Capitulo 6 - Confronto molhado

2612 Words
Abby e eu nos entreolhamos. O medo que sentíamos há alguns segundos simplesmente desapareceu. Assim que nossos olhos se encontraram, percebemos o medo nos olhos uma da outra. E isso fez com que nosso próprio medo diminuísse. Juntas. Ela me encara com determinação. Meu olhar não é diferente, um pouco apreensivo, mas incrivelmente pronto para o que vier. Abby se aproxima e estende a mão para mim. — Boa sorte. Que vença a melhor. — Ela diz confiante. Aperto sua mão. — Vamos lá. — Respondo. Descer as escadas demandaria muito tempo e seria meio vergonhoso para duas ninjas. Abby simplesmente pula e aterra no chão da nossa arena de luta com um pouco de dificuldade. Seguro no corrimão, impulsiono os pés no chão, dou um giro completo e me lanço. Piso no chão agachada, de costas para ela, mas ainda de pé. Levanto-me e viro para encará-la. Ficamos frente a frente. De repente, Tobi salta e para no nosso meio. Ele aterrissa no chão devagar, como... como Mike aterrissaria controlando os ventos. Mas Tobi não é um ninja elementar. Prometo a mim mesma que, se sair ilesa dessa luta, vou até ele e perguntarei qual é sua habilidade. Ou posso simplesmente perguntar para Mike. — Certo... — Tobi olha para mim e depois para Abby. — A luta começa... agora! — Ele grita e dá um salto de volta para nossa arquibancada improvisada. Abby e eu nos encaramos. Quem irá atacar primeiro? Mal tenho tempo de pensar e Abby faz o selo da transformação. Estou em desvantagem por não ter poderes ainda. Logo ela se transforma. Agora que posso ver mais de perto, ela parece uma espécie de sereia. — Com medo? — Abby pergunta. — Nem um pouco. — Respondo. Abby abre um pequeno sorriso. Ela faz um selo e, de repente, começa a cuspir vários jatos d'água, como se fossem balas. Começo a correr, formando um círculo em volta dela, enquanto ela continua atirando. Com confiança total em meus instintos, corro sem tirar os olhos dela. Eu posso fazer isso. Paro no lugar e começo a correr em direção a ela, desviando por pouco das balas de água. Quando estou perto o bastante para desferir um golpe, sou atingida por um jato de água que me joga longe. Sinto meu corpo ficando mais fraco. Me levanto e olho para Abby. Ela faz outro selo e bate com a palma da mão no chão. De repente, começa a surgir água. Olho para meus pés. A água está quase nos meus tornozelos. Olho para Abby. Essa habilidade deve exigir muito dela. Quando a água chega na metade da minha canela, para de subir. —Agora você está no meu território. Não sei se você sabe, mas a água me deixa mais forte, então eu posso usar meus poderes à v*****e, pois vou estar me recuperando enquanto estiver em contato com ela. — Abby explica. Abby tem razão. Ela pode controlar a água aqui do jeito que quiser. Ela fez uma piscina de resistência para ela. É perfeito. Então percebo que ela não está dentro d'água, está sobre a água. Abby começa a andar devagar. Sobre a água. Isso é incrível. Ela vem vindo na minha direção e me preparo. Abby é uma adversária de longa distância, ela não vai me atacar com o corpo. Ela não vai chegar perto o bastante para isso. Ela vai usar a água para me atacar. Então uma mão gigante feita de água vem em minha direção. Começo a correr, mas a água me deixa lenta. Logo outra mão se junta à corrida, e estou sendo perseguida pela água. Não posso ficar aqui. Eu estarei morta se continuar na água. Preciso pensar rápido. E então uma onda surge na minha frente. Estou encurralada. Rapidamente pego duas facas nas minhas costas. Eu trouxe seis e vou ter que lutar com isso. Arremesso uma faca na parede e ela fica presa lá. Arremesso a outra bem do lado e dou um pulo no último segundo, segurando nas facas e ficando pendurada. A onda e as duas mãos se chocam causando um pequeno tsunami que faz Abby se desequilibrar. Abby é muito boa usando seus poderes, mas é péssima em luta corpo a corpo. O que eu preciso fazer é encontrar um jeito de lutar com ela. E bem longe da água. Ela me olha com um olhar mortal. Eu preciso fazer alguma coisa. Pego impulso com a parede e dou um pulo, aterrisso na água e corro rapidamente até ela. Abby fica perdida por um tempo, até que ela faz um selo diferente de todos os outros. De repente, a água começa a borbulhar ao seu lado. Devagar, a água vai subindo e formando uma espécie de ninjas feitos de água. Sem rosto e um pouco deformados. Ela fez ninjas de água. Existe uma habilidade ninja que forma clones, mas eu não fazia a mínima ideia que um elementar poderia criar ninjas assim também. Com uma espécie de consciência. Sete ninjas d'água. Paro no lugar quando percebo que os sete começam a correr na minha direção. O primeiro tenta me atacar com um murro, mas seguro seu braço e o empurro com o pé. Logo outros dois vêm pra cima de mim. Eles não são nada frágeis apesar de serem feitos de água, então tomo cuidado para não levar nenhum golpe. Quando vejo que os outros vão atacar, me desloco e começo a lutar com os sete. Não tenho tempo de ver o que Abby está planej ando, os ninjas d'água pegam toda minha atenção. Encontro uma brecha e puxo uma faca, enfiando-a no braço de um dos ninjas, que se desfaz em água. A partir daí fica mais fácil eliminá-los. Logo estou mais ensopada do que antes e sem nenhum ninja ao meu redor. —Você vai precisar mais do que isso. — Digo. Abby se distanciou ainda mais de mim. Ela não diz nada. Apenas sorri. Ela está planejando algo. Isso não é bom. Eu preciso ficar longe da água. Corro até a parede mais próxima e jogo mais duas facas lado a lado. Sem nenhuma dificuldade, fico em pé nas duas facas. Dessa altura, consigo observar melhor. Eu preciso de um plano. De uma estratégia. Abby é claramente uma ninja mais forte do que eu. Mas se eu quiser enfrentar Adam, tenho que vencê-la. Mas com tanta água, eu não consigo nem tocá-la. Acho que sei o que fazer. Ainda me restam duas facas. Eu arremessei duas próximas às que estou em pé. Pulo na água. Vou até o meio entre as facas que arremessei e jogo minhas últimas facas na parede. Sinto a água começando a se mover nos meus pés... na verdade, não está se movendo. Está aumentando. Abby está enchendo mais ainda de água. Eu preciso agir rápido. Começo a correr. Não para Abby, mas ao redor dela até ficar nas suas costas. Ela se vira para mim sem entender. Daqui consigo ver Abby e as facas na parede. Corro até Abby. Ela tenta formar paredes de água na minha frente, mas desvio de todas. Então ela se locomove. Ela não anda, apenas flutua rápido para trás, para perto das paredes com minhas facas. Abby faz um selo e começa a cuspir balas de água novamente. Eu não posso ser atingida ou terei que começar tudo de novo. Continuo correndo e paro quando ela está próxima o suficiente da parede. Ela parou de cuspir balas de água. Estamos apenas nos encarando. Abby está claramente cansada. Depois que despertamos o elemento, nossa resistência aumenta, mas o uso constante dos poderes deixa um ninja exausto. Muitos ninjas de elite, nem são tão fortes, apenas treinaram bastante a resistência e conseguem ganhar lutas deixando seus adversários cansados. Abby parece ter treinado bastante sua resistência, pois ela usou seus poderes sem parar e continua em pé. Uma vez, meu pai chegou tão cansado de uma missão que dormiu por 4 dias. Meu plano no início era cansá-la, mas estou ficando tão cansada quanto ela. Eu tenho que arriscar ou perderei por exaustão. —Você não vai me vencer assim. — Digo. Abby respira tão forte que suas narinas inflamam. Ela não gosta de perder. Ela está claramente irritada por essa luta estar demorando tanto. Por ela ainda não ter vencido. —Você está tão cansada quanto eu, mas sei exatamente como mudar isso. — Ela diz e faz outro selo. Mais ninjas aparecem. Consigo contar 12. E então Abby cai de joelhos. Ela está exausta. Mas sabe que, após uma luta com 12 ninjas, eu não aguentarei. Os 12 ninjas atacam juntos. Assim que o primeiro está perto o suficiente, agarro nos seus ombros e pulo por cima dele, aterrissando pisando em cima de um deles, que se desfaz aos meus pés. Vejo um punho vindo em minha direção, me abaixo e desvio pelo lado. Continuo indo em direção a Abby, que agora está com os joelhos e as mãos apoiados na água e de cabeça baixa. Consigo ver que ela está afundando. Algo segura minha mão e, de repente, a outra mão. Não consigo me soltar, tento correr para frente o máximo que consigo, mas os ninjas me puxam. Então recebo um chute nas costas. É quando os ninjas me soltam. Percebo que meus pés não estão mais tocando a água e então vem o baque. Graças à água, não me machuco na queda. Mas minhas costas estão acabadas. Tento me levantar, mas minhas costas doem. Será que quebrei algo? Olho para Abby. Estou mais perto dela. Os ninjas me jogaram para perto dela. É minha única chance. Preciso ignorar a dor. Levanto-me com dificuldade e vou em direção a Abby. Ouço os ninjas vindo atrás de mim então acelero o passo. Sinto uma pontada que me faz cair no chão, mas me levanto e corro mais rápido até que estou de frente com Abby. Ela levanta a cabeça. Ela está prestes a fazer um selo. Mais um golpe e eu perco. Então não posso deixá-la fazer isso. Dou um chute no rosto de Abby com toda minha força, fazendo-a sair do chão. Agora preciso ser rápida. Pulo para a primeira faca e dou um murro na barriga dela, que a faz voar novamente. Na segunda faca, dou uma cotovelada, ela vai mais longe do que eu esperava, corro até a quinta faca e consigo alcançar seu pé, seguro ela antes de encostar na água. Se ela cair na água, sua vitalidade aumentará. Meu corpo não me obedece. Eu quero puxá-la. Ele quer soltá-la. Sinto seu pé escorregando pelos meus dedos. Mas eu sou uma ninja. Eu nunca desisto, nem que eu morra, eu vou lutar pelos meus objetivos. Nem que eu danifique tanto minha coluna que passe o resto da vida numa cadeira de rodas, eu vou ganhar essa luta. Arranjo forças de não sei onde e puxo Abby com toda minha força, girando-a até conseguir jogá-la tão alto que eu consigo tempo de ir para a sexta faca e acertá-la com um chute. Abby voa novamente. Pulo para a água, mas antes tiro a sexta fac a da parede. Assim que Abby está caindo, arremesso a faca prendendo sua roupa na parede. Assim, Abby não encosta na água. Não sei se Abby está inconsciente. Mas ela está de olhos fechados e não se mexe. Tobi aparece no meio de nós. Ele olha para Abby por alguns segundos e se vira para o resto do pessoal. —A vencedora é a Tara. — Ele diz e ninguém comemora. Mas eu sim. Por dentro, meu interior está em festa, mas apenas dou um sorriso demonstrando minha alegria. Caio de b***a na água. Eu m*l me aguento em pé. Toda a exaustão da luta cai sobre mim agora. Tobi vai até Abby, tira minha faca da parede e joga no chão. Coloca a filha sobre o ombro e dá um salto de volta para onde está o resto do pessoal. Eu não me levanto. Sei que preciso de um médico. Mas apenas curto a exaustão da vitória. —Acho que te devo os parabéns. — Mike diz atrás de mim. —Não vou dar moleza assim quando for nossa vez. — Digo. Ele se põe a minha frente. —Acha mesmo que vai chegar a me enfrentar? — Ele pergunta com um sorriso debochado. Eu ganhei essa luta, não foi? —Só tenho Adam como obstáculo até você. — Digo. —É um obstáculo e tanto. — Ele diz. Dou de ombros e então sinto uma pontada que me faz fazer uma careta de dor. —Pode me ajudar? — Pergunto. Ele olha para mim e então olha para cima, onde está o resto do pessoal e um ninja médico, que é exatamente do que preciso. —Você já me fez molhar meus sapatos mesmo. — Ele fala como se fosse um incômodo. Mike se abaixa, fica tão perto de mim que sinto seu cheiro. Ele cheira como uma brisa no campo. É algo estranho de se dizer, mas uma vez quando eu tinha uns 7 anos, meus pais me levaram para um campo muito bonito para meditar. Tinha uma plantação próxima de alguma coisa, pois enquanto eu estava de olhos fechados sentindo a suave brisa no meu rosto, aquele perfume inebriante chegou às minhas narinas. E Mike cheira como essa brisa. Ele coloca um braço debaixo dos meus joelhos e outro nas minhas costas. Passo o braço pelo seu pescoço e tento não me sentir desconfortável com toda essa aproximação. De repente estamos flutuando. Quando olho para o chão, sinto um frio na barriga por estar tão longe de lá. Aterrissamos perto de Clariss. Abby está deitada na sua frente. Ele está agachado sobre ela como fez com Will. —Ela fraturou alguns ossos, tem músculos muito danificados, seu braço parece ter sido atingido também. Olho roxo, fratura no maxilar, alguns arranhões... e ela está com hemorragia interna. Nada que eu não possa resolver. Em dois minutos ela estará de volta. — Clariss diz. Mike me põe no chão. Eu me sinto aliviada por não ter acontecido nada sério com Abby e parece que não sou a única. Talvez eu tenha exagerado ao pendurá-la na parede com uma faca correndo o risco de acertá-la, mas foi o único meio que encontrei de deixá-la fora d'água. Após dois minutos, Clariss se levanta. Todos olhamos para Abby. Ela abre os olhos devagar e olha em volta. —d***a, eu perdi. — Ela diz e olha para mim. — Foi uma boa luta. Abby estende a mão com dificuldade para mim. —Foi uma boa luta. — Concordo e aperto sua mão. —Você ainda vai se sentir fraca. Te aconselho a ir dormir como o garoto gordinho. — Clariss diz para Abby e então se vira para mim. — Agora a vencedora. Ele se abaixa sobre mim. Põe as mãos sobre meu abdômen e logo vejo a luz verde. —Fratura grave na coluna... por sorte não atingiu a aorta, parece que teve um grande impacto aqui nessa área, deve ter sido a bala de água... muitos músculos atingidos doloridos também... enfim, eu consigo resolver. — Clariss fala. Pouco a pouco vou sentindo minha vitalidade aumentar. A dor vai passando, e consigo ver até um ferimento na minha perna se fechando. É incrível. Após terminar, Clariss se levanta, olha para nós todos e vira de costas. —Bom, até amanhã. — Ele diz e sai andando. Uma figura. Adam ficou calado desde que cheguei aqui. Ele está escorado na parede, provavelmente ainda se recuperando da luta com Will. Nossos olhos se encontram. Amanhã será eu contra ele.
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