Eu estava tão perturbada que saí tropeçando pelo salão até finalmente conseguir me trancar dentro do meu quarto, fiquei parada na porta tentando absorver o que tinha acontecido.
Eu queria de todo o jeito me convencer de coisas que não estavam dentro de mim, andei de um lado para o outro no quarto.
O meu primeiro pensamento foi "Será que Beatrice viu?" "Será que ficou chateada comigo?" "Não foi intencional"
Depois eu percebi que eu estava me justificando em cima de algo que eu não precisava justificar, já que NADA ACONTECEU.
Eu só precisava me convencer disso o mais rápido possível.
Mas se eu fechava os olhos eu via os olhos verdes daquele demônio insuportável, acho que ele me impressionou pela capacidade de me tirar do sério, por isso eu estava pensando nele, não rolou nada especial, só rolou alguém que me desafiou... e isso não acontecia normalmente.
Eu já estava envolta em minhas cobertas quando Beatrice entrou no meu quarto.
- Isabella, você ainda está acordada? – disse ela docemente
Tentei simular olhos um pouco mais fechados, esperava que isso fosse funcionar.
- Eu estava cochilando Beatrice, o que houve? está tudo bem? - agi dissimulada e agi como se fosse normal para mim ser aquela mentirosa sociopata.
- O que você achou da noite de hoje? eu senti que você ficou um pouco incomodada...
Ah meu Deus, o nervoso do meu coração ia sair pela minha boca se eu não cuidasse da minha língua comprida. Ela ia falar do que houve no salão, ah meu Deus ela viu então... o jeito como aquele animal me segurou pelas mãos.
- Eu... não sei...
- Você está com medo de que eu me case, não é? - Ah então foi isso que ela pensou que aconteceu? Que bom, nossa a minha respiração voltou ao normal.
- Acho que é isso mesmo Beatrice, eu não estou preparada para estar longe de você.... mas olha... eu vou superar. Você está feliz? tem certeza de que quer se casar com aquele... com o ... Salvatore?
- Eu sinto que eu devo, o papai já ajeitou tudo... e ele é... lindo, você não achou?
- Eu... não tenho que achar nada sobre isso.... que pergunta esquisita! - eu disse nervosa - eu vou dormir agora, se você puder me deixar aqui eu agradeço.
- Nossa você está mesmo me expulsando, bom, o papai vai beber demais e eu já pedi para alguém ficar de olho para levá-lo a cama, os outros convidados mais importantes já se fora, ficaram os mesmos de sempre... tudo sob controle. Então agora eu finalmente posso ir dormir, o meu dia vai ser bem cheio amanhã.
- Sim, acho que você deve dormir... que comecem os preparativos! - eu sorri melancolicamente, não por estar perdendo minha irmã, mas por saber que ela se casaria MUITO m*l. Mas ela estava feliz e eu não podia estafá-la naquele momento.
Ela saiu do quarto e talvez eu só esteja dando atenção demais a algo que na realidade não existe, porque eu fico pensando demais em coisas que não fazem sentido. Talvez para mim aquele foi um momento importante, quando na verdade não foi para mais ninguém.
Então eu podia finalmente pegar no sono.
Já era tarde da noite quando eu escutei um barulho na minha varanda, eu relutei para me levantar... e só despertei de verdade quando vi a silhueta de um homem adulto. Eu deveria ter gritado, mas eu não consegui gritar... eu fiquei paralisada olhando até que a porta se abriu e eu ouvi os passos lentos pelo meu quarto.
O cheiro de charuto, Bourbon e loção pós barba invadiu o meu quarto.
- O que você faz aqui? você ficou maluco? - era Matteo, eu nunca tive contato com aquela praga, a não ser a nossa mini briga no jardim e nosso embate antes de eu subir, por que ele estava ali? Qual era a desse i*****l para estar ali parado no meio do meu quarto de madrugada?
- Eu preciso saber de você... o que houve ali na sala... - ele começou a embaralhar as próprias palavras, estava com uma postura diferente... estava meio duro, não parecia mais o debochado profissional que eu vi no jardim, a expressão escura tomava conta do seu olhar que parecia raivoso - Eu quero saber por que você me provocou... - Ele estava completamente bêbado, dava para perceber enquanto ele cambaleava não conseguindo parar em pé.
- Eu te provoquei? você ficou maluco? - eu disse me esquivando enquanto ele andava para frente para me pegar em falso, eu estava lidando com um criminoso, ele podia cortar a minha garganta e sair correndo e ninguém jamais o acusaria já que não temos nenhuma ligação.
- Você me provocou... e eu quero saber o motivo! Você combinou com alguém de me tirar o juízo? - ele parecia irritado, estava falando alto não parecia ter medo do que iria acontecer se alguém entrasse e o pegasse ali, agia como o dono do mundo. Nada diferente do infeliz que eu conheci no jardim, a única diferença era realmente a postura que parecia intocável de tão dura.
- Eu nunca provoquei você... nós não nos conhecemos! Você vai se casar com minha irmã, por que os nossos pais arranjaram esse casamento...
- Nos conhecemos desde que somos pequenos!
- Sim, e eu te odeio desde então. Aliás, não odeio você... odeio todos vocês, só não sabia que tinha crescido e ficado ainda mais i*****l. E agora sobe pela minha varanda para me acusar de não sei o que, por que nem entendi ainda o motivo de você estar aqui... - eu comecei a atacar com palavras, porque semi nua em meu quarto já dormindo era a única arma que eu tinha, além do grito e do constrangimento de ter que explicar por que o noivo da minha irmã estava no meu quarto em uma madrugada.
- Por que você me provocou? é só isso que eu quero saber... eu estava feliz com a ideia de me casar com a sua irmã mais bonita e muito mais doce do que você, e agora essa ideia para mim parece insuportável! Maldita! - ele disse com a boca cheia, o cara entrou pela minha janela caindo de tanto uísque para me dizer as maiores barbaridades.
- O que eu tenho a ver com o seu casamento com a beata da minha irmã? eu não decidi nada, por que pareceria insuportável se casar com um anjo como ela? ela é quem deveria correr de você... o mais rápido possível! Já que não vale nem um euro!
- Então por que disse que nunca vai me deixar conhecer você?
- Por que isso importa tanto para você Salvatore? eu sou só a cunhada... não é a mim que você deve impressionar e criar um relacionamento, você não deveria estar na p***a da janela da Beatrice? - Ele me deixava nervosa em muitos níveis, era difícil demais alguém me deixar sem palavras mas aquele infeliz conseguia sem nenhuma dificuldade. Eu me esquivava mas não adiantava de nada. Ele se aproximou antes que eu conseguisse sair correndo, segurou a minha cintura e me puxou para bem perto e ficou olhando nos meus olhos, eu senti o meu corpo ficando fraco... e mais fraco e a medida que a respiração dele se encontrava com a minha tudo ia ficando mais turvo. Eu não acreditava que uma coisa assim havia acontecido, que p***a era aquela? por que eu estava ali? por que ele estava ali? Por que era tão bom sentir o toque dele na minha pele? por que parecia absurdamente errado e certo tudo ao mesmo tempo?
- O que aconteceu ali no salão? - ele disse com os olhos sedentos por sangue, era assim com homens poderosos e maus.
- Me solta agora! Isso que está acontecendo aqui é totalmente errado! você não deveria estar no meu quarto, e nem tomando essas intimidades comigo Matteo...
Ele fechou os olhos assim que eu pronunciei o seu nome, respirou fundo e se aproximou um pouco mais de mim - Eu não suporto o jeito como você fala o meu nome Lion... - ele disse ainda com os olhos fechados.
Eu estava adorando a situação e ao mesmo tempo o meu coração estava batendo forte de tanto medo de estar ali.
- Me solta agora... - eu disse ríspida
- Eu tinha um plano e você atrapalhou... e eu te prometo... que eu vou atrapalhar todos os seus!
- Do que você está falando? você só pode ser maluco! - ele me soltou finalmente, abrupto, com raiva... me jogou em cima da minha cama.
Ele saiu pelo mesmo lugar que entrou deixando o seu cheiro no meu quarto e levando embora a minha paz.
Eu respirei fundo e tentei minimizar os acontecimentos, comecei a fingir que nada daquilo aconteceu, aquilo foi apenas um rompante causado por beber demais! Ele não faria isso em seu juízo perfeito, claro que ele estava mais do que grato de se casar com a minha irmã... como eu disse, ela era um anjo.
E tudo o que eu precisava fazer era me convencer de que aquela situação só precisava ser esquecida, mais cedo ou mais tarde Matteo me pediria desculpas e eu poderia odiá-lo menos.
Eu ia conseguir passar por tudo aquilo.... eu sei que poderia.
Se eu voltasse a dormir poderia até fingir que tudo não passou de um pesadelo horrível que eu somatizei por ter bebido vinho demais.
Tudo era possível... menos contar as pessoas a verdade.