Prólogo

597 Words
O CLIMA ESTÁ ameno nessa manhã de segunda-feira em Costa Rica e para iniciar a semana bem, resolvo caminhar pela praça com Bruno Mars soando em um volume considerável através do fone de ouvido. A melodia mantêm-me ativa e concentrada conforme meu corpo traça o percurso familiar. O casaco de tecido fino que eu uso começa a esquentar e não demora até que gotículas de suor deslizem por minha pele.      Dez minutos depois, meu nível de cansaço equivale ao do restante da semana. Paro de caminhar e pego minha garrafa d'água, bebendo o líquido em seguida. Verifico o horário no relógio de pulso e opto por voltar para casa, pois o dia promete ser longo. Dona Rosa, a funcionária doméstica, está de atestado médico, então aproveitarei que meus pais ficarão ausentes e limparei o lugar.     As ruas estão começando a ficar movimentadas. São por volta de sete horas da manhã e o barulho ensurdecedor do trânsito instaura uma dor em minha cabeça, obrigando-me a correr, a fim de me abrigar em um lugar silencioso e calmo.     Quando avisto o portão, acelero minha corrida com a chave em mãos e não tardo para abri-lo e atravessa-lo. Destranco a porta principal e corro escada acima para usar o banheiro. Tanta água havia deixado minha bexiga a ponto de explodir.      Finalizo minha higiene e retiro o casaco, jogando-o sobre minha cama e descendo as escadas para pegar alguns produtos de limpeza. Com as mãos cheias, subo com dificuldade até o andar em que fica o quarto de meus pais.      Irei iniciar por ele.     Está uma bagunça, como imaginei. Há roupas espalhadas por todo o cômodo e papéis, que julgo se tratar de documentos, em cima da cama. Pouco a pouco, começo a junta-los e guarda-los na pasta preta que há aqui. Coloco-a dentro da gaveta e viro-me para capturar a vassoura, mas acabo pisando em mais um documento antes que a alcance. Esse está debaixo da cama e tem apenas sua ponta visível. Suspiro frustrada, perguntando-me porque eles simplesmente não deixam essas coisas no escritório. Abaixo-me para pega-lo e assim que me levanto, faço menção de abrir a gaveta, mas paro quando letras garrafais chamam minha atenção.     FERTILIZAÇÃO IN VITRO.     Essa simples frase me deixa em alerta. É uma pasta que contêm cerca de seis papéis. Sento-me na cama e começo a passar meus dedos por cada página, frase, palavra e letra. Meu peito doí e meus dedos soam. Minha mente é um turbilhão de pensamentos e não consigo acreditar no que eu estou lendo, e muito menos vendo. Parte de mim torce para que seja um m*l-entendido, enquanto outra parte insiste em me lembrar que mentiram para mim a vida inteira.     Me levanto para guarda-lo, mas o ranger da porta sendo aberta me faz congelar em pé. Meu olhar fixa-se em minha mãe, pálida feito o papel que eu segurava e com o olhar assustado em minha direção.     — Filha... — Sua voz invade meus tímpanos. Ergo minha mão desocupada e aponto o dedo indicador em sua direção.     — A senhora... como foi capaz? — Indago em tom acusatório e voz baixa. Sequer me importo se ela escutou. — Como foi capaz de mentir para mim, de esconder que eu sou fruto de uma fertilização? — Elevo o tom com meus olhos ardendo e meu coração acelerado.     — Calma, filha. Não é isso, eu preciso te explicar melhor. — Aproxima-se, mas a faço parar antes que pudesse alcançar-me.     — Não. Eu só preciso que me explique onde está minha irmã gêmea e por qual motivo eu nunca a conheci.
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