química instantânea que se criou entre nós e não conseguíamos parar de conversar, será que ele estava tentando ser gentil e me animar ou só queria me levar pra algum lugar? De toda forma, eu não iria mesmo. Cansei de namoro, homens e tudo o que envolve ser enganada por eles. Eu me basto e fim. Chega de sofrer por João, se ele sumiu, foi ele quem perdeu.
Mas não é essa a sensação que eu tenho, para ser sincera. Parece que eu perdi e perdi tudo o que eu tinha...
— Não acredito que você nunca quebrou um osso. Você não foi uma criança muito criança então — ele disse.
Sua forma de me olhar era tão delicada, parecia que eu não era algo real. Ele falava de forma tão interessada em mim, chegava a ser um pouco fofo. Fazia tempo que não via ninguém me olhar dessa forma. Seus olhos azuis brilhavam a cada pergunta que ele me fazia e brilhavam ainda mais quando eu respondia algo que ele concordava e até mesmo discordava. Ou ele quer muito me levar para a cama ou tem algo rolando.
Eu já estava ficando entregue. Ele era um perigo iminente, aquele charme, aquele sorriso, aquele jeito dele de falar, o olhar. E por que ele está com aquele terno todo elegante? Isso dificultava tudo. Por um segundo consegui esquecer da existência de João. Que feitiço foi esse? Você está carente, Olívia. É isso. Seja forte. Você nem sabe o nome desse cara.
— Tá bom, gato ou cachorro? Olha bem o que você vai responder, isso é muito sério — ele perguntou, rindo como uma criança
— Quem é esse, Liv? — Amanda perguntou, chegando no bar com Ju
— Ah, um estranho que estou conversando — falei e isso fez ele rir
— Boa garota — Ju falou no meu ouvido me fazendo revirar os olhos
— Estávamos indo embora, você quer ficar? — Amanda perguntou e ele ficou me olhando de rabo de olho
— Não, posso ir com vocês. — falei, um pouco chateada por dentro — gatos, prefiro gatos
Ele abriu um sorriso como se eu tivesse falado o que ele queria ouvir. Ele estava sendo só simpático mesmo?
— Eu tenho 3. Um de cada cor. — ele mostrou o papel de parede do seu celular — foi um prazer conversar com você, Liv — ele deu uma pausa antes de falar o meu nome, já que ouviu Mandi falar
— Foi um prazer ter você se intrometendo no meu pedido.