Fechei meus olhos querendo que quando os abrisse, tudo não passasse de um sonho. Estou dormindo com certeza, isso tudo é um horroroso pesadelo. Banco a iludida em estado de negação.
Não tem sangue em cima de mim.
O ministro escova não está morto.
E o Sub-Zero não está na minha frente. Já que nunca gostei de mortal kombat, não tem porquê eu sonhar com isso.
Foi com esse pensamento que abri os olhos e nada adiantou. O Sub-Zero continuava a minha frente com um trabuco apontado para minha testa.
Era tudo real.
Em pleno verão carioca, o meu queixo batia como se eu estivesse na Patagônia agarrada a um pinguim.
— P-P-Por f-favor n-não m-me m-mate? — imploro gaguejando feito uma franga pronta para o abate.
Estava pelada, amordaçada, xoxada e aterrorizada!
O homem eleva a mão direita e põe o dedo indicador sobre a boca gesticulando silêncio, pega o mesmo indicador e passa em volta do pescoço de um lado a outro. Não sou uma gênia, entretanto não era difícil saber o que ele gesticulou.
Se abro minha bocona, ele corta minha garganta.
Sem dar um pio, o homem todo de preto saca uma algema e prende um dos meus braços a cabeceira. Após, ele começa a vasculhar os pertences do Ministro.
Com uma certa urgência olhando a todo momento para o relógio, sacode peça por peça de roupa, vistoria todos os compartimentos da mala, olha cada canto da carteira, jogando os documentos do ministro na cama.
O que procurava não encontrou.
Avistou minha bolsa em cima da mesa, também se pôs a revirar. Jogou tudo em cima da cama, assim como havia feito com os pertences do Ministro. Sei que era egoísmo da minha parte, mas eu fiquei loirinha quando ele meteu a mão no maço de dinheiro preso com o pedaço de papel. Rezei que ele não roubasse.
Virou o maço para um lado e para outro, e para minha sorte, devolveu para minha bolsa, junto com quase tudo que havia jogado em cima do colchão.
A única coisa que ele ficou nas mãos foi meu celular velho.
Uffa! Respirei aliviada.
Espera aí! Como posso me sentir aliviada, se tudo ao meu redor está em caos. O que adianta esse dinheiro se caso não saia viva dessa para pagar o Trocacem?
A personificação do Sub-Zero sacou uma fita cinza do bolso. A cama era enorme, parecia caber quatro casais, estava na ponta direita e o defunto caído ao chão. Comecei a ficar nervosa quando o Sub-Zero subiu na cama e engatinhou por cima do meu corpo nu, sem encostar no mesmo. Ele enfiou um lenço na minha boca e pôs a fita, me deixando totalmente muda. Saiu de cima da cama, voltou para aos pertences do Ministro e também pegou o aparelho dele.
O vi ir para sacada do hotel e com certeza ele pulou do prédio.
Como assim? Estamos no mínimo a 30 metros de altura!
Mas já foi tarde. Torço para que tenha se despedaçado lá em baixo. Juro que se meu intestino não fosse preguiçoso, não fizesse uma nena tipo pedra, teria me borrado toda com essa situação.
—
Pelada e apavorada, era assim que eu estava. Queria muito conseguir puxar o lençol com a mão que estava livre, ao menos cobriria parte da minha vergonha. No entanto, parece que as camareiras de hotel colam o objeto na cama.
Tocam a campainha, não sei se fico feliz, ou se arrumo um jeito de virar um tatu e ir para debaixo da terra. Já que estou com minha mapoa toda exposta.
A campainha toca mais uma vez, e mais uma. Como ninguém atendeu ouço muitos passos vindo em minha direção.
Os dois seguranças trajado de ternos e feições rígidas, estavam na porta quando cheguei e agora apontavam armas para mim. O outro homem de meia idade bem alinhado que estava com ele, exclama diante da situação.
— Que p***a! O que aconteceu aqui. p**a merda — exclama com raiva — levaram microchip.
Ouvi bem? O cara vê o Ministro morto e está preocupado com chip!
"Quem sou eu para julgar, só estou preocupada com dinheiro."
— Vou ligar a polícia — um dos seguranças informa.
— Não.— fala alterado — Ainda não. Deixa eu só dar uma palavrinha com a moça.
O que mais queria, era pôr uma roupa, Estava me incomodando um dos seguranças olhando fixamente para Hitler.
Sim, essa semana tinha em mente que minha mapoa iria ser fuzilada pelo pulha do Renan. Aí fiz uma depilação diferente.
A única coisa que o desgraçado fuzilou foi meu dinheiro e dignidade.
O homem se aproximou.
— Irei tirar esse adesivo da sua boca ok?
Balanço na cabeça para que ele o faça rapidamente. O homem puxa o adesivo de uma só vez enquanto eu cuspo o lenço de dentro da minha boca.
— O senhor poderia me vestir? — o peço em meio a uma respiração oscilante, enquanto sinto o suor escorrer pelo o meu rosto.
— Não posso mexer na cena do crime amorzinho — fala enquanto me oferece um lençol.— O máximo que posso lhe dar. — Já era uma coisa.
— Chamaram a polícia, o bombeiro para cortar essas algemas e eu ir embora daqui? — altero bastante minha voz, creio que estou perdendo o controle.
— Se acalma moça! Preciso lhe fazer umas perguntas rápidas — senti uma fisgada no meu peito — qual o seu nome?
— Meu nome?
— Sim seu nome? — responde impaciente.
— Dalla. — achei melhor falar o inventado do que o verdadeiro.
— Dalla — o homem enrola para falar e isso me irrita, ainda mais que estou presa cheia de sangue de defunto — eu estou pouco me fodendo, para quem matou o verme do Farias, mas ele tinha em seu poder, algo que me pertence. Um microchip, você viu o assassino sair com ele daí?
— A única coisa que vi, foi ele revirar os pertences do senhor Maurício e o meu. Não o vi pegar nada e acho que saiu daqui puto por isso e se suicidou pulando do prédio — não vou falar, não sou x9.
— E como esse tal homem era? — Ele insiste.
Aquele não era o momento de bancar a afrontosa, contudo aquela situação estava me deixando por um fio.
— Ué! Não disse que não lhe interessava?
— Se ele estiver com algo que me pertence me interessa.
Enquanto o coroa alinhado me interrogava, os Brutamontes que trabalhavam para o defunto passavam o pente fino no lugar, com certeza devem ter se vendido.
— O senhor já jogou Mortal Kombat?
— O que? — me pergunta com a sobrancelhas eriçadas, como se eu estivesse viajando.
— Mortal Kombat! Fatality, animality. O senhor já jogou, já viu o filme?
— Sim já joguei — continua a me olhar com a expressão de total estranheza.
— Conseguia ver o rosto do Sub-Zero?
— O que isso tem a ver agora?
— Conseguia ou não conseguia?
— Não. Não conseguia.
— Exatamente como eu e esse assassino que esteve aqui. Não vi nada. Além de uma estrutura masculina todo de preto. Não sei nem a cor de sua pele, estava de óculos e luvas.
— Droga! Alguém da elite.
— Agora por favor! Ligue para os bombeiros. Preciso que alguém me tire daqui.
Quero ir para casa já.