Desde muito nova, nunca tive regalias. Minha vida sempre foi complicada demais. Meu pai foi embora quando eu ainda estava na barriga da minha mãe, e desde então, ela lutou como uma guerreira para me dar o melhor. Apesar de todas as dificuldades, ela me sustentou e conseguiu arcar com tudo. Porém, nos últimos dias, sua saúde tem piorado, e isso tem me entristecido profundamente.
Dona Eloisa, uma mulher teimosa, insistiu em continuar trabalhando mesmo doente. No início, eu disse que não precisava se preocupar, que, apesar do pouco dinheiro que ganho, eu faria de tudo para que ela ficasse bem, e estava me esforçando ao máximo.
Mas essa teimosia custou caro. Minha mãe desmaiou e foi parar no hospital. Fui chamada às pressas, e a conversa com o médico não foi nada boa. Descobri que Dona Eloisa está com insuficiência cardíaca, e os tratamentos serão extremamente caros.
Desde que descobri seu estado, tenho feito de tudo para me manter firme, mas o medo de perdê-la me deixa alucinada. Tenho trabalhado duro, inclusive fazendo b***s para tentar cobrir as despesas, mas cada dia que passa fica mais difícil. Estou com uma dívida de 50 mil reais em despesas médicas, e sei que novas dívidas virão até que ela consiga um doador compatível para a cirurgia.
— Garota, você está muito distraída, e isso não é bom! Preste atenção no trabalho, Lavínia. Esse chão tá imundo — rosnou a dona do restaurante.
Não podia rebater. Não podia arriscar ser demitida, pois esse é o único emprego que tenho agora, e sem ele estaria completamente perdida. Então, aceitei mais uma humilhação enquanto limpava o chão.
Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Estava exausta, fraca e debilitada, mas não podia desistir agora. A vida de Dona Eloisa dependia da minha força.
Enquanto terminava a faxina do restaurante, minha melhor amiga, Ingrid, me esperava sentada em uma das cadeiras. Ela era a única que me ouvia, a única pessoa que eu tinha naquele momento, que me apoiava.
— Amiga, sei que você está resistindo, mas acho que a melhor solução para você é entrar para a agência da Loba — sussurrou.
— Se eu fizer isso, minha mãe não vai resistir. Você sabe que o coração dela está fraco demais — respondi, enxugando as lágrimas.
— Lavínia, você trabalha 24 horas por dia para pagar os 50 mil reais do hospital e sabe que ainda virão novas despesas médicas — insistiu.
— O que posso fazer? Não posso perder minha mãe. Vou lutar enquanto puder — declarei.
— Você sabe que moro no morro do Alemão e me envolvo com o Polegar, o sub do Barão. Ele é maravilhoso comigo, sempre ao meu lado, e desde que comecei a ficar com ele, levo uma vida de princesa. Se você entrar para a agência da Loba, vai se prostituir do mesmo jeito que eu me prostituía para aqueles velhos ricos, mas foi lá que conheci o pretinho, e nós somos felizes. Quem sabe você não encontra alguém? — sugeriu.
— Amiga, você sabe que sou virgem! Como vou vender meu corpo? Nunca fiz isso antes — sussurrei.
— Mulher, você é perfeita. Tem longos cabelos, um corpo escultural, e tenho certeza de que qualquer homem ficaria louco para ter uma mulher como você na cama. Se permita viver isso para se salvar. Você não vai aguentar nem mais um dia trabalhando desse jeito para ganhar diárias de 200 reais. Mesmo se trabalhasse o ano todo, todos os dias, não conseguiria pagar todas as despesas. Sua mãe está na UTI, sendo monitorada 24 horas por dia, e aqueles equipamentos são extremamente caros — explicou.
— Ingrid, estou ferrada — confessei, sentando na calçada.
Não consegui me manter firme e comecei a chorar. Minha amiga me abraçou apertado. Se não fosse por ela, já estaria morta. Não tenho dinheiro para comer, estou com o aluguel do AP atrasado, e provavelmente terei que me mudar para um menor para cortar custos.
— Amiga, lá na favela o Polegar te coloca em uma casa. Não vai ser igual à sua, mas é melhor do que morar na rua. Se quiser, amanhã mesmo te ajudo com a mudança — afirmou.
— Ingrid, meu maior problema não é esse, amiga. Eu só quero que minha mãe fique bem — sussurrei.
O telefone dela tocou, e ela se afastou para atender. Depois de alguns segundos, voltou e me ofereceu a mão para que eu me levantasse do chão.
— Amiga, o Polegar está vindo me buscar. Vou pedir para ele te deixar em casa — sugeriu.
— Obrigada! Só assim para eu conhecer o homem que te fez mudar da água para o vinho — brinquei.
Alguns minutos depois, um carro de luxo parou na nossa frente, me impressionando. Fiquei boquiaberta quando vi um homem de pele escura sair de dentro dele. Ele era alto, com olhos azuis e cabelo em corte militar. Não era magro, mas também não era gordo, nem tinha corpo atlético.
— Amor, estava com saudade — disse ela, fazendo bico.
— Eu também, gostosa! Mas o chefe hoje tá com a cabeça virada. Ele me fez cobrar de todos aqueles nóia que estavam devendo, e aí embaçou pra mim — respondeu, sorrindo.
— O Barão é m*l. O que ele tem de bonito, tem de terrível. Não sei como tem mulher que gosta de se envolver com ele — declarou Ingrid, enquanto eu me perdia na conversa.
— Quem é essa gatinha? — perguntou ele, sorrindo.
— Essa é minha amiga, aquela de quem te falei. Lembra que te pedi para arranjar um barraco para ela lá no Alemão? — indagou Ingrid.
— Essa é aquela que a mãe tá para ir de havaianas? — perguntou ele.
Minha amiga lhe deu um tapa no braço, e eu respirei fundo, pois a ideia de perder minha mãe me destruía.
— Não fale assim! A Lavínia está sofrendo e cheia de problemas com dinheiro. Já te contei — sussurrou para ele.
— Engraçado, tive uma ideia aqui. Hoje eu estava conversando com o Barão, e ele me desafiou. Agora que estou aqui conferindo o material pessoalmente, a Lavínia é o número do Barão — disse, me deixando vermelha de vergonha.
— Ficou maluco? Nem em sonhos! Para com isso agora — gritou Ingrid.
— Mina, tá a fim de ganhar uma grana preta? Sei que tá na maior barra e precisa de dinheiro. Eu conheço quem tem grana pra te bancar e pagar suas dívidas, mas tem que ter coragem — falou, me olhando intensamente.
— Do que você está falando? — perguntei, sem jeito.
— Não, Polegar! — rosnou Ingrid.
— Mina, a Ingrid me contou sua história, que sua mãe tá muito doente, que você tá devendo muito e precisa de ajuda. Eu conheço uma pessoa que pode te emprestar 100 mil reais — disse ele, me deixando de boca aberta.
— Me emprestar esse valor todo? Nossa, quem seria esse anjo? — perguntei, inocente.
— O Barão. Ele te empresta essa grana, mas vai querer algo em troca. Sexo por dinheiro. O que acha? — perguntou, enquanto eu piscava várias vezes, tentando formular uma resposta.
— Não! Ela não quer — Ingrid respondeu por mim.
— Lavínia, só existem duas soluções para você. A primeira é t*****r com um único homem que vai te bancar e pagar suas dívidas, ou t*****r com vários e entrar para a agência da Loba, do mesmo jeito que a Ingrid fez no passado, porque não teve outra solução. Me diga se vai ter estômago para se deitar todos os dias com um homem diferente — disse ele, me deixando nervosa.
— Eu não conheço esse homem, e se ele me fizer m*l? — sussurrei, nervosa.
— Ele vai te fazer m*l! O Barão está acostumado com as putinhas daquele morro, que se sentem para ele e adoram as orgias. Você é delicada, meiga, bonita e inocente demais. Eu estou nessa vida, Lavínia. Você não sabe o peso dela. Não entre — aconselhou minha amiga.
— 100 mil reais me ajudaria a quitar todas as minhas dívidas. Eu teria tempo para arranjar um emprego melhor. Essa é a solução dos meus problemas. E, de qualquer jeito, eu já estava pensando em entrar para a agência da Loba. Ele está me propondo t*****r com um único homem, e o que poderia dar errado? — perguntei.
— Ele vai ficar obcecado por você, não percebe? — perguntou minha amiga.
— O Barão? Para de falar besteira, Ingrid. Ele não se apega a nenhuma mulher — respondeu Polegar.
— Eu aceito! — disse séria, e minha amiga me olhou brava. — O que pode dar errado? Será apenas uma noite por 100 mil, e depois eu sumo, dou um jeito — sussurrei.
— Isso não vai dar certo, eu tenho certeza, mas se decidiu, nada posso.