Capítulo Segundo

4593 Words
Dona Nora explicou que ele estava com pressa de vender porque queria voltar para a sua terra. Paulo comentou: - A pressa é inimiga dos bons negócios. A casa vale pelo menos três vezes mais. Foi uma sorte muito grande de vocês. Dirce: - Nós nem estávamos procurando uma casa de dois quartos, já que é só para final de semana. Mas apareceu essa e acabamos fechando negócio. - Vou ficar de olho quando ele colocar a outra a venda. - Pode deixar que nós lhe avisamos. - Por favor, um imóvel é sempre um bom investimento. - Eu também tenho outra casa, mas está alugada. Quando a Mirella foi pra casa da Berenice, a Dona Nora, me chamou prá ficar aqui pra não ficar sozinha. Aí eu aluguei lá. Era da família do meu marido e foi passada pra ele quando nos casamos. Quando ele faleceu, nós continuamos morando lá. - Se era do seu marido, com o falecimento dele, passou a ser de vocês. Vocês são os herdeiros dele. - É bem maior do que essa. - Mas é bom manter, mesmo alugada. É patrimônio para deixar para as filhas. Logo depois Paulo perguntou: - Quando vocês pretendem fazer a mudança? - Vou ver se dá pra fazer Sábado que vem. - Vou mandar o caminhão. Onde estão as coisas de vocês? - Aqui mesmo. Num quarto lá dentro. - Posso ver. Preciso ter uma idéia da quantidade de homens que tenho que mandar. Seu Jair se adiantou: - Vamos lá, Dirce. Vamos mostrar pra ele. E foram os três até o quarto aonde estava guardado. Os móveis estavam desmontados e o restante tudo em pé para ocupar menos espaço. Paulo fez uma rápida avaliação e anunciou: - Motorista, mais quatro homens pra fazer rápido. Dirce perguntou: E quanto vai ficar? - Nada. - Nada? Seu Jair explicou: - Dirce, o Paulo é dono de uma construtora, não trabalha com mudanças. Está te prestando um favor. Não lembra que ele fez a obra aqui e eu só paguei o material? - Nesse caso, obrigada. Paulo respondeu: - Entre amigos, não cabe agradecimentos. Tá tudo certo. E voltaram para o quintal aonde conversaram mais um pouco. Depois Paulo se despediu, mas antes combinou com Dirce. - Sábado o caminhão vai chegar aqui antes das oito horas. Aposto que antes das Dez, já terão terminado tudo. - Tá bom. Eu dou um café prá eles. - Só se for café pronto. Não quero que a senhora dê dinheiro. - Tá bom. E se despediu de todos e se foi. Logo, todos foram embora, deixando os três sozinhos. Passaram o resto do tempo vendo televisão e batendo papo. Dirce foi a primeira a se recolher, estava cansada e um pouco nervosa. Sua vida ia mudar de novo. Já tinha se acostumado a ficar alí e agora ia mudar. Apesar de ficar com a filha, ia sentir saudades dos finais de semana na casa de Dona Nora e Seu Jair. Mas do que patrões eram seus amigos verdadeiros. Depois que Dirce se recolheu Nora lá ligou para Berenice, contando as novidades. Sabia que Mirella tinha trabalhado direto durante muito tempo e tinha esperança da filha dar uns dias de folga prá ela resolver as coisas junto com a mãe. Depois de dar a idéia a filha, foi ver se a casa estava toda fechada e se recolheu também com o marido. No dia seguinte, chegaram todos para a visita de Domingo. Berenice conversou normalmente com Mirella, sem tocar no assunto. A própria Mirella anunciou a todos a compra da casa ali perto. Todos deram os parabéns. E o Domingo correu normal. Só quando já vc estava anoitecendo, foi que Júlio informou a Mirella: - Mirella, fica amanhã e Terça-feira aqui prá resolver as coisas com a tua mãe. Só precisa ir trabalhar na Quarta-feira. - Mas como a Berenice vai se virar sozinha? A própria Berenice respondeu: - Você deixou um monte de pratos congelados e a casa está em ordem. Eu vou sobreviver por dois dias sem problema. Mas na Quarta-feira, quero você lá. - Muito obrigada. Desconta então esses dois dias. - De jeito nenhum. Quantas noites você acordou para cuidar do Henrique e quantos finais de semana você trabalhou? - Obrigada. - Não é nada além da nossa obrigação. Te devemos muito. As duas se abraçaram e Mirella deu um beijinho no Henrique. O casal entrou no carro com o filho e partiu. Jairo falou: - Terça-feira vou pedir pra sair na hora do almoço e levo vocês no cartório de carro. Dona Nora perguntou: - Então eu não preciso ir? - Precisa sim! Tem que assinar de testemunha. - Ah bom! Pensei que estava sendo dispensada. Jairo disparou: - Eta família ciumenta. Todos riram muito. Depois disso, Neide se despediu e foi embora com Cláudio. E aos poucos todos foram saindo, ficando só os três. Dirce foi com Dona Nora arrumar a cozinha, enquanto Jair dava um jeito no quintal. Depois disso, foram se arrumar para se recolherem. Já tinham passado do horário habitual e na Segunda Seu Jair acordava cedo para trabalhar. Na Segunda-feira, quando Nora chegou na cozinha, já encontrou a mesa de café posta, até com pão fresquinho. Dirce tinha levantado cedo e adiantado tudo, já que ia sair para ir ao banco avisar da retirada que faria no dia seguinte. Já tinha até passado roupas. Dona Nora: - Não precisava isso Dirce. O que não desse pra fazer agora de manhã, podia fazer a tarde ou amanhã. - Amanhã vai ser pior. Banco de manhã e cartório de a tarde. - Mas não tinha pressa com a roupa. Os armários estão cheios delas. - É que eu perdi o sono. - Porque foi deitar preocupada. - Pode ser. - De tarde, vai descansar um pouco para compensar. - Se eu conseguisse. - Vai forçar e descansar sim. Você não tem mais idade pra virar a noite trabalhando. - Ainda sou nova. - Não é mais uma mocinha. E não tinha necessidade disso. - Tá bom. Logo Seu Jair apareceu para tomar o café e sair. Pouco depois, Milena veio trazer Jurandir e falou pra mãe. - Vou na hora do almoço no banco para avisar da retirada do dinheiro. - Vai ficar sem comer? - Duvido que a Cristina deixe. - Ainda bem. Amanhã vai ter que ir de novo. - Se for necessário, como um sanduíche na rua. Não se preocupe. Compenso a noite. - Ela é boazinha, não vai deixar você com fome. - Estou certa que não. - Eu vou com a Mirella. - Tá mãe. Deixa eu ir, senão me atraso. O Jairo vai me levar. E correu de encontro ao marido. Algum tempo depois, Mirella apareceu: - Bom dia. Que horas vamos sair? - Deve ter fila, é bom ir cedo. - Podemos sair a hora que você quiser. - Vou trocar de roupa. Enquanto aguardava a mãe se trocar, Mirella ficou conversando com Dona Nora: - Achei muito bacana a atitude da Berenice me dando esses dois dias de folga para resolver meus problemas. - Minha filha é uma menina muito bacana. - Eu sou estou com medo que ela se acostume com a minha ausência e acabe me dispensando. - Isso não vai acontecer. Eles gostam muito de você. Te deram esses dois dias, porque você deixou tudo pronto pra eles. - Mas tem a arrumação da casa, fazer alguma compra e eu acho que eles não gostam de comida congelada. - Porquê? - Nunca usaram nada que eu deixei pronto. - Porque não tiveram necessidade. Almoçam com os pais de Júlio todo o Sábado e aqui todo Domingo. O resto da semana você está lá. - Espero que a senhora esteja certa. Gosto muito deles. Só passei a sair nos finais de semana porque o Henrique estava muito apegado a mim. Achei melhor dar um tempo pra ela cuidar do filho sem eu estar por perto. Prá ele precisar dela e assim se apegar mais a mãe. - Eles sabem disso. Dirce apareceu na cozinha e Chamou: - Vamos, Mirella? - Vamos, mãe. Tchau Dona Nora. - Tchau. Quando saírem do banco venham almoçar aqui. - Eu agradeço, e venho sim. De tarde vou pra casa da Milena e fazer o jantar, pra quando ela chegar encontrar tudo pronto. Se a senhora quiser, levo o Jurandir comigo. Assim vocês descansam. - Vou pensar e na volta eu te dou a resposta. As duas saíram de braços dados em direção ao ponto de ônibus. Foram rapidamente atendidas e depois de explicarem ao gerente o motivo da retirada, marcaram o saque para o dia seguinte. Conseguiram chegar na casa de Dona Nora, antes do horário do almoço. Dirce logo trocou de roupa e foi fazer o serviço dela e Mirella ofereceu ajuda a Dona Nora, que respondeu que estava tudo pronto. Quando deu o horário habitual de almoçarem, sentaram e fizeram a refeição em silêncio. Quando terminaram, Mirella quis lavar a louça, mas Dona Nora não deixou. Ficou mais algum tempo e foi para a casa de Milena. Sozinha, pois as avós queriam ficar com Jurandir. Enquanto isso, no hospital que Milena trabalhava, Cristina repetiu pela terceira vez: - Não senhora, primeiro você vai almoçar. - Mas, amanhã vou ter que sair de novo para fazer o saque. - Não tem problema. Você não vai ficar sem comer. E amanhã você tem que ir de manhã e de depois ir em casa entregar o dinheiro pra sua mãe. - Não, amanhã o Júlio não tem nada marcado, ele vai pegar o dinheiro comigo e levar pra elas. - Mas não há necessidade de você ficar sem comer. Só te libero depois do almoço. Milena foi almoçar com Cristina e assim que terminou a refeição foi para o banco resolver o seu problema. Quando foi atendida e avisou que iria retirar o dinheiro para a compra de um imóvel no dia seguinte, seu gerente foi verificar o saldo da poupança. Era bastante alto. Talvez o mais alto que tivesse naquela agência. Pegou o extrato e entregou a Berenice. Ela levou um susto. Tinha bem mais do que imaginava. Fora o dinheiro do cheque que recebeu ela continuou a depositar todos os meses e mesmo tendo usado uma parte no enxoval, logo cobriu o valor com novos depósitos, já que Jairo fazia todas as despesas da casa e não aceitava ajuda dela. Não sabia quanto o marido ganhava, mas sabia que ganhava muito bem. Assim, quase todo o seu salário era depositado. Mas estava achando o saldo alto demais. Pediu o extrato detalhado da conta e o gerente pediu que providenciassem. Logo que recebeu, percebeu que tinha muitos depósitos que ela desconhecia a origem. Avisou ao gerente que sacaria Sessenta mil reais e voltou para o trabalho. Ainda era cedo e não achou certo ir pra casa. Quando chegou no hospital, Cristina perguntou: - Voltou porquê? Pensei que você ia prá casa. - Não, é muito cedo ainda e dá pra ficar até terminar o expediente. - Aconteceu alguma coisa? Você está estranha. - O saldo da minha poupança. - Sumiu dinheiro? - Não, pelo contrário. Brotou dinheiro na conta. Pedi o extrato e tem diversos depósitos que não sei quem fez. - Isso é muito bom. Só pode ter sido teu marido. - Deve ter sido. Quando chegar em casa, vou perguntar a ele. - Amanhã, você vai direta pro banco? - Não. Vou ficar aqui até desmanchar a fila que tem sempre cedo. Tem muita gente que vem fazer exames. Só vou sair, quando começar o atendimento normal. - Ótimo. Vai ajudar muito. E se entregaram ao trabalho. Quando terminou o expediente, Milena ia para o ponto de ônibus, quando Júlio parou perto dela e ofereceu carona. Ela entrou no carro e rapidinho estava na casa da sogra. Logo comentou com elas a respeito do saldo que tinha e esclareceu: - Só pode ter sido o Jairo. Mas porquê não falou comigo. Quase que eu mandei fechar a poupança sem necessidade. Retirei menos da metade do que tinha lá. Dona Nora esclareceu: - Porque tudo que ele te oferece você diz que não precisa. - Ele já faz toda a despesa da casa. Não aceita que eu ajude. Qualquer coisa que eu compro, ele faz questão de me dar o dinheiro. - Faz isso porque pode. Aqui em casa nós sempre dividimos as despesas para que eles tivessem noção de responsabilidade. Todos achavam que contribuíam com as despesas da casa. Mas o dinheiro era depositado em caderneta de poupança prá eles. Só descobriam quando casavam e eram proibidos de contar para os que estavam em casa, solteiros ainda. - Mas Seu Jair se aposentou e continua trabalhando. - Não por necessidade financeira. Ele adora trabalhar. Se parar acho que morre. E depois da aposentadoria, se tornou sócio da empresa. - Não imaginei isso. Nem carro ele tem. - Porque tem medo de dirigir. Acha que dirigir é ter responsabilidade pela vida dos outros. - Não deixa de ser uma verdade. A qualquer momento pode acontecer uma batida ou pior, um atropelamento. - Por isso, ele não dirige. - E o Jairo? Ele não é corretor de imóveis? - Também. Ele é o dono da corretora que tem muitos corretores e além de receber pelos imóveis que vende pessoalmente, ainda tem participação nas vendas dos empregados. - Então eu sou casada com um homem rico? - Vocês têm mais de um ano de casados e ainda não sabia disso? - Não conversamos sobre dinheiro, nunca houve necessidade. Então foi ele mesmo quem fez os depósitos. - Foi. Quando você diz que não precisa de um presente que ele quer te dar, ele deposita o valor na tua poupança. - Se eu soubesse disso, não deixaria minha mãe e a Mirella retirarem o dinheiro delas. Eu compraria a casa sozinha. Desta vez foi Dirce que se manifestou: - Nós não aceitaríamos e iríamos alugar alguma casinha pra gente. Não seria justo. - Isso é orgulho, mãe. - Não. Isso é Justiça. Explicada a origem do dinheiro, Milena se sentiu muito mais calma e depois de conversar mais um pouco, pegou Jurandir e foi pra casa. Quando chegou em casa, Mirella já havia feito tudo. O jantar estava pronto, com direito a sobremesa. Agradeceu o carinho da irmã e sentaram para conversar. Milena contou a respeito do que tinha descoberto naquele dia. Era esposa de um homem muito rico. Mirella perguntou: - Então porquê ele deu tanta força pra comprar essa outra casa? - Na certa, pensando em você. - Mesmo que você venha a se casar com um homem mais simples, vai ter casa prá morar. - Como? Se uma está alugada e na outra mora a mamãe? - Se você se casar a mamãe vai querer voltar prá casa da Dona Nora, pra não ficar sozinha. - Por enquanto, não tenho nenhuma intenção de me casar um dia. - Porque ainda não conheceu o homem com quem você vai dividir a tua vida. Quando isso acontecer você vai mudar de idéia. - Pode ser. - Vocês foram no banco. A casa é cem mil reais. Eu vou dar sessenta mil. Quanto cada uma tem na poupança? - Eu tenho quase trinta e mamãe quarenta e poucos. - Cada um retira vinte. Com os meus sessenta, compramos a casa. - Ainda mais sabendo que você não precisa dela, não acho justo você entrar com a maior parte. - Não esquece que esses sessenta mil, por direito pertence a nós três. Foram anos de perrengues que passamos por Dona Sirlene ficar com a maior parte do meu dinheiro. - Mas quem trabalhou foi você. - Mas se tivesse recebido o salário justo na época, teríamos tudo muito mais conforto. Esse dinheiro não é só meu. Pertence a nós três. Por isso, não quero que vocês raspem a de vocês. E ainda ficou muito dinheiro lá. Pra te dar uma idéia, o que ficou dá pra comprar outra casa a vista. E eu vou continuar depositando. - Milena, eu não tenho nada com a tua vida. Mas se o teu marido é tão rico, porque você não sai do emprego e fica em casa cuidando da sua casa e do seu filho. - Você é minha irmã e pode dar opinião na minha vida sim. Só que eu trabalho desde nova. Passei por muitos sacrifícios em empregos onde não tive reconhecimento. No hospital é diferente. Sou elogiada e respeitada. Depois, o Jurandir está sendo muito bem cuidado pelas avós. Se eu resolvesse ficar em casa, tenho certeza que elas ficariam magoadas. - Isso é verdade. - Se eu engravidar de novo eu paro. Por enquanto não. Adoro meu trabalho. - Está certo. Eu também adoro o meu. E você está pretendendo ter outro logo? - Não. Prá dizer a verdade, estou evitando. Depois do Jurandir nascer prematuro e ficar tanto tempo no hospital, fiquei com medo de ter outro. - Mas vai passar esse medo. - Quando passar, eu paro de tomar remédio. - Pensa que filhos com muita diferença de idade, dificilmente se tornam companheiros. - Isso é. Mas se der problema de novo? - E se tudo correr bem? - Você tem razão. Ninguém sabe o que vai acontecer no futuro. - Eu no seu lugar, teria logo outro. É muito chato ser filho único. - Mas ele tem o primo que é da mesma idade que ele. - Que ele vê uma vez por semana. - Também posso colocar na escolinha de maternal - E magoar as avós. - Vou pensar. - Falando nisso, não está na hora de batizar essa criança? - Temos que resolver isso. Você vai ser a madrinha, mas ainda não decidi o padrinho. - Acho que você tem mais afinidade com o Júlio. - É verdade. Mas e a Berenice? A madrinha é você e eu não abro mão disso. - Se você quiser dar prá ela batizar eu não me importo. Já sou tia. - De jeito nenhum. Você é minha única irmã. - Então acho melhor você escolher outro padrinho. - Vou pensar e conversar com o Jairo. Juntos vamos resolver. Aliás, você poderia resolver isso. - Como. - Arrumando um namorado e se casando. Resolveria o problema. - Só se você marcar o batizado para daqui há alguns anos. - Não diga: Dessa água eu nunca beberei. Isso acontece de repente e nos pega de surpresa. - Se acontecer, você vai ser a primeira a saber. Nesse momento Jairo chega e Milena vai dar atenção ao marido. Deu um beijinho e perguntou: - Como foi seu dia? Vendeu alguma coisa? - Vendi e ainda recebi de dois colaboradores. Já estive com minha mãe e sei que você já sabe de tudo. - E porque você não me contou? - Porque fiquei com medo de você não me aceitar como marido. - Realmente, se eu soubesse que você é tão rico, não teria aceitado mesmo pra não passar por aproveitadora e caçadora de dotes. - Viu, por isso eu não te falei. - Tá, eu entendi. - E me desculpou? - Não vou negar que fiquei chateada, já vamos fazer dois anos de casados e só hoje descobri que meu marido é um homem rico. Me pareceu falta de confiança. - Não. Foi medo de não ser aceito por você. - Então está desculpado. E se beijaram de novo. Mirella saiu de mansinho deixando os dois sozinhos. Na hora do jantar, Jairo elogiou a comida que Mirella havia feito. A moça ficou satisfeita. Depois de arrumar a cozinha, foram se preparar para dormir. Uma vez no quarto, Milena pediu: - Não me esconde mais nada, tá bom? - Tá. E prá provar que eu não te escondo mais nada já quero avisar que o dinheiro entra nesta casa com a velocidade do vento. Além de receber por vendas que eu fecho ainda tenho participação nas vendas dos meus colaboradores. Hoje eu vendi duas casas enormes e três dos meus, venderam uma cada. Só hoje entrou uma dinheirama na minha conta e eu depositei mais na tua. - Se não fosse o medo delas se sentirem humilhadas eu comprava essa casa sozinha e dava de presente pra elas. - Acho melhor fazer o que está combinado, e quando a Mirella resolver se casar, a gente dá uma casa de presente de casamento prá ela. - Chamei ela pra madrinha do Jurandir. - Ótima escolha. Eu tenho três irmãs e se chamasse uma, arrumava problema com as outras duas. E o padrinho? - Estava querendo chamar o Júlio, mas teria que chamar a Berenice e eu não abro mão da Mirella. - Vamos pensar em alguém. No dia seguinte, depois que Jairo e Milena saiu para o trabalho, Milena pegou o pequeno sobrinho e foi para a casa de Dona Nora encontrar com a mãe para irem ao banco retirarem o dinheiro. Dona Nora ficou com Jurandir e a tarde todos iriam juntos. Quando Dirce e Mirella iam saindo de casa, deram com o carro de Júlio esperando por elas. Mirella estranhou e perguntou: - O que o senhor está fazendo aqui? - Vou levá-las ao banco e depois trarei vocês em casa. Aí vou lá no hospital pegar o dinheiro da Milena e trazer aqui pra vocês. De tarde quem vai acompanhar vocês é o Jairo. - Acha que tem necessidade disso? - Infelizmente, acho. Muita gente é roubada logo depois de retirar quantias maiores em bancos e não é seguro vocês irem sozinhas. Dirce ficou muito sem graça: - Nós não queríamos dar trabalho. - Não é trabalho nenhum. Eu não tenho nada marcado hoje. E duas mulheres com dinheiro na rua é alvo fácil. Até hoje ninguém conseguiu descobrir como os ladrões descobrem quando uma pessoa faz um saque maior. Mirella respondeu: - Só pode ser dica de alguém de dentro do próprio banco. Esse negócio de ter que avisar um dia antes dá tempo de armar o esquema. - Pode ser. Vamos? - Vamos. Júlio as acompanhou de perto e só depois de deixá-las dentro de casa, foi ao encontro de Milena. Tinha deixado ordens para que dois integrantes da segurança do hospital acompanhassem Milena. Pegou o dinheiro com Milena e foi levar na casa da sogra. Entregou o dinheiro e foi embora. Logo depois Jairo chegou e foi levá-las ao cartório. Quando chegaram Seu Joaquim já estava esperando, apesar de faltar quase meia hora para o horário marcado. Entraram e fecharam negócio. Depois do dinheiro contado, papéis assinados, com Dona Nora e Jairo servindo de testemunha ao ato, receberam os documentos e as chaves da casa. Podiam mudar quando quisessem. Ofereceram carona ao Seu Joaquim, mas ele estava de carro. Ainda na calçada, Mirella perguntou: - E a outra casa? Vai anunciar quando? - Hoje mesmo vou anunciar. - Posso lhe pedir um favor? - Pode falar. - Um amigo nosso está procurando uma casa para comprar e queríamos que o senhor desse preferência para ele. - Ele vai pagar do mesmo modo que vocês? Em dinheiro e a vista? - Sim. - Então não vou botar placa. Aguardo a visita dele até Sábado, se ele não vier, aí eu vou colocar. - Ele virá. - Qual o nome dele? - É Paulo. - Tá bom. Aguardo o Paulo até sábado. E todos voltaram para casa de Dona Nora. Quando chegaram, ligaram para o Paulo, que atendeu logo: - Alô. - Seu Paulo? - Sim, é ele. - É a Nora. - Oi minha filha, como vai? - Estamos todos bem. É que estamos voltando do cartório e eu perguntei pro Seu Joaquim quando ele ia botar a casa a venda. Ele respondeu que ia colocar a placa amanhã. Então eu pedi a ele pra dar preferência a um amigo nosso. Ele perguntou se pagaria a vista e em dinheiro, como nós e eu respondi que sim. Ele aguarda o senhor até Sábado. Se o Senhor não aparecer até Sábado ele vai colocar a placa e vender para o primeiro interessado que aparecer. - Agradeço muito a informação. Amanhã mesmo eu vou procurá-lo. Muito obrigado. E que vocês tenham toda a felicidade do mundo na nova casa. Mirella desligou o telefone e foi continuar a comemorar o negócio que havia fechado com a mãe. No dia seguinte, chegou antes de oito horas no trabalho. Foi recebida normalmente por Júlio e Berenice e tratou de fazer o serviço acumulado. Não tinha muita coisa. Berenice manteve a ordem da casa, com tudo aparentemente no lugar e a louça estava toda lavada. E o resto da semana passou rápido e logo chegou a Sexta-feira. Berenice, logo depois do almoço perguntou: - Não é melhor você sair mais cedo hoje para ajudar a sua mãe a arrumar as coisas para amanhã. - Pensei em fazer isso a noite. - Era melhor de dia. O que você ainda tem que fazer? - Somente a janta. - Nós comeremos alguma coisa que já esteja pronta. Pode ir agora. - Muito obrigada. - Ainda te devemos muito. - Vocês não me devem nada. O que não fiz por obrigação, fiz por amizade. - Vai logo. De noite fica difícil mexer nas coisas. Até porquê por mais cuidado que vocês tenham faz barulho. - Até Segunda-feira, então. - Ué, vocês não vão na cada da minha mãe no Domingo? - Não. Minha mãe agora só vai ficar lá de Segunda a Sexta-feira. Fim de Semana ficaremos na nossa casa. A não ser que tenha alguma comemoração e nos convidem. - Até Segunda-feira, então. E boa sorte. Mirella correu para casa de Dona Nora. Está quando a viu chegar se assustou: - O que aconteceu? Você aqui há uma hora dessas? - Berenice disse que estava tudo pronto e me mandou vir para ajudar minha mãe a preparar a mudança prá amanhã. - Minha filha é cheia de surpresas. - E nem aceitou meu agradecimento. - Ela é assim mesmo. Mas eu acho melhor vocês deixarem as coisas do quarto como estão. Tudo veio de dentro do caminhão e colocado lá já arrumado. - Então, o que eu vou fazer. - O que vocês poderiam fazer é uma limpeza lá e levar mantimentos e já deixar em casa. - Então eu faço isso. - Leva a Dirce com você. O serviço dela também já acabou. Mas de noite ela vem dormir aqui. - Muito obrigada. E se dirigindo a mãe: - Vamos? - Vocês não acham que eu já matei muitas horas essa semana? Dona Nora: - Vai lá Dirce. Aqui tá tudo pronto. O lanche da noite eu só vou preparar mais tarde. E venham lanchar. Mirella avisou: - Eu vou pra casa da Milena. - Mas a sua mãe vem pra cá. - Claro que vem, ela não vai dormir no chão. Saíram e foram diretas para o mercado. Compraram material de limpeza e mantimentos diversos e quando chegaram na casa, apesar de estar limpa e pintada recentemente, fizeram uma boa faxina e deixaram pronta para o dia seguinte. Já estava começando a anoitecer quando resolveram ir embora. Tinham comprado frango para fazer no dia seguinte e levaram para a casa de Dona Nora, uma vez que lá não tinha geladeira ainda e não queriam arriscar de estragar. Deixaram as coisas nas bolsas debaixo da pia e foram. Dirce foi para a casa de Dona Nora e Dirce pra casa da irmã. Estavam contentes de ter adiantado a limpeza.
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