Eu estava exausta, realmente exausta.
Eu estava acostumada ao trabalho duro. Desde crianças, todos na minha família trabalhavam no nosso negócio de autopeças; eu trabalhei meio período quando fazia faculdade e mesmo assim mantinha minhas notas em alta. Não era incomum ter apenas algumas horas de sono por dia, especialmente na fase final da faculdade.
Mas esta noite... Balancei minha cabeça enquanto observava o último dos funcionários sair. Jane estava a caminho, finalmente, tinha conseguido que as coisas dessem certo. Ela me pediu para esperar no restaurante para que pudéssemos voltar para o apartamento juntas. E enquanto eu esperava, encostei-me ao balcão e tirei os sapatos com um suspiro de alívio. Eu tinha sido inteligente e escolhido sapatos confortáveis, mas nem mesmo eles evitaram que meus pés estivessem pedindo socorro desesperadamente.
Enfiei a mão na minha bolsa e tirei o cartão de visita que Apollo Hendrix tinha me dado. O que ele poderia querer que eu fizesse? Eu tinha que admitir, mesmo que tivesse adorado a última semana de trabalho com a Jane, eu estava tentada a aceitar sua oferta de emprego. Mas eu também tinha que admitir que era menos porque eu queria um trabalho diferente, e muito mais, porque eu queria conhecer o homem que o ofereceu.
Fazia tempo que eu tinha conhecido um cara interessante.
— Como foram as coisas? — Jane perguntou assim que entrou. Sua expressão era estranhamente contida, como se ela estivesse mantendo o que ela estava sentindo sob controle.
— Correu tudo bem. — Eu respondi. Ela teve um dia r**m, e eu não conseguia me lembrar de como ela normalmente reagia ao estresse. Se esta era a sua maneira de manter seu temperamento sob controle, eu não iria dizer nada para mudar.
— Já que eu não recebi nenhuma ligação da Sra. Breashears, eu assumi que significava que nada explodiu, e nós não demos a ninguém uma intoxicação alimentar. — Ela me deu um sorriso que não chegou a atingir os olhos. — O que você achou?
Corri a mão pelo meu cabelo. — Hum, não é nada mau, eu acho.
— Vamos. — Jane fez um gesto em direção à porta. — Você pode me contar tudo no caminho de casa.
Nós pegamos um táxi mais fácil do que eu imaginava, e eu passei a curta viagem de volta para o apartamento falando sobre a noite. Ela fez algumas perguntas, mas já parecia saber as respostas. Eu queria acreditar que era porque ela tinha fé suficiente em mim para saber que eu tinha feito um bom trabalho.
Só que não era o tipo de vibração que eu estava recebendo dela. Ela quase parecia... distraída.
Quando andamos em direção ao elevador, eu fiz uma careta. Jane não se distraía. Por nenhum motivo. Ela era uma maníaca por controle, sempre focada em tudo que tinha a ver com trabalho. Ela tinha um foco quase obsessivo. Eu sabia e compreendia isso, porque também era da mesma forma em alguns aspectos.
Então, eu não tinha certeza do que estava acontecendo com ela.
Antes que pudesse perguntar, no entanto, Jane mudou de assunto.
— O que é isso que você está mexendo desde que entrou no táxi? — Ela perguntou quando acendeu a luz principal.
Eu não entendi a sua pergunta no início, mas depois ela fez um gesto para a minha mão e vi que ainda estava segurando o cartão do Apollo.
— Oh, isso. — Eu mostrei a ela. — Ele estava na festa e me ofereceu um emprego.
Jane pegou o cartão e vi a mudança no seu rosto enquanto ela lia.
— Apollo Hendrix. — O nome saiu plano.
— Eu acredito que sim. — Eu disse, dando-lhe um olhar curioso. — Ele não se apresentou.
— Mas ofereceu um emprego.
— Sim. — Eu quase pedi o cartão de volta, mas não tinha certeza de como ela reagiria. — Mas não permanente. Pensei em falar sobre isso com você, ver se você tem qualquer outra pessoa que queria testar na posição de gerente. Sabe, alguém que não seja sua irmãzinha.
Jane franziu a testa. — Do que você está falando?
— Eu acho que Kimberly pode ter pensado que ela seria sua gerente e...
— Não acho que... — Ela me cortou. — Quero dizer, por que você acha que ele estava oferecendo um emprego temporário?
— Porque ele disse que era. — Eu cruzei os braços, estreitando os olhos. — O que está acontecendo?
— Apollo Hendrix não é boa peça. — Disse ela. — Isso é o que está acontecendo. — Ela jogou o cartão no lixo. — Fique longe dele.
Olhei para ela enquanto ela caminhava até a geladeira e pegava uma cerveja. Quando ela entrou na sala, peguei uma garrafa de água e me juntei a ela.
— Por quê? — Sentei-me em frente a ela. — Por que seria tão r**m trabalhar para esse cara?
— Deixa para lá, Jessica.
Eu podia ouvir a advertência em sua voz, mas isso só me deixou mais curiosa. Jane tinha ido para a faculdade quando eu era muito nova e as vezes em que ela esteve em casa, nunca policiou meus namorados. Praticamente o único conselho de namoro que ela já me deu foi para sair apenas com pessoas inteligentes.
— Eu sou adulta, Jane. Você vai ter que fazer melhor do que isso. — Eu tomei um gole da minha água.
Seus olhos se estreitaram.
— Eu acho que você poderia apenas aceitar minha palavra sobre ele.
Eu balancei minha cabeça. — Não. Ele foi perfeitamente educado comigo e você está agindo como se ele fosse me levar para um quarto escuro e me amarrar.
Para minha surpresa, ela riu. Um daqueles risos que te pega quando você está desprevenida. A tensão pareceu aliviar um pouco.
— O que exatamente ele disse a você? — Ela tomou outro gole de cerveja.
Talvez fosse o álcool em vez do riso que tivesse melhorado sua cara.
— Eu já disse.
Ela balançou a cabeça.
— Não, quero dizer exatamente. Que palavras ele usou?
Agora foi a minha vez de rir.
— Sério, Jane? Você vai fazer alguma psicanálise com sua escolha de palavras?
— Sou sua irmã mais velha, querida.
Suspirei e inclinei a cabeça para trás, fechando os olhos.
— Ele veio até mim e me disse que queria fazer uma experiência comigo para saber se eu seria uma boa subordinada. Ou melhor, ele disse submissa. Acredito que foi essa a palavra que ele usou.
Pensei rapidamente no que dizer a ela, já que minha irmã me olhou como eu tivesse criado uma segunda cabeça. Ela poderia muito bem estar pensando que eu fiz alguma coisa errada durante a noite que fez Apollo achar que eu não posso responder a alguém.
— Eu juro, Jane. O trabalho correu bem, eu não sei por que ele disse isso e...
— Merda. — Jane murmurou, me cortando. — Ele disse submissa mesmo? Não trabalho temporário? Você tem certeza?
— Sim. — Eu fiquei momentaneamente confusa. — Tenho certeza.
Ela passou a mão pelo cabelo em um gesto estranhamente parecido com os meus.
— Ele te chamou pelo primeiro nome?
Que diabos?
— Não. Ele me chamou de Senhorita Hunter. Como todos os outros.
— E quantas pessoas pensaram que você fosse eu?
Eu me inclinei para frente, com decepção. Era isso? Jane estava me falando para ficar longe do Apollo porque ela não ficou algum dia? Ou ele me chamou para um trabalho porque pensou que era ela? Talvez ele estivesse atrás dela, afinal.
— O que há entre você e Apollo Hendrix? — Perguntei.
— Nada. — Disse ela. — Eu nunca o conheci pessoalmente.
Merda.
— Ele pensou que eu fosse você. — Eu afundei de volta.
Era isso mesmo. Apollo não me queria. Ele queria a Jane. Mesmo que fosse apenas para um trabalho, isso doía.
— Eu acho que sim. — Jane concordou. — Então, fique longe dele.
Ficamos em silêncio por um minuto, mas havia algo ainda me incomodando, e eu não podia deixar para lá.
— Por que ele acha que você gostaria de trabalhar para ele? Quer dizer, o restaurante está indo bem, não é? Sabe, por mais que ele tenha dito que era algo temporário, acho que no fundo ele quisesse que fosse permanente.
— Deixa para lá, Jessica.
Ela parecia irritada, mas isso não me impediu de continuar.
— O que está acontecendo, Jane? Você vem planejando este evento há semanas, em seguida, alguns problemas com o carro te impedem de chegar à festa. Então um cara gostoso me dá o seu cartão de visita e me oferece um trabalho e...
— Ele não estava oferecendo um emprego. — Ela me cortou. — Você é muito ingênua, pelo amor de Deus. O tipo de subordinação ou submissão do qual ele falou não foi para um maldito emprego, Jess.
— O que você está falando? — Eu comecei a expor sobre a minha pergunta. — O que você acha que era... oh... oh meu Deus. — A verdade me atingiu e eu corei como um pimentão.
— Sim, Jessica, ligou os pontos agora? — Jane me deu um sorriso sarcástico.
Sério isso? Eu não sei muito sobre esse mundo, mas eu deveria ter me ligado.
— Ele estava... me propondo isso?
— Bem, na verdade... me propondo, mas sim. — Jane deu de ombros.
— p***a. — Eu respirei.
Desta vez, suas palavras foram registradas pelo meu cérebro.
— Espere um minuto. — Minha mente girou, conectando mais pontos do que ela provavelmente queria que eu conectasse. — Por que Apollo Hendrix iria te pedir para ser sua... submissa?
Eu esperava que estivesse entendendo as coisas corretamente agora. Eu tinha um conhecimento limitado do que a palavra submissa significava nesse sentido, graças aos meus amigos nerds da faculdade que eram mais obcecados com jogos do que com qualquer coisa meramente s****l, mas tinha algum conhecimento e não imaginava a Jane fazendo isso.
Jane suspirou. — Você é como um cão com uma p***a de osso. — Ela esfregou a testa. — Você nunca vai esquecer isso, não é?
Eu sorri para ela, apreciando seu desconforto. — Não.
— Droga. — Ela se mudou desconfortavelmente em seu assento. — Eu realmente não queria ter essa conversa com ninguém da nossa família. — Ela me deu um olhar irônico. — Embora eu suponho que, se tem que ser alguém, melhor você do que qualquer um deles.
Senti meus olhos se arregalarem. Onde diabos essa conversa iria?
— Eu imaginava que dizer aos nossos pais que eu sairia de casa era o bastante para eles suportarem. Jamais diria algo pior, tipo que sua filha gosta de relações b**m.
Meu queixo caiu. O que...? Eu não poderia nem mesmo começar a perguntar a ela. Meu cérebro ainda estava tentando absorver o fato de a minha irmã mais velha fazer parte do mundo b**m.
Jane riu, então bebeu o resto de sua cerveja.
— Vou precisar de algo mais forte se vamos terminar essa conversa. Quer algo?
Eu balancei a cabeça, incapaz de falar. Eu não sabia os detalhes sobre o que estávamos prestes a discutir, mas eu tinha a sensação de que precisaria estar um pouco bêbada para ouvir.
***
Eu estava errada. Eu precisava estar mais do que apenas um pouco bêbada.
— Deixe-me ver se eu entendi isso. — Eu pressionei meus dedos nas minhas têmporas e tentei resumir o que Jane tinha passado a última hora explicando. — Você faz parte de tudo no b**m? — Eu enumerei as letras em meus dedos. — Bondage, Disciplina / Dominação, Submissão / Sadismo, Masoquismo?
Jane assentiu. Ela ainda parecia um pouco tonta, mas havia uma preocupação em seus olhos agora. Ela estava me observando com cautela, como se estivesse preocupada que eu fosse sair gritando isso por aí.
— E você é uma Dominante, o que basicamente significa que você gosta de mandar nas pessoas ao seu redor? — Ela olhou para mim. — Então, quando Apollo Hendrix falou sobre submissão, ele queria dizer... sexualmente?
— Mais ou menos. — Sua voz estava seca. — Nem sempre as coisas no b**m são sexuais.
Meu estômago apertou e um arrepio de algo que não era exatamente desagradável passou por mim. Então eu me lembrei que Apollo não me queria. Ele queria a Jane.
Eu fiz uma careta, confusa quando um pensamento me ocorreu.
— Se você é uma dominante, por que Apollo pediria para ser submissa? Eu não acho que funcione dessa maneira.
— Para algumas pessoas sim. — Disse ela, colocando a garrafa vazia sobre a mesa à sua frente. — Mas eu não sou uma dessas. E pelo que eu pude perceber, nem o Apollo. Eu acho que ele só queria um desafio.
— Hum-hum. — Minha cabeça parecia que estava prestes a explodir com imagens, pensamentos e perguntas. Apesar do meu choque, no entanto, eu não poderia negar a pequena centelha de interesse dentro de mim que me fazia querer saber mais sobre isso.
— Então, como vão ser as coisas agora, Jessica? — Perguntou Jane. — Você vai correr de volta para casa? Voltar para a segurança da mamãe e do papai?
Eu balancei minha cabeça.
— Não, eu não vou voltar. Mas há algo que eu quero te pedir.
Ela levantou uma sobrancelha. — Sim?
Eu encarei seu olhar. — Eu quero conhecer o seu mundo.