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Yanca - 18 anos
Vinicius - 26 anos
Yanca narrando:
Muita coisa muda em três anos né? em três anos você quebra a cara f**o. Tão f**o que você nunca imaginou que aconteceria.
A três anos eu estava indo pro Colégio, quando vi ele parado lá na frente. Encostado no muro e fumando maconha, lógico, e com a cara super fechada.
Eu me encantei ali, acredite ou não, eu já amava ele.
Nos aproximamos, enfrentamos tudo e todos. Naquela época ele não tinha nada e nem ninguém, quando eu sai de casa, fomos pra favela em que ele morava e trabalhava. Eu já sabia da vida em que ele levava, mas pra mim não tinha problema nenhum.
Quando meu pai me mandou decidir, eu não pensei duas vezes e liguei pro Vinícius. Eu lembro como se fosse hoje "vem me buscar, a nossa vida vai começar agora".
Pra mim aquela havia sido minha melhor frase, tudo que estávamos passando pra mim eram apenas provas, pra ver se era realmente isso que queríamos.
Os meses foram passando e nos dois sempre estávamos juntos, criei amizades na favela, mas continuei estudando. Porque apesar de tudo, meu pai nunca deixou de pagar a mensalidade do meu colégio.
Enquanto eu estudava, o Vini trabalhava e a cada dia ia ganhando mais conceito, foi melhorando nossa vida e mudamos de casa, era uma casa bem maior. Ainda nada comparado com a que eu vivia com meu pai, mas ali eu tinha meu Amor, meu homem, o cara que me fez mulher.
Mas tem um dia em que eu nunca irei esquecer. Com toda a certeza, ele havia assumido tudo isso, lógico que matou o antigo dono a mando da facção. E a partir dali começaram os boatos, as piadinhas na rua, as fotos e ele sempre distante de mim, cada dia mais longe.
Isso foi a exatamente um ano atrás.
Um ano atrás.
Tinha acabado de chegar em casa com algumas fotos na mão e uma peça de roupa dele. Eu tinha total certeza de que era dele porque eu quem tinha dado aquela roupa pra ele.
Eu não entendia o porquê dele estar fazendo isso comigo depois de tudo que nós passamos, sempre fechei com ele, nunca vacilei com nada.
Me sentei na cama procurando me acalmar, respirei fundo e coloquei a roupa na cama e em cima as fotos. Nas fotos tinham outras certezas, duas tatuagens que ele tinha e uma delas que só foi feita depois de um bom tempo que estávamos juntos.
Fiquei sentada me afogando em meio as lágrimas, eu iria esperar ele chegar, nem que para isso eu tivesse que virar a noite.
Quando deu exatamente 21:00 ele chegou. E depois de uns cinco minutos ele abriu a porta do quarto e me olhou sem entender.
- Qual foi? - perguntou sentado na cama. Tirou a calça, foi no guarda-roupas, pegou uma bermuda e voltou.
- Qual foi? - repeti a pergunta e dei uma risadinha. - olha o que me entregaram. - falei e dei a roupa junto com as fotos na mão dele.
Ele olhou uma por uma e me encarou sem reação alguma.
- E aí, o que que tem? - perguntou jogando as coisas na cama.
- Como assim? - Olhei pra ele e ergui a sobrancelha. - Isso é seu, SEU Vinícius.
- Eu sei, eu conheço as minhas roupas. - falou e saiu do quarto, fui atrás dele e ele estava na cozinha.
- Presta atenção no que eu estou te falando. - Pedi chorosa e senti meu rosto sendo banhado por lágrimas. - você não vai tentar me explicar? olha pra mim pelo menos uma vez e me explica o que é isso. - pedi e ele revirou os olhos.
- Ué, c*****o. Ficou burra, foi? tá na cara, p***a. Quer que eu te explique o que? - falou e sentou no banquinho.
- Ótimo, então eu vou embora. Chega, já deu, eu não aguento mais isso! Eram piadinhas, fofocas, músicas e até então eu não dizia nada. Afinal, podia ser mentira, 'poderia ser invenção e eu não queria confusão com você, não queria brigar. Mas isso eu não vou aceitar, você dizer na minha cara que tudo isso é verdade e nem se desculpar, não tentar me fazer ficar contigo. - falei séria encarando ele.
- Já era. - falou e começou a comer.
Virei as costas ainda sem acreditar e a primeira coisa que eu fiz foi ligar pra única pessoa que eu tenho, ou tinha, né? o meu pai.
Alô??!
-pai, sou eu a Yanca. Pai, me desculpa, eu sei que eu errei, mas me desculpa. Eu entendi tudo que o senhor me disse.
Filha, como eu esperei esse dia! Vem minha filha, eu vou mandar arrumarem teu quarto.
Arrumei minhas malas e não era pouca coisa.
Mandei uma mensagem pro Dedé um amigo meu e do Vinícius, pedindo pra ele vir me buscar aqui em casa.
Assim que fechei a última mala e coloquei no chão, ouvi a porta bater.
- Tu vai pra onde? até onde eu sei, teu pai não quer saber de tu. - perguntou encostado na parede de braços cruzados.
- Ele é meu pai e diferente de você, nunca me magoou, me deixou, me abandonou ou me trocou. Eu quem fiz isso tudo com ele e mesmo assim ele tá me esperando. - Falei e sequei meu rosto.
- Pode crê, mas eu perguntei isso não. Só perguntei onde tu vai ficar, você pode ficar aqui naquelas casinha mais pra cima. - Falou me encarando..
- Eu não quero NADA que venha de você, eu tô com nojo de mim mesma por ter me envolvido contigo, achando que seria algo bom. - Falei e ele me olhou dos pés a cabeça.
- Vaza então, c*****o. Mete o pé, p***a. - falou e eu ouvi a buzina.
Coloquei duas mochilas nas costas, peguei duas maletas de maquiagem no braço, e saí puxando minhas malas.
Senti o olhar dele me queimar por trás, mas eu saí mesmo assim e ali acabou tudo que a gente tinha.