CAPÍTULO 4
A Perguntinha cheia de Magia
Narrado por Elijah
Não dormi nada esta noite, e a culpa é do meu pai, que merda de conversa que ele veio ontem para cima de mim, mas ele pensa o quê? Que sou criança? Que não tenho uma palavra a dizer? Me colocando assim, entre a espada e a parede? Entro no café, preciso de cafeína forte, muito forte. Ter que encarar este dia vai ser tortuoso demais.
O hotel vai estar cheio, tão cheio como a minha cabeça.
A sério que às vezes penso que o meu pai está a ficar xexé, mas que ideia de Jericó que ele foi arranjar agora, era só o que me faltava, praticamente um ultimato, c*****o.
Sento-me virado de frente para a janela e de costas para qualquer povo que possa entrar no café. Duas mesas ao meu lado está uma mulher e uma criança, mas são tranquilas, falam baixo, são, portanto, pessoas comportadas, o que é bom, já que preciso de silêncio, silêncio para pensar como agir, para pensar o que fazer.
Raios, levanto-me, preciso de ir à casa de banho, a minha bexiga está a matar-me.
Quem mandou beber tanto café?
Quando volto da casa de banho, vejo um mané a agarrar o braço de uma moça que está no balcão, eles estão a discutir e vejo o quanto ela está incomodada com a situação.
Eu não me devia meter, devia continuar com a minha vida, que já me dá demais o que fazer, mas não, já aqui estou atrás do pilantra e a fazer a perguntinha cheia de magia.
— Vai largar o braço da moça a bem, ou vai largar a m*l?
Ele olha para mim de lado, e se sente afrontado e me desafia, tá louco, só pode.
Sai um monte de merdas da boca dele, mas uma delas faz a moça virar o bicho, ele a chamou vagabunda.
— O quê? — Ela diz passada da cabeça.
Ele vira para ela e no mesmo instante, ela acerta-lhe a mão que tinha livre mesmo no meio das fuças dele, eu me espanto, ele a larga na hora e agarra o nariz que sangra.
— f**a-se, Mia, partiste-me o nariz. — Ele diz, que inteligência.
— É bem feito, quem manda me chamar de vagabunda, vagabunda é a tua mãe.
Passa por mim, me agradece e sai.
Cacete de mulher poderosa.
Olho para aquele parvo ali e resolvo não o ajudar, estou me fodendo para ele, quem mandou tentar tratar m*l a moça? Agora que se vire, tenho mais o que fazer.
E por causa desta merdice toda, acabei não resolvendo nada da minha vida.
Saio do café deixando para trás a figura sangrando.
Os Testamentos
Os Bettencourt são uma família abastada, têm uma rede de hotéis de luxo em todo o mundo, mas a sede, o Hotel principal e o mais antigo, está situado no coração de Seattle.
Foi o primeiro a ser aberto, e por isso, Steven Bettencourt tem um carinho especial por este edifício, por estas paredes.
Batem na porta do seu escritório, que fica situado no piso da receção do hotel.
— Sim!
Abrem a porta, é o seu filho, o seu único filho e herdeiro de tudo.
— Chamaste? — pergunta.
— Sim, entra.
Elijah senta-se na confortável cadeira de couro castanha que está do lado oposto ao seu pai.
Steven chega-se para a frente, e apoia os braços na mesa de vidro de cor preta fosca.
— Elijah, precisamos de falar sobre um assunto sério?
— Mas está tudo bem pai? — Pergunta preocupado.
— Comigo está! E contigo?
Elijah estranha aquela pergunta.
— Comigo? Comigo também, mas porque perguntas?
— Elijah, tu já tens trinta e dois anos. — Levanta-se da sua cadeira, coloca os braços para trás das costas e anda de um lado para o outro — Tenho visto que te divertes muito, com muitas mulheres, para mim até acho que são mulheres a mais, mas enfim. Mas o que me preocupa, é a tua falta de vontade de arranjar uma boa garota, uma mulher a sério.
O filho o interrompe bruscamente.
— Eu não quero, nem preciso de uma boa garota, nem uma mulher a sério, isso é, se isso existe. — Fala amargurado.
— Todo o homem precisa de uma boa mulher ao seu lado, que se torne uma excelente esposa, uma ótima mãe para os seus filhos.
— Eu não quero nada disso pai, não quero uma mulher, muito menos uma esposa e Deus me livre de filhos! — Diz ao levantar-se desconfortável com o rumo da conversa.
O pai suspira.
— Eu não estou a ir para novo, filho, e vou precisar que tu um dia agarres no teu legado, com unhas e dentes.
— Sim, eu sei, mas eu vou fazer isso, continuar a trabalhar duro, pelo meu legado.
O pai volta a sentar-se, coloca os cotovelos em cima dos braços da sua cadeira e parece estar a pensar.
"Vem aí merda" — Pensou Elijah ao olhar para o pai, conhecia-o bem demais e sabia que ele estava a pensar como dizer qualquer coisa, que Elijah já sabia que não ia gostar.
— Então recapitulando, — ele começa — tu não pensas sequer na hipótese de formar uma família!
— Eu já tenho uma família, tu e a mãe.
— Hum, sim, sei.
Steven chega-se para a frente na sua secretária, e puxa uma pasta verde.
Abre a pasta, que tem várias folhas lá dentro.
— Sabes o que é isto? — Ele pergunta.
— E como haveria de saber? — diz desconfiado.
— Isto, meu filho, é o meu testamento, aliás, dois.
Elijah torceu o nariz, pensando porque raio o pai estaria a falar do testamento e porque seriam afinal dois testamentos! Pessoas ditas normais, fazem um testamento, não dois!
— Sim, e então? — perguntou, não mostrando a estranheza do facto.
— E então, — continuou — um deles tem escrito, que tudo o que é meu, todo o meu império, toda a minha fortuna, será unicamente tudo para ti, e não é na minha morte, mas sim exatamente daqui a seis meses.
— Daqui a seis meses?? — perguntou preocupado — Mas porquê daqui a seis meses?
— Eu e a tua mãe queremos viajar. Por conta de construir tudo o que temos, tenho perfeita noção que não dei a atenção que a tua mãe sempre mereceu, então vou dar agora, temos o nosso filho criado, um bom homem, e que já está mais que na altura de passar tudo para ti. Temos muito dinheiro guardado, bens e imóveis só meus e da tua mãe, que na nossa morte é óbvio que passará também para ti.
— Ok, então, acho que fazem muito bem. — Ele diz não entendendo muito bem o porquê daquela conversa toda.
Mas o pai ainda não tinha acabado e a bomba ia estourar agorinha.
— Mas, este outro testamento, — aponta para a outra pilha de papéis — tu ficas sem o direito a mexer em nada.
Elijah se espanta com o que o pai acabou de falar.
— Mas porquê, pai, o que foi que eu fiz? — Ele pergunta surpreso.
— Nada, e o problema é mesmo esse. — diz calmo.
Elijah estreita os olhos, não está a entender onde o pai quer chegar.
— Tens seis meses para me mostrares que realmente queres, o que é teu por direito.
— Pai, isso não faz sentido nenhum, — ele diz surpreso com todo este assunto sem pés nem cabeça — o que tu queres que eu te mostre?
— Quero que me mostres que realmente és um homem com família e responsabilidade, não vou dar a minha fortuna que me custou tanto a construir, a um playboy que só quer andar por aí a montar as mulheres todas. — Fala agora exasperado.
Ele fica pasmo, com o que o pai acabou de lhe dizer.
— Eu, um playboy?
— Sim tu. Um playboy, que tem que tomar juízo, já tens mais que idade suficiente para tomares responsabilidade.
Elijah fica fodido, mas prefere não dizer nada que se arrependa depois.
— Então e diz-me, — diz chateado — e como queres que te mostre isso?
O pai diz de uma vez só.
— Casa-te.