SAMUEL ADAMS
— Eu estou tentando resolver um problema e não causar um! — O homem responde ainda furioso. Eu olho a mulher, agora ao meu lado, ela está com uma mistura de surpresa e vergonha no olhar.
— Eu estou indo naquele restaurante ali na frente — aponto para um renomado restaurante que fica do outro lado da rua —, eu reservei um espaço privado para almoçar com um cliente, mas infelizmente ele teve um imprevisto e não poderá comparecer. Então o que acham de me acompanhar em um almoço? A propósito, eu sou Samuel Miller — me apresento estendendo a mão para o homem.
— Samuel Miller? — Me encara já mudando a expressão — Muito prazer, eu sou Flávio Santiago — aperta minha mão e já vejo um meio sorriso de satisfação surgir no seu rosto.
— Isso mesmo. Então, vamos? — Retribuo o sorriso e olho a mulher que permanece com a mesma expressão — Vai me dar a honra da sua companhia, Jules?
— É… Eu sin…
— Por favor! — Interrompo-a antes que ela recuse — Você não vai me fazer essa desfeita, não mesmo? — Sorrio e já vou logo segurando sua cintura para não dar espaço para ela recusar.
A verdade é que a coincidência de vê-la aqui e presenciar essa discussão foi uma sorte que eu não posso desperdiçar. Eu passei a última semana pensando em uma forma de oferecer minha ajuda a ela. Eu quero usar algo que não dê tanto na cara e que ela não recuse tão facilmente. Sim, porque seria no mínimo estranho um empresário experiente como eu oferecer ajuda financeira a uma empresa prestes a falir. Eu acho que posso fazer uma doação mais generosa às instituições que ajudo esse mês, pois estou sendo muito agraciado com boa sorte ultimamente. Eu não menti sobre o encontro cancelado, eu realmente tinha um almoço de negócios e o homem ligou cancelando pois a esposa entrou em trabalho de parto. E justamente quando eu estava indo embora acabei vendo a Jules e o homem discutindo. Foi bastante prazeroso ver ela sendo esculachada, mas como eu já esperava, a mulher tem uma arrogância inabalável, ela não abaixou aquele nariz empinado.
— Então vocês dois se conhecem? — O homem pergunta enquanto caminhamos até o restaurante.
— Sim, somos amigos — Respondi com um sorriso. Eu e o homem vamos falando, enquanto a Jules permanece calada. Calada e desconfortável.
— Senhor Samuel, bom dia. Por aqui, por favor — o recepcionista nos recebe na porta e nos leva até a sala.
O garçom chega assim que nos acomodamos em nossos lugares. Escolhemos a bebida e as entradas e ele sai depois de servir nossas taças. Enquanto eu e o homem trocamos algumas palavras, a Jules apenas balança a cabeça negando ou concordando em alguns momentos. Ela está tensa e parece realmente desconfortável na minha presença diante da situação que presenciei, e isso é muito bom, com certeza vou usar esse desconforto a meu favor.
— Então Jules, já pensou na proposta que te fiz no jantar? — Pergunto voltando minha atenção pra ela.
— Ahn? — Me olha confusa — Proposta? Qual proposta?
— De fazermos negócios, ora. Eu não estava brincando quando disse que podemos fazer uma conexão.
— O senhor está falando sério? — O homem a interrompe antes que ela responda — senhor Samuel, acho bom o senhor repensar sobre isso. Essa mulher está à beira da falência e acaba de me dar um prejuízo milionário.
Assim que o homem termina suas palavras, a Jules solta o talher no prato com força fazendo o barulho ecoar alto pela sala. Suas bochechas estão vermelhas agora, só não sei se é de vergonha ou raiva. Se bem que olhando pela sua reação, deve ser de raiva.
— O senhor vai realmente continuar com esse show, senhor Flávio? — Pergunta encarando o homem.
— Show? Senhorita Jules, a única coisa que estou fazendo é cobrar o que é meu, nada mais. Eu investi duzentos milhões de reais em um apartamento com a sua empresa, e no entanto a obra nunca será finalizada. Estou errado? — O homem responde deixando-a mais vermelha ainda.
— Nós já discutimos isso na reunião, e o senhor não discordou do que foi combinado lá. Estou errada! — Ela responde ainda com a cabeça erguida.
— Eu seria voto perdido. A senhorita com esse rostinho bonito e palavras doces conseguiu fazer aqueles idiotas concordarem.
— Por favor, vamos ficar calmos, ok? — Digo e os dois param. — Por que não fazemos assim? Eu tenho os seus duzentos milhões e posso fazer a transferência para o senhor amanhã, o que acha? — Assim que termino minhas palavras, os olhos do homem brilham.
— Claro que sim. Isso seria ótimo, senhor Samuel. Mas porque o senhor vai ajudá-la? — Pergunta me olhando com confusão.
— Não que isso interesse ao senhor, mas como eu disse anteriormente, eu e a senhorita Jules nos conhecemos. Além do mais, eu tenho interesse em fazer negócios com a Construtora Montez.
— Isso não é necessário, senhor Samuel. Como eu falei, esse assunto foi discutido na reunião e esse senhor aceitou o que foi acordado na pauta. Ele não pode simplesmente mudar. — Ela recusa. Ou pelo menos tenta.
— Não tenho problema nenhum em fazer isso, Jules. O senhor Flávio pode passar na minha empresa amanhã e vamos resolver isso. — Digo passando meu cartão para o homem, que o pegou imediatamente. — Pode me procurar amanhã.
Os próximos minutos passamos falando sobre meus negócios. Eu mudei o foco para não dar a Jules a oportunidade de fugir da minha ajuda. Ela não falou muito, ou melhor, ela não falou nada, apenas comeu e evitou o meu olhar o resto do tempo.
— Foi um prazer conhecê-lo, senhor Samuel. Amanhã eu irei até sua empresa e podemos falar melhor — o homem diz ao se despedir.
— O prazer foi meu, senhor Flávio, lhe aguardo. Agora o senhor pode ir, vou conversar um pouco mais com minha amiga — Digo voltando minha atenção para a mulher que permanece calada e nem ao menos olha para o homem que está saindo.
— Finalmente podemos conversar agora. Está tudo bem com você? — Pergunto assim que ficamos apenas nós dois na sala.
— Desculpe por isso. Olha você não precisa depositar nada pra ele, eu estou resolvendo tudo e ele só está tentando me causar problemas — ela diz enquanto se força a me encarar. Ela está visivelmente constrangida.
— Eu já disse que posso fazer isso. Fica tranquila, esse valor não é difícil pra mim, pelo contrário, é um valor muito pequeno.
— Eu sei que esse valor não é nada pra você, mas eu não posso aceitar que você faça isso. Primeiro porque nós nem nos conhecemos direito, segundo porque eu não tenho como te ressarcir esse valor, pelo menos por enquanto. E eu também não sei porque você está fazendo algo assim pra mim. — Ela está bastante nervosa, tanto que fala as palavras muito rapidamente. Nervosa e mais envergonhada que antes, tanto que abaixa a cabeça para evitar meu olhar.
— Eu estou fazendo isso porque gostei de você, Jules — seguro seu queixo erguendo sua cabeça até nossos olhares se encontrarem novamente — Nós podemos ser amigos, aliás, nós já somos amigos e isso pra mim é motivo suficiente para ajudar alguém a sair de uma situação difícil. Você não acha?
— Samuel, acho que você não está entendendo — suspira — a situação da minha empresa está muito r**m. Aquele homem não mentiu quando disse que estamos à beira da falência, nós estamos realmente. Eu assinei um contrato com uma empresa alguns meses atrás… — Ela me faz um pequeno resumo da história que eu sei de todos os detalhes. Em alguns momentos tenho vontade de rir das expressões de tristeza e desamparo dela.
— Que desgraçado! — Digo fingindo revolta com a atitude do Durval. — Então podemos concluir que basicamente você foi enganada. Provavelmente esse homem já estava com o pé na falência e usou a sua empresa como uma tentativa de não ceder, mas como o projeto era caro demais, ele não deu conta. Esse é só mais um motivo para eu te ajudar. — Digo e ela me olha surpresa.
— Você realmente vai me ajudar mesmo assim? — Pergunta com certa desconfiada.
— Eu vou sim, Jules Montez. — Respondi sorrindo — eu acho que você não é tão inocente a ponto de não notar que eu estou querendo me aproximar de você — sorri ao me ouvir. É óbvio que ela está muito interessada também — Jules, eu sou um homem de negócios. Um homem de negócios muito competente, diga-se de passagem. Eu não conquistei meu império distribuindo dinheiro por aí. Já ouvi muito sobre sua empresa e também fiz minhas pesquisas, eu sei que a Construtora Montez é uma excelente empresa e só precisa de um empurrãozinho para voltar a fazer sucesso. Nós vamos fazer um negócio, tudo bem assim?
— Você está certo disso? Quero dizer, você está mesmo disposto a arriscar? — Pergunta. Apesar de ainda demonstrar receio, agora ela fala com interesse.
— Sim, eu estou disposto.
Como eu disse, a sorte está mesmo a meu favor. Eu achei que fosse dar mais trabalho convencê-la, mas não, ela até que aceitou rápido a minha ajuda.
— Você deveria sorrir sempre, Jules, seu sorriso é muito bonito — Digo depois que saímos do restaurante. Agora que estamos praticamente de acordo quanto a minha ajuda, ela até melhorou sua expressão.
— Obrigada, Samuel. O seu sorriso também é muito bonito — responde ainda sorrindo. A parte boa é que ela não parece ser daquelas mulheres que fingem ser recatadas e difíceis, ela não esconde seu interesse por mim.
— Que bom que você acha isso, Jules. Quando nós concordamos tanto é ótimo, você não acha? — Me aproximo mais um passo ficando a poucos centímetros dela.
— É ótimo sim — responde com a voz baixa enquanto eu tiro uma mecha de cabelo do seu rosto. Eu tenho vontade de rir quando vejo seu nervosismo. Mesmo sendo uma mulher tão segura, ela ainda fica nervosa na minha presença. Estou gostando cada vez mais desse controle que exerço sobre ela.
Continua…