Capítulo 4

1877 Words
Eu iniciei o meu dia passando o restante da madrugada acordada, como que se prega os olhos depois do que aconteceu ali naquele quarto durante a noite? Eu não ia conseguir mascarar para a minha irmã o que havia acontecido, ela tinha essa habilidade de ler as pessoas que me ssustava... e eu era sempre o alvo de suas leituras. Eu me levantei sem vontade porque eu não estava nem um pouco afim de conversar com ninguém aquela manhã, mas mesmo assim após escovar os dentes e passar uma água no rosto as coisas melhoraram um pouco para mim. A correria pela casa era notável, já estavam colocando as coisas no lugar para o maldito casamento ou algo r**m havia acontecido? Eu conseguia ouvir os gritos do meu pai no escritório dele, estava bastante irritado. Minha irmã não estava na cozinha como de costume tomando o seu café da manhã leve e preparada para me criticar por comer compulsivamente sem medo nenhum de julgamentos. - O que houve? - perguntei a cozinheira - onde está a Beatrice? - Sua irmã saiu logo cedo, disse que precisava comprar algumas coisas do próprio enxoval. - E o meu pai? por que grita tanto? - eu disse agora me importando menos. - Ninguém sabe, mas parece que é alguma coisa muito séria... bom.... ele vai acabar contando tudo a sua irmã uma hora ou outra! Você o conhece... - Tem razão, eu vou tomar um café e vou até lá depois ver se ele precisa de alguma coisa... Eu fiz exatamente o que disse que ia fazer, mas demorei mais ou menos uma hora. Dando mordidas de formiga no meu pão para que o café não acabasse nunca, e eu não precisasse participar de mais um drama de uma carga de drogas roubadas ou da morte de alguém que infringiu alguma regra. Beatrice chegou animada, cheia de sacolas e um sorriso no rosto que eu não via a algum tempo. -Onde você foi? - eu perguntei de bom humor - poderia ter me chamado para ir com você. - Eu quis fazer isso sozinha, eu fui comprar algumas coisas de mulher casada. Falou a palavra CASADA com tanto orgulho que me deu um pouco de pena. O que seriam coisas de mulher casada? O que significava isso na realidade? Não parecia algo estranho de se dizer? - Ah entendi. - Eu disse sem demonstrar nenhum interesse pelo conteúdo das sacolas, e me voltei novamente para o meu pãozinho na chapa que estava incrível de tão gostoso. - Você não vai nem perguntar o que é? - ela disse um pouco indignada. - O que eu deveria perguntar Bea? Eu hein... deixa para lá... Meu pai surgiu na cozinha, com uma expressão de poucos amigos e de quem não havia pregado o olho. Parecia muito decepcionado, e esse não era bem o seu estado normal. Considerando que ele era um cara sempre pomposo e muito orgulhoso. Logo atrás a amante, digo, esposa... Madelaine, esse foi o nome que ela inventou e eu fingia que eu não sabia que ela se chamava Rita e não tinha nenhuma ligação com as famílias de puro sangue. - Bom dia meninas... - disse o meu pai com a cabeça baixa - Olha... Beatrice foi as compras, o que comprou de bom querida? - disse Madelaine fuçando as sacolas, Beatrice era educada... e estava mesmo procurando alguém que lhe desse atenção nessa coisa toda de casamento. - Sim, eu fui comprar algumas coisas de mulher... logo vem o meu casamento, e eu quero estar preparada. O meu pai torceu um pouco a cara, parecia extremamente incomodado com o que ela estava falando, nem parecia o mesmo caro ansioso que estava no salão ontem. Doido para selar uma união altamente rentável ao seu bolso e ao seu nome. - O que houve pai? - eu perguntei interrompendo as duas palhaças trocando figurinhas sobre calcinhas cavadas, como se não fosse constrangimento o suficiente saber que aquele fedelha deveria usar o mesmo tipo de roupa com o meu pai na cama. Ele estava com o olhar longe, e quando eu o chamei parecia ter sido despertado de um transe. Era estranho, se eu juntasse todos os gritos de mais cedo e agora aquela postura eu só poderia concluir que alguém morreu e ele não queria nos contar. - Está tudo bem com a vovó? - eu disse já com o coração na mão. - Sua avó está ótima, inclusive ela está vindo para cá. - Ele disse com um sorriso ainda melancólico. Essa sim era uma boa notícia, a mãe da minha mãe estar ali... era o nosso referencial de alguém decente, e o meu pai adorava a ex sogra ao ponto de chama-la de mãe. - Isso é muito bom, ter a vovó aqui para me ajudar com os preparativos... acho que estou vivendo um sonho! - disse Beatrice ainda com o sorriso bobo nos lábios, eu gostava de vê-la tão feliz, fazia tempo que eu não via. Eu sabia que era por um motivo i*****l, mas quem era eu para julgar? Meu pai mais uma vez revirou os olhos... e aquilo não estava nem de longe normal. Tão anormal que até a minha irmã que estava nas nuvens com as notícias de suas bodas percebeu. - Pai, desembucha logo... o que aconteceu? você não está normal! - ela disse um pouco mais veemente, era o benefício de ser uma irmã mais velha. - Bea... minha filha... nós precisamos conversar! - ele disse com o tom de voz bem baixinho, quase como se nem quisesse que ela escutasse. - Certo, então fala! Eu preciso saber logo... logo eu não vou estar aqui para resolver todos os problemas que vocês dois tem! - ela disse até soando meio arrogante, olhou para mim e para o meu pai. Eu já tinha sacado, nós éramos um tipo de algema... éramos correntes que ela levava com muito desespero em suas mãos e pés, e esse casamento era a possibilidade de nos dar um chute na b***a e poder viver a própria vida, sem bancar a minha mãe... ou cuidadora do meu pai inconsequente. O que Beatrice não tinha entendido era que talvez eu precisasse daqueles cuidados todos com seis anos de idade, mas que ela pecava na medida agora que eu já era uma mulher feita. Eu nunca pedi esse cuidado excessivo comigo, mas achava justo que ela estivesse tão chateada. Quem aguenta um inferno desses por todo esse tempo? - Nós vamos conversar lá em cima no meu escritório, vai ser melhor assim... vamos? - ele disse com muita calma, era uma notícia péssima. Eu me sentia um pouco m*l por nunca ser incluída nessas conversas sobre o futuro da nossa família, eu era a eterna idiota... a eterna menina que eles precisavam criar porque era órfã de mãe. Mas se eu parasse para pensar, Beatrice só era quatro anos mais velha do que eu... ela não inspira assim muito mais experiência. Eles subiram ao escritório, e eu não saí do lugar... morri de curiosidade para saber do que tanto falavam lá em cima, mas eu resolvi deixar que a notícia chegasse sozinha, sem nenhuma forçação de barra. Seria melhor assim. Não demorou até os gritos recomeçarem, mas agora era Beatrice que gritava a plenos pulmões - ISSO NÃO É JUSTO! PORRA... ISSO NÃO É NADA JUSTO! EU TENHO ME PREPARADO PARA ISSO A VIDA INTEIRAAAA Ela gritava e gritava e podia ir de um chilique normal até os dois começarem a se ofender e a se agredir em poucos segundos, eu me contive, seja como for, não era um problema meu e eu não ia interferir. - QUANDO VOCÊ VAI CONTAR PARA ELA? VAI CONTAR AGORA! JUDITH CHAMA A ISABELLA LÁ EMBAIXO - Eu ouvi outro grito e alguns minutos depois os passinhos de Jud pela escada denunciava o terror. - Bella, seu pai e sua irmã... estão chamando você lá dentro... parece alguma coisa grave... a dona Beatrice está descontrolada! - ela disse sendo a fofoqueira que sempre foi, naquele dia eu agradeci a fofoca, já que pela primeira vez eu ia entrar no escritório para discutir algo que tinha a ver comigo. Será que já sabiam do que havia acontecido na noite anterior? Eu deixei alguma brecha? aquele animal contou que esteve no meu quarto àquela hora da noite? Eu enrolei para subir as escadas, porque eu estava com medo das consequências do que aconteceu... o meu coração estava queimando, o ar parecia estar faltando e o meu corpo inteiro estava quente. Como eu ia solucionar aquele caso? Eu poderia começar a chorar e a pedir desculpas, acho que seria eficaz... se eu fingisse que não foi culpa minha... e não era mesmo, apesar de ter ouvido que provoquei alguém. Subi degrau por degrau cheia de paciência e sem pressa nenhuma de chegar até o maldito escritório onde estavam os dois. Assim que entrei Beatrice me olhou com um olhar cheio de ódio, p***a, ela já sabia...ele contou então. Pensei naquele momento que era melhor começar a chorar e se desculpar, mas percebi que não adiantaria então eu mantive a minha compostura o máximo que eu consegui. -O que aconteceu? por que essas caras para mim? - eu disse curiosa e nervosa. - Você conseguiu arrancar tudo de mim... conta para ela pai! Conta que além dela ter roubado a minha infância, a minha adolescência agora ela roubou também a p***a do meu futuro! Nossa, quanta mágoa... ela não estava me dizendo aquilo só por causa de uma visita do seu noivo bêbado ao meu quarto, o meu pai permanecia em silêncio... sem coragem talvez de me dizer o que estava acontecendo de fato. - O QUE HOUVE? PAI? - Eu gritei já com lágrimas nos olhos - eu estou ouvindo esse monte de merda da Beatrice e nem sei como devo me defender já que eu não sei nem o que eu fiz... - CONTA PARA ELA PAI! - ela gritou mais alto. - Bella... - começou ele - minha filha... aconteceu um contratempo... e os planos mudaram um pouquinho - ainda de cabeça baixa ele se recusava a me encarar. Beatrice estava nervosa com a situação, e com o fato do meu pai não conseguir ser claro e tomou as rédeas da situação. - Parabéns sedutora, Matteo não quer mais se casar comigo... ele avisou ao papai de manhã! O meu coração se cortou em mil pedaços, tinha a ver com o que aconteceu dentro daquele salão? Resolvi ficar de bico calado e agir sonsa. - Do que você está falando Beatrice? O que eu tenho a ver com o seu casamento de merda? Eu estou pouco me fodendo para isso! - eu me exaltei, porque era verdade, eu não dava a mínima para aquele circo. - Ligando ou não ligando eu te dou os parabéns por destruir completamente o meu futuro! Eu odeio você Isabella, eu odeio você demais! Ela finalmente saiu da sala batendo o pé e a porta com tanta força que eu achei que fosse se desfazer quando fez aquele barulho alto. Olhei para o meu pai sem entender nada e ele me disse - Senta Bella, vou contar o que houve.
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