A Perguntinha cheia de Magia

1386 Words
CAPÍTULO 4 A Perguntinha cheia de Magia Narrado por Elijah Não dormi nada esta noite, e a culpa é do meu pai, que merda de conversa que ele veio ontem para cima de mim, mas ele pensa o quê? Que sou criança? Que não tenho uma palavra a dizer? Me colocando assim, entre a espada e a parede? Entro no café, preciso de cafeína forte, muito forte. Ter que encarar este dia vai ser tortuoso demais. O hotel vai estar cheio, tão cheio como a minha cabeça. A sério que às vezes penso que o meu pai está a ficar xexé, mas que ideia de Jericó que ele foi arranjar agora, era só o que me faltava, praticamente um ultimato, c*****o. Sento-me virado de frente para a janela e de costas para qualquer povo que possa entrar no café. Duas mesas ao meu lado está uma mulher e uma criança, mas são tranquilas, falam baixo, são, portanto, pessoas comportadas, o que é bom, já que preciso de silêncio, silêncio para pensar como agir, para pensar o que fazer. Raios, levanto-me, preciso de ir à casa de banho, a minha bexiga está a matar-me. Quem mandou beber tanto café? Quando volto da casa de banho, vejo um mané a agarrar o braço de uma moça que está no balcão, eles estão a discutir e vejo o quanto ela está incomodada com a situação. Eu não me devia meter, devia continuar com a minha vida, que já me dá demais o que fazer, mas não, já aqui estou atrás do pilantra e a fazer a perguntinha cheia de magia. — Vai largar o braço da moça a bem, ou vai largar a m*l? Ele olha para mim de lado, e se sente afrontado e me desafia, tá louco, só pode. Sai um monte de merdas da boca dele, mas uma delas faz a moça virar o bicho, ele a chamou vagabunda. — O quê? — Ela diz passada da cabeça. Ele vira para ela e no mesmo instante, ela acerta-lhe a mão que tinha livre mesmo no meio das fuças dele, eu me espanto, ele a larga na hora e agarra o nariz que sangra. — f**a-se, Mia, partiste-me o nariz. — Ele diz, que inteligência. — É bem feito, quem manda me chamar de vagabunda, vagabunda é a tua mãe. Passa por mim, me agradece e sai. Cacete de mulher poderosa. Olho para aquele parvo ali e resolvo não o ajudar, estou me fodendo para ele, quem mandou tentar tratar m*l a moça? Agora que se vire, tenho mais o que fazer. E por causa desta merdice toda, acabei não resolvendo nada da minha vida. Saio do café deixando para trás a figura sangrando. Os Testamentos Os Bettencourt são uma família abastada, têm uma rede de hotéis de luxo em todo o mundo, mas a sede, o Hotel principal e o mais antigo, está situado no coração de Seattle. Foi o primeiro a ser aberto, e por isso, Steven Bettencourt tem um carinho especial por este edifício, por estas paredes. Batem na porta do seu escritório, que fica situado no piso da receção do hotel. — Sim! Abrem a porta, é o seu filho, o seu único filho e herdeiro de tudo. — Chamaste? — pergunta. — Sim, entra. Elijah senta-se na confortável cadeira de couro castanha que está do lado oposto ao seu pai. Steven chega-se para a frente, e apoia os braços na mesa de vidro de cor preta fosca. — Elijah, precisamos de falar sobre um assunto sério? — Mas está tudo bem pai? — Pergunta preocupado. — Comigo está! E contigo? Elijah estranha aquela pergunta. — Comigo? Comigo também, mas porque perguntas? — Elijah, tu já tens trinta e dois anos. — Levanta-se da sua cadeira, coloca os braços para trás das costas e anda de um lado para o outro — Tenho visto que te divertes muito, com muitas mulheres, para mim até acho que são mulheres a mais, mas enfim. Mas o que me preocupa, é a tua falta de vontade de arranjar uma boa garota, uma mulher a sério. O filho o interrompe bruscamente. — Eu não quero, nem preciso de uma boa garota, nem uma mulher a sério, isso é, se isso existe. — Fala amargurado. — Todo o homem precisa de uma boa mulher ao seu lado, que se torne uma excelente esposa, uma ótima mãe para os seus filhos. — Eu não quero nada disso pai, não quero uma mulher, muito menos uma esposa e Deus me livre de filhos! — Diz ao levantar-se desconfortável com o rumo da conversa. O pai suspira. — Eu não estou a ir para novo, filho, e vou precisar que tu um dia agarres no teu legado, com unhas e dentes. — Sim, eu sei, mas eu vou fazer isso, continuar a trabalhar duro, pelo meu legado. O pai volta a sentar-se, coloca os cotovelos em cima dos braços da sua cadeira e parece estar a pensar. "Vem aí merda" — Pensou Elijah ao olhar para o pai, conhecia-o bem demais e sabia que ele estava a pensar como dizer qualquer coisa, que Elijah já sabia que não ia gostar. — Então recapitulando, — ele começa — tu não pensas sequer na hipótese de formar uma família! — Eu já tenho uma família, tu e a mãe. — Hum, sim, sei. Steven chega-se para a frente na sua secretária, e puxa uma pasta verde. Abre a pasta, que tem várias folhas lá dentro. — Sabes o que é isto? — Ele pergunta. — E como haveria de saber? — diz desconfiado. — Isto, meu filho, é o meu testamento, aliás, dois. Elijah torceu o nariz, pensando porque raio o pai estaria a falar do testamento e porque seriam afinal dois testamentos! Pessoas ditas normais, fazem um testamento, não dois! — Sim, e então? — perguntou, não mostrando a estranheza do facto. — E então, — continuou — um deles tem escrito, que tudo o que é meu, todo o meu império, toda a minha fortuna, será unicamente tudo para ti, e não é na minha morte, mas sim exatamente daqui a seis meses. — Daqui a seis meses?? — perguntou preocupado — Mas porquê daqui a seis meses? — Eu e a tua mãe queremos viajar. Por conta de construir tudo o que temos, tenho perfeita noção que não dei a atenção que a tua mãe sempre mereceu, então vou dar agora, temos o nosso filho criado, um bom homem, e que já está mais que na altura de passar tudo para ti. Temos muito dinheiro guardado, bens e imóveis só meus e da tua mãe, que na nossa morte é óbvio que passará também para ti. — Ok, então, acho que fazem muito bem. — Ele diz não entendendo muito bem o porquê daquela conversa toda. Mas o pai ainda não tinha acabado e a bomba ia estourar agorinha. — Mas, este outro testamento, — aponta para a outra pilha de papéis — tu ficas sem o direito a mexer em nada. Elijah se espanta com o que o pai acabou de falar. — Mas porquê, pai, o que foi que eu fiz? — Ele pergunta surpreso. — Nada, e o problema é mesmo esse. — diz calmo. Elijah estreita os olhos, não está a entender onde o pai quer chegar. — Tens seis meses para me mostrares que realmente queres, o que é teu por direito. — Pai, isso não faz sentido nenhum, — ele diz surpreso com todo este assunto sem pés nem cabeça — o que tu queres que eu te mostre? — Quero que me mostres que realmente és um homem com família e responsabilidade, não vou dar a minha fortuna que me custou tanto a construir, a um playboy que só quer andar por aí a montar as mulheres todas. — Fala agora exasperado. Ele fica pasmo, com o que o pai acabou de lhe dizer. — Eu, um playboy? — Sim tu. Um playboy, que tem que tomar juízo, já tens mais que idade suficiente para tomares responsabilidade. Elijah fica fodido, mas prefere não dizer nada que se arrependa depois. — Então e diz-me, — diz chateado — e como queres que te mostre isso? O pai diz de uma vez só. — Casa-te.
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