“O som do choque da bola no piso era ouvido por toda a quadra, os gritos e o som alto de pessoas falando ao mesmo tempo espalhavam por todo o ambiente. O moreno de 17 anos corria quicando a bola de basquete no chão, passou pela defesa do time adversário e lançou a bola que caiu certeira na cesta, marcando o ponto da vitória. Ao mesmo tempo em que o relógio marcava o tempo que faltava para o jogo acabar, zerava.
O grito da torcida soou alto na quadra, o time abraçava o capital que havia marcado a cesta que os levaram as finais do campeonato interescolar. Lian puxava o amigo da aglomeração rodeando o braço no pescoço do Cassano.
— É isso aí . O que acha de irmos comemorar com as garotas? — perguntou Lian com um sorrisinho malicioso. O loiro também fazia parte do time de basquete do colégio Tokio School.
— Parabéns pelo jogo garotos. — escutaram a voz melodiosa e doce atrás de ambos. Olharam para trás e viram a morena de olhos perolados que usava as habituais camiseta regata branca rente ao corpo e com as iniciais UHS (Unbreadge High School) na frente, a sainha de pregas e rodadinha vermelha curta e a bota de cano longo vermelha e a meia branca, roupa habitual das líderes de torcida.
— Narin! — exclamou o loiro alegremente soltando—se de Stevie e indo até Narin a agarrando e a beijando. Desde o início do ano letivo que os dois namoravam.
— Parabéns Stevie pela cesta da vitória. — falou sorrindo meigamente para o moreno abraçada ao loiro.
— Obrigado. — foi a única coisa que disse vendo Narin se distanciar abraçada com Lian. Sabia que a Nocfel era namorada de seu melhor amigo, sabia que não era certo amá—la como ele amava, estava praticamente traindo sua amizade com Lian. Lembrava de sua surpresa quando chegou ao colégio no primeiro dia letivo do 2ºano e recebeu a notícia do namoro entre a Nocfel e o Carter. Realmente sentiu seu mundo ir ao chão literalmente naquele momento.
Quantas vezes não havia desejado que fosse a ele que Narin esperasse sempre com um sorriso nos lábios ao fim dos jogos e da aula. Que fosse a ele que ela beijasse suavemente sempre que chegasse a classe. Já havia tentado esquecê—la ficando com outras garotas, mas nunca funcionava, pois sempre se frustrava ao pensar na dona de olhos perolados enquanto estava com as outras.
Mas iria guardar aquele sentimento dentro de si a sete chaves, Narin nunca ficaria sabendo de seu amor. Era o melhor a se fazer, não queria estragar o namoro que ela tanto prezava com Lian e o fizesse acabar por uma coisa tão insignificante. Em primeiro lugar vinha a felicidade de Narin, mesmo que não fosse ao seu lado.”
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Alguns anos depois.
Andava vagarosamente pela multidão de pessoas que desembarcavam ali no aeroporto. Arrastava a bolsa preta de carrinho pelo piso frio, depois de sete anos fora, finalmente retornava para o Japão, seu país natal.
O elegante moreno alto de cabelos negros arrepiados chamava a atenção por onde passava com sua beleza e porte. Usava uma calça preta e o casaco também preto já que estavam num inverno intenso ali em Tokio. Era um homem bonito e atraente, era sempre assim, qualquer lugar que chegava chamava a atenção, principalmente da população feminina. Os olhos ônix escondidos pelos óculos escuros escanearam o local até que encontrou o que procurava, uma cabeleira loira e uma mão que acenava freneticamente a frente. Podia não gostar muito do jeito espontâneo e escandaloso do amigo, mas realmente gostava da companhia e da amizade do Carter.
— Há quanto tempo ! — exclamou Lian assim que o moreno chegou ao seu lado.
— Oi Lian. — cumprimentou de forma polida e com seu habitual semblante sério e apático de sempre retirando os óculos.
O loiro estava afoito e muito feliz com a volta do amigo de infância que vivia na Europa. É verdade que nunca concordou pelo modo que ele decidiu viajar, não concordava com as atitudes que ele tomou no passado e nunca concordaria. Mas Stevie era seu melhor amigo e mesmo já tendo cometido várias burradas na vida, sempre estaria ao seu lado o apoiando.
— Sinto muito pela morte de seu pai. — falou o loiro, sabia que esse foi o principal motivo para o retorno do amigo. Ficar ao lado da mãe que tanto precisava da sua companhia e assumir as Empresas Cassano, já que não poderiam contar muito com Sander para esse cargo.
— Já passou, tem um mês da morte dele, já deu para superar. — falou num timbre apático caminhando até o estacionamento. Nolan Cassano também não faria tanta falta para ele, nunca foi alguém presente na sua vida ou na do irmão. Ele praticamente nunca ligou para os filhos ou esposa, sempre foi um homem em que os negócios vinham em primeiro lugar — Vamos embora. — falou chegando ao estacionamento.
— Ah cara, a Victoria assim que ficou sabendo que você estava voltando não pára de me ligar. Tenho certeza que ela vai te procurar. — comentou Lian mudando de assunto e chegando ao lado de seu carro e abrindo a porta do passageiro para Stevie entrar.
— Victoria que se dane, não tenho tempo para ela. Primeiro tenho que me estabelecer no meu antigo apartamento e amanhã mesmo me apresentarei na Empresa. — falou o Cassano não dando a mínima para a história de Victoria o procurar. Nunca se importou com a Strider, apenas ficou com ela alguns dias, num momento difícil de sua vida, ela serviu apenas como um setup na sua vida. Lembrava que havia iniciado este "caso" com a rosada um dia depois do acontecido com Narin, precisava liberar toda a tensão que acumulava em seu corpo e Victoria apareceu em sua porta toda solidária e compreensiva, então foi com ela mesmo. Mas o que teve com ela nunca significou nada para ele, pois Victoria nunca passou de uma irritante escandalosa para ele.
— Estou até vendo você no meio daquele monte de modelos, uma mais linda que a outra. — ouviu a voz do loiro ao seu lado que já ligava a ignição do carro.
O Cassano apenas ignorou o comentário do amigo. As Empresas Cassano era uma agência de modelos conhecida internacionalmente, onde ele era encarregado de caçar mulheres com belezas exóticas e atraentes. Mas realmente não estava indo para flertar mulheres, estava indo para trabalhar. Já tinha problemas demais para ter que lidar com mais mulheres, esse trabalho preferia deixar para Sander.
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DIAS DE HOJE
Um novo dia amanheceu em Tokio, o clima frio continuava com força total. Já estava pronto para ir trabalhar. Havia tido um dia corrido ontem, mas hoje já estava pronto para a sua nova vida. Saiu do apartamento de luxo e pegou seu carro no estacionamento, seguindo direto para as Empresas Cassano.
Alguns minutos depois chegou ao grande prédio, morava próximo, por isso que não demorou tanto. Percebeu que o prédio continuava o mesmo de quando ia lá mais novo, adentrou e subiu o elevador chegando ao andar onde seria sua sala. Viu que a secretária ainda não havia chegado, então passou direto pela mesa que estava uma completa bagunça e seguiu para a sala.
"Estou vendo que essa secretária deve ser uma incompetente. Pelo visto terei que contratar uma que presta rapidinho." — pensou maldosamente vendo a bagunça que era a mesa da secretária. Achava impossível alguém conseguir trabalhar ali.
Fechou a porta atrás de si e olhou tudo ao redor. Era um escritório fino e sério, como Nolan gostava. De frente a porta tinha uma mesa com o computador, um sofá de couro encostado ao canto da parede e no lado esquerdo tinha uma porta que devia ser o banheiro. Foi até a mesa e sentou-se na cadeira confortável e também de couro, girou—a e observou a imensa janela atrás de si, dali tinha uma visão privilegiada de uma grande parte de Tokio. Lá embaixo observava as pessoas e os carros começarem a ocupar as ruas dando início a mais um tempestuoso dia de correria.
— Então era verdade que era você que iria assumir a Empresa depois que Nolan faleceu. Não acredito que você irá ser meu chefe! — falou a voz feminina e brincalhona que acabava de entrar no escritório.
O Cassano virou-se novamente e fitou a dona da voz e reconheceu de imediato os longos cabelos loiros brilhantes, os olhos azuis e o sorriso cativante.
— Clarice Lucile! — falou o moreno reconhecendo a antiga colega de escola — Você por acaso é a minha secretária? — perguntou com a sobrancelha arqueada. Conhecia a loira desde a época do colegial, eram amigos, quer dizer, era a melhor amiga de Narin, então acabou fazendo amizade com a loira também por influência de Narin Nocfel.
— Oi Stevie, há quanto tempo! E serei sim sua secretaria de hoje em diante. — falou a loira sorrindo e se aproximando da mesa — É estranho ver você de novo depois de tudo o que aconteceu. — falou adquirindo uma expressão séria.
— Não começa Clarice, não quero saber nada desse assunto. — cortou o Cassano rapidamente, percebia sobre o que ela estava se referindo.
Arregalou os olhos levemente com tanta frieza — "Pelo visto continua a mesma coisa, tão lindo e tão frio." — pensou consigo mesma.
— Está bem, não vou dizer mais nada e também esse assunto não é da minha conta. — falou a loira dando o assunto por encerrado — Mas e aí, tem algum trabalho para mim chefinho? — perguntou irônica.
— Por enquanto não, apenas me traga o relatório completo do mês, preciso me situar da empresa. — houve uma pausa — E pode parar de ficar me chamando de chefinho, isso me irrita. — completou áspero.
— Está bem... chefinho. — não conseguiu conter a brincadeira e logo saiu da sala ao receber o olhar mortal de Stevie.
Ficou lá pensando no que Clarice queria dizer, sabia que estava se referindo a Narin. Por dentro queria perguntar como a Nocfel estava, realmente os anos passaram rápido, sete anos sem a ver ou saber qualquer notícia. Lembrou do filho ou filha que ela carregava em seu ventre, sabia que hoje a criança deveria estar com 6 anos. Percebeu que não sabia nem o sexo do próprio filho, mas era melhor assim. Não queria criar laços com ninguém, havia tomado sua decisão há anos atrás, havia decidido tirar Narin e o filho de sua vida. Então não tinha mais volta e nem o porquê dele ficar pensando nisso.
Balançou a cabeça querendo dissipar estes pensamentos de sua cabeça, tinha trabalho a fazer do que ficar se lembrando de erros do passado.
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Parou o carro em frente ao grande portão de entrada que dava para o grande prédio branco. Crianças saiam da escola sorrindo e se encontrando com a mãe ou com o pai que iam buscá-las. Viu a filha de seis anos passar pelo portão junto com a coleguinha onde conversava e ria de alguma coisa. Assim que a moreninha de curtos cabelos negros e olhos acinzentados viu a mãe esperando-a dentro do carro se despediu da amiga com um abraço e um beijinho na bochecha e saiu correndo até o carro que já estava com a porta de trás aberta para ela entrar.
— Como foi o dia na escola Naira? — perguntou Narin com um sorriso radiante dando um beijo na bochecha da filha assim que a mesma entrou no carro.
— Hoje eu aprendi a escrever o meu nome todo e o seu mamãe. — falou a menina rodeando os bracinhos no pescoço da mulher e beijando-a calorosamente a bochecha. E logo depois se sentou direito no banco de trás e colocou o cinto começando a contar tudo o que fez e aconteceu na escola.
Depois disso, Narin apenas ligou o carro e deu a partida escutando a filha elétrica e que não parava de falar um minuto. A afobação normal que uma criança tem de contar seu dia na escola.
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Havia almoçado num restaurante qualquer com Lian e agora seguia para o supermercado depois de se despedir do Carter. Clarice havia lhe pedido para lhe comprar uma barra de chocolate, conversando um pouco com a loira descobriu que ela estava prestes a noivar e que estava grávida de sete semanas de Ian Slow. Lembrava-se do ruivo na época de colégio e se surpreendeu ao saber que os dois ficaram juntos, o Slow sempre foi tão sério e Clarice tão faladeira. Realmente um casal diferente. Começou a imaginar se Narin também comia muito chocolate quando esteve grávida de seu filho e logo se xingou mentalmente por novamente estar com a Nocfel nos pensamentos. Não tinha mais nada com ela, nem um tipo de contato, então não tinha que ficar pensando nela a cada minuto.
Entrou no primeiro supermercado que encontrou e estacionou o carro num lugar vago entre outros dois. Desligou, tirou a chave da ignição e desceu do carro seguindo para dentro do supermercado.
Adentrou o enorme estabelecimento, vários corredores eram vistos e não fazia ideia de qual devia seguir. Suspirou irritado e seguiu qualquer um, nunca que iria pedir informação dentro de um simples supermercado. Desviava de várias pessoas que andavam empurrando carrinhos ou com apenas uma coisa na mão, realmente odiava aglomeração. Passou por vários corredores antes de finalmente encontrar o que procurava com aquela imensidão de doces, chocolates e biscoitos de todos os tipos e gostos, mas sinceramente nada que fosse de seu gosto e interesse.
Avistou uma garotinha de curtos cabelos negros dando pulinhos tentando pegar um pacote de biscoito que estava numa prateira acima da cabeça da menina. Percebeu que ela usava uma sainha de pregas até os joelhos azul e uma blusinha de frio também azul, típicos de uniformes escolares de inverno. Por baixo da grossa blusa usava uma mais levinha branca de golinha. Nos pés os habituais sapatinhos pretos e as meias brancas com babadinho.
Seguiu até ela com um sorriso de lado, realmente estava achando engraçado o esforço que a menina fazia para pegar o pacote e não conseguia nem encostar a ponta dos dedos na embalagem. Parou bem atrás da garota e pegou o pacote que ela tentava pegar e a entregou.
— Obrigada senhor. — falou a garotinha educadamente e sorrindo para o Cassano agradecida.
— Não há de que. Mas não precisa me chamar de senhor, não pareço tão velho, pareço? — perguntou o moreno com uma voz amena se agachando para ficar na altura da menina — Pode me chamar de Stevie. — completou fitando-a.
— Está bem Stevie. — houve uma pausa — E você não parece velho, parece até um príncipe dos livros que a mamãe conta para mim antes de dormir. — falou a menina sorrindo com a típica ingenuidade de uma criança.
O Cassano realmente estava impressionado com a garota, algo nela lhe chamava a atenção, mas não sabia o que. Talvez fossem os olhos acinzentados e o rostinho angelical que o fazia se lembrar de alguém. Realmente era difícil se simpatizar com alguém à primeira vista, mas essa menina mexia com ele de um jeito que ele não sabia explicar. Imaginava que fosse a ingenuidade e a infantilidade que a garota transmitia.
— E o que você faz aqui num supermercado grande desse sozinha, sua mãe deve estar te procurando?
— Mamãe está comprando algumas coisas, ela sabe que eu estou aqui. — respondeu prontamente.
— Hum. — foi o único som emitido pelo Cassano que observava cada traço da menina — E posso saber o seu nome? — perguntou por fim.
Assim que a garotinha abriu a boca para responder, uma voz melodiosa e doce sobrepôs a dela, só que num timbre seco e sério:
— Naira, venha para cá agora!