—Deixe-me ver se eu entendi. — Disse Kimberly, com a boca torcida em uma careta. — Os freios do caminhão não funcionaram bem, Jane não pode chegar aqui com as peças centrais, e ela quer que você faça o trabalho dela quando só está aqui há uma semana?
Eu dei de ombros e resisti ao impulso de olhar para ela com a carranca que eu queria. Isso não seria muito produtivo. Mas eu era esperta e conhecendo um pouco a sua personalidade, sabia o que dizer.
— Não sozinha, é claro. Ela disse para você me ajudar já que conhece bem o trabalho.
Eu poderia dizer que ela realmente não gostava da ideia de me "ajudar", mas as minhas palavras a amoleceram o suficiente para aliviar um pouco a tensão. Talvez, pensei, não fosse com a Jane que Kimberly tinha um problema. Talvez fosse comigo. Talvez ela sentisse como se eu estivesse tomando um lugar que deveria ser dela. Eu não sei por que ela não tinha tentado conseguir o cargo de gerente de negócios do restaurante, talvez ela pensasse que estava automaticamente no comando quando Jane não estava por perto, mas de qualquer forma, a minha chegada e a minha ocupação como gerente poderia estar criando um problema entre nós.
Mas nesse momento, eu empurrei tudo para fora da minha cabeça. Eu não tinha tempo para pensar em nada disso agora. Eu tinha trabalho a fazer, e se Deus quisesse, ele me deixaria longe dos meus problemas por um tempo. Tudo o que eu precisava seguir eram as instruções da Jane e o fichário que ela me deu.
Felizmente, as suas instruções eram muito satisfatórias.
— Senhorita Hunter. — A anfitriã da festa, uma mulher imponente com aparência de uns cinquenta anos, se aproximou de mim. — Eu ainda não vi sua irmã aqui.
Eu dei à Sra. Breashears um sorriso confiante.
— Eu posso garantir que ao falar comigo hoje, estará falando com ela. — Eu olhei para Kimberly, esperando que ela acrescentasse algo. Quando ela não fez isso, eu continuei: — Existe algo que eu possa fazer por você, Sra. Breashears?
— Nada por enquanto, querida. — Ela me deu um sorriso caloroso. — Eu só queria dizer a ela como tudo está incrível.
— Vou transmitir isso a ela. — Eu disse. Olhei para o fichário em minhas mãos. — Se você me der licença...
— É claro. — Disse ela. — Tenho certeza de que a outra senhorita Hunter está bastante ocupada também.
Dei-lhe outro sorriso, esperando que eu estivesse fazendo tudo certo. Eu sabia que havia um milhão de coisas que precisavam ser feitas. Eu só tinha que descobrir o melhor lugar para começar. Tinha certeza que havia uma programação na pasta, mas eu estava com os nervos à flor da pele. Então precisava de um momento.
De repente, vi um meio de fuga.
— Eu vou ao banheiro. — Eu disse de repente. — Eu volto já.
Não esperei que Kimberly me respondesse, e entrei na porta à minha direita. Fechei a porta atrás de mim e recostei-me contra ela. Fechei os olhos e me obriguei a tomar várias respirações profundas.
Eu poderia fazer isso. Eu me formei com honras, entre os cinco primeiros da minha classe. Eu poderia lidar com isso.
Além disso, Jane não teria confiado em mim se não achasse que eu dava conta. Ela teria me pedido para trocar de lugar com ela, voltando ao carro para esperar pelo reboque, ou então teria colocado outra pessoa no comando deste barco.
Minha irmã acreditava em mim, e eu tinha que ter a maldita certeza de que não ira despontá-la.
Exalei novamente com força e abri os olhos. Coloquei a pasta na pia e olhei para mim mesma no espelho. Isso não estava acontecendo como eu queria, mas as coisas já estavam em movimento e eu não podia parar. Era hora da prova.
Quando saí do banheiro alguns minutos depois, Kimberly estava ali de pé, com o rosto branco, mas com seu pé batendo no piso caro de mármore.
— Tudo bem. — Eu disse. — Vamos fazer isso.
***
Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de como as horas tinham se passado tão rápido. Em um momento, eu estava dando instruções a Kimberly, que ela claramente não desejava seguir, e no outro, eu estava vendo os empregados limparem pratos vazios e ouvindo todos falando sobre como a comida estava maravilhosa.
— E eles sequer provaram a sobremesa. — Eu murmurei.
— Desculpe, o que disse? — Kimberly falou perto de mim.
— Nada. — Eu disse, e dei um sorriso apertado. — Apenas grata porque as coisas foram muito bem.
— Foram sim. — Ela admitiu. — Jane vai ficar satisfeita.
— Obrigado. — Eu disse. Pelo menos eu poderia ser honesta sobre isso. — Você me ajudou muito hoje à noite. Eu não poderia ter feito isso sem você.
Eu podia ver a guerra no rosto da Kimberly. Parte dela queria aceitar graciosamente, e eu esperava que fosse porque ela podia ver que minha gratidão era sincera. Outra parte dela, eu tinha certeza, queria me dizer para ir me f***r porque enquanto eu não poderia ter feito isso sem ela, ela poderia ter feito facilmente sem mim.
Ela andou até um dos carros.
— A noite não acabou. Ainda temos muito que fazer.
Ela estava certa. Mesmo que os pratos principais já tivessem sido servidos, ainda faltavam as sobremesas e as bebidas para monitorar o tempo todo. Faltava limpar tudo e deixar a cozinha da grande casa totalmente imaculada, tão limpa como tínhamos encontrado, ou até mais. Mas eu, felizmente, não precisava me preocupar muito com isso. Os empregados da Jane eram incríveis.
— Eu vou descansar os pés por um minuto. — Eu dei a Kimberly um sorriso educado. — Se você pudesse manter as coisas em linha por aqui, eu apreciaria.
Ela assentiu com a cabeça e voltou para a cozinha. Eu quase me senti m*l por deixar os empregados por um tempinho, mas não podia negar que estava feliz em tirar um intervalo. Meus nervos ainda estavam agitados, mas tinham aliviado enquanto eu fingia ser a Jane em seu modo de agir.
Quando saí para a sala principal, admiti que um pouco da minha ansiedade era pelo olhar atento constante de Kimberly.
— Senhorita Hunter. — Um senhor mais velho e bonito, com cabelos prateados surgiu, com um sorriso satisfeito no rosto. — É tão bom ver você de novo.
Mais uma vez? Levei um momento para perceber que ele estava me confundindo com Jane. Ela e eu éramos realmente parecidas, mas eu não achava que fôssemos tanto, ao ponto de sermos confundidas. Talvez o álcool no sangue desse senhor fosse a explicação.
Eu abri minha boca para lhe dizer que eu não era Jane, mas de repente me lembrei do que Jane tinha dito sobre este negócio. Se eu o corrigisse e ele pedisse para falar com a minha irmã, eu teria que admitir que ela não estava aqui e isso poderia ser m*l interpretado. Com a Sra. Breashears foi diferente. Ela era a contratante e sabia que se Jane não estava aqui era por algum motivo compreensível. Não sabia o que esse homem pensaria.
— É bom ver você também. — Eu apertei sua mão estendida. — Espero que tudo o tenha agradado esta noite.
— Bastante. — Ele deu um aperto de mão amigável antes de soltar minha mão. —Tenha uma noite maravilhosa.
— Você também. — Eu continuei sorrindo mesmo quando ele se afastou.
Eu só esperava que ele não falasse com ninguém que realmente saberia que eu não era Jane. Andei em torno do perímetro da sala, dando acenos e sorrisos para quem olhava para mim, tentando parecer ocupada demais para parar e falar com qualquer um. Felizmente, as pessoas acharam que eu realmente era minha irmã, e os que não caíram nessa, pareceram entender que ela tinha me enviado em seu lugar porque estava em outro lugar ocupada.
Eu estava terminando de fazer um círculo completo quando alguém entrou no meu caminho. Parei abruptamente, quase tropeçando, mas uma mão me pegou pelo cotovelo, me firmando no chão. O calor me inundou, tanto de constrangimento na quase colisão como pelo toque do estranho.
Eu olhei para um homem vários centímetros mais alto que eu e encontrei um par de olhos cinza ardósia. Ele tinha um rosto de beleza clássica, com a combinação certa de bonito e robusto, com um queixo forte e apenas um traço de barba tão bela que era quase invisível. Seu cabelo era meio loiro meio castanho, não soube dizer, do tipo que eu imediatamente associei a praias e surfistas. O smoking caro que ele usava, no entanto, era muito elegante e não tinha nada a ver com quem curte pegar ondas por aí.
— Sinto muito. — Disse ele com a voz baixa. — Eu não queria assustá-la.
Eu quis dar um passo adiante, deixar sua mão envolver minha cintura e me jogar em cima dele. Mas ao invés disso, e de forma muito mais sensata, eu me afastei.
— Eu estava distraída. — Eu disse com a boca seca. — Tentando me certificar de que tudo está perfeito.
Ele sorriu e uma covinha apareceu em sua bochecha. É claro que ele tinha uma covinha também. Tinha que ter. Mas que p***a, ele era lindo demais.
— Eu não esperaria nada menos, senhorita Hunter. Esta empresa tem uma boa reputação a defender.
Eu balancei a cabeça e tentei pensar em algo que não me faria soar como uma i****a. Felizmente, ele me impediu de precisar falar.
— Reputação significa muito para mim. — Ele enfiou a mão no bolso e tirou um cartão de visita. — Eu tenho uma proposta de experiência para você. — Ele estendeu a mão, e eu automaticamente estendi a minha para pegar o seu cartão. — Uma experiência para saber se você pode ser... bem... digamos, submissa.
Eu olhei para ele com descrença. Ele acha que eu não posso seguir ordens? Por acaso ele acha que eu estou aqui e não estou cumprindo meu dever? Eu sou subordinada à minha irmã, ora essa. Eu posso ser uma ótima submissa.
Ao ver minha cara, ele riu e ficou absurdamente mais bonito.
— Pelo menos considere. Poderia ser muito benéfico para você.

Fiquei olhando enquanto ele se afastava, tentando imaginar do que ele estava falando. Seria possível que aquele homem maravilhoso de ombros largos e corpo musculoso, usando um smoking com um corte perfeito tivesse me oferecido um emprego?
Eu olhei para o cartão. Apollo Hendrix. Havia um número de telefone e um endereço de e-mail, mas nada que explicasse quem era esse homem ou o que ele estava me oferecendo. Ou por que no mundo ele iria até uma pessoa aleatória e ofereceria um trabalho com ele. A menos que essa fosse a forma como as coisas eram feitas aqui.
Talvez ele tivesse falado com Kimberly e ela tivesse mencionado que eu só estava nessa posição de gerente de negócios da Jane temporariamente. Isso fazia sentido de alguma forma, especialmente se Kimberly, realmente, queria este trabalho. O que não fazia sentido era que um homem tão bonito e rico quisesse ter uma gerente de negócios que m*l tinha largado a faculdade. Mas, ele disse que era uma proposta de experiência, certo? Talvez ele soubesse que eu era uma recém-formada, afinal, só porque ele parecia ser podre de rico, não significava que deixasse as coisas nas mãos dos outros, levianamente.
Um ruído vindo da cozinha me fez sacudir a cabeça, lembrando-me da verdadeira razão de eu estar aqui. Não era para receber ofertas de emprego de homens bonitos. Eu já tinha um trabalho, e agora, isso significava descobrir o que aconteceu na cozinha.
Eu pensaria sobre Apollo Hendrix mais tarde.
Talvez, enquanto saboreasse um copo de vinho e um banho quente. Ele era lindo demais para não pensar nele enquanto estivesse nua.
Mas esse não era o momento para isso.
Corri para a cozinha, esperando que minha sorte não tivesse acabado e que não tivesse acontecido nada demais por ali.