Problemas e mais problemas

2163 Words
JULES MONTEZ — É. Nos encontramos de novo, Samuel Miller — Respondi com um sorriso. O homem na minha frente é a imagem da perfeição e elegância. Ele também está sorrindo e me olha de um jeito que faz todos os pêlos do meu corpo arrepiarem, e pela leve mudança na sua expressão, ele notou isso. — Então, já fez muitos negócios? Como está sendo a sensação de estar em casa novamente? — Pergunto casualmente para tentar disfarçar meu estado. Uma coisa é certa, esse homem me faz perder um pouco o equilíbrio. — Sim, fiz excelentes negócios. E você, Jules Montez, também está fazendo bons negócios recentemente? — Novamente ele diz meu nome daquele jeito…. Sei lá, é um jeito diferente, meio frio. Balanço minha cabeça tirando esses pensamentos da mente, esse deve ser o jeito dele falar. Um homem que se estabeleceu nos Estados Unidos, deve agir como as pessoas de lá, frias, meio distantes. Só estou sendo boba. — Algum problema? — Ele pergunta quando me vê calada e encarando-o. — Não. Eu só estava… estava… — Pensando na resposta? — Ele completa, quando mais uma vez as minhas palavras não saem. O que está acontecendo com você, Jules? Estou parecendo uma adolescente emocionada e sonsa. Sorrio e finalmente digo algo relevante. — É isso. Eu realmente estava pensando em uma resposta que me fizesse parecer menos incompetente — digo sinceramente. Não adianta mentir, a minha provável falência em breve será assunto de domínio público, além do mais, se ele está tão próximo dos Santorini, ele provavelmente já sabe dos problemas da minha empresa. — Nossa quanto pessimismo. Essas palavras tão negativas não devem fazer parte do vocabulário de uma CEO, ainda mais de você que é CEO de uma empresa tão importante quanto a Construtora Montez. — Respondeu, olhando-me. Suas sobrancelhas arqueadas mostram um pouco de surpresa com minha resposta tão direta. — Não é pessimismo, é realidade. Você com certeza já deve ter ouvido algum burburinho sobre meus recentes problemas. Não precisa fingir que ainda me acha uma boa administradora. — Mas eu não fingi, eu realmente acho que você é uma boa administradora, só fez negócio com a pessoa errada — diz enquanto continua me olhando, eu o encaro de volta. Mesmo não acreditando que ele está sendo sincero, eu gosto de ouvir. Eu realmente gosto de saber que ele está tentando levantar minha autoestima. Estou realmente precisando de um pouco de positividade na minha vida, essa última semana foi péssima, em todos os sentidos. A minha empresa está praticamente falida. É, infelizmente eu não estou exagerando na minha desgraça, a situação é realmente muito r**m. Péssima para ser mais exata. Depois que o senhor Durval declarou falência, eu tive um prejuízo de quase novecentos milhões de reais, esse é um valor absurdo e eu não tenho de onde tirar dinheiro para cobrir. Na minha reunião com os acionistas, fui praticamente massacrada, ouvi coisas que eu ainda me sinto m*l só de lembrar " — Por isso o Marcos tinha tanto desprezo por você. Como pode a filha de um empresário tão reconhecido ser tão incompetente e burra? Pior que além de péssima nos negócios, ainda é tão mimada e arrogante que não abre mão do posto para alguém com competência para gerir. Seu pai tinha toda razão de ter vergonha de você! " Essas foram as palavras do Ivan, um dos acionistas, elas ficam sempre voltando à minha mente. O pior é que eu não consegui nem ao menos responder, nem me defendi. Como vou me defender de algo que é verdade? Não tem como, por isso eu só me calei e saí da sala de reuniões. Depois do fracasso na reunião, eu tive mais um quando fui tentar conseguir um empréstimo no banco. Foi bem ridículo da minha parte achar que eu iria conseguir um empréstimo de um valor tão alto sem um avalista de crédito, ou seja, um empresário importante que esteja disposto a me cobrir. Eu não tenho um. Quando eu assumi os negócios, por não ser tão clara e eficaz nas palavras e decisões como o meu pai era, os parceiros que tínhamos acabaram pulando fora do barco. Eu poderia pedir ao Leonardo esse apoio? Sim, poderia, mas eu prefiro que não misturamos as coisas. Pelo menos por enquanto eu não quero pedir a ajuda dele, porque se eu causar prejuízo à eles eu não teria mais coragem de encará-los no futuro. Talvez o Ivan tenha razão, eu sou arrogante demais para abaixar minha cabeça e pedir ajuda. Eu tenho dois meses para reverter a minha situação e pagar parte do dinheiro dos investidores ou eles vão entrar com um processo contra a empresa, e se isso acontecer provavelmente terei que vender todas as minhas ações e algumas propriedades para o processo não ir a juízo. Eu solto um longo suspiro e dessa vez meu sorriso sai forçado. — Agradeço as palavras de incentivo. Vou tentar encontrar as pessoas certas para fazer negócios daqui por diante — digo e ele balança a cabeça concordando. — Se te agradar, podemos fazer negócios. Eu garanto que vou fazer o meu melhor para não ser a pessoa errada — diz sério fazendo meu corpo reagir novamente. Quando fico em silêncio, ele faz uma careta divertida para descontrair. — Eu estou sempre disponível para novas conexões, é sério. — Olha que eu aceito o acordo, hein! É melhor não oferecer muito, negociar com uma empresa como o Grupo Miller é um convite muito tentador. Ele me encara por alguns segundos e esboça um sorriso que me faz salivar de tão tentadora que fica sua boca. — Desculpe interrompê-los, mas nós precisamos da sua análise crítica em uma discussão, Samuel — Leonardo interrompe antes que ele responda o meu comentário. — Prometo devolvê-lo a você depois, Jules. — Diz com certa malícia na voz. Posso dizer? Eu gostei disso. — Então até depois, Jules — o Samuel se acena pra mim e sai acompanhando o Leo. — Eu estou entendendo algo errado, ou parece que está pintando um interesse entre você e o CEO gostosão desde o dia da festa? — A Marina se aproxima assim que os dois se afastam. — Não exagera, Marina. Nós só estamos conversando — digo e ela me encara. — Até parece que eu vou acreditar nisso, não é mesmo? Jules, é nítido que tem interesse nas duas partes, já estão até comentando… — Comentando? — Interrompo-a — Quem está comentando, e o que? — Pergunto. Mesmo tentando disfarçar a minha ansiedade pela resposta, ela me conhece muito bem e sorriu quando percebeu meu estado. — Jules, o cara é o homem do momento, é óbvio que está no centro das atenções e todos viram que assim que ele entrou aqui ele ficou olhando pra você e depois chegou perto. Na festa também foi do mesmo jeito, é óbvio que ele gostou. Já você, eu te conheço muito bem e é visível sua cara de boba quando fala dele, ou quando está com ele. Eu estou tão feliz por você! — Ela comemora. — Calma lá, Marina, não vamos colocar muita expectativa nisso — digo ao pensar em todos os problemas que tenho. — Por que não? Jules, você merece ser feliz, pára de ficar enterrada em um passado que já foi. Esse homem é um deus grego, bilionário e como se tudo isso não fosse suficiente, ele também está caidinho por você. Aproveita mulher! — Diz com aquele jeito empolgado dela. — Como eu disse, não vamos criar muitas expectativas. Nós não sabemos se ele está realmente interessado, esse jeito dele conversar comigo pode ser algo natural dele, ele deve usar com todos. Marina, eu não preciso de mais frustração na minha vida — suspiro. — É melhor deixar as coisas fluírem naturalmente, sem esperar demais — digo e suspiro novamente. Mesmo não querendo admitir, a verdade é que eu realmente estou criando expectativas. Eu não consigo não sentir as reações do meu corpo àquele homem, ele consegue me fazer sentir coisas sem nem mesmo me tocar. Isso é atração, eu sei, o homem é lindo, tem um corpo, rosto e uma postura que faz a gente babar por ele, é difícil passar batido. Com certeza essas coisas que estão acontecendo comigo é devido a falta de contato mais íntimo com o sexo oposto. Falta de um bom sexo como diz minha mãe. Eu estou tão focada nos problemas da empresa no último ano que eu literalmente não tive ninguém, nem mesmo um namorico, e isso deve estar causando essa reação excessiva à presença do Samuel, ele é lindo, charmoso e tem cara de homem com pegada boa, qualquer mulher com o mínimo de libido se sentiria atraída. — Tá vendo! É disso que eu estou falando, você está muito interessada nele, Jules — a Marina diz sorrindo. Eu estou literalmente viajando nos meus pensamentos. — Chega, Marina! Vamos falar de você agora. Como estão as coisas por aqui? — Pergunto e sua expressão muda totalmente, o sorriso deu lugar a uma cara triste e desanimada. — Como sempre, nada mudou, Jules, ainda mais agora que a Lucy está de volta — Suspira. — Eu não sei porque eu tive que me interessar justamente pela pessoa que eu nunca vou poder ter. Ele é meu irmão, caramba! — Ela faz seu pequeno desabafo enquanto caminhamos até a varanda. — Ele é seu irmão adotivo, Marina, não é de sangue. Quando a tia te adotou, você já tinha quinze anos, não deu nem para criar sentimentos de irmão. — Deveria ser simples assim, mas não é. Jules, eu disse o que eu sinto e ele me falou um monte de coisas — sorri triste. — Você disse o que sentia por ele? Quando foi isso? — Pergunto surpresa. Eu a aconselhei muitas vezes a fazer isso, mas nunca imaginei que ela tivesse coragem. — É exatamente isso, eu fui lá e me declarei. Foi na festa, ou melhor depois da festa. Eu bebi algumas taças de vinho, muitas taças de vinho na verdade, eu precisava de coragem. Bom, quando chegamos aqui eu o segui até essa varanda, esse é o lugar favorito dele. Eu me aproximei e me declarei, falei tudo e no final ainda tentei beijá-lo. — E aí, o que aconteceu? Ele pelo menos retribuiu o beijo? — No começo sim, acho que foi mais pelo susto, mas depois ele simplesmente me empurrou e me falou um monte de merda. Eu me senti um lixo. A verdade é que o Leo nunca gostou muito da minha presença aqui. — Calma, Marina, também não exagera. O Leo é muito fechado e meio grosso, mas ele é um cara legal. — Com os outros, não comigo. Mas está tudo bem, eu não quero mais ficar presa a isso, a esse sentimento — suspira profundamente e sorri. — Eu decidi que quero trabalhar por conta própria e vou fazer campanhas publicitárias para outras empresas. Nós ficamos conversando por um longo tempo. Eu gosto de ver as mudanças rápidas de humor e estado de espírito da Marina, ela está cabisbaixa e triste em um momento e menos de dois minutos depois ela está contando toda feliz seus planos para o futuro. Eu a conheci assim que nos mudamos aqui para o Rio de Janeiro, eu estava me recuperando de toda a confusão que aconteceu em São Paulo e estava precisando muito de uma amiga, nossa conexão foi imediata, combinamos em muitas coisas e para completar ela também estava se habituando à nova realidade, ela tinha acabado de ficar órfã… enfim, nos tornamos inseparáveis depois desse tempo. O jantar na casa dos Santorini terminou e eu não conversei mais com o Samuel, ele estava sempre ocupado com um grupo de pessoas. Esses jantares geralmente reúne umas vinte pessoas no mínimo, os Santorini tem um círculo de amizade bem extenso. Não conversamos mais, mas meu olhar sempre se encontrava com o dele uma vez ou outra. [...] — Você acha que pode enganar as pessoas e ficar por isso mesmo? — O homem furioso grita a plenos pulmões. Ele nem ao menos se importa de estarmos em um local público — Eu quero o meu dinheiro e quero agora! — Diz jogando as páginas do contrato no meu rosto. — Eu já falei sobre as providências que estou tomando na reunião, o senhor não ouviu? É surdo por acaso? — Digo em alto e bom som. Eu sei que estou devendo, mas isso não dá a ele o direito de tomar uma atitude dessa, ainda mais quando saímos de uma reunião que ele concordou com os termos. — Você acha que está lidando com um moleque?! — Diz vindo em minha direção. O homem ficou ainda mais furioso depois de me ouvir. — Eu acho melhor o senhor se acalmar se não quiser problemas. — A voz do Samuel interrompe a ação do homem. Continua…
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