Capítulo Terceiro

4533 Words
No dia seguinte, todos acordaram cedo. Quando Mirella chegou na casa de Seu Jair, o caminhão já havia chegado e a mudança já estava adiantada. E não eram oito horas ainda. O caminhão saiu para a casa nova bem antes das nove. Os rapazes, conforme iam descarregando, já deixavam tudo arrumado nos lugares certos. Quando a geladeira chegou na cozinha, o motorista avisou. - Não pode ligar agora não. Tem que esperar umas três horas para assentar o gás, senão queima. Fizeram a instalação do fogão, já deixando pronto pra uso e nos outros cômodos, já iam montando o que estava desmontado. Quando Dirce foi na sala, não parecia que a mudança estava acontecendo naquele momento. Tudo muito bem arrumado. Até flanela eles passavam nos móveis, deixando tudo muito limpo. Quando terminaram ia dar dez horas. Dona Dirce, apanhou a bolsa e tentou dar uma cervejinha para repartirem, mas o motorista explicou: - Não podemos aceitar nada das senhoras. Ordem do Dr. Paulo. Dirce ainda argumentou: - Ele não precisa saber - Não senhora. Pode ter certeza que ele mesmo vai nos dar algum agrado. Ele falou que as senhoras são amigas dele. Até deram uma dica de um excelente negócio e ele mesmo ia acertar com a gente. - Eu não posso nem oferecer água gelada, porque ainda não tenho, então agradeço o trabalho de vocês e podem contar que eu vou falar com ele, do carinho com que vocês nós trataram e fizeram essa mudança. - Aí a gente agradece. Sempre é bom cair nas boas graças do patrão. - Podem contar com isso. - Obrigado. Estamos indo. Está tudo certo? - Bem melhor do que esperávamos. E as duas ficaram sozinhas. Logo depois a campanha soa. Dirce perguntou: - Quem pode ser? - Muita gente: Milena, Jairo, Dona Nora, Seu Jair... Dirce levantou para atender. Era Paulo que queria saber se tudo tinha corrido bem com a mudança. Dirce respondeu: - Olhe o senhor mesmo. Nem parece que mudamos hoje. Eles deixaram tudo arrumado e limpo. - Ótimo. Estão precisando de alguma coisa? - Não. Fizemos compras ontem e trouxemos pra cá. Nisso, Dirce se lembra: - Mirella, vou ter que ir lá na casa da Dona Nora. Esqueci o frango descongelando numa bacia na pia da cozinha. Seu Paulo solícito: - Quer que eu apanhe e traga pra senhora? - Não. Não quero lhe incomodar. É perto e eu vou lá rapidinho. Mirella pergunta: - E como ficou o negócio da casa do lado? - Na Terça-feira mesmo eu vim aqui e na quarta-feira no cartório. A casa já é minha. Eu dei a ele um mês pra resolver a viagem de volta dele prá sua terra. - E o que o senhor vai fazer com a casa? - Alugar e conservar o patrimônio. Mas dona Dirce, deixa que eu vou lá no Jair buscar seu frango. Enquanto isso, a senhora adianta outras coisas. Querem mais alguma coisa? - Não. É só isso. Obrigada. Depois que ele saiu, Mirella anunciou: - Quando a comida estiver quase pronta, eu vou comprar um refrigerante pra gente almoçar. - Se você tivesse falado isso na frente dele, ele era capaz de trazer. Foram adiantar o arroz e decidir o que ia ser feito de acompanhamento. Uma meia hora depois a campanha de novo. Seu Paulo estava de volta. Trazia o frango, refrigerantes, duas garrafas de água mineral, sendo uma com gás e outra sem e um saco de gelo. Dirce ficou sem ação e não sabia nem o que dizer. Ele foi para a área de serviço e tampou o tanque. Depositou as garrafas no fundo e jogou o gelo por cima: - Daqui há pouco, vocês já terão água fresca pra beber. Agora vou indo. As duas ficaram tão perplexas, que só conseguiram agradecer. Depois que ele se foi, Dirce comentou com a filha: - Ele faz as coisas para ajudar, mas não gosta de agradecimentos. Uma vez me disse que entre amigos, não cabe agradecimentos. - É um homem muito gentil e quem trabalha pra ele diz que é um ótimo patrão. - Eu nem perguntei quanto eu devia a ele. Um homem rico, não ia aceitar receber talvez, uns vinte e cinco reais. - Depois a gente arruma um jeito de compensar isso. - Vou procurar de saber com o Sérgio sobre os gostos dele. Uma boa lembrança, pelo menos, temos que dar. - Vou ver se descubro o dia do aniversário dele. - Ele é muito amigo do Seu Jair. Vou perguntar a ele que deve saber. - Agora mãe, vamos fazer o frango, se não a gente em vez de almoçar, vai é jantar. - Vou fazer umas batatas coradas pra acompanhar. E foram cuidar do almoço, muito felizes. Durante a refeição, Dirce olhou para a filha e olhou em volta. Quem diria que a vida fosse caminhar dessa maneira, dando uma guinada tão forte prá frente que ela chegou a sentir receio de de repente acontecer alguma coisa e tudo voltar a ser como antes. Foi Deus quem a colocou naquela casa aonde era tão bem tratada que não se sentia empregada e sim um m****o da família. Logo nos primeiros dias de trabalho, Seu Jair havido vindo em casa fora de hora e com apenas Dona Nora presente, foi colocada sentada na mesa da cozinha junto com os dois para conversarem. Lembrava que nesse dia, sentiu pânico. Achou que ia ser demitida. Porém explicaram para ela que o padrão de vida daquela família, não era aquele que aparentavam. Seu Jair avisou que na verdade, era um empresário e não era justo pagar tão baixo salário a uma pessoa que provou ser de confiança e tudo fazia para realizar bem o seu serviço. Foi avisada que o seu salário seria três vezes maior, mas que isso tinha que ser mantido em segredo. Nem as filhas dela e nem seus próprios filhos podiam saber. Não queria que ninguém ficasse desmotivado a batalhar pela própria vida. Contou que pegava o dinheiro de contribuição dos filhos e cada um tinha a sua poupança desse dinheiro. Era de opinião que o trabalho engrandece a pessoa e por isso, preparou os filhos para assumir grandes postos de trabalho, mas deixou que todos trabalhassem. Na época, achou estranho. Mas depois pensando melhor, achou certo. As facilidades conduzem a vícios. Ele conduzia com isso os filhos para uma vida no bem. Não contou nada para as filhas e continuou a levar a vida normalmente, apenas dando mais conforto a família. Tinha uma outra poupança com o restante do dinheiro que tinha juntado durante esse tempo. Mas tinha prometido que não contaria a ninguém. Agora, voltando a morar com a filha, se sentia dividida. Ia ser difícil manter o segredo. Afinal, o próprio Seu Jair, já deveria ter falado com os filhos. Todos estavam casados e eram pessoas de bem. Resolveu conversar com eles na Segunda-feira. Estava na hora de acabar com aquele segredo. Quando estavam ainda na antiga residência, cuidou de aumentar o conforto de todos. Com o novo emprego de Milena e ela também trabalhando, fez isso com tanta sutileza que as filhas não perceberam. Na época do casamento de Milena, teve vontade de contar, mas manteve o segredo em respeito a promessa que havia feito. Fez questão de pagar a festa de casamento da filha alegando um dinheirinho guardado naqueles meses de trabalho. Da mesma forma agiu na formatura de Mirella. Mas como ia conviver mais a miúdo com as filhas, escondendo que tinha condições de manter a casa sozinha. Resolveu sondar Mirella: - Como está seu relacionamento com os patrões? - Normal. Continuo sendo bem tratada. - Eu tinha percebido que você e a Berenice andaram se estranhando. - Ela tinha ciúmes do Henrique. Ele estava muito apegado a mim, porque eu ficava mais tempo com ele. Até quando ela o pegava no colo, ele queria vir comigo. Foi por isso que passei a vir para a casa da Milena nos finais de semana. Agora, está tudo bem. Aos poucos ele foi se acostumando mais com a mãe e dividimos ele numa boa. - Tem certeza que está bem lá? - Claro, mãe. Adoro meu trabalho. Sentiria muito se perdesse. Mas porquê isso agora? - Nada. Estava preocupada. Só isso. Foram arrumar a cozinha e depois sentaram em frente a televisão e passaram a tarde a descansar. No fim da tarde, Milena e Jairo vieram saber se precisavam de alguma coisa. Tinham deixado Jurandir com a outra avó, e vinham dispostos a ajudar. Dona Nora os recebeu com alegria, mas mostrou a casa já toda arrumada e comentou: - O pessoal da mudança já deixou tudo arrumado. Só tivemos que lavar as louças que estavam embrulhadas e guardar. Mirella: - E fizemos o almoço. Dona Nora lembrou: - Esquecemos de ligar a geladeira. Já passou da hora. Tinham uma geladeira duplex enorme e decidiram por enquanto não ligar o freezer. Só para finais de semana, não comprariam tanta coisa para guardar. Iriam comprando aos poucos. A geladeira foi ligada e resolveram ir no mercado comprar as outras coisas que tinham deixado para depois, por não ter como conservar. Saíram os quatro rumo ao mercado. Jairo estava de carro e Dirce resolveu aproveitar para comprar tudo o que faltava para pelo menos, um mês. Se divertiram muito nas compras. Pegaram carnes, salgados, margarina, queijos, pois Dirce gostava de Minas enquanto Mirella preferia o prato, pão de forma e resolveram levar presunto para lancharem misto quente. Havia sobrado muito frango, mas Dirce rapidamente, colocou em uma embalagem e congelaram. Depois das compras feitas, Milena e Jairo ajudaram a retirar as roupas que estavam guardadas ainda em caixas e dividir para serem lavadas novamente. Já estavam guardadas há muito tempo. Mirella lembrou que não tinha trazido roupa para trocar, ao que Milena respondeu: - Você tem roupas lá em casa. - Então quando vocês forem, eu vou junto pra buscar. Depois aos poucos, vou trazendo as que estão lá no trabalho e vou deixar apenas o suficiente para a semana. Jairo deu a idéia: - Porque você não arruma tudo o que vai trazer e pede pro Júlio trazer de carro no Domingo? - Não quero abusar. - Te garanto que ele vai trazer tudo de boa vontade. Assim você não tem que trazer em condução. - Se eu tiver coragem, falo com ele semana que vem. Aliás, acho que vou entrar para uma auto escola e tirar carteira. O dinheiro que sobrou dá pra comprar um carrinho de segunda mão. Dirce na mesma hora: - Tira a carteira que eu compro o carro. Milena não concordou: - Não mãe, eu dou o carro. Estou devendo a Mirella um presente de formatura. Vou dar um carro pra ela. Dirce: - Você tem a sua vida. O dinheiro é seu, e eu tenho como comprar. - Eu faço questão de dar esse presente a minha irmã e futura comadre. - Você é quem sabe. Mas você, Jairo, não fala nada? Deixa a tua mulher dar presentes caros assim e fica calado. - Dona Dirce, a Milena tem o dinheiro dela e gasta como quiser. Lógico que se ela estivesse dando para uma pessoa que eu achasse que não merece, eu teria falado. Mas não é o caso. Nesses finais de semana que a Mirella ficou com a gente, conquistou meu respeito e a minha admiração. A senhora deve saber as jóias de filhas que tem. As duas valem ouro. - Obrigada. E sem graça, encerrou o assunto. Quando terminaram de separar as roupas e guardar as compras, o casal se despediu e com Mirella foram pra casa deles para que ela pegasse as roupas que estavam lá. Quando Mirella chegou em casa, a mãe já tinha tomado banho e via televisão. Tratou de ir para o banho também e depois se juntou a mãe na sala. Era muito gostosa a sensação de estar refazendo a família. Ficaram até tarde na sala, uma desfrutando da companhia da outra e já era bem tarde, quando resolveram se recolher. Nem tinham lembrado de lanchar. No dia seguinte, quando Mirella acordou a mãe já havia feito o café e ido na padaria comprar pão. Tomaram o café juntas e perceberam que estavam com bastante apetite. Só então lembraram que haviam esquecido do lanche. Mirella passou uma vassoura na casa, sem necessidade, uma vez que estava limpa e foram colocar mais uma leva de roupas na máquina. A menina foi passar o que haviam lavado no dia anterior. Acostumada, rapidamente terminou o serviço e ficaram fazendo hora para começar a preparar o almoço. Estenderam as novas roupas e ficaram conversando. Dirce estava se sentindo m*l com o segredo do dinheiro guardado e por pouco não contou para a filha. Não via a hora de pedir permissão aos patrões para falar. Foram fazer a comida. Estavam rindo quanto a comida escolhida. Parecia que trabalhavam em restaurante. Bife acebolado, batatas fritas e arroz. Prato predileto de quem vai almoçar fora. Tinham decidido não fazer feijão, já que seria comida só para final de semana. Depois do almoço, arrumaram a cozinha e foram recolher a roupa, que já estava seca, guardando para passar mais tarde. Resolveram sair e ir para um cinema. Foram ao Shopping e escolheram um filme de comédia. Quando saíram, pararam na praça de alimentação e fizeram um lanche. Depois foram para casa se preparar para a semana que ia começar. Na Segunda-feira de manhã, Mirella acordou mais cedo que a mãe. Preparou o café e tirou o pão de forma da geladeira. Quando Dirce levantou a mesa estava pronta pra ela e Mirella pronta pra sair. Dependia de condução e tinha que sair antes da mãe. Desejou uma boa semana e com um até sexta, foi para o ponto de ônibus. Dirce tomou seu café com calma, guardou o pão, a margarina e o queijo na geladeira e depois de ver se estava tudo em ordem, saiu também para o trabalho. Quando Mirella chegou, ainda faltava mais de meia hora para as oito. Hora em que começava a trabalhar. Mas sabendo que já tinham acordado, tocou a campainha mesmo assim. Berenice veio atender e a tratou normalmente, mas ela percebeu que Júlio estava diferente. Ficou preocupada, mas aguardou que ele saísse para conversar com Berenice. Assim que ele saiu, perguntou: - O que houve com Seu Júlio? - Ontem convidamos Jairo e a Milena para serem padrinhos do Henrique. E ela comentou que tinha chamado você para madrinha e quando perguntamos sobre o padrinho ela respondeu que não tinha decidido ainda. Ele ficou triste, porque pensou que era o melhor amigo dela. - E é. Só que a Milena faz questão que eu seja a madrinha. Ela só tem uma irmã e havia até falado que o padrinho seria o Júlio. Mas eu achei que você não gostaria que ele fizesse par comigo. Se ele fosse o padrinho, você teria que ser a madrinha. - Nada mais natural que você seja a madrinha, pois é a única irmã da Milena, assim como também é natural que Júlio seja o padrinho, já que é o melhor amigo dela. Pode dizer a ela que eu não me importo que ele faça par com você neste batizado. - Pode deixar que eu vou falar com ela. Ele tinha sido escolhido mesmo por ela. Eu é que achei que pra ele ser o padrinho, a madrinha tinha que ser você. - Eu tenho ciúme do meu filho. Meu marido é adulto e sabe o que faz. E eu confio nele e em você. Sei que não é de seu caráter manter uma relação dúbia. - Obrigada pela confiança. Agora deixa eu começar a trabalhar. - Como foi o final de semana na casa nova? - Foi ótimo. Ontem, inclusive, fui ao cinema com a mamãe. Nós nos divertimos muito juntas. - Que bom. E Mirella foi procurar o que tinha que fazer. Enquanto isso, na casa de Dona Nora, Dirce também tinha pedido para conversar com os patrões. Os três estavam sentados na sala e Dirce pediu: - Eu queria que vocês me dessem licença de contar para as minhas filhas a respeito do meu salário e do dinheiro que tenho juntado todo esse tempo. Seu Jair respondeu: - Pode falar, o segredo acabou no dia que a Janice casou. - Eu não sabia. E dói ver a preocupação da Milena, querendo me ajudar pra não sacrificar a irmã. - Pode conversar com elas. Só não deixa de explicar que fizemos isso para que os nossos filhos não se tornassem ociosos. - Pode deixar. Tenho certeza que elas vão entender. Dirce sentiu que lhe tiraram um peso, não gostava de esconder as coisas das filhas. Conviver o fim de semana com elas, vendo as duas querendo fazer as despesas para poupar a mãe tinha sido difícil. Afinal tinha condições de arcar com as despesas sozinha. A pensão do marido, cobria as obrigações primárias, como água, luz, telefone e sempre sobrava algum dinheiro e o seu salário dava e sobrava para o resto das despesas. Conversaria com elas na primeira oportunidade. Quase tinha contado para Mirella durante o fim de semana. Só não contou por estar presa àquela promessa. Agora tinha liberdade para falar. A semana passou sem novidades. Na Sexta-feira, quando terminou o expediente, Mirella fez uma bolsa de roupas para levar pra casa. Tinha ficado com vergonha de pedir pro patrão levar. Mas quando ia sair Berenice perguntou: - Vai levar esse peso de ônibus? - São as minhas roupas. A maioria está aqui. - Vai precisar delas hoje? - Não. Só que queria ter roupas em casa também. Tenho poucas peças lá. - Deixa a bolsa aí que nós levamos pra você amanhã, antes de ir pra casa dos pais de Júlio. Este estava entrando em casa e ouviu. - Se você quiser, levo agora mesmo. Berenice: - Vou arrumar rapidinho o Henrique e vamos juntos. Aproveito pra dar um beijo nos meus pais. E foi para o quarto da criança. No caminho, Mirella contou de sua intenção de tirar carteira de motorista. Júlio observou: - Para dirigir é necessário ser uma pessoa bastante calma e atenta. Acho que você tem essas duas qualidades. Berenice: - Meu pai nunca quis aprender. Se acha muito nervoso. Júlio: - Se ele acha, é melhor não aprender mesmo. Carro é uma arma. Pode m***r. - Eu também não quero dirigir. Mirella: - Eu vou aprender e a Milena faz questão de me dar o primeiro carro de presente. E o Jairo concordou. Logo estavam chegando na nova casa. Desceram todos para conhecer. Dirce veio receber as visitas e mostrou a casa, passando com eles por cada cômodo. Berenice comentou: - O bom das casas desse bairro é que todos os cômodos são amplos. Dá pra fazer uma festa na cozinha. Dirce respondeu: - A gente nem estava procurando uma casa tão grande. Queríamos uma casinha de quarto e sala, mas demos sorte de aparecer está muito boa, por um preço que podíamos pagar. - Graças a Deus. Um imóvel desses, vale muito mais do que o preço que vocês pagaram. A Mirella me contou. Júlio ainda acrescentou: - O pai do Sérgio comprou a do lado. Na época eu só não comprei porque ele já estava interessado e eu não ia fazer isso com um amigo da família. Mas era um ótimo negócio. Berenice: - Porquê vocês não mandam fazer um terraço? Valorizaria ainda mais. - É uma casa só para final de semana. - Mesmo assim. Tudo que valorizar é válido. Secar roupas ao vento é muito melhor que atrás de um muro. As roupas ficam mais cheirosas. - Isso é verdade. E em tempo de chuva também é melhor ter uma cobertura. Vamos pedir ao Seu Paulo pra fazer um orçamento. - Garanto que ele não vai cobrar a mão de obra. - Assim eu fico sem graça de pedir. - Compra o material todo com ele. - É, porque chamar outra pessoa, seria pior. Ele ficaria magoado. - Tenho certeza disso. Júlio chamou: - Vamos? Ainda temos que passar na tua mãe. Dirce: - Mas vocês não tomaram nem um café. - Fica prá outra vez. Viemos só trazer a Mirella com as roupas. Tchau. - Tchau. Depois que ficou sozinha com a filha, comentou: - Nós demos muita sorte de vir trabalhar para está família. - Eu agradeço a Deus todos os dias por isso. Mirella foi tomar um banho para lancharem. Depois do lanche, sentaram em frente a televisão para passar o tempo até a hora que o sono chegasse. O fim de semana estava apenas começando. No Sábado, logo cedo, Dirce ligou para Milena e pediu que ela fosse a sua casa porque precisava falar com ela e com Mirella juntas. Milena ficou preocupada, imaginando logo que a mãe estivesse com algum problema. Rezou para que não fosse de saúde. Lembrava ainda dá perda do pai, quando era criança. Tinha desde então muito medo de perder a mãe. Pediu pra Jairo ficar com Jurandir e foi na mesma hora. Quando chegou, a mãe percebeu logo que ela estava preocupada e tratou de acalmar a filha: - Pode ficar calma, que não se trata de nenhum problema. - Realmente eu me assustei. A senhora pedir pra eu vir aqui logo cedo. Pensei que fosse alguma doença. - Não é nada disso. Mirella se juntou a elas na sala e Dirce começou a contar: - O que eu vou dizer pra vocês agora, já queria ter dito há muito tempo, mas, estava presa a uma promessa que tinha feito ao Seu Jair e a Dona Nora de guardar segredo até de vocês. As filhas continuaram caladas aguardando o que a mãe tinha a dizer. Estavam curiosas. - Quando eu comecei a trabalhar lá foi oferecido um salário um pouco mais alto que o salário mínimo. Mas logo no primeiro dia que trabalhei, Seu Jair voltou pra casa dentro do horário de trabalho e me chamou prá uma conversa com ele e Dona Nora. Me explicou que a situação de financeira da família não era aquela que aparentava. Ele era um empresário de sucesso e o meu salário seria três vezes aquilo que estava combinado. Mas eu tinha que guardar segredo disso. Milena perguntou: - Mas, porquê segredo. - Porque eles faziam questão que os filhos trabalhassem e tivessem no responsabilidade. Não queria que sabendo da situação financeira do pai, se tornassem ociosos e levassem vida desregrada. - Mas porquê esconder da gente também. - Porque você já namorava o Jairo e ele não queria que ninguém soubesse antes de se casarem e assumissem responsabilidade. Todos só foram sabendo na medida que se casavam. - Dá prá entender. - Ele costuma dizer que o ócio leva aos vícios. - E é uma grande verdade. - Eu me sentia m*l, recebendo a tua ajuda para as despesas da casa, mas principalmente pra você eu não podia contar. Tinha prometido. - E o que você fez com todo esse dinheiro? - Abri uma outra poupança em outro banco e está tudo lá. Tem mais de setenta mil reais. Eu poderia ter comprado está casa sozinha. E ainda ia sobrar dinheiro. Por isso, pedi que me liberassem da promessa e estou contando agora pra vocês. Mirella estava só escutando até agora, mas resolveu falar: - De minha parte, eu faço questão de continuar ajudando nas despesas. Afinal, eu trabalho e também dou despesas em casa. Faço questão. Milena também se pronunciou: - Eu vou continuar a dar presentes pra vocês porque amo vocês. Pra mim também não vai mudar nada. Mas gostei de saber que a senhora está sendo valorizada no seu trabalho. Nem quando a senhora passou a morar lá eles descontaram nada? - Não. Seu Jair disse que eu merecia cada real que ganhava. Milena comentou: - Seu Júlio me disse a mesma coisa. Quando eu deixei de ficar responsável pelo Henrique, falei que o justo era deixar de receber o salário de babá. Ele disse que então ia dobrar o meu salário de doméstica e ia dar no mesmo. Dirce: - Nós demos muita sorte em vir trabalhar para essa família. Todos são muito corretos e generosos. Milena então perguntou: - O que a senhora pretende fazer? - Vou continuar juntando. Vivemos com conforto e não nos privamos de nada. Não tem necessidade de gastar só porque o dinheiro entra. - Faz bem. Quem sabe depois compra outro imóvel como investimento. - É uma idéia. Até porquê se Deus quiser a Mirella vai se apaixonar um dia e vai querer se casar. Mirella falou logo: - Mas vou continuar com a senhora. Vamos morar juntas pra sempre. E eu também tenho economias. Não tanto quanto vocês, mas vindo só finais de semana a casa quase não vai dar despesas e eu vou continuar juntando. Dirce abraçou a filha caçula. - É isso mesmo. Só gastaremos o necessário pra ter conforto, o resto vai ficar guardado. Na casa da Dona Nora também eu faço a mesma economia e meu salário fica quase todo. O gasto de fim de semana é mínimo. Mirella chamou a irmã para conversar: - O Seu Júlio está chateado com você, porque não chamou ele pra batizar o Jurandir. - Você explicou pra ele, que era porque eu fazia questão de que a madrinha fosse você? - Quem me contou foi a Berenice. - E o que você respondeu? - Que era porque a madrinha era eu e não pegava bem ele fazer par comigo no batizado. - E ela? - Disse que não tinha nada a ver. Que você podia chamar ele pra padrinho e eu ser a madrinha. Que confia em nós e é natural eu batizar o teu filho porque sou sua única irmã, assim como é natural o Seu Júlio batizar, porque é seu melhor amigo. - Amanhã eu falo com eles. - Foi melhor assim. Era o padrinho que você queria desde o princípio. - Bem, eu já vou. Deixei o Jairo tomando conta do Jurandir. Tchau. E mãe, a senhora agiu certo. Promessa não se quebra. - Ainda bem que vocês entenderam. Tchau e dá um beijinho no Jurandir. Milena voltou para casa e Dirce ficou sozinha com Mirella. Estava mais serena, já que agora as filhas sabiam da real situação da família. Não estava suportando guardar aquele segredo porque as meninas, estavam querendo arcar com a maioria das despesas por pensarem que a mãe não tinha condições financeiras para tal. Agora cada uma faria apenas o que seu coração mandasse. As três estavam em iguais condições. Apenas Mirella ganhava um pouco menos que a mãe. Mas tinha como arcar com os compromissos em pé de igualdade. No dia seguinte, assim que todos estavam reunidos na casa de Nora, Milena conversou com Berenice a respeito do batizado de Jurandir e depois de escutar dela que não teria problema Júlio batizar o pequeno junto com Mirella fez o convite para o amigo, explicando as razões de não ter feito antes. Júlio entendeu e aceitou. E a paz voltou a reinar entre eles.
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